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  • Coluna – Palmeiras e Flamengo em busca de recordes

    Coluna – Palmeiras e Flamengo em busca de recordes

    A semana pode ser de fechamento da temporada brasileira de futebol, ao menos no que se refere à definição dos campeões. As Séries C e D já terminaram; a B já tem o Cruzeiro como dono da taça; a Copa Sul-Americana já foi para Equador; nos restam, então, a Série A do Brasileirão e a Copa Libertadores. E no sábado (29), as duas competições já podem estar definidas.

    Na verdade, a Libertadores terá sua final no sábado (29), entre Flamengo e Athletico-PR. E por isso começo falando dela. Porque vai reunir duas equipes que têm se destacado no futebol brasileiro, uma pelos títulos conquistados nos últimos anos, e outra pela evolução constante, com títulos nacionais e internacionais recentes no currículo. Evidente que o Flamengo desponta como favorito, mas não se pode descartar a força de uma equipe que está no alto da tabela do Brasileirão e que tem o experiente Felipão como treinador.

    Mas, como estamos falando de recordes, vou me dedicar ao Flamengo. Nesta edição o Rubro-Negro já tem o recorde de vitórias no atual formato, com 32 times. São 11 triunfos e apenas um empate. Se vencer o Furacão no sábado (29) vai se igualar a São Paulo, Palmeiras, Santos e Grêmio, com os mesmos três títulos. Além disso, entrará no seleto grupo de apenas seis times campeões invictos, em 62 edições de Libertadores: o uruguaio Peñarol (1960); os argentinos Independiente (1964), Estudiantes (1969 e 1970) e Boca Juniors (1978); e os brasileiros Santos (1963) e Corinthians (2012) – à época, o time paulista somou oito vitórias e seis empates, lembrando que, ao contrário de agora, a final era disputada em jogos de ida-e-volta.

    A campanha atual, inclusive, é bem superior à do Palmeiras de 2021, que teve oito vitórias, marcou 27 gols e sofreu nove. E mais: este ano o Flamengo atropelou no mata-mata a partir das oitavas de final, com seis vitórias em seis jogos, incluindo um 7 a 1 sobre o Tolima (COL). Nem o time de Jorge Jesus, campeão de 2019, conseguiu esta façanha.

    São motivos extras para essa equipe que faz história. Só falta combinar com o Athletico-PR, que em sua oitava participação espera ter melhor resultado do que em 2005, quando perdeu na final para o São Paulo.

    Quatro rodadas de antecedência

    Na Série A do Brasileirão a história é um pouco diferente, porque o Palmeiras tem ampla vantagem contra os rivais e não terá um jogo decisivo contra um rival direto, a menos que haja uma catástrofe e o Verdão chegue na última rodada contra o Internacional, atual vice-líder, precisando de algum resultado.

    No momento a vantagem é de dez pontos e hoje (25) o Palmeiras enfrenta o Athletico-PR, que por estar na final da Libertadores irá a campo com um time reserva. Em tese facilita. Mas, de qualquer forma, o título não sairá nesse jogo, porque o time paulista vai depender de empates do Corinthians e do Internacional, nos jogos desta quarta-feira (26).

    Como estamos aqui para falar de recordes, vamos a eles. Se o Palmeiras confirmar o título na 34ª rodada, ou seja, com quatro rodadas de antecedência, se iguala a Flamengo (2019), Cruzeiro (2013) e São Paulo (2007). E a campanha pode ter outras marcas expressivas, em especial fora de casa. O Verdão pode ser o primeiro campeão dos pontos corridos invicto como visitante. Já são 16 jogos, um recorde no atual formato do campeonato – somando outros dois jogos de 2021, vamos a 18 jogos de invencibilidade, a maior série desde 2003. O time soma 34 pontos, vai disputar mais nove (contra Athletico, Cuiabá e Internacional) e pode chegar a 43, superando o Fluminense de 2012, que marcou 39. Com nove vitórias como visitante, o time também superaria o mesmo Fluminense e o Flamengo de 2019, que tiveram 11 desde 2006.

    Os 90 pontos somados pelo Flamengo em 2019, e as 28 vitórias, não serão alcançados – o Palmeiras chega no máximo a 86 pontos e 25 vitórias. No momento o time paulista soma 56 gols e precisaria fazer 30 para igualar o Rubro-Negro. A defesa do São Paulo de 2007, que sofreu apenas 19 gols, não será superada, já que o Palmeiras sofreu 21 gols até o momento. Isso deixa o time paulista com 35 gols de saldo, bem inferior aos 49 do campeão de 2019.

    Invicto a 18 jogos, o Palmeiras pode chegar a 23, e não supera o Flamengo, que completou 24. Com 32 pontos no returno, pode chegar a 47 e igualar o turno do Corinthians de 2017, mas ficará abaixo do returno do Flamengo de 2019, com 48.

    Mas há recordes a serem batidos, como o de menor número de derrotas. No momento, com apenas duas, tem boas chances de superar São Paulo (2006), ele mesmo em 2018 e o Flamengo (2019), que perderam quatro vezes no campeonato. E pode repetir o que já fez nos títulos de 2016 e 2018, quando foi campeão com o melhor ataque e a melhor defesa, algo que São Paulo (2006) e Corinthians (2015) também conseguiram.

    * Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil

    Edição: Cláudia Soares Rodrigues

  • Tem muita coisa errada no futebol brasileiro

    Tem muita coisa errada no futebol brasileiro

    Flamengo e Corinthians entram em campo nesta quarta-feira (19) para decidir a Copa do Brasil. Será o jogo mais importante da história de confrontos das duas equipes que reúnem as maiores torcidas do país, e logo no Maracanã, palco mais tradicional do futebol brasileiro. Uma oportunidade para mostrar a grandeza do nosso futebol. Mas, infelizmente, não é bem assim que vivemos esses dias que antecedem esta final.

    O fim de semana foi de causar vergonha. Um jogo adiado por questões jurídicas e dois encerrados antes do apito final, que nem houve, por invasão de campo e briga de torcedores. Que cenário, pior ainda se considerarmos que o adiamento de Goiás x Corinthians também foi por uma questão envolvendo as torcidas – deveria ser única ou com o estádio recebendo as duas, com histórico de violência entre elas?

    E desde então não se fala em outra coisa. Que punições Ceará e Sport, mandantes dos tais jogos interrompidos, devem receber? E os jogadores do Vasco, que, em tese, provocaram a reação dos torcedores pernambucanos? Quem dera pudéssemos falar que Ceará e Cuiabá seguem brigando contra o rebaixamento; que Sport e Vasco lutam para subir para a Série A. Mas não, o assunto é outro.

    E é outro porque o problema maior não está no que aconteceu no fim de semana, mas sim na legislação branda que não pune, nem clubes, nem dirigentes, nem torcedores na medida devida. E não será dessa vez, de novo. De que adianta fechar os portões, transferir os jogos, suspender por sei lá quantos jogos, imputar uma multa de milhares de reais? Satisfaz no momento, mas logo tudo voltará a acontecer.

    Nem vale a pena pesquisar para dizer quantas vezes já vimos esse filme. Cada torcedor, de cada estado, já vivenciou isso em competições nacionais e regionais. E os vândalos que invadem e brigam, até com hora marcada – e até em dias em que não há futebol -, seguem soltos, vão ao estádio sem que haja controle para barrar a entrada deles. Os dirigentes continuam à frente dos clubes; os jogadores vão mais e mais provocar de forma acintosa; os clubes não vão cuidar de seus estádios e dar a devida segurança; e as autoridades vão cumprir a lei, que pouco adianta, haja vista o que mais uma vez estamos vivendo no nosso futebol.

    A final esperada

    Mudando de assunto, volto à decisão da Copa do Brasil. Expectativa boa dos dois lados, afinal tanto Flamengo quanto Corinthians têm bons elencos, embora, reconhecidamente, o do Rubro-Negro carioca seja melhor. O que não significa absolutamente nada em um jogo desse porte. Nem mesmo o retrospecto recente é capaz de dar ao Flamengo grande favoritismo, assim como jogar no Maracanã, diante da torcida, garante a vitória – não são poucos os tropeços do Mais Querido no estádio, para decepção dos torcedores.

    Final em aberto, e não me venham dizer que o Flamengo não poderia pegar adversário melhor. Se Palmeiras e Atlético-MG ficaram pelo caminho, a “culpa” não é dos finalistas, mas sim dos que não tiveram competência pra chegar na decisão.

    Acesso à Série B

    Nesse mesmo espaço, no dia 19 de julho, escrevi sobre a Série B. Dei até meu palpite, antes da última rodada do turno, baseado no desempenho das equipes até aquele momento. Meu palpite? Cruzeiro, Vasco e Grêmio, nessa ordem, sobem para a Série A. O Bahia, pela tendência de queda nos últimos jogos, ficaria em quarto, mas a chegada do técnico Enderson Moreira pode mudar, e muito, essa caminhada. Eu fecharia o G4 assim, com chances reduzidas, para Sampaio Corrêa, Sport e os demais.

    A matemática é uma ciência exata, bem diferente do futebol, mas ajuda muito. Vejam que Enderson até já foi demitido do Bahia, mas o Tricolor segue no alto da tabela. Os demais lutam para chegar lá e, desde o fim do turno, já estiveram próximos do G4, além dos citados, o Ituano, o Tombense e o Londrina. Mas a irregularidade é marca registrada dessa edição da Série B. Prometia ser a mais difícil, mas está sendo a mais fácil dos últimos anos, apesar da tensão que vai cercar os três últimos jogos.

    Apenas oitavo lugar

    Por fim, Vini Júnior em oitavo lugar, entre os melhores do mundo. Nem é visto como titular na Copa. Neymar sequer foi relacionado entre os 30, na lista final. É muito esquisito não termos um representante com chances reais de vencer a premiação. Até que ponto essa falta de representatividade vai repercutir na seleção? A resposta virá a partir de 20 de novembro, lá no Catar.

    * Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil

  • Coluna – O Atlético-MG contrata, mas o Barcelona abre mão de Messi

    Coluna – O Atlético-MG contrata, mas o Barcelona abre mão de Messi

    Duas negociações chamam a atenção nesta terça-feira (10). Na Europa, o Barcelona abre mão de Messi, que é anunciado pelo PSG. No Brasil, o Atlético-MG, cheio de estrelas, trabalha para ter mais uma: o atacante Diego Costa, brasileiro naturalizado espanhol. O que uma coisa tem a ver com a outra? O Barcelona, em junho, admitiu uma dívida de pouco mais de 1 bilhão de euros, mas no encerramento da temporada 2019/2020 foi o clube, no mundo, que mais faturou – 715 milhões de euros, ou cerca de 70%. O Atlético, em abril, assumiu estar devendo R$ 1,2 bilhão; e segundo o Levantamento Financeiro dos Clubes Brasileiros 2020, divulgado pela consultoria EY em maio, faturou R$ 150 milhões – em direitos de transmissão e premiação (R$ 64 milhões), transferência de jogadores (R$ 28 milhões), matchday (R$ 11 milhões) e comerciais (R$ 21 milhões), entre outras receitas – ou cerca de 12%. Então, como pode um ter de vender e o outro ainda poder contratar? (Antes que os adeptos do Galo mineiro reclamem, não considerei, no valor acima, a venda do shopping Diamond Mall, que elevaria o faturamento do clube a R$ 418 milhões.)

    A questão se chama “fair play financeiro”. Que nas principais ligas europeias está em vigor – se bem que a francesa ainda é mais liberal, mas que aqui no Brasil seria implantado no início desse ano, mas a pandemia adiou mais uma vez. Esse fair play não tem por objetivo punir, mas sim fazer com que haja equilíbrio entre os clubes, com administrações equilibradas entre gastos e faturamentos.

    O Barcelona, por exemplo, só teria direito a gastar, na temporada 21/22, cerca de 200 milhões de euros, menos que os mais de 350 milhões da temporada anterior. E o salário do Messi, mesmo reduzido à metade, não permitiria ao clube contratar outros jogadores para se adequar às normas da La Liga, que administra o Campeonato Espanhol. Aí você pergunta: e o PSG? Na França, ao contrário da Espanha, ainda não há a restrição de não gastar mais de 70% do que se fatura. Isso só será implementado, por lá, na temporada 23/24, o que permite ao clube francês pagar cerca de 40 milhões de euros anuais a Messi e buscar novas receitas, sem contar com a ajuda do fundo de investimento do Catar, que é quem responde pelo controle do clube.

    No Brasil, não existe essa ferramenta, mas a Fifa está atenta às negociações dos nossos clubes com os do exterior e com jogadores que vêm de fora do país. Athletico-PR, Santos e Cruzeiros já foram punidos, seja com a perda de pontos ou com a proibição de contratar reforços. No caso do Atlético-MG não chegou a haver restrições, mas o clube precisou pagar valores altos para evitar punições: R$ 7,9 milhões ao Junior Barranquilla (COL), R$ 5,8 milhões ao Rentistas (URU), R$ 5,19 milhões ao Independiente Santa Fe (COL) e R$ 12 milhões ao Sevilla (ESP). O clube admitiu ter pago à Fifa, este ano, em torno de R$ 35 milhões por dívidas antigas, de outras administrações.

    Então, sem restrições, o clube mineiro consegue investir. É ilegal? Não, ninguém pode reclamar, ou buscar alguma ferramenta jurídica para impedir. Mas vamos convir que não é justo. Você pode alegar: azar dos que não têm torcedores mais ricos e dispostos a investir. É fato. Mas reafirmo achar que não é justo.

    De onde, então, vem o dinheiro do Atlético-MG? O clube apresentou seus números em abril e o desejo de reduzir a tal dívida de R$ 1 bilhão para algo em torno de R$ 350 milhões até 2026. Uma das alternativas é a venda de patrimônio, que segundo o Galo é superior à dívida – e aí se inclui o valor dos jogadores. Além disso, a construção da arena, com a venda de cadeiras cativas, já permitiu ao Atlético faturar mais de R$ 22 milhões. Nada que se compare aos R$ 400 milhões investidos por um dos apoiadores, o empresário Rubens Menin, dono da MRV. Ele é um dos 4 R’s que ajudam nas finanças do clube – os outros são o filho dele, Rafael Menin, Renato Salvador, da Rede Mater Dei, e Ricardo Guimarães, do BMG. Com este último, por exemplo, a dívida supera os R$ 100 milhões, mas se fossem cobrados os juros e as correções de um empréstimo tradicional já passaria de R$ 250 milhões. Além disso, o valor total foi reduzido e parcelado em seis anos com a cessão do espaço principal na camisa do time profissional, a partir de janeiro de 2022. No campo, o clube pode contar, ainda, com as premiações do Brasileirão, da Copa do Brasil e da Copa Libertadores.

    Haja matemática. O fato é que o Atlético chama a atenção. Ninguém nunca duvidou da força do Galo, que depois do título brasileiro de 71 enfrentou um rebaixamento em 2006 e só foi conquistar um título de primeira grandeza em 2013, e logo a Copa Libertadores. E sua torcida não parou de crescer, mesmo vendo o grande rival Cruzeiro ganhar duas Libertadores, quatro Copas do Brasil e um Brasileirão. Imaginem agora, com a situação radicalmente invertida – o Galo lidera a Série A, enquanto a Raposa tenta se afastar do rebaixamento para a Série C.

    O futuro dirá se a atual administração atleticana está no caminho certo. A gente torce para que sim. Mas, ao mesmo tempo, fica na expectativa para que a legislação torne o futebol brasileiro mais equilibrado e justo, com os clubes investindo dentro de suas possibilidades, em razão do que arrecadam com o produto futebol.

    *Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil

    Edição: Marcio Parente