Tag: pólio

  • Sete em cada 10 municípios têm risco alto ou muito alto para pólio

    Sete em cada 10 municípios têm risco alto ou muito alto para pólio

    Dos 5.570 municípios brasileiros, pelo menos 68% estão classificados atualmente como em risco alto ou muito alto para poliomielite, conhecida popularmente como paralisia infantil. O índice representa um total de 3.781 cidades, sendo a maioria (2.104) categorizada com alto risco para a doença. Há ainda 1.342 municípios brasileiros classificados como em médio risco e apenas 447 catalogados como em baixo risco para a pólio.

    Os dados foram apresentados nesta quarta-feira (18) durante a 26ª Jornada Nacional de Imunizações, em Recife, e constam no Plano de Mitigação de Risco de Reintrodução do Poliovírus Selvagem e Surgimento do Poliovírus Derivado da Vacina. Ao comentar os números, a consultora em imunizações da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) Franciele Fontana avaliou o cenário como preocupante.

    “Vemos grande parte do país em vermelho e em vermelho forte”, disse, ao se referir às cores que sinalizam riscos elevados para a doença, erradicada do território brasileiro em 1994, após uma série de campanhas de vacinação em massa. O último caso de pólio no país foi confirmado em março de 1989. “A gente vem de uma série histórica de alto e muito alto risco de introdução no país e isso nos preocupa”, completou.

    A série histórica a que Franciele se refere são os resultados de uma avaliação de risco feita pela Comissão Regional de Certificação para a Erradicação da Pólio na Região das Américas. Em 2020 e em 2021, por exemplo, o Brasil havia sido classificado como em risco alto para a doença. Já em 2022, a categorização subiu para risco muito alto, ao lado do Haiti e da República Dominicana. No ano passado, o país voltou a registrar risco alto para pólio.

    As coberturas vacinais contra a doença no Brasil sofreram quedas ao longo dos últimos anos. Em 2022, a cobertura ficou em 77,19%, longe da meta de 95%. Em 2023, o índice subiu para 84,63%.

    Recomendações

    Franciele lembrou que, em junho deste ano, a comissão emitiu uma série de recomendações ao Brasil, incluindo investigar as causas das baixas coberturas vacinais contra a pólio. Dentre as hipóteses elencadas pela entidade estão o acesso limitado a doses em áreas mais remotas, a quantidade insuficiente de doses em determinadas localidades e a hesitação ou desconfiança da população acerca do imunizante.

    A comissão também pediu ao Brasil que priorize a vacinação em municípios classificados como em alto risco para pólio, iniciando as ações onde a taxa de imunização é inferior a 50%. Outra estratégia sugerida consiste num sistema de recompensa destinado a estados e municípios que cumpram metas definidas. A entidade solicitou ainda que uma comissão nacional se reúna uma vez ao ano para tratar do tema.

    Por fim, a comissão sugeriu ao Brasil realizar um exercício de simulação para pólio que envolva todos os setores relevantes, encenando uma resposta a um surto da doença no país. “Precisamos que todas as nossas salas de vacina estejam abastecidas com insumos pra que a gente não perca oportunidades”, avaliou Franciele, ao citar ainda que serviços de rotina em saúde precisam estar prontos para captar eventuais casos da doença.

    *A repórter viajou a convite da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

    Edição: Sabrina Craide

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  • Pólio pode atingir crianças palestinas e israelenses, alerta a ONU

    Pólio pode atingir crianças palestinas e israelenses, alerta a ONU

    Após a confirmação do primeiro caso de poliomielite na Faixa de Gaza, o comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa, na sigla em inglês), Philipe Lazzarini, alertou, nesta sexta-feira (23), que a doença não fará distinção entre crianças palestinas e israelenses.

    Para ele, atrasar uma pausa humanitária na região aumentará o risco de disseminação do vírus entre crianças dos dois lados do conflito. “Não basta levar as vacinas para Gaza e proteger os sistemas de refrigeração”, disse, ao citar que as doses precisam chegar à boca de todos os menores de 10 anos.

    A agência informou, também, que vai colocar seus centros de cuidados primários de saúde e suas clínicas móveis à disposição da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a partir do fim deste mês para que as campanhas de vacinação sejam realizadas.

    Entenda

    A OMS confirmou o primeiro caso de poliomielite na Faixa de Gaza em 25 anos. Trata-se de um bebê de 10 meses que vive na cidade palestina de Deir al-Balah, na região central da Faixa de Gaza, e que não havia recebido nenhuma das doses previstas no esquema vacinal contra a doença, conhecida popularmente como paralisia infantil.

    Em seu perfil na rede social X (antigo Twitter), o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse estar “seriamente preocupado” com a confirmação do caso. “A OMS e seus parceiros trabalharam arduamente para colher e transferir amostras da criança para testagem em um laboratório certificado na região”.

    Ele acrescentou que “o sequenciamento genômico confirmou que o vírus está ligado à variante do poliovírus tipo 2, detectada em amostras ambientais recolhidas em junho em águas residuais de Gaza. A criança, que desenvolveu paralisia na perna esquerda, está em situação estável”, completou o diretor-geral.

    Tedros destacou ainda que, dado o elevado risco de propagação do poliovírus na Faixa de Gaza e em regiões próximas, o Ministério da Saúde Palestino, a própria OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) organizam duas rodadas de vacinação contra a pólio ao longo das próximas semanas, visando interromper a transmissão.

    A expectativa é que, em cada uma das rodadas de vacinação, mais de 640 mil crianças com menos de 10 anos possam receber a vacina oral contra a pólio, conhecida popularmente como gotinha.

    O poliovírus foi detectado em junho em amostras ambientais colhidas na Faixa de Gaza. Desde então, segundo a OMS, pelo menos três crianças apresentaram quadros suspeitos de paralisia flácida aguda, sintoma comum da pólio. Amostras de sangue foram colhidas e enviadas para análise laboratorial.

    “Mais de 1,6 milhão de doses da vacina oral, utilizada para interromper a propagação do vírus, serão entregues na Faixa de Gaza. As entregas das vacinas e dos equipamentos de refrigeração devem passar pelo aeroporto Ben Gurion [em Israel] antes de serem direcionadas à Gaza, no fim de agosto”, informou a OMS.

    “É essencial que o transporte das doses e dos equipamentos de refrigeração seja facilitado em todas as etapas dessa jornada, visando garantir o recebimento em tempo oportuno, a aprovação e a liberação dos insumos em tempo para que a campanha aconteça”, ressaltou a OMS. Ao todo, 708 equipes com cerca de 2,7 mil profissionais de saúde foram acionadas.

    Cobertura vacinal

    A OMS alertou que é preciso alcançar uma cobertura vacinal de pelo menos 95% durante cada rodada da campanha para interromper a propagação da pólio e reduzir o risco do ressurgimento da doença, levando em consideração “sistemas de saúde, água e saneamento gravemente prejudicados na região”.

    Dados mostram que a Faixa de Gaza esteve livre da pólio pelos últimos 25 anos. “O ressurgimento da doença, sobre a qual a comunidade humanitária já havia alertado ao longo dos últimos 10 meses, representa outra ameaça para as crianças em Gaza e em países vizinhos. Um cessar-fogo é a única forma de garantir a segurança da saúde pública na região”, observou a OMS.

    Risco

    Ainda segundo ela, a Faixa de Gaza mantinha boa cobertura vacinal antes da escalada dos conflitos, em outubro do ano passado. De lá para cá, a vacinação de rotina foi fortemente impactada – incluindo a segunda dose da vacina contra a pólio, que caiu de 99% em 2022 para menos de 90% em 2023 e no primeiro trimestre de 2024.

    “O risco de disseminação do vírus, dentro da Faixa de Gaza e internacionalmente, permanece alto em razão de lacunas na imunidade das crianças, provocadas por interrupções na vacinação de rotina, dizimação do sistema de saúde, deslocamento constante da população, desnutrição e sistemas de água e saneamento gravemente danificados”, alertou a entidade.

    “A situação também aumentou o risco de propagação de outras doenças preveníveis ​​por vacinação, como o sarampo, além de casos de diarreia, infecções respiratórias agudas, hepatite A e doenças de pele entre crianças”, informou a OMS.

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  • Não é só gotinha: entenda como funciona a vacinação contra a pólio

    Não é só gotinha: entenda como funciona a vacinação contra a pólio

    Símbolo da vacinação no Brasil, o personagem Zé Gotinha surgiu pela primeira vez no fim da década de 80, encabeçando a luta pela erradicação da poliomielite nas Américas. Na época, a doença, provocada pelo poliovírus selvagem, só podia ser prevenida por meio de duas gotinhas aplicadas na boca das crianças. O esquema de vacinação atual, entretanto, vai além da vacina oral e utiliza ainda doses injetáveis para combater a chamada paralisia infantil.

    De acordo com esquema divulgado pelo Ministério da Saúde, as três primeiras doses contra a pólio são injetáveis e devem ser aplicadas aos 2 meses, aos 4 meses e aos 6 meses de vida, conforme previsto no Calendário Nacional de Vacinação. Em seguida, devem ser administradas mais duas doses, conhecidas como doses de reforço, essas sim, orais: uma aos 15 meses de vida e a última, aos 4 anos.

    Por esse motivo, a orientação da pasta é que, anualmente, todas as crianças menores de 5 anos sejam levadas aos postos de saúde durante a Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite para checagem da caderneta e atualização das doses, caso haja necessidade. Mesmo as crianças que estão com o esquema vacinal em dia, mas na faixa etária definida pela pasta, devem receber as gotinhas ou doses de reforço.

    Campanha

    Este ano, a Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite começou no último dia 27 e termina nesta sexta-feira (14). estados e municípios, entretanto, podem prorrogar a campanha em casos de baixa adesão. A meta do Ministério da Saúde, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é imunizar pelo menos 95% do público-alvo – cerca de 13 milhões de crianças menores de 5 anos.

    Gotinha com dias contados

    A partir de 2024, o Brasil passa a substituir gradativamente a vacina oral contra a pólio pela dose injetável, versão inativada do imunizante. Com a mudança, a vacina injetável, já utilizada nas três primeiras doses do esquema vacinal contra a pólio, será disponibilizada também como dose de reforço aos 15 meses. Já a segunda dose de reforço, até então administrada aos 4 anos, deixará de existir.

    A substituição foi debatida e aprovada pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), que considerou novas evidências científicas para proteção contra a doença. Em nota, o ministério reforçou que a atualização não representa o fim imediato das gotinhas, mas um avanço tecnológico para maior eficácia do esquema vacinal. A dose oral deve ser extinta após período de transição.

    “O Zé Gotinha, símbolo histórico da importância da vacinação no Brasil, também vai continuar na missão de sensibilizar as crianças, os pais e responsáveis em todo Brasil, participando das ações de imunização e campanhas do governo federal”, destacou a pasta.

    Casos

    Dados do ministério indicam que, desde 1989, não há notificação de casos de pólio no Brasil. As coberturas vacinais contra a doença, entretanto, sofreram quedas sucessivas ao longo dos últimos anos. Em 2022, por exemplo, a cobertura ficou em 77,19%, longe da meta de 95%.

    Edição: Maria Claudia

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  • Secretaria de Saúde de Lucas do Rio Verde realiza ações de vacinação contra poliomielite e gripe

    Secretaria de Saúde de Lucas do Rio Verde realiza ações de vacinação contra poliomielite e gripe

    A Secretaria de Saúde de Lucas do Rio Verde anuncia uma série de ações de vacinação que ocorrerão nos próximos dias. A campanha é parte de um esforço contínuo para garantir a proteção da população contra a poliomielite e a gripe, doenças que podem ter sérias consequências para a saúde pública.

    Uma das ações de vacinação acontece hoje e amanhã no estacionamento do Atacadão, bairro Parque das Emas. O local é grande concentração de pessoas. No local, entre 17h30 e 20h30, serão aplicadas vacinas contra a poliomielite para crianças de 1 a 4 anos e contra a gripe para todas as pessoas acima de 6 meses de idade.

    Nessas datas, uma equipe de saúde estará presente no local, facilitando o acesso à vacinação para os moradores. A vacina contra a poliomielite, que é administrada em forma de gotas orais, é essencial para proteger crianças pequenas contra essa doença que pode causar paralisia permanente. Já a vacina contra a gripe é recomendada para todos, especialmente para aqueles que ainda não receberam a dose deste ano.

    Dia D

    Outra ação ocorrerá no sábado, 8 , no horário entre 7h30 e 16h30, sem pausa para almoço, em todas as unidades de saúde da área urbana e a Unidade Básica de Saúde (UBS) de Itambiquara. Será realizado o Dia D da vacinação contra a poliomielite, com o objetivo de vacinar todas as crianças com idade até 4 anos, 11 meses e 29 dias.

    Todas as unidades básicas de saúde (UBSs) estarão abertas durante todo o dia para facilitar o acesso das famílias. Este é um momento crucial para garantir que nenhuma criança fique sem a proteção contra a poliomielite, uma doença que, apesar de erradicada no Brasil, ainda representa um risco de reintrodução.

    Importância

    A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença grave que pode causar sequelas permanentes e até levar à morte. A vacinação é a principal medida de prevenção e, com ela, é possível manter o Brasil livre dessa doença. A vacina contra a gripe, por sua vez, ajuda a prevenir complicações graves decorrentes da infecção pelo vírus influenza, especialmente em populações mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas.

    Convocação aos Pais e Responsáveis

    Claudia Engelmann, coordenadora da Atenção Básica de Lucas do Rio Verde, faz um apelo para que todos os pais e responsáveis levem suas crianças para vacinar. “É fundamental que os pais estejam cientes da importância dessas vacinas e aproveitem essa oportunidade para proteger seus filhos. A poliomielite é uma doença que já foi erradicada no Brasil, mas que pode voltar a circular se não mantivermos a cobertura vacinal adequada. E a vacina contra a gripe é essencial para prevenir complicações graves e internações. Contamos com a participação de todos para garantir a saúde de nossas crianças e de nossa comunidade.”

    A Secretaria de Saúde lembra que a vacinação é gratuita e estará disponível em locais estratégicos para facilitar o acesso da população. Levar as crianças e se vacinar contra a gripe é um ato de responsabilidade e cuidado com a saúde coletiva.

    Para mais informações, a população pode entrar em contato com as unidades de saúde locais ou diretamente com a Secretaria de Saúde de Lucas do Rio Verde.

  • Substituição da gotinha na prevenção à pólio aumentará proteção

    Substituição da gotinha na prevenção à pólio aumentará proteção

    As gotinhas que entraram para a história da imunização ao eliminarem a poliomielite no Brasil ganharam uma previsão de aposentadoria, e a substituição da vacina oral contra a doença pela aplicação intramuscular significará uma proteção ainda maior para os brasileiros.

    No último dia 7 de julho, o Ministério da Saúde anunciou que vai substituir gradualmente a vacina oral poliomielite (VOP) pela versão inativada (VIP) do imunizante a partir de 2024. A decisão foi recomendada pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), que considerou as novas evidências científicas que indicam a maior segurança e eficácia da VIP.

    Apesar da novidade, o Ministério da Saúde fez questão de destacar que o Zé Gotinha, símbolo histórico da importância da vacinação no Brasil, vai continuar na missão de sensibilizar as crianças, os pais e responsáveis, participando das ações de imunização e campanhas do governo.

    A poliomielite é uma doença grave e mais conhecida como paralisia infantil, por deixar quadros permanentes de paralisia em pernas e braços, forçando parte dos que se recuperam a usar cadeiras de rodas e outros suportes para locomoção. A enfermidade também pode levar à morte por asfixia, com a paralisia dos músculos torácicos responsáveis pela respiração. Durante os períodos mais agudos em que a doença circulou, crianças e adultos com casos graves chegavam a ser internados nos chamados “pulmões de aço”, respiradores mecânicos da época, dos quais, muitas vezes, não podiam mais ser retirados.

    A partir dos 2 meses

    A vacinação contra a poliomielite no Brasil é realizada atualmente com três doses da VIP, aos 2, 4 e 6 meses de idade, e duas doses de reforço da VOP, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.

    A partir do primeiro semestre de 2024, o governo federal começará a orientar uma mudança nesse esquema, que deixará de incluir duas doses de reforço da vacina oral, substituindo-as por apenas uma dose de reforço da vacina inativada, aos 15 meses de idade. O esquema completo contra a poliomielite passará, então, a incluir quatro doses, aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade.

    Crianças são imunizadas na tenda de vacinação instalada na Quinta da Boa Vista para a campanha contra a poliomielite e o sarampo, prorrogada até o dia 22/09 no estado do Rio de Janeiro.

    Países de todo o mundo estão substituindo a vacina oral contra a pólio pela inativada – Fernando Frazão/Agência Brasil

    A facilidade de aplicação e o baixo custo contribuíram para que as gotinhas tivessem sido a ferramenta para o Brasil e outros países vencerem a poliomielite, explica a presidente da Comissão de Certificação da Erradicação da Pólio no Brasil, Luíza Helena Falleiros Arlant. A comissão é uma entidade que existe no Programa Nacional de Imunizações (PNI) junto à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Em 2023, o programa completa 50 anos.

    “Em 1988, havia mais de 350 mil casos de pólio no mundo. Crianças e adultos paralisados. Naquela época, o que era preciso fazer? Pegar uma vacina oral que pudesse vacinar milhões de pessoas em um prazo curto para acabar com aquele surto epidêmico. Eram muitos casos no mundo todo, uma tragédia”, contextualiza Luíza Helena.

    Ciência evoluiu

    O sucesso obtido com a vacina oral fez com que a pólio fosse eliminada da maior parte dos continentes, mas pesquisas mais recentes, realizadas a partir dos anos 2000, mostraram que a VOP era menos eficaz e segura que a vacina intramuscular. Em casos considerados extremamente raros, a vacina oral, que contém o poliovírus enfraquecido, pode levar a quadros de pólio vacinal, com sintomas semelhantes aos provocados pelo vírus selvagem.

    “Crianças com desnutrição, com verminoses ou doenças intestinais podem ter interferências na resposta à vacina oral. Já a vacina inativada, não. Ela protege muito mais, sua resposta imunogênica é muito mais segura, eficaz e duradoura. Há uma série de vantagens sobre a vacina oral. Tudo isso não foi descoberto em uma semana, foram estudos publicados que se intensificaram a partir de 2000.”

    Desde então, países de todo o mundo vêm substituindo gradativamente a vacina oral pela inativada, o que já foi feito por ao menos 14 países na América Latina. A meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a vacina inativada substitua a oral em todo o mundo até 2030.

    A presidente da Comissão de Certificação da Erradicação da Pólio no Brasil acrescenta que a vacina inativada produz menos eventos adversos que a oral, e também traz maior segurança para a pessoa vacinada e para a coletividade.

    Para compreender essa diferença, é preciso conhecer melhor o funcionamento dessas duas vacinas. A oral contém o poliovírus atenuado, isto é, ainda “vivo”, porém enfraquecido, de modo que não cause mais a doença. Já a vacina inativada recebe esse nome porque o vírus já foi inativado, “morto”, e não há mais chances de que possa sofrer mutações ou e se reverter em uma forma virulenta.

    Estudos sobre o tema têm se intensificado a partir dos anos 2000, conta Luiza Helena, e constatou-se que o poliovírus atenuado que entra no organismo com a imunização pode sofrer mutações e voltar a uma forma neurovirulenta ao ser excretado no meio ambiente com as fezes. Já se tinha conhecimento dessa possibilidade, pondera a pesquisadora, mas hoje se sabe que ela é mais frequente do que se acreditava.

    “Hoje a gente sabe que o vírus mutante eliminado pelo intestino pode acometer quem está do lado, e, se essa pessoa não estiver devidamente vacinada, ela pode ter pólio”, afirma ela, que acrescenta que alguns fatores contribuem para elevar esse risco, como as baixas coberturas vacinais contra a poliomielite nos últimos anos e a existência de populações sem saneamento básico, o que pode provocar o contato com esgoto ou água contaminada por fezes que contêm poliovírus selvagens ou mutantes.

    Segundo a pesquisadora, é importante ressaltar que, enquantohouver poliomielite no mundo, todas as pessoas estão sob risco deadquirir a doença.

    “Os vírus da pólio circulam e podem acometer qualquer pessoa. Se essaspessoas, especialmente crianças, não estiverem devidamentevacinadas com uma vacina eficaz, preferencialmente inativada, nãoestarão imunes e podem ter a doença.Mesmo que haja um contato com o vírus, vacinados não desenvolvem adoença.”

    Baixas coberturas

    Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), as doses previstas para a vacina inativada contra a pólio atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29% das crianças nascidas naquele ano.

    Depois de 2016, a cobertura entrou em uma trajetória de piora que chegou a 71% em 2021. Em 2022, a cobertura subiu para 77%, mas continua longe da meta de 95% das crianças protegidas.

    O percentual a que se refere a cobertura vacinal mostra qual parte das crianças nascidas naquele ano foi imunizada. Isso significa que não atingir a meta em sucessivos anos vai criando um contingente cada vez maior de não vacinados. Ou seja, se considerarmos os últimos dois anos, 29% das crianças nascidas em 2021 e 23% das nascidas em 2022 estavam desprotegidas. Como mais de 1,5 milhão de bebês nascem por ano no Brasil, somente nesses dois anos foram mais de 780 mil crianças vulneráveis a mais no país.

    As coberturas nacionais também escondem desigualdades regionais e locais. Enquanto o Brasil vacinou 77% dos bebês nascidos em 2022, a cidade de Belém vacinou apenas 52%, e o estado do Rio de Janeiro, somente 58%.

    Área livre da pólio

    O Brasil não detecta casos de poliomielite desde 1989 e, em 1994, recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem, em conjunto com todo o continente americano.

    A vitória global sobre a doença com a vacinação fez com que o número de casos em todo o mundo fosse reduzido de 350 mil, em 1988, para 29, em 2018, segundo a OMS. O poliovírus selvagem circula hoje de forma endêmica apenas em áreas restritas da Ásia Central, enquanto, em 1988, havia uma crise sanitária internacional com 125 países endêmicos.

    Sequelas

    Com a eliminação da doença, é cada vez mais raro conhecer alguém que viva com as sequelas da pólio, mas essa já foi uma realidade muito mais frequente no Brasil. O ator e músico Paulinho Dias, de 46 anos, conta que teve a doença menos de duas semanas após seus primeiros passos, com 11 meses de idade.

    “A pólio afetou meus membros inferiores. Da cintura para baixo, afetou ambas pernas, porém, a maior sequela foi na perna direita, em que fiz mais de dez cirurgias, entre elas de tendão, de nervo que foi atrofiando e de alongamento ósseo, porque a perna começou a ficar curta, porque não acompanhou o crescimento da outra. Antes dessa cirurgia, quase não encostava o pé no chão.”

    Paulinho se lembrade relatos da mãe de que inúmeras crianças no entorno também tiveram pólio. A falta de informação na época, em 1977, fazia com que muitas famílias buscassem benzedeiras na ausência de outros recursos, dando ainda mais tempo para agravamento dos casos e disseminação do vírus.

    “Eu sempre fui a favor das vacinas, mas confesso que nunca fui panfletário em relação a elas até a pandemia de covid-19, que a gente viveu. E também, em pleno século 21, com o risco de a pólio voltar e o risco de outras doenças preveníveis por vacinas voltarem por conta da desinformação, movimentos antivacinistas, medos bobos. Sempre que eu posso, falo para as pessoas se vacinarem, porque é um ato de amor. Vacinem seus filhos, poupem de sofrimento.”

    Edição: Juliana Andrade
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  • Sorriso: Imunização contra a pólio segue até sexta-feira, dia 30

    Sorriso: Imunização contra a pólio segue até sexta-feira, dia 30

    Você sabia que ainda há crianças menores de cinco anos que não receberam nenhuma gotinha contra a pólio? Pois é, 1.333 crianças de um ano a menores de 5 anos ainda não receberam as duas gotinhas contra a pólio, apesar das várias ações desenvolvidas pela Secretaria de Saúde e Saneamento.  

    De acordo com o site Localiza SUS, do Ministério da Saúde (MS), até o momento, Sorriso imunizou 5.401 crianças contra a pólio, o que corresponde a 80,20% da meta total estipulada em 6.734 crianças na faixa etária de um ano até cinco anos incompletos para o Município.

    Na ação do último sábado, 24 de setembro, em que 16 unidades estavam com as salas de vacina abertas, 140 crianças foram imunizadas contra a pólio; também foram aplicadas mais 332 doses de vacinas de rotina. “A procura foi baixa, esperávamos que mais famílias tivessem levado seus pequenos para a imunização; estamos realizando um apelo para que os pais verifiquem os cartões e levem seus filhos para receber essa proteção”, frisa o gestor da Semsas, Sílvio Stolfo.

    Agora, se você conhece alguma criança que ainda não foi imunizada, dá uma força! Avise os familiares que ainda tem gotinhas disponíveis nas Unidades de Saúde da Família (USFs). A campanha foi prorrogada pelo MS e segue até a próxima sexta-feira, 30 de setembro. Além do imunizante contra a pólio, todas as doses do calendário infantil de recém-nascidos até 15 anos de idade, também estão disponíveis.

    E como informação nunca é demais, é bom lembrar que no momento da matrícula ou rematrícula, as escolas exigem a caderneta vacinal atualizada, então essa é uma oportunidade para deixar tudo ok.

    Vale lembrar que no Município, a Semsas conta com o apoio do Rotary Club na divulgação e nas ações de imunização.

  • Casos de varíola dos macacos permanecem estáveis no Brasil, diz ministro

    Casos de varíola dos macacos permanecem estáveis no Brasil, diz ministro

    O número de casos de varíola dos macacos encontra-se em estabilização e com tendência de queda. A afirmação é do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante entrevista ao programa A Voz do Brasil ontem, terça-feira (13). Segundo ele, as cerca de 50 mil vacinas adquiridas pelo ministério para combater a doença devem chegar ao Brasil na última quinzena deste mês. Ela será utilizada em pessoas que lidam com materiais contaminados e grupos de risco específicos.

    “A vacina pode ser fracionada, ou seja, podemos expandir o número de pessoas beneficiadas”, disse o ministro. Segundo Queiroga, é possível que no segundo semestre de 2023 tenhamos uma vacina nacional para combater a doença. No entanto, o ministro ressalta que o surto na Europa já vem diminuindo.

    Ainda falando de vacinação, o ministro da Saúde lembrou que a campanha de imunização contra a poliomielite foi prorrogada até o dia 30. A meta do ministério é vacinar 95% do público-alvo, que é 15 milhões de crianças abaixo dos cinco anos. “O último caso de pólio no Brasil foi em 1989, na Paraíba. Nós não queremos mais pólio nem na Paraíba e em nenhum estado do Brasil. Então vamos levar as crianças para receber a vacina”, incentivou o ministro.

    Legado da pandemia de covid-19

    O ministro também falou sobre a pandemia de covid-19, que, conforme explicou, está numa situação epidemiológica controlada, com menos de 100 mortes diárias. “Vamos trabalhar para reduzir ainda mais essa situação”. Queiroga lembrou que o país chegou a ter uma média de 3 mil mortes por dia.

    De acordo com o ministro, o principal legado deixado pela pandemia foi o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Os Centros de Inteligência Estratégicos de Vigilância em Saúde (Cievs) passaram de 55 para 164 e foram ampliados sobretudo nas áreas de fronteiras. Já os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em determinado momento do surto, passaram de 23 mil para 46 mil. “Os casos caíram mas deixamos 6.800 leitos a mais”, disse. “Fortalecer o sistema de saúde, deixar o SUS mais forte e resiliente é o grande legado dessa emergência de saúde pública de importância nacional”, concluiu.

    Na entrevista o ministro também falou sobre a rede de atenção primária, cujo orçamento passou de cerca de R$ 18 bilhões em 2018 para R$ 25 bilhões neste ano e sobre os resultados do programa Médicos pelo Brasil.

    Assista na íntegra:

  • Pólio: caso na África indica necessidade de maior cobertura vacinal

    Pólio: caso na África indica necessidade de maior cobertura vacinal

    O primeiro caso de poliomielite selvagem no continente africano em mais de cinco anos deve servir de alerta para países com baixas coberturas vacinais contra a doença, como o Brasil. A avaliação é do presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, que pede mais campanhas que reforcem a confiança nos imunizantes e lembrem as famílias de cumprir o calendário de vacinação das crianças.

    “O recado que fica é de alerta pelo risco que a gente está correndo em decorrência das baixas coberturas vacinais”, afirma Cunha. “Os números expõem essa vulnerabilidade. De cada dez crianças, três não estão vacinadas. É risco de uma situação totalmente evitável.”

    A circulação da poliomielite selvagem no mundo foi limitada pelo sucesso da vacinação contra a doença, que hoje só é endêmica no Paquistão e no Afeganistão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas cinco casos foram registrados em todo o mundo em 2021.

    No último dia 17, porém, autoridades sanitárias do Malawi notificaram o primeiro caso selvagem de pólio na África em mais de cinco anos e declararam surto do poliovírus tipo 1. Para o diretor regional da OMS na África, Matshidiso Moeti, “enquanto a poliomielite existir em qualquer lugar do mundo, todos os países continuam em risco de importar o vírus”.

    A poliomielite foi declarada erradicada do Brasil em 1994, também pelo sucesso da campanha de vacinação. Apesar disso, desde 2015, o país não tem conseguido mais atingir a meta de 95% do público-alvo vacinado, patamar necessário para que a população seja considerada protegida.

    Vacinas


    No Brasil, duas vacinas diferentes são usadas na imunização contra a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil: a inativada e a atenuada. A vacina inativada deve ser aplicada nos bebês aos 2, 4 e 6 meses de idade. Já a vacina atenuada, que é administrada em gotas por via oral, é indicada aos 15 meses e aos 4 anos de idade.

    Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), a cobertura vacinal contra poliomielite foi de 67,66% em 2021, mas apenas 52,49% das crianças chegaram à dose prevista para os 4 anos de idade. Nas regiões Nordeste e Norte, a situação é ainda pior, com percentuais de 42% e 44% para a imunização completa, respectivamente.

    Juarez Cunha lembra que baixas coberturas vacinais já foram responsáveis pelo retorno de circulação do sarampo, que foi declarado erradicado nas Américas em 2016 e voltou a infectar pessoas no Brasil em 2018. Ele destaca que, assim como na covid-19, parte dos infectados pela poliomielite fica assintomática, o que torna casos sintomáticos detectados ainda mais preocupantes.

    “Oitenta por cento das pessoas que se infectam com a pólio não têm nenhum sintoma. Então, se foi identificado um caso que levou à doença pólio, significa que provavelmente no Malawi está ocorrendo uma circulação do vírus. Onde tem um caso já é muito preocupante”, disse o presidenre da SBIm.

    O caso registrado no Malawi foi relacionado à cepa do vírus que circula na província de Sindh, no Paquistão, e, segundo a OMS, não altera a certificação da África como região livre de poliomielite selvagem, concedida em 2020. Por ter baixas coberturas vacinais, o continente africano, porém, ainda convive com casos de poliovírus derivado da vacina, já que a vacina atenuada contém o vírus vivo e enfraquecido.

    Em casos raros, o vírus atenuado é capaz de se replicar no intestino humano, sofrer mutações e se propagar, mesmo que com capacidade reduzida, por meio das fezes, se a população ao redor não estiver imunizada, risco que aumenta caso circule em uma região com problemas de saneamento e moradia. Quanto mais o vírus conseguir circular, maiores são as chances de sofrer mais mutações e recuperar a capacidade de causar paralisia.

    Juarez Cunha explicou que, no Brasil, o risco do poliovírus derivado da vacina é menor, porque as crianças só recebem a vacina atenuada como reforço depois de já terem sido imunizadas com três doses da inativada, que é mais eficaz e segura por conter o vírus “morto”. Mesmo assim, ele alerta que o risco existe e deve ser minimizado com uma cobertura vacinal elevada.

    “As populações menos favorecidas são as que têm as menores coberturas vacinais. É uma vulnerabilidade sobre a outra vulnerabilidade, porque é justamente onde a gente tem menor possibilidade de controle, higiene e acesso a rede de esgoto”, disse o médico.

    O presidente da SBIm afirmou que, com tais riscos, é preciso investir em comunicação para informar sobre os calendários vacinais e reforçar a confiança da população nas vacinas. “Infelizmente, não temos nenhuma comunicação do Ministério da Saúde em relação às vacinas de rotina. Precisamos fortalecer o PNI e a comunicação do Ministério da Saúde”, afirma ele. “Apesar de as pessoas não conhecerem a pólio, porque foram vacinadas, a doença ainda existe e tem risco de voltar. Temos que passar esse recado e o recado de confiança na vacinação, que não tem sido passado por governantes, instituições e até profissionais de saúde, em especial para a vacina da covid-19, mas isso acaba impactando todas as vacinas.”

    Brasil sem casos desde 1990

    Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde respondeu que o Brasil não detecta casos da doença desde 1990 e recebeu em 1994 da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem do seu território, juntamente com os demais países das Américas.

    “A pasta realiza ações de comunicação ao longo de todo o ano, não apenas durante as campanhas de vacinação, para reforçar a informação sobre a segurança e a efetividade das vacinas como medida de saúde pública”, afirma o ministério, que destacou ainda que as coberturas vacinais de poliomielite foram de 76,05%, em 2020, e de 67,66%, em 2021.

    “Já para o primeiro reforço, as coberturas vacinais são de 68,32%, em 2020, e 58,07%, em 2021. Todos esses dados ainda preliminares e, portanto, estão sujeitos a alterações”, acrescentou o Ministério da Saúde.