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  • Carnaval 2025: Trem azul da Portela vai levar Milton Nascimento para a Sapucaí

    Carnaval 2025: Trem azul da Portela vai levar Milton Nascimento para a Sapucaí

    O terceiro dia de desfiles no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, na região central do Rio, na terça-feira (4), vai ter a Portela como última escola a entrar na Passarela do Samba. Assim, a agremiação vai desfilar já na madrugada de quarta-feira.

    O enredo é Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol. Uma homenagem a Milton Nascimento. E o que se espera é muita emoção no Sambódromo da Sapucaí. O enredo foi desenvolvido pelos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues, que desde o ano passado, estão à frente da azul e branco.

    Para Gonzaga, alguns momentos do desfile podem provocar o envolvimento do público. Ele destacou um em especial: “Eu aposto na abertura. Acho que é um momento bastante emocionante para o portelense. Vai trazer o símbolo da escola, a águia de uma maneira bastante imponente e trazer alguns signos que são importantes para a escola. Vai trazer essa grande procissão que sai de Madureira e tem cara de Portela. Um outro, de muito destaque é a aparição do próprio homenageado no fim da escola”, afirmou, em entrevista ao site da escola.

    “A gente acredita muito que o final da escola será um dos mais emocionantes de todos, até porque, toda aparição do Milton Nascimento é um momento de celebração, é um momento de êxtase e, assim, a gente espera que as pessoas no final do desfile da Portela se juntem à Portela, cantem e vibrem para passagem do Milton Nascimento”, destacou André, sugerindo que o público acompanhe o desfile até o seu final.

    Ensaio emocionante

    Se o clima do ensaio técnico de luz e som que a Portela fez, no sábado passado (22), se repetir no desfile oficial, a emoção na avenida está garantida. Milton estava presente e passou na Sapucaí sentado em uma poltrona azul como se estivesse em um trono. Ao contrário do que deve ocorrer na madrugada da quarta-feira, ele veio abrindo a apresentação da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira, como gostava de dizer Monarco, cantor, compositor e baluarte da escola, morto em dezembro de 2021, explicando que a Portela foi criada em Oswaldo Cruz, mas diante da expansão dos bairros, atualmente, a quadra está no limite dos dois.

    Enredo

    Brasília (DF) 25/02/2025 - Carnavalescos no ensaio técnico da escola Portela. Foto: Magaiver Fernandes/Divulgação.
    Brasília (DF) 25/02/2025 – Carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga, no ensaio técnico da escola Portela. Foto: Magaiver Fernandes/Divulgação.

    A intenção dos carnavalescos com o enredo não é mostrar a vida do cantor e compositor, mas a relação do trabalho dele com a vida do seu público e fãs. “Nós investigamos como a música de MiIton atravessa cada pessoa. Na verdade, não estamos interessados em mostrar na avenida o desenvolvimento que falasse sobre a vida pessoal, ou trajetória pessoal, a carreira do Milton Nascimento. O que importa para a gente, é saber a enormidade do artista, o tamanho do artista a partir de como ele atravessa a vida das pessoas. Nessas descobertas nós vamos vendo como o Milton faz parte do dia a dia, do cotidiano, dos momentos importantes de muitos brasileiros e, principalmente, do nosso país”, analisou André para o site da escola.

    Gonzaga adiantou que o desenvolvimento do enredo é exatamente o que o título sugere. “A gente vai sair em procissão numa grande cantoria exaltando e lembrando essas grandes canções que tocam o emocional do povo brasileiro, que falam sobre as nossas identidades, sobre a nossa cultura, sobre a nossa percepção, sobre a vida, sobre poesia, sobre música, até chegarmos nesse grande trono no final, em Minas Gerais, para coroá-lo como grande sol da música popular brasileira”, relatou.

    Para André Rodrigues, a música do Milton é importante para marcar momentos sobre cada pessoa, sobre famílias. O carnavalesco acrescentou que ela acrescentou humanidade no processo de desenvolvimento do enredo.

    “Traz um sentimento bonito. O que a Portela vai mostrar também são essas relações pessoais, essas relações que envolvem a música do Mílton Nascimento como trilha. Por isso, que no desfile a cada ala que entrar será como se um grupo de pessoas estivesse cantando essas músicas. As nossas alegorias, por sua vez, serão os andores desse desfile, como se nós, fãs de Milton Nascimento, tivéssemos produzido andores para poder levar em Três Pontas para poder homenageá-lo”, explicou.

    André lembrou que nos quase 102 anos de Portela, que serão completados em abril, essa é a primeira vez que a escola escolhe homenagear um artista em vida. “Isso mostra a dimensão do Milton Nascimento para o cenário nacional. A importância dele para a música popular brasileira, mas também a gente busca fazer uma forma de equiparar essas duas grandezas, essas duas potências. Em momento algum a gente coloca o Milton Nascimento maior do que a Portela ou a Portela maior que o Milton Nascimento, mas é importante que os dois estejam se reverenciando e de alguma maneira se homenageando nesse momento”, ressaltou.

    “É lindo ver como o Milton se debruça sobre a emoção portelense e é bonito ver como a Portela também acaba se debruçando nas emoções que o Milton Nascimento traz para dentro da escola”, completou o carnavalesco.

    Gonzaga afirmou que a Portela está muito feliz de ter Milton Nascimento conduzindo este carnaval, o que também é o sentimento dele em ser homenageado pela Portela. “Nós entendemos a grandeza do artista, a grandeza da escola, que a gente está trabalhando e a gente entende que a soma dessas duas potências vai resultar em um grande carnaval”, concluiu.

    Tia Surica

    Presidente de honra da Portela, baluarte da escola, cantora, integrante da Velha Guarda, Iranette Ferreira Barcellos, 84 anos de idade, conhecida como Tia Surica, é respeitada no mundo do samba, onde começou cedo. Quando tinha quatro anos foi levada pelos pais Judith e Pio, para a Portela, que considera a sua segunda família, e dali não se afastou nunca mais. Se emociona, chora de tristeza e de alegria, ri, faz feijoadas, participa ativamente da vida da azul e branco.

    Com todo esse currículo, Tia Surica ficou feliz com o anúncio do enredo. A homenagem ao cantor e compositor brasileiro, como afirmou, é mais que merecido.

    “Fiquei muito emocionada, adorei porque temos que receber flores em vida. Quando o carnavalesco sugeriu este enredo e a diretoria aceitou eu fiquei muito satisfeita. Ele e um grande cantor e um grande compositor”.

    “Conforme eu digo sempre, o carnaval se perde na avenida. Tenho certeza que se a gente desfilar bem, estou confiante nesse campeonato. Vai ser um desfile emocionante. Tenho certeza que o pessoal vai se emocionar muito. Ele já está com idade, então homenagear Milton Nascimento é fundamental por tudo que ele fez para a música brasileira”, defendeu.

    Quadra

    Segundo Tia Surica o envolvimento dos componentes da escola foi visível nos ensaios na quadra da Rua Clara Nunes. “Parecia até ensaio geral. Foi emocionante. Todo mundo cantando, aquela alegria, aquela satisfação. A bateria ótima, porque a bateria da Portela está muito boa e o pessoal curtindo o samba. [O enredo] conquistou a comunidade, que abraçou”, relatou.

    Na pergunta se a Velha Guarda abençoou? A resposta veio logo: “Foi geral, graças a Deus”.

    A proximidade do desfile oficial mexe com os sentimentos de Tia Surica. “Agora, quando chega mais perto é que eu vou me empolgando. Estou doida que chegue e a Portela vai ser a última de terça-feira [o último dia de desfiles do Grupo Especial]. Se Deus quiser nós faremos um bom desfile”, apontou.

    Rio de Janeiro (RJ) 03/01/2025 - Tia Surica ganha homenagem de Teresa Cristina no Samba na Gamboa, da TV Brasil Frame TV Brasil
    Rio de Janeiro (RJ) 03/01/2025 – Tia Surica ganha homenagem de Teresa Cristina no Samba na Gamboa, da TV Brasil Frame TV Brasil – TV Brasil

    Tia Surica fez questão de dizer que durante a escolha pela Liesa para definir a ordem das escolas nos três dias de desfile, foi ela quem sorteou o nome da Portela.“Fui sortuda de tirar a última bola e a minha escola ser a última”, disse, acrescentando que gosta de ser a escola a encerrar os desfiles. “Eu gosto. Eu quero é passar na Marquês de Sapucaí com a minha querida Portela. Como presidente de honra. É muita coisa para uma pessoa só, né?, perguntou, soltando uma gargalhada.

    Nesses 80 anos de Portela, Tia Surica relembra os locais de desfiles: “Agora é a Marquês de Sapucaí, mas já teve na Avenida Antônio Carlos, Avenida Presidente Vargas”, disse, destacando o ano de 1966, quando foi intérprete do samba enredo Memórias de Um Sargento de Milícias, composto por Paulinho da Viola. “E fui campeã, hein?.

  • Quilombo Agbara Dudu preserva tradições negras no Rio de Janeiro

    Quilombo Agbara Dudu preserva tradições negras no Rio de Janeiro

    No encontro da Estrada do Portela com a Rua Sérgio de Oliveira, em Oswaldo Cruz, na zona norte da capital fluminense, surge o Grupo Afro Agbara Dudu (“força negra”, em iorubá). Fundada em 1982, a comunidade floresce em uma região marcada por manifestações culturais negras, como as escolas de samba Portela e Império Serrano, o baile charme do Viaduto de Madureira, o Jongo da Serrinha e a Feira das Yabás. Neste dia da Consciência Negra, a Agência Brasil conta a história desse quilombo urbano declarado Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro em setembro deste ano.

    A relação principal do Agbara Dudu é com a Portela, já que o quilombo teve a Portelinha, antiga sede da escola de samba, como espaço inicial. “Nossa ligação é profunda. Tivemos o incentivo para pensar, construir e exercitar o Agbara de uma figura histórica da Portela chamada Tio Nozinho, que tinha um bar na Estrada do Portela”, informa o presidente do Grupo Afro Agbara Dudu, Elias José Alfredo.

    Ele relembra que o bar era ponto de encontro dos compositores e integrantes da escola de samba. Lá, também foram realizadas as primeiras reuniões para pensar e organizar a comunidade. “Tio Nozinho viabilizou nosso acesso à Portelinha. O Agbara nasce na quadra da Portelinha. Muitos na Portela fizeram parte do Agbara desde o início”.

    Rio de Janeiro (RJ) 18/11/2024 – O presidente do Quilombo Urbano Agbara Dudu, Elias José Alfredo, na sede em Oswaldo Cruz. Declarado Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, o quilombo está em uma região marcada por diversas manifestações negras, como as escolas de samba Portela e Impérío Serrano, o Baile Charme do Viaduto de Madureira, o Jongo da Serrinha e a Feira das Yabás. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

    Rio de Janeiro (RJ) 18/11/2024 – O presidente do Quilombo Urbano Agbara Dudu, Elias José Alfredo, na sede em Oswaldo Cruz. Declarado Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiros. Foto:  Fernando Frazão/Agência Brasil

    Hoje, o espaço se apresenta como um quilombo urbano, formação social e cultural construída nas periferias da cidade, muito inspiradas nos quilombos rurais, e marcada pela resistência e pela preservação da cultura negra. “Nós nos orgulhamos de ser parte dessa história, de ser tombado como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro”, afirma Elias.

    Agbara Dudu

    Respeitando suas raízes culturais, uma das principais atividades da comunidade é o resgate da memória e da cultura afro-brasileira a partir da música, do canto e da dança. O quilombo, que também conta com o Bloco Afro Agbara Dudu — considerado um dos primeiros blocos afro do Rio de Janeiro —, realiza anualmente o Fest-Afro, um festival musical que define o representante do quilombo no desfile de Carnaval de cada ano. “As temáticas que pré-estabelecemos nesse processo são geralmente ligadas à história afro-brasileira e africana. Uma quantidade enorme de músicas, que vão ser traduzidas na expressão do canto e da dança, é produzida”, comenta Elias.

    “Esse é um momento nosso”, continua, “mas também tem a capoeira, essência da nossa história de luta”. Voltados para a comunidade, o Agbara realiza cursos, oficinas de dança e capoeira, debates, encontros e seminários sobre temas relacionados à população do quilombo. “Produzimos aulas de percussão, para ensinar o toque das músicas, trazemos o Samba Afro, ritmo cadenciado do Samba que se perdeu ao longo dos anos nas escolas de samba. O Agbara surge resgatando e preservando essa identidade cultural e musical”.

    Apesar da intensa vida cultural, segundo Elias, um dos principais obstáculos enfrentado pelo Agbara Dudu é, justamente, dar continuidade à história local. À Agência Brasil, ele explica que foi com a vinda do sambista Paulo Benjamin de Oliveira, conhecido como Paulo da Portela — em referência à via que corta os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz —, para o subúrbio que a comunidade começou a se organizar naquele espaço, inclusive na perspectiva da educação.

    “Muitas pessoas eram analfabetas. O fim da escravidão era recente, então Paulo começa a organizar social, cultural e politicamente essa comunidade no espaço antes conhecido como Quilombo da Barra Preta”, relata Elias, que busca resgatar essa história. “Esses são os pilares do Agbara, resgatar, preservar e elevar a cultura afro-brasileira e africana. Nosso desafio é esse, mas também tem a titularização do espaço geográfico do quilombo, que é uma luta nossa”, disse.

    Quilombos

    Professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Carlos Eugênio Líbano Soares explica que os quilombos urbanos surgiram a partir da própria sociedade, com a revolução urbana do século 18. “Com a descoberta do ouro em Minas Gerais e a circulação de riqueza em cidades como Rio de Janeiro e Salvador, esses espaços começam a alcançar um nível de desenvolvimento e crescimento que cria uma nova sociedade, a sociedade urbana colonial, porque, até aquele momento, a sociedade colonial era totalmente rural”.

    Com o processo e urbanização, também surgem condições para a criação de uma escravidão urbana. Ao mesmo tempo, os quilombos urbanos, inspirados nos rurais, nascem como locais onde os escravos em fuga encontravam iguais, sejam escravos livres ou libertos, e passavam a se organizar em sociedade. Segundo o professor, já na primeira metade do século 19 se tornam comuns as chamadas casas de quilombos, onde se escondiam os escravos em fuga no meio urbano.

    Rio de Janeiro (RJ) 18/11/2024 – O Quilombo Urbano Agbara Dudu, em Oswaldo Cruz, declarado Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, está em uma região marcada por diversas manifestações negras, como as escolas de samba Portela e Impérío Serrano, o Viaduto de Madureira, o Jongo da Serrinha e a Feira das Yabás. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
    Rio de Janeiro (RJ) 18/11/2024 – O Quilombo Urbano Agbara Dudu, em Oswaldo Cruz,. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil – Fernando Frazão/Agência Brasil

    “O padrão de fuga no meio urbano é diferente do rural, assim como a escravidão urbana é diferente da rural, mas ambas dialogam, então não há uma barreira entre urbano e rural. Pelo contrário, as grandes cidades são profundamente marcadas pela vivência rural”, observa Soares.

    O professor comenta que o fato de se organizarem em comunidades fez com que os quilombos urbanos sobrevivessem à própria escravidão, garantindo força de resistência e capacidade de memória coletiva e oral maior que nos quilombos rurais, por serem mais dispersos. “O quilombo no meio rural não é estático, como muita gente pensa, ele se movimenta, porque o controle repressivo é mais baseado no poder privado dos senhores e menos no poder público”, esclarece.

    Dessa forma, os quilombos urbanos se tornam importantes para a manutenção das tradições africanas alteradas pela diáspora, que vão se perpetuar com o fim da escravidão a partir do século 19, tendo fim legal com a assinatura da Lei Áurea em 1888. “Falamos de samba, candomblé, umbanda, maracatu, tradições que vieram desses quilombos, dessas comunidades formadas por escravizados que operavam na clandestinidade por causa da repressão”.

    Conforme o pesquisador, somente a partir da década de 1930 que a repressão racial começa a dar sinais de enfraquecimento. Mas, mesmo diante de uma resposta feroz da Colônia, do Império e, posteriormente, da República, as comunidades definidas hoje como quilombos urbanos conseguiram preservar esse legado e mantê-lo vivo. “Em alguns momentos, inclusive, a repressão da República foi mais feroz que a do Império e mesmo que a da Colônia, então esse legado sobrevive graças à perpetuação das comunidades quilombolas, muitas vezes produzindo cultura de forma oculta”, afirmou.

    Atualmente, Soares considera que o principal desafio que essas comunidades enfrentam é se tornarem prioridades das políticas públicas. “Não há política que promova a integração efetiva dessas comunidades ao conjunto da cidade. Pelo contrário, o investimento, em geral, é feito nas áreas centrais, onde reside a classe média, e não nas áreas periféricas. Elas ficam abandonadas e só são lembradas no campo da criminalidade”.

    Professora e secretária da Associação Cultural Quilombo do Camorim (Acuca), Thaís da Silva Oliveira, acrescenta que o desconhecimento do que são quilombos também dificulta na valorização e preservação das suas tradições.

    “Hoje, todo mundo usa o nome ‘quilombo’ para ganhar dinheiro, porque tá na moda, mas ninguém sabe o que é um quilombo de verdade”, declara. “Quilombo não significa só ser preto, negro ou pardo. Quilombo é muito mais do que isso, é uma resistência”, afirmou Thaís.

    Ela reforça que os quilombos são essenciais para a preservação cultural por serem espaços onde as histórias e tradições africanas se mantém vivas. Neles, também se praticam atividades transmitidas de geração em geração, garantindo que esses saberes não se percam no tempo. “O quilombo é um espaço de memória, um museu, onde se valoriza a ancestralidade e se celebra a identidade quilombola, elementos que muitas vezes não encontram espaço na sociedade moderna”, complementa.

    Resistência

    Em 2022, o censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletou pela primeira vez informações específicas sobre a população quilombola no país. A pesquisa identificou 7.666 comunidades distribuídas em 8.441 locais, formando uma população de mais de 1,3 milhão (1.330.186) de pessoas. Do total de comunidades, no entanto, apenas 494 Territórios Quilombolas foram oficialmente delimitados.

    Rio de Janeiro (RJ) 18/11/2024 – O Quilombo Urbano Agbara Dudu, em Oswaldo Cruz, declarado Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, está em uma região marcada por diversas manifestações negras, como as escolas de samba Portela e Impérío Serrano, o Viaduto de Madureira, o Jongo da Serrinha e a Feira das Yabás. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

    Rio de Janeiro (RJ) 18/11/2024 – O Quilombo Urbano Agbara Dudu, em Oswaldo Cruz, uma região marcada por diversas manifestações negras, como as escolas de samba Portela e Impérío Serrano, o Viaduto de Madureira, o Jongo da Serrinha e a Feira das Yabás. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

    Neles, residem 167.202 pessoas (12,6% da população quilombola). Para Elias, o reconhecimento do Agbara como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro é uma forma de legitimar a contribuição do quilombo para o processo histórico e civilizatório do estado fluminense. “Para nós é muito importante, mas também é fruto de uma luta constante. O nosso papel está justamente em levar a cabo essa discussão, esse diálogo com a sociedade para que o Estado saiba da nossa condição histórica”, disse.

    Ele defende que não só os quilombos urbanos, mas os quilombos rurais precisam que o Estado garanta a sua existência, processo que passa também pela educação. Do ensino básico ao superior, o presidente destaca a necessidade de se levar a cultura quilombola para as salas de aulas, despertando um olhar crítico sobre a condição dos quilombos no país e também para despertar uma consciência afro-cultural.

    “Somos parte da história da sociedade, mas, nessa sociedade, fomos marginalizados, primeiro na condição de escravizados e, no pós-escravidão, na posição de marginais. A marginalização do povo negro é um fato. É fundamental traçarmos uma linha de ação que busque a superação dessa condição”, afirmou.

    Como ferramentas para enfrentar essa realidade, o quilombo também promove os cursos de história da África e de línguas africanas. “A reparação é algo que o Estado nos deve e precisa ser encarado dessa forma, porque é um problema estrutural. Dos africanos e afrodescendentes foram tiradas a identidade e as possibilidades pelo estado colonial e escravocrata. O que fazemos hoje no Agbara é exercitar a nossa potencialidade intelectual, cultural e social. Temos feito isso enquanto instituição e enquanto grupo social, cultural e político”, destacou.