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  • Parecer técnico sobre a Ferrogrão aponta falhas em avaliação de impactos e desmatamento

    Parecer técnico sobre a Ferrogrão aponta falhas em avaliação de impactos e desmatamento

    Um parecer técnico divulgado esta semana alerta para falhas graves na atualização do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) da Ferrogrão — projeto de ferrovia que pretende ligar Sinop (MT) a Itaituba (PA). O documento foi elaborado por pesquisadores da USP, UFMG, Instituto Socioambiental (ISA) e Observatório do Clima, com foco na avaliação de impactos cumulativos e na projeção de desmatamento provocados pela implantação da ferrovia.

    Segundo o parecer, o EVTEA não apresenta uma análise consistente dos chamados impactos cumulativos — aqueles que se somam ao longo do tempo em função de múltiplos empreendimentos na mesma região. Embora o estudo afirme ter caráter “panorâmico e estratégico”, o parecer considera contraditória essa justificativa para excluir a avaliação de tais impactos. Especialistas apontam que estudos estratégicos, como o próprio EVTEA, são justamente os instrumentos mais adequados para esse tipo de abordagem, sobretudo em um território já pressionado por outras obras de infraestrutura.

    O documento também critica a ausência de metodologia clara na elaboração do estudo, a falta de referências técnicas e a decisão de deixar a análise de impactos cumulativos para uma etapa posterior, no Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Para os autores, essa escolha compromete o planejamento territorial e limita a tomada de decisão estratégica.

    No que diz respeito ao desmatamento, o EVTEA atualizado sustenta que a Ferrogrão não será um vetor de destruição florestal, alegando que a expansão da produção agrícola ocorrerá apenas sobre áreas de pasto degradado. Essa hipótese, no entanto, é refutada pelos especialistas, que mostram que nem todos os municípios da área de influência da ferrovia dispõem de pastos suficientes para atender à demanda projetada até 2050. A consequência, segundo o parecer, pode ser o desmatamento legal de até 557 mil hectares.

    O estudo ainda ignora fatores indiretos como a valorização fundiária, a criação de novas infraestruturas e a expansão agrícola incentivada pela melhoria no escoamento de grãos. Segundo os pesquisadores, o EVTEA falha ao não incorporar uma modelagem espacial que considere esses efeitos e se apoia em premissas frágeis para descartar o risco de desmatamento.

    Entre as recomendações feitas ao Governo Federal, estão a elaboração de uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) para a região entre os rios Xingu e Tapajós, a suspensão temporária do processo de licenciamento da Ferrogrão, a realização de modelagem estatística dos impactos territoriais e o engajamento da sociedade civil no debate sobre o projeto. Os especialistas também sugerem que a Ferrogrão seja compatibilizada com os objetivos do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), que prevê desmatamento zero até 2030.

    Para os autores, a ausência de uma análise ampla e integrada compromete não apenas a qualidade do licenciamento, mas também a governança ambiental de toda a região. Eles defendem que, sem um olhar estratégico e preventivo, empreendimentos como a Ferrogrão tendem a reproduzir um modelo de desenvolvimento insustentável na Amazônia.

  • Aumenta em 25% o número de pessoas em situação de rua no país

    Aumenta em 25% o número de pessoas em situação de rua no país

    O número de pessoas vivendo em situação de rua em todo o Brasil aumentou aproximadamente 25%. Se em dezembro de 2023 havia 261.653 pessoas nesta situação, esse número chegou a 327.925 no final do ano passado. A informação é do levantamento mais recente divulgado pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (OBPopRua/POLOS-UFMG). O número apurado em dezembro de 2024 é 14 vezes superior ao registrado onze anos atrás, quando haviam 22.922 pessoas vivendo nas ruas no país.

    O levantamento foi feito com base nos dados do Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico), que reúne os beneficiários de políticas sociais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), e serve como indicativo das populações em vulnerabilidade para quantificar os repasses do governo federal aos municípios.

    A Região Sudeste é onde estão concentradas 63% das pessoas em situação de rua do país, com 204.714 pessoas, seguida da Região Nordeste, com 47.419 pessoas (14%).

    Só no estado de São Paulo, que representa 43% do total da população em situação de rua do país, esse número saltou de 106.857 em dezembro de 2023 para 139.799 pessoas em dezembro do ano passado. Essa quantidade é 12 vezes superior ao que foi observado em dezembro de 2013, quando eram 10.890. Em seguida aparecem os estados do Rio de Janeiro, com 30.801, e Minas Gerais, com 30.244.

    De acordo com o coordenador do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, André Luiz Freitas Dias, o aumento desta população pode ser explicado pelo fortalecimento do CadÚnico como principal registro desta situação e de acesso às políticas públicas sociais do país e também pela ausência ou insuficiência de políticas públicas estruturantes voltadas para essa população, tais como moradia, trabalho e educação.

    O levantamento apontou ainda que sete em cada dez pessoas em situação de rua no país não terminaram o ensino fundamental e 11% encontra-se em condição de analfabetismo, dificultando o acesso das pessoas às oportunidades de trabalho geradas nas cidades.

    Em entrevista à Agência Brasil, Robson César Correia de Mendonça, do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, lembrou que o Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que a cidade de São Paulo conta com cerca de 590 mil imóveis particulares vazios, valor bem superior à quantidade de pessoas em situação de rua que vivem atualmente na capital paulista, em torno de 92.556, segundo o Observatório da UFMG.

    Para Mendonça, se há crescimento na população em situação de rua e uma grande quantidade de moradias ociosas em todo o país, isso significa que “está faltando interesse político para resolver o problema”.

    “Se nós temos 588 mil e poucos prédios ociosos na cidade de São Paulo e 90 mil de população em situação de rua, isso quer dizer que se fosse feita uma reforma nesses prédios, tornando-os habitacionais, nós teríamos resolvido uma boa parte dessa demanda e tirado essas pessoas da situação de rua. Isso tornaria muito mais barata a questão da moradia do que o custeio com albergue e outras questões que o governo busca fazer para tentar solucionar o problema e que nunca consegue solucionar”, defende.

    Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social de São Paulo não forneceu dados sobre a quantidade de pessoas vivendo nas ruas do estado paulista, mas informou que, no ano passado, dos cerca de R$240 milhões do Fundo Estadual de Assistência Social destinados aos municípios, foram alocados pelas gestões municipais cerca de R$156 milhões em serviços de Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade.

  • UFMG desenvolve tratamento promissor contra câncer de intestino

    UFMG desenvolve tratamento promissor contra câncer de intestino

    Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), instituição vinculada ao Ministério da Educação (MEC), criou uma terapia promissora para o tratamento do câncer de intestino, o terceiro tipo mais frequente no Brasil.

    Para isso, os cientistas produziram uma pequena partícula que funciona como um guia, levando instruções para o corpo reconhe cer e ata car as células cancerígenas . Funciona como se fosse um mapa que mostra exatamente onde está o tumor, a fim de traze r mais assertividade ao tratamento .

    “Colocamos, dentro da nanopartícula, um RNA mensageiro que funciona como ‘ script ’ , com todas as informações que a célula do corpo necessita para produzir uma proteína. No caso do nosso trabalho, essa proteína é do sistema imunológico, sendo capaz de induzir a morte programada das células tumorais , o u seja, induzimos o organismo a produzir uma proteína que mata as células cancerígenas ” , detalh ou Walison Nunes, um dos autores do estudo .

    A nanopartícula desenvolvida no laboratório da UFMG é baseada na mesma tecnologia que foi empregada pela Pfizer e pela Moderna nas vacinas contra a covid-19. Segundo Nunes , essa tecnologia pode ser considerada promissora , porque, no caso dos tratamentos tradicionais contra o câncer, a maior dificuldade é fazer com que o medicamento entre , de fato, no tumor. “As células tumorais formam uma espécie de ‘microambiente tumoral hostil’, que impede que as terapias e as células imunológicas do organismo consigam combater o tumor de forma efetiva”, afirmou .

    Por isso, os pesquisadores inventaram uma forma de modificar o ambiente ao redor do tumor, tornando-o mais fácil de ser acessado . Nunes comparou o processo a abrir caminhos nos vasos sanguíneos para as nanopartículas e os linfócitos ( que são células de defesa do corpo ) poderem chegar até o tumor e combatê-lo mais eficientemente .

    A criação foi publicada em um artigo na revista científica International Journal of Nanomedicine no primeiro semestre deste ano.

    Testes – No momento, a equipe responsável pela terapia realiza testes em pequenos animais por meio de modelo humanizado, ou seja, transplanta as células cancerosas e as células saudáveis de humanos em camundongos. O grupo de pesquisadores está testando o tratamento para metástase e realizando testes para aprimorar o direcionamento das nanopartículas a células que saíram do tumor principal e se espalharam para outros órgãos.

    Câncer de intestino – Segundo estimativas do governo federal, mais de 45 mil brasileiros serão acometidos pela doença até 2025, o que representa um risco estimado de 21 casos por 100 mil habitantes. Os principais fatores de risco para esse tipo de câncer estão associados ao comportamento, como sedentarismo, obesidade, consumo regular de álcool e tabaco , além de baixo consumo de fibras, frutas, vegetais e carnes magras. Outros fatores de risco estão associados a condições genéticas ou hereditárias, como doença inflamatória intestinal crônica e histórico pessoal ou familiar de adenoma ou câncer colorretal.

    Os cânceres de cólon e reto apresentam alto potencial para prevenção primária, por meio do estímulo a hábitos de vida e dietéticos saudáveis, e secundária, baseada na realização de exames para a detecção precoce.

    A maior parte dos tumores de intestino é tratada com quimioterapia e ressecção cirúrgica. No último caso, o tratamento é considerado de difícil adesão , porque, após a ressecção cirúrgica, o paciente precisa usar uma bolsa para coletar as fezes (bolsa de colostomia), o que impacta sua qualidade de vida.

    Por UFMG, com apoio da Secretaria de Educação Superior/MEC

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  • Crianças brasileiras estão mais altas e mais obesas, revela estudo

    Crianças brasileiras estão mais altas e mais obesas, revela estudo

    As crianças brasileiras estão mais altas e mais obesas. É o que mostra estudo conduzido por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a University College London.

    Os resultados do estudo indicaram que, entre 2001 e 2014, a estatura infantil, em média, aumentou 1 centímetro. A prevalência de excesso de peso e obesidade também teve aumento considerável entre os dados analisados. A prevalência de obesidade entre os grupos analisados subiu até cerca de 3%.

    A pesquisa foi publicada na revista The Lancet Regional Health – America e baseou-se na observação das medidas de mais de 5 milhões de crianças brasileiras. Segundo os pesquisadores, tais resultados indicam que o Brasil, assim como os demais países em todo o mundo, está longe de atingir a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de deter o aumento da prevalência da obesidade até 2030.

    De acordo com a pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia e líder da investigação, Carolina Vieira, a obesidade infantil é preocupante. O Ministério da Saúde explica que tanto o sobrepeso quanto a obesidade referem-se ao acúmulo excessivo de gordura corporal. A obesidade é fator de risco para enfermidades como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer.

    “Tem estudos que indicam que a criança que vive com obesidade aumenta a chance de persistir com essa doença durante todo o ciclo da vida dela”, diz Carolina. “Em termos de saúde pública, pensamos que a carga dessas doenças crônicas não transmissíveis e os custos associados à obesidade aumentam ao longo do tempo. Então, é necessária uma ação efetiva e coordenada, porque senão as repercussões dessa doença para a saúde pública nos próximos anos serão bem alarmantes.”

    A pesquisa

    O estudo analisou dados de 5.750.214 crianças, de 3 a 10 anos, que constam em três sistemas administrativos: o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), o Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Isso possibilitou uma análise longitudinal, ou seja, ao longo da vida de cada uma das crianças, por meio de informações coletados ao longo dos anos.

    Os dados analisados foram divididos em dois grupos: nascidos de 2001 a 2007 e nascidos de 2008 a 2014. Foram levadas em conta também as diferenças entre os sexos declarados. Com isso, estimou-se uma trajetória média de índice de massa corporal (IMC) – indicador usado para determinar o peso ideal e variações que indicam magreza, sobrepeso ou obesidade – e altura para as meninas, e outra para os meninos.

    Na comparação entre os dois grupos, ou seja, dos nascidos até 2007 e dos nascidos até 2014, considerados aqueles com idades de 5 a 10 anos, a prevalência de excesso de peso aumentou 3,2% entre os meninos e 2,7% entre as meninas. No caso da obesidade, a prevalência entre os meninos passou de 11,1% no primeiro grupo (nascidos até 2007) para 13,8% no segundo grupo (nascidos até 2014) o que significa aumento de 2,7%. Entre as meninas, a taxa passou de 9,1% para 11,2%, aumento de 2,1%.

    Na faixa etária de 3 e 4 anos, o aumento foi menor na comparação entre os dois grupos. Quanto ao excesso de peso, houve alta de 0,9% entre os meninos e de 0,8% entre as meninas. Em termos de obesidade, a prevalência passou de 4% para 4,5% entre os meninos e de 3,6% para 3,9% entre as meninas, ou seja, houve crescimento de 0,5% e 0,3%, respectivamente.

    O estudo constatou ainda o aumento na trajetória média de altura do grupo de nascidos entre 2008 e 2014 de aproximadamente 1 centímetro em ambos os sexos. De acordo com Carolina Vieira, tal crescimento reflete a melhoria nas condições de vida e de saúde.

    “Os estudos demonstram que ter mais altura tem sido associado a alguns desfechos positivos na saúde, como menor probabilidade de doenças cardíacas e derrames e mais longevidade. Mas a altura do indivíduo, a altura da criança, reflete muito o desenvolvimento econômico, a melhoria das condições de vida. Maior escolaridade materna, mais pessoas vivendo na área urbana, são alguns dos exemplos de melhoria dessas condições no Brasil nos últimos anos”, diz a pesquisadora.

    Má nutrição

    Além do aumento da obesidade, o Brasil enfrenta a fome. Estudo do Instituto Fome Zero revela que o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no Brasil chegou a 20 milhões no quarto trimestre do ano passado.

    Apesar de estar aumentando a prevalência da obesidade, o Brasil hoje vive a dupla carga de má nutrição: prevalência de crianças desnutridas e de crianças com obesidade. “É preciso olhar realmente para esses dois extremos – da desnutrição e da obesidade – ocorrendo simultaneamente”, destaca Carolina Vieira.

    Edição: Nádia Franco

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  • Anvisa autoriza nova fase de testes com vacina brasileira contra covid

    Anvisa autoriza nova fase de testes com vacina brasileira contra covid

    A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o início de uma nova etapa de ensaio clínico com uma candidata à vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo é financiado pela universidade, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Prefeitura de Belo Horizonte.

    Em nota, a Anvisa informou que o início da primeira fase do ensaio clínico foi autorizado pela agência em outubro de 2022 e, com base nos resultados preliminares de segurança e imunogenicidade obtidos, foi autorizado o prosseguimento do ensaio clínico para a fase seguinte. “O objetivo dessa nova fase é obter dados adicionais de segurança e imunogenicidade utilizando-se a dose que apresentou melhor desempenho na primeira fase”, diz a nota.

    Ainda segundo a agência, nessa nova fase, serão incluídos participantes saudáveis de ambos os sexos, com idade entre 18 e 85 anos, que completaram o esquema vacinal primário para a covid-19 utilizando as vacinas CoronaVac ou Covishield, tendo recebido uma ou duas doses de reforço com Covishield ou Comirnaty, há pelo menos 6 meses. Os participantes poderão ter tido infecção natural prévia por covid há pelo menos 6 meses da data de inclusão.

    O ensaio clínico, de acordo com a Anvisa, está sendo realizado em três centros em Belo Horizonte: na Faculdade de Medicina da UFMG, no Centro Freira de Pesquisa Clínica e no Centro Infection Control. Serão incluídos 372 voluntários e o recrutamento é de responsabilidade dos centros que conduzem a pesquisa.  O prazo para início do estudo clínico após a aprovação ética e regulatória é definido pelo patrocinador do estudo.

    Edição: Fernando Fraga

  • Nova espécie de sapo “sapinho-pingo-de-ouro” é descoberta na Mata Atlântica

    Nova espécie de sapo “sapinho-pingo-de-ouro” é descoberta na Mata Atlântica

    Uma nova espécie de “sapinho-pingo-de-ouro” foi descoberta na Mata Atlântica. O animal é o sexto de um grupo específico deste tipo de sapo e foi batizado de Brachycephalus ibitinga. O estudo foi desenvolvido por pelo menos 7 anos, envolveu diversos pesquisadores e foi liderado por Thais Condez, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UFMG). A descrição do vertebrado reforça a importância das Unidades de Conservação.

    A espécie foi encontrada no trecho paulista da Serra do Mar, o entorno de uma das maiores regiões metropolitanas do mundo. “[Isso] mostra o quanto a gente ainda tem a descobrir a respeito da nossa biodiversidade, mesmo com o avanço das cidades, mesmo com as dificuldades todas de conservar, de proteger a biodiversidade, a gente ainda tem boas surpresas”, apontou o biólogo Leo Malagoli, gestor de Unidades de Conservação da Fundação Florestal de São Paulo e co-autor do estudo.

    Características da nova espécie

    O animal possui a região da cabeça e do dorso cobertas por placas ósseas fluorescentes. De acordo com os pesquisadores, isso deve ser importante para a comunicação, seja entre eles ou com predadores. O sapo descoberto tem menos de 2 centímetros quando adulto. “As placas ósseas são diferentes das outras espécies, porque possuem margens irregulares, é meio recortado, e tem uma linha muito tênue que margeia essas placas e é uma linha mais pálida, dá pra gente chamar de esbranquiçada”, descreve o biólogo.

    O DNA também foi um aspecto analisado pelos cientistas para descrever o novo animal. Além disso, observou-se diferença na vocalização, a forma como o sapinho coaxa. “Você se lembra de relógio de corda? Pensa quando está dando a corda no relógio, é meio parecido com o canto dessa espécie. Baixinho, mas com atenção você consegue ouvir.”

    Malagoli explica que, na floresta, ele habita o folhiço ou a serrapilheira, que são as folhagens que ficam no chão da mata. “É uma espécie que você não enxerga andando na trilha. Você tem que agachar, revolver parte da serrapilheira para poder encontrar”, explica. Ainda não há estudos sobre a densidade populacional do novo sapinho, mas o pesquisador adianta que ele ocorre em baixa densidade.

    Habitat

    A nova espécie pode ser encontrada em diversas Unidades de Conservação localizadas no entorno das Regiões Metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista, como Parque das Neblinas, Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba, Núcleos Bertioga, Caminhos do Mar, Itutinga-Pilões e Curucutu do Parque Estadual Serra do Mar, além do Parque Natural Municipal Varginha.

    “São espaços protegidos que essas espécies novas costumam sofrer menos esses impactos humanos”, aponta. Ele avalia que a descoberta mostra as oportunidades do que ainda pode ser descoberto, mas, ao mesmo tempo, “acende um alerta: bom, a gente precisa conservar”.

    O pesquisador destaca os benefícios para o meio ambiente e para os seres humanos. “Eles fazem o controle de inúmeros insetos, fazem parte da cadeia alimentar e essa espécie de sapinho, assim como outras, tem um verdadeiro arsenal químico na pele”, enumera. Malagoli explica que novas descobertas permitem encontrar compostos químicos que podem contribuir para, por exemplo, produção de medicamentos.