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  • Pesquisa mostra prevalência de paratuberculose em 55% dos rebanhos ovinos do planeta

    Pesquisa mostra prevalência de paratuberculose em 55% dos rebanhos ovinos do planeta

    Um estudo desenvolvido por equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Embrapa mostra uma prevalência de paratuberculose em 55,51%% dos rebanhos ovinos no planeta, sendo a América do Sul o subcontinente onde a prevalência foi mais alta (82,64% dos rebanhos). Os resultados estão descritos no artigo “ Prevalência global de Mycobacterium avium subsp. paratuberculosis em ovelhas: revisão sistemática e meta-análise ”, publicado em janeiro deste ano na revista científica Small Ruminant Research e evidenciam desafios em escala global para diagnóstico e controle da doença, que causam perdas produtivas para os rebanhos.

    O trabalho de levantamento de dados foi conduzido pela médica-veterinária Nathália Magalhães, como parte de sua pesquisa para o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Saúde Animal pela UFCG, sob orientação do professor Clebert Alves e co-orientação do pesquisador Selmo Alves, da Embrapa Caprinos e Ovinos. A partir da revisão de artigos sobre a doença em bases de dados internacionais, foi possível obter estatísticas sobre a paratuberculose no mundo, para compreender melhor a sua distribuição e suas implicações para a saúde animal e a produção peculiar a nível mundial.

    Causada por infecção pelo microrganismo Mycobacterium avium subespécie paratuberculosis (MAP), a doença pode ocasionar, em nossos ovinos, a redução do ganho de peso e da produção de lã e leite, além de aumentar a mortalidade precoce e provocar comprometimentos reprodutivos, como maior ocorrência de abortos. Nos sistemas de produção, a paratuberculose também eleva os custos operacionais e provoca prejuízos econômicos.

    Por conta desses fatores, os pesquisadores reforçam o alerta para medidas integradas de manejo sanitário, como o isolamento e o descarte de animais infectados, para interromper a disseminação do agente causador. “A higienização das instalações, com limpeza frequente e eliminação adequada de fezes, é essencial para minimizar a contaminação ambiental. Além disso, a proteção dos neonatos, por meio do fornecimento de colostro e leite de animais livres de MAP e da prevenção do contato com fezes contaminadas e produtos de aborto, é crucial”, reforça Nathália, acrescentando que a aquisição de animais novos deve observar se os rebanhos de origem estão certificados como livres da paratuberculose.

    Outro fator de alerta, segundo a pesquisa, é a possibilidade de uma associação entre a paratuberculose e a doença de Crohn, uma inflamação intestinal crônica em seres humanos. A Organização Internacional de Saúde Animal não considera a paratuberculose uma zoonose (doença transmissível do animal ao ser humano), mas o agente causador tem sido encontrado ocasionalmente pessoas acometidas com a doença de Crohn, que causa dores abdominais, diarreia, vômitos e perda de peso. Estudos sugerem que a transmissão do agente causador para humanos pode acontecer por meio do contato com animais ou do consumo de leite contaminado, configurando risco potencial para a saúde pública.

    “Entre as principais estratégias para minimizar o risco de transmissão para humanos, destaca-se a garantia do consumo de alimentos seguros e com certificados de qualidade, garantindo a pasteurização do leite e evitando a ingestão de produtos de origem animal crus ou mal processados. Além da educação sanitária pública, que desempenha um papel fundamental, promovendo a conscientização de técnicos, produtores e consumidores sobre os riscos associados ao consumo de alimentos contaminados”, afirma Nathália.

    Desafios para o controle

    Presente em todos os continentes e considerada uma doença transmissível com importância socioeconômica pela Organização Mundial da Saúde Animal, a paratuberculose se mostra, na pesquisa, mais presente nos rebanhos da América do Sul (prevalência de 82,64%) e da Ásia (de 58,57%). De acordo com o artigo, essa maior prevalência pode ser explicada por fatores de manejo, comercialização e carência de programas de controle mais eficazes.

    “A elevada prevalência nessas regiões pode ser atribuída ao sistema de manejo semi-intensivo, caracterizado por altas densidades populacionais de animais e pela ausência de programas eficazes de controle e manejo da doença. Além disso, o comércio de animais sem regulamentação adequada favorece a propagação da infecção entre os rebanhos”, alerta Nathália. A pesquisa também menciona questões de risco a introdução de novos animais em rebanhos sem implementação de quarentena e as deficiências nas condições de higiene e saneamento, que permitem a sobrevivência prolongada da MAP em solo, água e alimentos contaminados, aumentando a exposição de animais a riscos de infecção.

    Outro desafio apontado pelos pesquisadores é a dificuldade de identificação da doença, especialmente pela possibilidade de alguns animais infectados ficarem assintomáticos, o que reforça a necessidade de realização periódica de testes de diagnósticos e de atenção no manejo para observar indicadores que possam sugerir a presença da PAM.

    “A identificação de portadores assintomáticos representa um desafio significativo no controle do MAP, exigindo a adoção de estratégias específicas para sua detecção. A escrituração zootécnica auxilia no rastreamento de padrões produtivos, incluindo quedas na produtividade, ocorrência de abortos e outras alterações, pode servir como um indicador precoce para investigações mais recentes”, observa Nathália.

    O artigo também ressalta a importância da adoção de protocolos padronizados de diagnósticos em escala global, inclusive para se ter indicadores mais precisos da doença ao redor do planeta. Uma ideia apontada pelos pesquisadores é de se combinar métodos de diagnóstico, como os de ELISA e de PCR. Enquanto a primeira detecção da presença de anticorpos, sendo mais útil em estágios avançados da infecção, a PCR identifica o DNA do patógeno, possibilitando a detecção de animais infectados em fases iniciais. A combinação tem o potencial de fornecer um panorama mais abrangente da infecção no rebanho”.

    A equipe responsável pelo artigo contou também com os pesquisadores Clécio Limeira, Rafael Costa, Roseane Portela e Sérgio Azevedo, todos eles vinculados à Universidade Federal de Campina Grande.

  • Enfermidades de Caprinos e Ovinos: ocorrências e movimentação mundial

    Enfermidades de Caprinos e Ovinos: ocorrências e movimentação mundial

    As ações contínuas de identificação (diagnóstico), frequência, distribuição geográfica local, regional e mundial das enfermidades têm como finalidade conhecer para atuar antecipando-se à problemática com o objetivo da tomada de decisão quanto às medidas de controle e prevenção. A ocorrência e a dinâmica de disseminação de doenças em populações animais são influenciadas por uma combinação de fatores, incluindo o contexto epidemiológico, a execução de pesquisas científicas direcionadas, análises detalhadas sobre a magnitude das enfermidades e seu potencial de transmissão, avaliações de risco e a implementação de sistemas de monitoramento contínuo. É fundamental considerar as características específicas da população-alvo, incluindo espécies animais envolvidas, fatores ambientais e biológicos, bem como a delimitação de áreas geográficas e períodos temporais que possam influenciar os padrões de ocorrência e propagação.

    O monitoramento da ocorrência das doenças visa fornecer dados de notificações e movimentações com intuito de recomendar ações de prevenção aplicadas para os animais domésticos, aquáticos, silvestres e para os seres humanos. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) disponibiliza, por meio de seu portal oficial, o Sistema Mundial de Informação sobre Saúde Animal (WAHIS). Este sistema constitui uma base de dados abrangente, integrando informações provenientes de países membros e não membros, relacionadas às notificações e comunicações realizadas pelos Serviços Veterinários Oficiais. O WAHIS reúne dados epidemiológicos sobre a ocorrência de enfermidades incluídas nas listas terrestre e aquática, abrangendo tanto animais domésticos quanto silvestres. Além disso, contempla informações sobre doenças emergentes, zoonoses de relevância para a saúde pública, bem como enfermidades específicas que afetam caprinos e ovinos.

    No Brasil, o Sistema de Informação em Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) envia semestralmente informes a OMSA sobre a ocorrência de doenças animais no país. De acordo com esses dados, no ano de 2023, as enfermidades diagnosticadas em caprinos e ovinos incluíram o aborto enzoótico das ovelhas (clamidiose, uma zoonose), a agalaxia contagiosa, a artrite-encefalite caprina, a epididimite ovina e a maedi-visna. Destaca-se que as seguintes doenças nunca foram registradas no país: doença de Nairobi, peste dos pequenos ruminantes (PPR), pleuropneumonia contagiosa caprina e varíola ovina e caprina.

    Essas doenças de caprinos e ovinos, conforme seu agente causal, têm particularidades e características distintas de transmissibilidade, patogenicidade, capacidade de disseminação entre espécies e de manutenção em hospedeiros e vetores.  De acordo com as condições encontradas nos ambientes pelo agente, culmina-se com a sua permanência e a facilidade ou não do seu potencial de mobilidade.

    Vale lembrar, que outras doenças apresentam características semelhantes às citadas anteriormente e afetam múltiplas espécies, incluindo os caprinos e ovinos, tais como: febre aftosa, febre do Vale Rift, raiva, febre do Q, língua azul, paratuberculose e toxoplasmose, algumas consideradas zoonoses.

    Três dessas enfermidades, que não são encontradas no Brasil, causam um grande impacto na produção, ocasionando um alerta as instituições, a PPR, a varíola caprina e a febre do Vale Rift. Segundo a WAHIS, estas enfermidades estão se disseminando por vários países, sendo a PPR notificada na África, Equador, Oriente Médio, Índia, Ásia, Tibete, Marrocos. E em 2024, na Grécia, Romênia, China, Geórgia, Tunísia, Turquia, Serra Leoa e Uganda. Enquanto a varíola caprina, na Grécia; e a febre do Vale Rift, no continente africano, em 2024.

    Brasil, um país tropical, apresenta alta complexidade quanto ao contexto de clima e ambiência pelos diferentes biomas.  A presença de vetores e hospedeiros frente à quebra de barreiras entre animais e humanos é um risco constante, considerando a movimentação de pessoas e a presença de animais silvestres e selvagens, além do comércio de produtos e alimentos, entre os países. Portanto, é necessário adotar estratégias de vigilância interna e externa, em relação à ocorrência e movimentação dessas enfermidades, como fator e desafios sanitários para a caprinocultura e ovinocultura brasileiras.

    As mudanças climáticas globais estão provocando elevação nas temperaturas terrestres e aquáticas, resultando em perturbações significativas na biodiversidade e impactando negativamente os setores da agricultura, pecuária e a saúde única (One Health). As alterações nos padrões de precipitação, seja por aumento ou diminuição, contribuem para a contaminação dos recursos hídricos e promovem a proliferação de vetores de doenças infecciosas. Esses fatores levam ao surgimento e à reemergência de enfermidades em diversos países, incluindo, mais recentemente, a ocorrência da febre do Oropouche no Brasil.

    Diante dessa realidade, faz-se urgente a realização de pesquisas relacionadas à saúde única sobre os temas:  desenvolvimento e validação de métodos rápidos e sensíveis de diagnóstico das enfermidades entre os animais e o ser humano; e produção de vacinas, de fármacos e de matéria prima refinada para insumos.

    Antecipar o reconhecimento das enfermidades requer atenção e foco na ocorrência e movimentação delas no país e no mundo. Conhecer as doenças dos caprinos e ovinos, reunir informações e dados identificando países, animais envolvidos e diagnósticos utilizados, servirá como subsídio para oferecer, em tempo rápido, as respostas e ações coordenadas em saúde única envolvendo a educação sanitária para diferentes públicos.

  • Pesquisa valida vacina contra vermes em caprinos e ovinos no Brasil

    Pesquisa valida vacina contra vermes em caprinos e ovinos no Brasil

    Uma vacina que pode ajudar os criadores de caprinos e ovinos a controlar a verminose, principal problema sanitário desses rebanhos no Brasil, foi validada pela Embrapa em animais do Nordeste do Brasil e mostrou nível de eficácia entre 80% e 90% em ovinos, e entre 60% e 70% em cabras. A vacina, desenvolvida por investigadores do Moredun Research Institute (Escócia, Reino Unido), é uma medida preventiva e não impede as infecções, mas aumenta a resposta do animal contra o verme hematófago (isto é, que se alimenta de sangue) H. contortus .

    Marcel Teixeira , veterinário e pesquisador da  Embrapa Caprinos e Ovinos  (Sobral, CE) responsável pelo estudo de validação da vacina, afirma que ela não é capaz de erradicar o parasita. “Na verdade, tentamos reduzir a carga parasitária e o impacto da doença a um ponto em que os animais possam produzir sem perdas ou mortalidade significativas”, explica.

    A pesquisadora afirma que o H. contortus é um problema sério, o parasita se alimenta exclusivamente de sangue e causa anemia e alta mortalidade, impactando economicamente os sistemas de produção. A forma mais comum de controlar o problema é com vermífugos (vermífugos). Mas como são usados ​​de forma contínua e muitas vezes incorreta, os vermes resistentes são selecionados a cada tratamento, reduzindo cada vez mais a eficácia dos medicamentos disponíveis. “Com a vacina não temos esse problema, porque o verme não desenvolve resistência contra ela”, explica. Outra vantagem é que a vacinação é uma medida limpa: não deixa vestígios na carne ou no leite, portanto não exige intervalo pré-colheita, ou seja, o pecuarista não precisa esperar muito para abater o animal ou descartar o leite. depois da vacina.

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    Foto: Igor Magalhães

    Eficácia e custos da vacina

    A validação da vacina contra o H. contortus foi realizada inicialmente em escala experimental nos rebanhos da Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral, no Ceará. Em seguida, a equipe expandiu o experimento para rebanhos de outras propriedades do Nordeste brasileiro, principalmente da Bahia.

    Os resultados indicaram que a resposta dos animais à vacina varia entre as espécies e, na mesma espécie, muda de acordo com cada raça. As ovelhas respondem melhor que as cabras. E para algumas raças de ovinos, como Santa Inês, a eficácia da vacina é maior. O protocolo utilizado no Semiárido brasileiro foi de três doses pré-imunizantes, com intervalo de 21 dias, e uma dose de reforço após seis semanas em animais naturalmente infectados.

    A vacina requer algumas condições para funcionar bem. Precisa ser muito bem aplicado, armazenado em refrigeração e necessita de doses de reforço. O custo do medicamento hoje, sem tarifas de importação, é de US$ 0,50 por dose, o que equivale ao preço de um vermífugo de alto custo no Brasil. “A principal desvantagem em relação aos outros métodos seria o custo, que acaba sendo mais elevado, mas é compensado, pois não é necessário descartar a produção de leite e carne, como acontece com os vermífugos”, observa Teixeira.

    Rony Gleidson dos Santos é criador de ovinos de corte no município de Pintadas, BA, e participou do experimento de validação da vacina em campo. Ele explica que costumava tratar seu rebanho com vermífugos. “Com essa vacina que a Embrapa usou aqui foi muito melhor, a incidência de vermes diminuiu bastante. Tenho interesse em usar a vacina assim que estiver disponível”, relata. Teixeira observa que a prática normalmente adotada pelos criadores é incorreta, pois recorrem a diferentes vermífugos e isso leva à resistência do parasita a todos os medicamentos utilizados.

    As vantagens da vacina já foram comprovadas; o próximo passo é realizar estudos mais longos e extensos em diferentes regiões, para fins de registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), órgão que autoriza seu comércio, para iniciar o processo de importação e venda. “Há um processo administrativo inicial e um interesse do fabricante, da Embrapa e da cadeia produtiva. Já existe um movimento para trazer essa vacina para o Brasil e a Embrapa está ajudando nesse processo”, afirma o pesquisador.

    Impactos econômicos

    A ocorrência de vermes é maior, segundo os pesquisadores, em locais quentes e úmidos, onde causa elevados prejuízos econômicos aos criadores, principalmente pelo alto índice de mortalidade que causa nos rebanhos. Os custos anuais do tratamento apenas de animais afectados por Haemonchus contortus foram recentemente estimados em 26 milhões de dólares, 46 milhões de dólares e 103 milhões de dólares para o Quénia, a África do Sul e a Índia, respectivamente. No entanto, estudos mais recentes demonstraram que o parasita está presente mesmo em regiões mais frias como o norte da Europa.

    As perdas de animais variam muito entre regiões, anos e estações, dependendo das condições ambientais e da eficácia das medidas de controlo. O impacto económico imediato é maior quando muitos animais são manejados na mesma área e quando há uma elevada incidência da doença. Entretanto, sistemas de produção com rebanhos criados extensivamente (em pastagens) podem ser proporcionalmente mais afetados devido à má nutrição animal, ao acesso limitado a anti-helmínticos e à resistência a tais medicamentos.