Tag: Trigo

  • Uso do trigo para produção de etanol é tema de capacitação com cooperativas do Brasil

    Uso do trigo para produção de etanol é tema de capacitação com cooperativas do Brasil

    A Embrapa Agroenergia recebeu no início deste mês um grupo de 25 técnicos ligados à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), parte do encerramento da capacitação “Embrapa e Sistema OCB em trigo tropical”, promovida pela Embrapa Trigo ao longo de 2024.

    Em Brasília, a equipe participou de um encontro que discutiu a possibilidade de utilizar o trigo para a produção de etanol, no contexto da transição energética, que incluiu a visita à Embrapa Agroenergia. O grupo foi recebido pelo Chefe-Geral Alexandre Alonso, que falou sobre o crescimento do movimento de utilização de grãos e cereais como matérias-primas para a produção de biocombustíveis. “Embora tenha iniciado há poucos anos, o movimento de produção de etanol a partir de cereais já alcança uma relevância significativa. Esse crescimento abre a oportunidade de conectar a expansão da produção de trigo com as agendas de segurança alimentar e energética, criando novas possibilidades de negócios para produtores e cooperativas”, ressaltou Alonso.

    Para Bruno Laviola, Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, o encontro foi um momento importante para debater com os técnicos cooperados sobre as oportunidades e desafios para o trigo tropical no contexto bioenergia. “O uso do trigo para a produção de etanol tem despertado interesse de usinas no Brasil. Vale ressaltar que a transição energética é um desafio global e urgente, demandando a substituição de fontes fósseis por alternativas renováveis. Esse movimento é fundamental para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas”, explicou.

    Giovani Faé, Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, contou que o treinamento com as cooperativas é realizado há dez anos e este é o primeiro ano com foco no trigo tropical. “Estamos encerrando o treinamento na Embrapa Agroenergia porque o trigo tem uma cadeia bem diversa. Recentemente, está surgindo um mercado de etanol amiláceo e trazer esse grupo das cooperativas para a Embrapa Agroenergia para entender todas as oportunidades é extremamente relevante para conseguirmos, cada vez mais, gerar valor, viabilizar essa cultura para o produtor ter mais liquidez e extrair todo o ganho ambiental que o trigo traz no sistema de produção”, disse Faé.

    A produção de etanol, com ênfase no uso de grãos e cereais de inverno como matéria-prima, foi um dos temas abordados durante o encontro, incluindo as oportunidades e desafios relacionados ao controle de micotoxinas durante o processo produtivo. Esses assuntos foram apresentados aos técnicos em palestras conduzidas pelos pesquisadores Maurício Lopes e Félix Siqueira.

    Luan Pivatto, do departamento técnico da Cooperativa Cooperalfa, achou interessante as informações sobre a produção de bioenergia por meio de biomassa: “Várias informações que eu não tinha conhecimento, como a produção de biomassa através de bambu, foram muito interessantes. Essa agenda de aumento de etanol no combustível fortalece toda a cadeia de produção de cereais. Nossa macrorregião pertence ao Cerrado e a evolução do trigo tropical passa por esse treinamento que a gente está fazendo. Está sendo muito produtivo”, avaliou.

    Possibilidades de parcerias

    O evento também foi importante na perspectiva de gerar, por parte das cooperativas, interesse em algumas das linhas de pesquisa da Embrapa Agroenergia. Juliana Evangelista, Chefe de Transferência de Tecnologia, falou sobre os modelos tradicionais de parcerias e cooperação por meio de financiamento. Juliana explicou que a Embrapa Agroenergia tem duas iniciativas importantes: a primeira é o “Portas Abertas”, na qual os laboratórios podem receber empresas e utilizar a infraestrutura da Unidade, e a outra é o credenciamento da Embrapa Agroenergia junto à Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), empresa federal que pode fazer aporte financeiro nos projetos para a inovação industrial.

    Segundo o modelo de fomento, os recursos Embrapii podem ser utilizados para custear 1/3 do valor de cada projeto em parceria com empresas. A indústria parceira fica responsável por financiar mais 1/3 do montante e a Embrapa completa o terço restante, que corresponde a infraestrutura e pessoal.

    O encontro finalizou com uma visita guiada aos laboratórios e áreas experimentais da Embrapa Agroenergia, conduzida pelo supervisor do Setor de Gestão de Laboratórios Felipe Carvalho.

  • Mercado doméstico de trigo registra queda nos preços e baixa liquidez

    Mercado doméstico de trigo registra queda nos preços e baixa liquidez

    O mercado doméstico de trigo segue enfrentando um cenário de baixa liquidez e preços em queda, especialmente nas principais regiões produtoras do Paraná e do Rio Grande do Sul. De acordo com levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os valores atuais atingiram os menores patamares desde abril e maio deste ano, período que antecede a semeadura.

    Pesquisadores do Cepea explicam que o cenário de desvalorização é resultado das expressivas importações registradas nos últimos meses, além das recentes compras no mercado spot nacional. Esse abastecimento dos demandantes reduziu a necessidade de novas aquisições, limitando o avanço das negociações.

    Na tentativa de escoar os estoques, vendedores chegaram a reduzir os valores de suas ofertas. No entanto, mesmo com a queda nos preços, a estratégia não foi suficiente para atrair compradores, que seguem cautelosos em suas movimentações.

    Ainda segundo o Cepea, a expectativa entre agentes do setor é de que negociações mais volumosas sejam retomadas apenas no início do próximo ano, quando a demanda pode ganhar novo fôlego. Até lá, o mercado deve continuar operando de forma mais contida, com poucas transações e tendência de manutenção nos níveis atuais de preços.

  • Trigo/Cepea: Importações são as maiores em 4 anos

    Trigo/Cepea: Importações são as maiores em 4 anos

    As importações brasileiras de trigo vêm crescendo neste ano, com o volume adquirido em 12 meses sendo o maior em quatro anos.

    Em novembro, mesmo com a proximidade do encerramento da colheita no Brasil e com o aumento da paridade de importação, as compras externas seguiram firmes.

    A maior oferta de trigo na Argentina a valores competitivos vem favorecendo as aquisições, conforme explicam pesquisadores do Cepea.

    Foram 427,53 mil toneladas de trigo importadas em novembro/24, quantidade 33% superior à de novembro/23. Do total, 79,5% tiveram como origem a Argentina, representando o maior volume importado do país nos últimos seis meses – dados Secex.

    No acumulado de 12 meses, o Brasil importou 6,52 milhões de toneladas, sendo a maior quantidade desde o mesmo período encerrado em novembro/20 (6,53 milhões de toneladas), ainda conforme dados da Secex analisados pelo Cepea.

  • Preços do trigo recuam na reta final da colheita, mas dólar elevado pode conter quedas mais expressivas

    Preços do trigo recuam na reta final da colheita, mas dólar elevado pode conter quedas mais expressivas

    Com a colheita de trigo na reta final, os preços domésticos do cereal enfrentam enfraquecimento, segundo levantamentos do Cepea. No entanto, o dólar em patamar recorde frente ao Real tem potencial para encarecer as importações e, assim, oferecer suporte aos valores internos.

    Em novembro, a média mensal do trigo no Rio Grande do Sul foi de R$ 1.265,61 por tonelada, representando uma queda de 1,1% em relação a outubro deste ano e de 0,3% frente a novembro de 2023, em termos reais, considerando o deflacionamento pelo IGP-DI. No Paraná, a média foi de R$ 1.429,98/t, estável em comparação ao mês anterior, mas 7,4% superior à de novembro do ano passado.

    São Paulo se destacou com aumentos mais expressivos: o preço médio em novembro foi de R$ 1.584,73/t, alta de 3,2% frente a outubro/24 e de 23,6% em relação a novembro/23. Já em Santa Catarina, a média ficou em R$ 1.426,82/t, 1,5% abaixo da de outubro, mas 2,6% acima da do mesmo mês no ano passado.

    Segundo pesquisadores do Cepea, embora a pressão da colheita ainda atue sobre os preços, o cenário cambial pode equilibrar o mercado ao dificultar a competitividade do trigo importado. O impacto do dólar elevado será um fator crucial para as negociações nas próximas semanas.

  • Diferentes cenários mostram como o trigo avança no Cerrado Brasileiro

    Diferentes cenários mostram como o trigo avança no Cerrado Brasileiro

    Com uma área próxima a 450 mil hectares na safra 2024, o trigo tropical vem ganhando espaço no Cerrado nos últimos anos. O cultivo está crescendo em diferentes ambientes, onde cada região tem particularidades que orientam o avanço da triticultura tropical no Brasil. Veja na reportagem como evolui a produção e a comercialização de trigo nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.

    Na produção agrícola do Brasil Central, o trigo tem sido utilizado como alternativa na rotação de culturas com grãos e hortaliças para quebra do ciclo de previsões e doenças. A geração de tecnologias e a transferência de conhecimentos garantiram o crescimento de 119% na área e de 95% na produção de trigo tropical nos últimos sete anos (Conab 2018-2024). O crescimento é resultado da oferta de cultivares e conhecimentos em manejo, desenvolvidos por diferentes empresas que atuam na pesquisa e na assistência técnica em trigo tropical.

     Plante trigo para colher feijão

    Para produzir feijão na região de Goiás, foi preciso encontrar uma cultura capaz de interromper o ciclo de doenças como antracnose, fusariose, mofo branco ou, ainda, nematoides no solo, além de fazer a recuperação do solo. “O cultivo de feijão estava se tornando inviável no começo dos anos 1990. Apesar do bom preço, as produtividades vinham diminuindo nas áreas com monocultivo de feijão. Precisávamos aprimorar o sistema de rotação de culturas e o trigo surgiu como a melhor alternativa”, conta o engenheiro agrônomo da Coopa-DF, Cláudio Malinski. Além da disponibilidade de sementes e da garantia de compra do trigo produzido, a cooperativa iniciou uma campanha com o slogan “Plante trigo para colher feijão”, explicando técnicos a importância de inserir o cereal de inverno no sistema de produção. “Mais tarde, o trigo benéfico também para a soja, ajudando no controle de plantas específicas como buva e capim amargoso. Temos resultados de até seis sacos a mais de soja após o cultivo do trigo”, conta Cláudio.

    A entrada do trigo na Coopa-DF ocorreu à construção do moinho, em 1994, que passou a agregar ainda mais valor à produção. Hoje o trigo representa 9% do volume de grãos que a cooperativa recebe e 33% no faturamento geral. “Sem o trigo, seria impossível manter o sistema produtivo com grãos na região”, conclui Cláudio Malinski.

    Trigo como protagonista

    Entre os cooperados da Coopa-DF estão os produtores Paulo Bonato e o filho Luis Felipe Bonato, com fazendas de grãos em Cristalina/GO e Planaltina/DF. Na rotação, são culturas como soja, milho, feijão e trigo (sequeiro e irrigado). “Meu pai e meu avô trabalharam com hortaliças também. Financeiramente, produzir hortaliças é mais vantajoso, mas agronomicamente não é sustentável no longo prazo”, explica Paulo Bonato.

    O trigo irrigado chegou ao sistema de produção da família Bonato há 30 anos, com evolução gradual na área destinada ao cultivo. Nos anos 1990, eram 50 hectares (ha), passando para 100 ha nos anos 2000, chegando a 200 ha em 2024. “O tamanho da área pode aumentar ou diminuir, mudando em função da rotação dos pivôs”, conta Paulo Bonato, lembrando que “à medida que a área aumenta, também aumenta os problemas, já que a pressão no ambiente revelada na maior incidência de doenças, como a brusone”. A estratégia do produtor para escapar da brusone (principal doença do trigo tropical) foi ajustar os dados de semeadura, semeando o trigo de sequeiro após 10 de março e o trigo irrigado após 10 de maio A colheita em 2023 chegou a 27 sacos por hectare (sc/ha) de média no trigo. de sequeiro e um 138 sc/ha no trigo irrigado “O rendimento mais baixo no trigo de sequeiro é compensado pela qualidade e o menor custo, além da palhada que o trigo deixa para próxima cultura, ajudando a reduzir plantas que são de difícil controle em outras culturas”, afirma o produtor, lembrando que o custo de produção no trigo irrigado pode chegar a 100 sc/ha, contabilizando até seis aplicações de fungicidas, enquanto no sequeiro, algumas vezes, o custo empata com os ganhos, mas o trigo acaba trazendo benefícios para o sistema de produção.

    Em função do trigo, a família Bonato fez ajustes no sistema de segurança para suprir a demanda que atinge cerca de 500 mm de água por hectare no trigo irrigado. “Investimos em sensores que monitoram a umidade do solo para acionar os pivôs. Um sistema que reduz o consumo de água e de luz, além de suprir o trigo no momento de maior demanda das plantas”, explica Luis Felipe Bonato.

    Rotação com hortaliças

    Em diversas regiões do Cerrado, o trigo irrigado é utilizado na rotação com culturas como feijão e hortaliças, como batata, cenoura, cebola e alho. “O trigo é candidato preferido na rotação porque reduz os principais problemas no cultivo, já que consegue quebrar o ciclo de doenças de solo, como o podridão de esclerotínia ou mofo branco e a fusariose, além de inibir a multiplicação de determinados nematoides”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Chagas.

    A sede da cooperativa Coopadap está localizada em São Gotardo, MG. A cidade é conhecida como “capital nacional da cenoura” e responde por aproximadamente 70% da produção nacional de cenoura. Em 2023, os cooperados da Coopadap cultivaram 1.300 hectares de cenoura e 1.600 hectares de alho, culturas de alto valor agregado que movimentam a economia da região, cuja produção é voltada ao mercado nacional e internacional. O trigo irrigado foi utilizado em 3.800 hectares, principalmente em áreas para rotação de culturas.

    De acordo com o gerente de pesquisa da Coopadap, Luciel Dezordi, a rotação beneficia tanto o trigo quanto as hortaliças. “O trigo consegue aproveitar o resíduo de adubo deixado pela cenoura, formando um trabalho de menor custo com alto potencial de rendimento. Por outro lado, as raízes do trigo podem chegar a quase um metro de profundidade, melhorando o solo para o cultivo das hortaliças”, diz Luciel.

    Seca ainda é o maior adversário

    A região do Cerrado é marcada por duas estações: a estação das águas (primavera/verão) e a estação seca (outono/inverno). A semeadura do trigo começa no final das chuvas, nos meses de março e abril no cultivo de sequeiro, e de abril a junho no cultivo irrigado. “Antecipar esta semelhança, aumenta os riscos para a incidência de brusone, mas se protelar muito, falta água para implantar a lavoura e pode comprometer o desenvolvimento das plantas”, explica o pesquisador Vanoli Fronza, da Embrapa Trigo. Segundo ele, o clima quente e seco dos últimos anos tem desafiado o manejo do produtor: “A chuva cessou mais cedo neste ano, prejudicando o desenvolvimento das plantas e causando queda no peso do hectolitro (PH), resultando em grãos pequenos e leves no trigo de sequeiro. O calor também acelerou o ciclo das plantas, antecipando a colheita”.

    Na Fazenda Jaguarandi, em Ponta Porã, MS, foram cultivados 1.890 ha com trigo de sequeiro nesta safra mas, com apenas 70mm de chuvas, muitas áreas precisaram ser replantadas. “No ano passado, a média de produtividade ficou em 50 sc/ha e neste ano fechou em 15 sc/ha”, lamenta o responsável técnico da fazenda, Rodrigo do Amaral. Apesar da frustração, o trigo deve seguir dividindo espaço com o milho na rotação de culturas no inverno: “Sabemos a importância da grama no inverno para manter os rendimentos da soja no verão e não podemos apostar somente no milho. É preciso diversificar para diluir os riscos”, diz Rodrigo.

    Na Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) da Coopadap, o responsável Marcelo Guerra também sente os impactos do clima seco e quente que está afetando o trigo no Cerrado: “Historicamente, o trigo chegava na UBS nos meses de julho e agosto. Nas últimas safras, recebemos trigo a partir de junho, prolongando o tempo que as sementes ficarão guardadas. As temperaturas mais altas no inverno também favoreceram os carunchos, exigindo, pela primeira vez, investimento em expurgo para controle de legislações nos orgânicos”.

    Em 2023, a média de rendimento do trigo de sequeiro em MS era de 46 sc/ha, enquanto em 2024 ficou em 18 sc/ha. O calor também aumentou a evaporação da água no cultivo irrigado, aumentando os custos de produção. Em geral, a produtividade média nas lavouras de GO, MG e DF deverá oscilar entre 30 sc/ha nos cultivos de sequeiro e 115 sc/ha no trigo irrigado.

    O desenvolvimento de cultivares mais adaptadas à seca e ao calor é imperativo em programas de melhoramento genético para trigo tropical. O crescimento na oferta de cultivares passou de 17 na década de 1990 para 33 cultivares em 2023. Para o pesquisador Joaquim Soares Sobrinho, a cultivar de trigo de sequeiro BRS 404, lançada em 2015, é uma prova deste esforço: “A BRS 404 tem mostraram um desempenho superior em condições de déficit hídrico, com rendimentos até 12% superiores quando comparados às demais cultivares utilizadas na região”, conta Joaquim. Outro destaque da pesquisa é a cultivar de trigo irrigado BRS 264, lançada ainda em 2005, que possibilitou a colheita sete dias antes do que as demais cultivares disponíveis no mercado na época, permitindo economia de água. “Trabalhamos hoje, além do melhoramento genético, com novas tecnologias em marcadores moleculares e transgenia. Acredito que logo o trigo tropical vai passar por uma revolução através das cultivares que estão em processo final de seleção”, conclui o pesquisador.

    Do produtor direto para a indústria

    O clima quente e seco que afeta o trigo na lavoura, pode favorecer as operações na indústria moageira. “O trigo sai da lavoura com menos de 12% de umidade e elimina a etapa de secagem quando chega na indústria. Vai do caminhão direto para o silo e parte para a moagem”, conta a diretora da Talita Alimentos, Maiko Priamo. A indústria, com base no sudoeste do Paraná, chegou a Dourados, MS, em 2021, instalando uma planta para mais de 90 toneladas de trigo/dia. “Utilizamos 95% de trigo nacional, mas queremos ampliar ainda mais a compra do trigo tropical produzido na região para suprir parte da demanda do nosso outro moinho instalado no Paraná”, informa Maiko. A próxima meta da Talita Alimentos é construir uma unidade cerealista para fazer a logística dos grãos.

    No Moinho Sete Irmãos, com sede em Uberlândia, MG, o contato direto com os produtores garante a uniformidade do produto final. A expectativa é que a entrada de novos operadores na triticultura tropical aumente a oferta de trigo de qualidade na região: “Há dez anos, falávamos em 80 mil toneladas de trigo produzido no Cerrado. Agora falamos das 450 mil toneladas. O crescimento tem garantido o fornecimento de 95% do moinho com trigo produzido no triângulo mineiro, facilitando a logística e gerando renda na região”, avalia o gerente comercial Max Mahlow. A seca nesta safra preocupa o gestor, por isso ele justifica a necessidade de ampliar a produção em todo o Cerrado.

    De olho neste mercado, a cooperativa Cooperalfa, com sede em Chapecó, SC, chegou ao Mato Grosso do Sul em 2014. O objetivo inicial era fomentar milho para abastecer a indústria de suínos e aves em Santa Catarina, mas a cooperativa passou a contar com uma fábrica de rações instaladas em Dourados, MS, suprindo os cooperados no modelo de integração e também para as matrizes em Sidrolândia, MS. Agora o trigo é alvo, inicialmente para ser destinado ao moinho da Cooperalfa em Santa Catarina: “O trigo produzido em MS pode suprir parte das necessidades do moinho, principalmente em anos de frustração climática com o trigo no Sul”, informa o engenheiro agrônomo da Cooperalfa, Luan Pivato, destacando também as características de qualidade do trigo produzido em MS. Avaliando o aspecto econômico do negócio de moagem, ele destaca que é mais barato importar trigo, mas o cultivo do cereal na região é necessário para a sustentabilidade da produção de grãos: “O produtor de MS trabalha somente com soja e milho há muitos anos no sistema de produção. Quando colocamos o trigo no sistema, temos vários benefícios agronômicos como ciclagem de nutrientes e manejo de plantas específicas. Os resultados do trigo refletem na produtividade da soja e do milho a longo prazo”.

    Conforme estimativa do pesquisador Cláudio Lazzarotto, da Embrapa Agropecuária Oeste, se utilizado apenas 1% da área de milho safrinha para cultivo do trigo em sucessão à soja, o estado de Mato Grosso do Sul teria cerca de 210 mil ha com trigo/ano, considerando apenas os dez municípios com melhores condições de altitude, solo e temperatura desenvolvidos ao trigo. “O objetivo não é substituir toda a produção de milho, mas fazer rotações de gramíneas para o maior sucesso no sistema produtivo com diferentes alternativas de mercado ao produtor”, argumenta Lazzarotto.

    Crescimento em todos os elos

    Na Sementes Jotabasso, o trigo entrou para complementar o portfólio e oferecer uma alternativa adicional na safra de inverno aos produtores. Voltada à comercialização de sementes de soja e de sorgo, a empresa começou a produzir sementes de trigo há cerca de três anos e mantém uma área expressiva de sua produção dedicada à cultura. De acordo com o gerente de produção da unidade Jotabasso em Ponta Porã, MS, Guilherme de Souza, as sementes de trigo são destinadas principalmente aos mercados de SP, PR e MS. “Vimos a demanda de trigo em MS crescer 50% em relação ao ano passado, isso mostra o interesse do produtor em investir na cultura”, observa Guilherme.

    Na Sementes Aurora, de Cristalina, DF, o trigo começou para o negócio há 15 anos, com 80 hectares. Na safra 2023, a produção de sementes chegou a 800 hectares com trigo de sequeiro e 700 hectares com trigo irrigado. Mesmo com o aumento na demanda, a taxa de uso de semente certificada no trigo tropical está estimada em 50% na região. “O custo alto da semente resulta, principalmente, da necessidade de fazer um bom investimento em fertilizantes para produzir semente de qualidade. O preço e a dificuldade de obter algumas cultivares levam o produtor a salvar grãos para usar como semente na próxima safra. Mas acredito que o produtor está ficando mais consciente, não apenas do valor de investir em semente de qualidade, mas também de investir na labora. O trigo tropical tem retorno financeiro na maioria dos anos”, avalia o engenheiro agrônomo Moacir Messias.

  • Preço competitivo do trigo no Rio Grande do Sul atrai compradores de outros estados

    Preço competitivo do trigo no Rio Grande do Sul atrai compradores de outros estados

    Levantamentos do Cepea indicam que os preços do trigo no mercado de lotes do Rio Grande do Sul, atualmente entre R$ 1.250,00 e R$ 1.300,00 por tonelada, têm chamado a atenção de compradores de outras regiões do Brasil. No Paraná, os valores do cereal no mercado de lotes ultrapassam os R$ 1.400,00 por tonelada, enquanto no interior de São Paulo o preço chega a R$ 1.500,00 por tonelada. Na região metropolitana de São Paulo, os preços são ainda mais elevados, alcançando R$ 1.650,00 por tonelada.

    Pesquisadores do Cepea destacam que a atual temporada de trigo no Rio Grande do Sul é expressivamente maior, registrando uma produção 76,2% superior à do Paraná. Esse cenário contrasta com o ano de 2023, quando a colheita gaúcha foi 20% inferior à paranaense, segundo dados da Conab. A produção robusta no Rio Grande do Sul contribuiu para preços mais competitivos, favorecendo a comercialização interestadual.

    Repercussões no mercado nacional

    O diferencial de preços entre os estados evidencia a dinâmica do mercado nacional de trigo, com o Rio Grande do Sul consolidando-se como um fornecedor estratégico para regiões onde os preços são mais elevados, como São Paulo. A movimentação entre estados ressalta a importância da logística e da competitividade regional para o abastecimento interno.

    Com a safra abundante no Rio Grande do Sul e os preços mais baixos, o estado se posiciona como um player fundamental na manutenção do equilíbrio entre oferta e demanda no mercado brasileiro de trigo.

  • Mercado do trigo apresenta estabilidade nos preços domésticos apesar da queda nos valores internacionais

    Mercado do trigo apresenta estabilidade nos preços domésticos apesar da queda nos valores internacionais

    Os preços domésticos do trigo mostraram menor variação na última semana, contrastando com a queda acentuada dos valores no mercado internacional, segundo dados do Cepea. Pesquisadores destacam que, no Brasil, a colheita do cereal está se aproximando do fim, e estimativas oficiais indicam estabilidade na oferta nacional, o que tem sustentado os preços.

    De acordo com a Conab, a área plantada com trigo no Brasil foi de 3,07 milhões de hectares em 2024, representando uma redução de 11,6% em relação ao ano anterior. No entanto, a produtividade nacional deve crescer 13,3%, mesmo com a queda de quase 20% no rendimento médio no Paraná, estado tradicionalmente responsável por grande parte da produção de trigo do país.

    Esse aumento na produtividade nacional deve compensar a redução de área, mantendo a oferta do cereal em 8,1 milhões de toneladas, ligeiramente acima (0,1%) do volume registrado em 2023. O cenário reflete a resiliência do setor diante dos desafios climáticos e de mercado, com os produtores ajustando suas estratégias para manter o equilíbrio na produção e atender à demanda doméstica.

  • Produtividade do trigo no Rio Grande do Sul apresenta grande variação

    Produtividade do trigo no Rio Grande do Sul apresenta grande variação

    A produção de trigo no Rio Grande do Sul está mostrando grande variabilidade em termos de produtividade, conforme o mais recente levantamento realizado pela Emater/RS-Ascar, divulgado no Informativo Conjuntural de 7 de novembro. As regiões do Alto Botucaraí, Planalto e Campos de Cima da Serra se destacam pelo maior potencial produtivo, mas mesmo dentro dessas áreas, os rendimentos podem variar significativamente devido a uma combinação de fatores, como condições climáticas, escolha de cultivares, práticas de rotação de culturas, época de semeadura e o nível de tecnologia utilizada. A média de produtividade no estado gira em torno de 50 a 62 sacas por hectare (sc/ha), segundo os técnicos da Emater.

    Marcelo Klein, engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, destaca que ainda existem incertezas quanto à qualidade do trigo colhido nesta safra. “Em diferentes regiões do estado, há tanto produtores quanto indústrias comemorando a qualidade dos grãos, assim como outros reclamando dos resultados. Precisamos esperar o fim da colheita para uma avaliação mais precisa, sem nos deixar levar pela especulação do mercado”, afirma Klein.

    No município de Ciríaco, no Planalto gaúcho, o produtor Ademar Leite da Silva, que cultiva 60 hectares, aproveitou a recente janela de clima favorável para acelerar o trabalho no campo. Em sua propriedade, a colhedora de trigo e a semeadora de soja dividem espaço, uma estratégia que reflete o ditado “tempo é dinheiro” na agricultura. “Precisamos aproveitar o tempo bom para colocar as máquinas no campo”, diz Ademar, que espera uma produtividade média de 70 sc/ha nesta safra. Apesar do bom rendimento, ele observa a queda nos preços: “Em 2022, vendi trigo a R$ 105 por saca; hoje o preço está em R$ 80”, comenta, ressaltando que a rotação de culturas entre trigo, soja e milho é fundamental para a saúde do solo.

    Campos de Cima da Serra mantém estabilidade produtiva

    Os Campos de Cima da Serra, tradicionalmente conhecidos por atingir os maiores tetos produtivos de trigo de sequeiro no Brasil, continuam a apresentar bons resultados. O ambiente com maior altitude, radiação solar intensa e temperaturas amenas cria condições ideais para o cultivo de cereais de inverno. A empresa Sementes Com Vigor, que plantou mais de 2 mil hectares de trigo na região, registrou um rendimento médio de 80 sc/ha nas primeiras colheitas em Muitos Capões.

    O produtor Pedro Basso destaca que, apesar dos desafios climáticos, como o aumento das temperaturas em agosto que favoreceu o desenvolvimento de fungos e bactérias, a safra deste ano foi bem-sucedida graças ao clima favorável durante a colheita. “Embora o calor no final do inverno tenha acelerado o ciclo das plantas, antecipando a colheita em quase duas semanas, no final tivemos uma safra com bons rendimentos e qualidade industrial”, analisa Basso.

    Trigo gaúcho abastece indústria local de panificação

    Com a colheita avançando, o trigo da região está começando a chegar ao Moinho Vacaria, uma das indústrias de moagem mais tradicionais do estado, fundada em 1956. A empresa, administrada por Frank e Henry Kim Ting, pai e filho, aposta na proximidade com os produtores locais para garantir a qualidade da matéria-prima e reduzir custos de logística.

    “O objetivo sempre foi estar perto da produção de trigo, mantendo contato direto com o produtor”, explica Henry. “Graças à localização estratégica do moinho, conseguimos acesso rápido aos melhores trigos do Brasil. Na maioria das vezes, não precisamos realizar mesclas para melhorar a qualidade da farinha para panificação. O trigo produzido aqui é comparável ao das melhores regiões tritícolas do mundo.”

    Henry destaca ainda que a região conta com produtores altamente tecnificados e com acesso a centros de pesquisa que desenvolvem tecnologias para todas as etapas do cultivo até o produto final. Para fortalecer essa cadeia, o moinho lançou o programa “Caminhos do Trigo”, que visa unir o campo, a ciência e a indústria. “Nosso objetivo é beneficiar o consumidor final, que terá acesso a produtos de alta qualidade”, conclui Henry.

    Com o avanço da colheita no estado, as expectativas são de uma safra positiva tanto em termos de produtividade quanto de qualidade, apesar dos desafios impostos pelas condições climáticas e pela variação de preços no mercado. O foco agora é monitorar os resultados finais para avaliar o impacto econômico dessa safra para os produtores gaúchos.

  • Preços do trigo sobem no Brasil, impulsionados por alta internacional e possível intervenção governamental

    Preços do trigo sobem no Brasil, impulsionados por alta internacional e possível intervenção governamental

    Os preços do trigo no mercado interno brasileiro registraram alta ao longo da última semana, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Esse movimento de valorização foi influenciado por dois fatores principais: a alta nas cotações da Bolsa de Chicago e as expectativas de que o governo federal possa lançar um edital para compra do cereal.

    Apesar de o Brasil estar em plena fase de colheita e de o país ter intensificado suas importações, os preços internos reagiram positivamente. Em outubro, os portos brasileiros receberam 552,4 mil toneladas de trigo, marcando o maior volume para o mês em um período de cinco anos. No acumulado de 2024, o total importado já chega a 5,7 milhões de toneladas, o maior desde 2013.

    Pesquisadores do Cepea destacam que o aumento nas cotações domésticas ocorreu mesmo diante de um cenário de abundância na oferta, tanto pela produção local quanto pelas compras no exterior. No entanto, o suporte vindo do mercado internacional e a possibilidade de ações governamentais para aquisições adicionais têm sustentado os preços internamente.

    Essas movimentações indicam que, apesar do avanço na colheita nacional, o mercado ainda está atento às dinâmicas internacionais e à política de estoques no Brasil, o que pode influenciar tanto os produtores quanto a indústria de alimentos nos próximos meses.

  • Chuvas no sul do Brasil afeta trigo e eleva preços em São Paulo

    Chuvas no sul do Brasil afeta trigo e eleva preços em São Paulo

    As chuvas intensas no sul do Brasil estão prejudicando os trabalhos de trigo, especialmente no Rio Grande do Sul. Com isso, muitos triticultores consultados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) decidiram reduzir sua participação nas negociações do mercado spot nacional, preferindo aguardar o desenvolvimento da safra.

    Aqueles que permanecem ativos no mercado ajustaram os valores das ofertas para baixo, devido ao risco de perda de qualidade dos grãos em razão das condições climáticas desfavoráveis.

    Em São Paulo, os preços do trigo registram forte elevação. De acordo com o Cepea, essa alta se deve à baixa produtividade no estado, onde, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 98% da área cultivada já foi colhida.

    O cenário reforça a preocupação com a oferta nacional e a qualidade do grão disponível, especialmente num contexto de menor produtividade e de adversidades climáticas.