Tag: mudanças climáticas

  • Aves beijoqueiras estão ameaçadas no Cerrado, diz pesquisador

    Aves beijoqueiras estão ameaçadas no Cerrado, diz pesquisador

    O beijo mais famoso da natureza vive sob ameaça no Cerrado. Quem corre risco é o beija-flor, que busca o néctar de uma planta e depois espalha o pólen pela mata. Desmatamento e mudanças climáticas são vilões modernos e concretos contra essa “cena de amor” tão natural. O alerta é do biólogo e fotógrafo da natureza Marcelo Kuhlmann.

    Depois de 10 anos de pesquisa e imersão pelo bioma, considerado o “berço das águas”, Kuhlmann registrou nada menos do que 41 espécies da ave, o que resultou em um livro de 750 páginas, Cerrado em Cores: Flores Atrativas para Beija-Flores, fruto desses flagrantes que realizou na “savana mais rica do mundo”.

    Neste domingo (13), Dia do Beijo, as ameaças sofridas por essas pequenas aves não são nada românticas.

    “É um livro robusto, com 750 páginas, e decidi organizá-lo de forma didática, de acordo com as cores das flores e sua época de floração”, afirmou o pesquisador.  O trabalho foi publicado de forma independente pela própria editora do autor, a Biom Field Guides, produzida com capa dura e acabamento especial. O livro contou com financiamento coletivo para ser impresso.

    Ameaças

    Para Kuhlmann, a maior ameaça para o Cerrado é o desmatamento, principalmente voltado para o agronegócio. “Apesar de toda a sua importância para a economia do Brasil, não está sendo feito de uma forma totalmente sustentável”.

    O pesquisador lamenta que, nos últimos 70 anos, o país perdeu mais da metade da vegetação nativa do bioma. “Quando eu viajo pelo Cerrado, atrás dessas permanências de vegetação nativa, passo horas por monoculturas, de soja e de milho, a perder de vista. Isso coloca em risco toda a biodiversidade.”

    Em seus estudos, Kuhlmann avalia ser necessário acompanhar os efeitos das mudanças climáticas sobre essas aves, porque o período de floração das plantas pode alterar o comportamento delas.

    “Cada espécie tem um período certo para florescer. Se a gente, por exemplo, quer manter uma população de polinizadores, como os beija-flores, é preciso que haja flores ao longo de todo o ano”.

    O biólogo explica que, apesar de serem ativos durante todo o dia, os beija-flores são animais diurnos, principalmente nos períodos mais frios do dia. A quentura do dia pode afetar, inclusive na competição dos recursos florais com outros animais, como as abelhas.

    Olhos poderosos

    A pesquisa de Kuhlmann buscou inicialmente identificar as espécies de beija-flores que ocorrem no Cerrado e quais flores atraem as aves. Em uma pesquisa, Kuhlmann e outros estudiosos descobriram uma espécie de bromélia na Chapada dos Veadeiros que estava toda florida e alaranjada cercada de beija-flores. “Isso me chamou a atenção. Desde essa época, eu venho querendo saber mais quais são as flores que mais atraem.”

    Ele explica que, no bioma cerrado, ocorrem 41 espécies de beija-flores das 89 que já foram encontradas no Brasil.

    “Temos as espécies que são mais frequentes, que ocorrem em todo o bioma, e outras espécies, mais raras, de ocorrência apenas localizada, como as que ocorrem na Serra do Espinhaço.”

    Kuhlmann destaca o fato de o beija-flor ter uma visão de cores muito aguçada e desenvolvida. “São animais que conseguem enxergar até ultravioleta e têm um espectro visual de cores muito maior que o nosso.”

    Flores coloridas e chamativas têm esse efeito de atração de beija-flores e de outras aves. “Mas também flores pequenas e discretas também atraem animais. Isso me chamou a atenção durante o estudo.”

    Uma constatação é que a paquera dos beija-flores no Cerrado visa uma maior variedade de flores, de todos os formatos e tamanhos e de todas as cores. O motivo é que, além das cores, o beija-flor vai direto ao assunto: atrás de néctar.

    Poderosos plantadores

    Segundo o pesquisador, beija-flores são fundamentais polinizadores. Eles atuam nesse serviço ecológico para as plantas do Cerrado em conjunto com diversos outros animais, como as abelhas, mariposas, borboletas e morcegos.

    Muitas das flores que os beija-flores visitam também são atrativas para outros animais polinizadores. No Cerrado, a estimativa é que, de 80% a 90% das espécies nativas do bioma, dependem de animais para a polinização das flores. “No livro, eu registrei aqui mais de 300 espécies nativas que atraem beija-flores. Dessas 300, pelo menos 100 dependem mais dos beija-flores

    Bico doce

    O formato do bico dos beija-flores varia, conforme explica o pesquisador.

    “Tudo isso reflete uma relação ecológica evolutiva. Com as flores, houve uma relação de coevolução. As espécies evoluíram ao longo de milhares de anos para estabelecer essas relações ecológicas”. Por isso, é importante a biodiversidade, afirma Kuhlmann. “Ora, se houver somente uma espécie de planta dominando uma área, tende a diminuir a quantidade de aves.”

    Para ele, a imagem de um Cerrado cinza é equivocada, ainda que este não seja mais o oásis de 70 anos atrás, como descreveu, por exemplo, João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, publicado em 1956.

    “Aqui no Brasil, valorizamos muito pouco nossas espécies nativas”, disse o pesquisador, que percorreu regiões no Distrito Federal, em Goiás, Minas Gerais e São Paulo, na Bahia, em Mato Grosso e no Tocantins. “A perda do Cerrado pode ocasionar para o Brasil um grande déficit hídrico. O Cerrado é o berço das águas do Brasil. Então, requer muita atenção de todos os brasileiros”. E, claro, a conservação do bicho que mais beija.

    Entre os achados raros, avistados no último raiar do sol, depois mais de uma semana de expedição na Chapada dos Guimarães, o pesquisador ficou feliz em registrar o Phaethornis nattereri, ou rabo-branco-de-sobre-amarelo. “Ele ocorre ali na fronteira do Cerrado, com o Pantanal”. De beijos raros, também se faz a mata. O objetivo do livro é dar visibilidade a esses animais com a máxima de que não é possível conservar sem conhecer. Nesse cenário, claro, quanto mais beijos, mais as flores se abrem e o Cerrado se ilumina.

    Para ele, a imagem de um Cerrado cinza é equivocada, ainda que este não seja mais o oásis de 70 anos atrás, como descreveu, por exemplo, João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, publicado em 1956.

  • Crise climática pode provocar nova extinção em massa, diz pesquisador

    Crise climática pode provocar nova extinção em massa, diz pesquisador

    Se a humanidade não conseguir reverter os efeitos das mudanças climáticas, a Terra pode sofrer uma extinção em massa, semelhante à do Período Permiano (entre 299 e 251 milhões de anos atrás), quando cerca de 90% das espécies não conseguiram sobreviver às condições drásticas. O alerta é do pesquisador Hugh Montgomery, diretor do Centro de Saúde e Desempenho Humano da University College London, na Inglaterra, e um dos autores do relatório de 2024 sobre saúde e mudanças climáticas da publicação científica The Lancet.

    O estudioso abriu a programação do Forecasting Healthy Futures Global Summit, evento internacional sobre saúde e clima, que começou nesta terça-feira (8) no Rio de Janeiro. O Brasil foi escolhido para sediar a conferência porque vai receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em novembro.

    Montgomery ressaltou que essa extinção já vem ocorrendo ─ “a maior e mais rápida que o planeta já viu, e somos nós que estamos causando isso”, frisou. Entretanto, a morte de espécies pode chegar a níveis catastróficos se o aumento da temperatura média global chegar a 3 graus Celsius (ºC) acima dos níveis pré-industriais. Em 2024, alcançamos um aumento recorde de 1,5º C, e cientistas estimam que se as ações atuais foram mantidas, especialmente no que se refere a emissão de gases do efeito estufa, esse aumento deve chegar a 2,7 °C até 2100.

    “Se continuarmos golpeando a base dessa coluna instável sobre a qual estamos apoiados, a própria espécie humana estará ameaçada. No ano passado, emitimos 54,6 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente na atmosfera — um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior. A concentração atmosférica de CO₂ não só está aumentando, como está aumentando de forma cada vez mais acentuada”, explicou o especialista.

    E, de acordo com Montgomery, outras consequências drásticas poderão afetar a Terra bem antes disso. “Se alcançarmos, mesmo que temporariamente, um aumento entre 1,7 °C e 2,3 °C, teremos um colapso abrupto das camadas de gelo do Ártico. Sabemos que isso também vai causar uma desaceleração significativa da Circulação Meridional do Atlântico, da qual depende o nosso clima, nos próximos 20 ou 30 anos, provocando uma elevação do nível do mar em vários metros, com consequências catastróficas”.

    Ele chama atenção para outras causas do aquecimento global, como a emissão de metano, gás com potencial danoso 83 vezes maior do que o dióxido de carbono, liberado principalmente durante a exploração de gás natural. O cientista inglês também argumentou que ações imediatas de despoluição são essenciais para a própria economia mundial, que, prevê ele, deve reduzir em 20% ao ano, ou 38 trilhões de dólares, a partir de 2049, por causa dos efeitos das mudanças climáticas.

    Hugh Montegomery avalia que é importante pensar em medidas de adaptação a mudanças no clima, porque elas já estão afetando a saúde da população hoje, “mas isso não pode ser feito em detrimento de uma redução drástica e imediata nas emissões, porque não faz sentido focar apenas no alívio dos sintomas quando deveríamos estar buscando a cura”.

  • Marina Silva e ministro da China estreitam cooperação ambiental e climática entre países

    Marina Silva e ministro da China estreitam cooperação ambiental e climática entre países

    A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o ministro de Ecologia e Meio Ambiente da República Popular da China, Huang Runqiu, se reuniram na quarta-feira (2/4) em Brasília (DF). O encontro ocorreu no contexto da 11ª Reunião de Ministros de Meio Ambiente do BRICS sob a presidência brasileira.

    Na pauta, as parcerias estratégicas no grupo e na Subcomissão de Meio Ambiente e Mudança do Clima da Cosban. O diálogo tratou ainda de iniciativas de proteção à biodiversidade, combate à poluição e financiamento climático. Marcou também a 5ª reunião da Subcomissão de Meio Ambiente e Mudança do Clima da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban).

    Os ministros assinaram o Plano de Trabalho da Subcomissão para o período de 2025 a 2029, que define o escopo e as formas de cooperação entre Brasil e China nas áreas de proteção ambiental, melhoria da qualidade ambiental, enfrentamento à mudança do clima, conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável.

    “No âmbito da Cosban, vamos estabelecer, além de intercâmbio de informação e de boas práticas, ações de capacitação e treinamento, consultas sobre negociações internacionais e cooperação em áreas como a criação de mecanismos inovadores para o financiamento de serviços ecossistêmicos”, destacou a ministra.

    Marina Silva convidou sua contraparte chinesa a conhecer o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Desenvolvido pelos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Fazenda e Relações Exteriores, o TFFF recompensará países que comprovadamente protegem suas florestas tropicais, com base em monitoramento feito por satélites.

    O governo federal trabalha para captar US$ 125 bilhões e lançar o TFFF durante a COP30, Conferência do Clima da ONU que ocorre em Belém (PA) em novembro. Pelo menos 20% dos recursos serão direcionados a populações indígenas e povos e comunidades tradicionais que estão na linha de frente da preservação das florestas.

    Participaram da reunião com Huang o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago ; a secretária nacional de Mudança do Clima do MMA e diretora-executiva da COP30, Ana Toni; o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Garo Batmanjan; o secretário nacional de Meio Ambiente Urbano, Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do MMA, Adalberto Maluf; e a secretária nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais da pasta, Rita Mesquita.

    Encontros com Irã e Etiópia

    Também em paralelo à reunião de ministros de Meio Ambiente do BRICS, Marina recebeu a vice-presidente e chefe da Organização do Meio Ambiente do Irã, Shina Ansari. No encontro, foram discutidas as prioridades dos países no BRICS e na COP30 e o combate à poluição por plásticos.

    “Ter a presença do Irã no BRICS nos faz acreditar que o multilateralismo está fortalecido diante de um contexto geopolítico desafiador”, ressaltou. Também participou da agenda o secretário Adalberto Maluf.

    Na quinta-feira (3/4), durante a 11ª reunião dos ministros de Meio Ambiente do BRICS, a ministra se reuniu com a diretora-geral da Autoridade Ambiental da Etiópia, Lelise Neme. Esteve presente a secretária nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável, Edel Moraes.

    Na oportunidade, Marina Silva enfatizou o interesse em ampliar a cooperação bilateral com o país africano nas áreas de meio ambiente e clima e reforçou a necessidade de que as nações apresentem, até a COP30, as atualizações de suas NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas) em linha com a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento médio do planeta a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais. As NDCs são os compromissos nacionais para redução de suas emissões de gases de efeito estufa.

  • Instituto Clima e Sociedade lança edital para projetos que usam IA

    Instituto Clima e Sociedade lança edital para projetos que usam IA

    O Instituto Clima e Sociedade (iCS) lançou o edital Desafio IA Natureza & Clima para incentivar o desenvolvimento de novos usos de tecnologias digitais, entre elas a inteligência artificial (IA), que mitiguem a emissão de gases de efeito estufa, conservem a biodiversidade e promovam maior resiliência dos ecossistemas.

    Com o apoio do Google.org, instituição filantrópica do Google que doou R$ 18 milhões, o iCS vai selecionar até nove projetos para desenvolver soluções para a natureza e o clima. Podem participar organizações e entidades privadas sem fins lucrativos; universidades, institutos e centros de pesquisa públicos ou privados sem fins lucrativos.

    O edital foca em três pilares: agricultura regenerativa, bioeconomia e reversão da perda da biodiversidade no Brasil. A iniciativa tem respaldo técnico do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS). Cada projeto poderá receber um valor mínimo de R$ 1,8 milhão. As inscrições ficarão abertas até o dia 22 de abril.

    De acordo com o edital, cada organização proponente pode apresentar apenas um projeto para seleção. No entanto, no caso de universidades, considera-se a organização proponente como sendo o laboratório ou departamento específico responsável pela implementação do projeto. Dessa forma, é permitida a inscrição de mais de um projeto por universidade, desde que submetido por instâncias distintas da instituição. Para os demais casos, se a organização proponente enviar mais de um projeto, só será considerado o que tiver sido enviado por último.

    “Precisamos aproveitar as soluções tecnológicas disponíveis e estimular a inovação de outras possibilidades para avançar no cumprimento da agenda climática, que a cada dia se torna mais urgente. A inteligência artificial pode e deve ser utilizada a nosso favor. O iCS pretende, com esse edital, apresentar soluções concretas e escaláveis em agricultura regenerativa, bioeconomia e conservação e restauração florestal no Brasil”, afirma a diretora executiva do iCS, Maria Neo.

    Segundo o iCS, essa é a maior doação já feita pelo Google.org para projetos de sustentabilidade na América Latina. O processo de seleção será composto por quatro etapas: triagem técnica e legal; pré-seleção pelo júri de 14 a 21 projetos – que passarão então a uma mentoria de quatro semanas –; e seleção final pelo júri de cinco a sete projetos. Adicionalmente, o iCS poderá selecionar diretamente dois projetos. O anúncio dos projetos pré-selecionados será feito até o dia 12 de junho. O anúncio final dos selecionados está marcado para o dia 26 de setembro.

    “A tecnologia tem um enorme potencial para acelerar soluções climáticas e promover o uso sustentável dos recursos naturais. Com o apoio do Google.org, queremos incentivar projetos que combinam inovação e impacto ambiental positivo, contribuindo para desafios urgentes, como a conservação da biodiversidade e a agricultura regenerativa. Estamos entusiasmados para acompanhar essa iniciativa e ver como os projetos selecionados poderão transformar essas áreas e gerar benefícios duradouros para o Brasil e o mundo”, destaca a diretora de Marketing do Google no Brasil, Maia Mau.

    Pilares estratégicos

    As três áreas de foco foram escolhidas com base em sua relevância estratégica e potencial impacto:

    • Reversão da perda da biodiversidade: o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. No entanto, 7 milhões de hectares de florestas secundárias atualmente em regeneração natural estão sob risco de desmatamento. O setor tem o potencial de criar mais de 5 milhões de empregos, remover 4,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera e gerar R$ 776,5 bilhões em receita líquida;
    • Bioeconomia: o iCS considerou a perspectiva promissora de ter a natureza como centro do desenvolvimento, de forma sustentável. Projetos nesse campo podem gerar 833 mil empregos até 2050 e contribuir para a preservação de mais 81 milhões de hectares de florestas em pé;
    • Agricultura Regenerativa: essa abordagem pode contribuir para reduzir as emissões em 25,7% até 2035, em comparação com 2020. Além disso, oferece uma solução para converter pastagens degradadas em áreas agrícolas sustentáveis, prevenindo o desmatamento ilegal. A agricultura regenerativa permite maior produtividade sem aumento do desmatamento, integrando melhorias na produção com esforços de conservação.

    “O uso de inteligência artificial e outras tecnologias pode ajudar o Brasil a atingir suas metas de redução de gases de efeito estufa (66% até 2030 e emissões líquidas zero até 2050), garantindo, ao mesmo tempo, benefícios inclusivos para comunidades e agricultores que dependem do uso da terra e da agricultura”, diz o Instituto Clima e Sociedade.

    Sobre o iCS

    O Instituto Clima e Sociedade (iCS) é uma organização filantrópica que apoia o enfrentamento das mudanças climáticas com foco no Brasil, por meio do emprego de um rol amplo de abordagens e ferramentas. Estas compreendem desde o suporte institucional e financeiro a organizações sem fins lucrativos ao apoio ao desenvolvimento de pesquisas técnicas e científicas, passando pela formação de redes e capacitação em diferentes segmentos econômicos.

  • Presidente da COP 30 defende novas formas de financiamento climático

    Presidente da COP 30 defende novas formas de financiamento climático

    O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro deste ano em Belém, defendeu nesta segunda-feira (31) que é preciso pensar em novas formas para se financiar a agenda ambiental.

    “O Brasil está dando uma ajuda imensa para encontrar caminhos para outras formas de financiar. Existem discussões sobre taxação para transporte marítimo, petróleo, classe executiva de avião. A gente vai olhar para tudo para chegar a US$ 1,3 trilhão em 2035. Precisamos ampliar a discussão sobre financiamento climático e pensar além dos mecanismos tradicionais”, disse ele durante o evento Soluções Baseadas na Natureza: Oportunidades de Escala e Perspectivas de Financiamento, promovido pelo Nature Investment Lab (NIL).

    O encontro, realizado hoje, na capital paulista, reuniu líderes do setor financeiro, de instituições públicas e multilaterais e organizações do ecossistema de impacto para discutir os avanços do Nature Investment Lab, iniciativa liderada pelo setor privado e que foi lançada em setembro do ano passado para superar desafios legais e financeiros, desenvolver modelos de negócios replicáveis e criar estruturas financeiras inovadoras para projetos sustentáveis no Brasil.

    De acordo com o embaixador, o financiamento da “agenda de ação” é uma das prioridades do governo brasileiro, além do fortalecimento do multilateralismo e da criação de oportunidades de negócio, buscando tornar viáveis os projetos voltados ao combate à mudança climática.

    “Não podemos achar que apenas a negociação de mudança climática e o Acordo de Paris vão resolver a questão climática. O Acordo e a Convenção do Clima são ambientes bons para negociar soluções, mas a implementação depende mais de bancos de desenvolvimento, do FMI [Fundo Monetário Internacional], para que o que está sendo discutido se torne uma realidade no campo. O financiamento depende de outros órgãos”, comentou o embaixador.

    “A COP tem uma dimensão muito formal, das negociações, e delas só podem participar os 196 países do Acordo de Paris. Quem vai levar isso adiante são instituições desses países, mas também governos subnacionais, setor privado, academia, que não participam das negociações. O que vocês estão fazendo pode servir como base para outros países, onde é muito mais difícil. O mundo em desenvolvimento tem grande esperança de que venham do Brasil ideias como as que vocês estão desenvolvendo”, acrescentou.

  • Pesquisador da Amazônia, brasileiro conquista Nobel do meio ambiente

    Pesquisador da Amazônia, brasileiro conquista Nobel do meio ambiente

    O  antropólogo e professor Eduardo Brondízio, que leciona a disciplina de antropologia ambiental na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e é associado no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade da  Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),  receberá o Prêmio Tyler 2025, um mais importantes na área ambiental, em nível mundial, conhecido como o Nobel do meio ambiente. A honraria será compartilhada com a ecologista argentina Sandra Díaz.

    Brondízio realiza pesquisas sobre a Amazônia há 35 anos e atua como uma voz internacional sobre a importância da valorização das comunidades ribeirinhas e dos povos tradicionais na conservação ambiental e nas políticas de sustentabilidade. Díaz e Brondízio são reconhecidos ainda pela sua atuação na promoção de políticas e ações que integrem a justiça socioambiental.

    A cerimônia de premiação está marcada para o dia 10 de abril de 2025, em Los Angeles. O brasileiro e a argentina são os primeiros sul-americanos reconhecidos com o prêmio.

    Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Eduardo Brondízio destaca a importância da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) para a definição de ações concretas para a redução de emissões de gases de efeito estufa. O encontro será realizado em novembro, em Belém.

    “As últimas duas COPs não deram o avanço esperado, e os impactos climáticos estão ficando mais aparentes e inegáveis. Internacionalmente, há uma expectativa muito grande nessa COP em poder gerar um acordo mais efetivo para mudar o cenário atual de emissões de gases de efeito estufa, mas, também, de constituir um plano mais amplo para investimentos em adaptações às mudanças climáticas, priorizando as populações mais afetadas”, disse.

    Leia a seguir a íntegra da entrevista:

    Agência Brasil: Professor, quais os aspectos de sua pesquisa que têm maior relação com a premiação recente no Prêmio Tyler?
    Eduardo Brondízio: Por um lado, a interação entre desenvolvimento regional, mercados e mudanças ambientais e comunidades rurais na Amazônia, focado em respostas das ações coletivas e locais e como elas influenciam a realidade regional, incluindo a urbanização regional, e, por outro lado, abordo esses temas em nível global – como as mudanças globais afetam a qualidade de vida de sociedades humanas, a contribuição de populações indígenas e rurais para produção de alimentos e a conservação da biodiversidade a urbanização no sul global.

    Agência Brasil: Quais os aspectos mais importantes, hoje, desta relação entre comunidades e a Amazônia?
    Brondízio: Por exemplo, como as comunidades rurais e indígenas trazem soluções para conciliar conservação e desenvolvimento econômico. Também procuro entender como as pressões de expansão agrícola, urbanização e mudanças ambientais afetam essas populações, e como influenciam as migrações dessas populações rural e indígena para as cidades,  como isso transforma as cidades, e a relação entre cidade, pessoas e ambiente.

    Agência Brasil: Este ano é importante para essa temática, com discussões como as da COP30, não?
    Brondízio: Este ano, a COP30 é um tema catalisador a dois níveis. Global, no sentido de que as últimas duas COPs não deram o avanço esperado, e os impactos climáticos estão ficando mais aparentes e inegáveis. Internacionalmente, há uma expectativa muito grande nessa COP em poder gerar um acordo mais efetivo para mudar o cenário atual de emissões de gases de efeito estufa, mas, também, de constituir um plano mais amplo para investimentos em adaptações às mudanças climáticas, priorizando as populações mais afetadas.

    Também é um momento de fragmentação na cooperação internacional, então há expectativa de oferecer um espaço para buscar convergências entre vários setores da sociedade em torno de ações mais concretas. Há um outro nível onde a COP30 já vem tendo um papel catalisador, o da Amazônia e do Brasil. Existe esperança de mobilizar energia, colaborações e financiamento para reverter o quadro de deterioração social e ambiental da região. Os problemas ambientais e sociais da Amazônia oferecem um espelho da situação global onde mudanças climáticas, degradação da biodiversidade e desigualdades sociais se autorreforçam.

    Agência Brasil: Por que esse momento é importante para a Amazônia?
    Brondízio: A Amazônia, o Brasil e países vizinhos foram palco de avanços importantes nos últimos 30 anos, como a criação de áreas protegidas, demarcação de terras indígenas e criação de áreas de uso sustentável, que englobam, no Brasil, cerca de 45% da região. Esse avanço conseguiu garantir direitos para as comunidades e tem sido fundamental em bloquear, pelo menos parcialmente, a expansão do desmatamento e das queimadas. Um outro avanço importante nesse período foi o da expansão e as inovações da sociobioeconomia, que vêm garantindo ganhos ambientais e a valorização do conhecimento local e da biodiversidade. Essa é uma economia gigante, apesar de invisível, que vem das populações, das florestas e rios da região.

    Agência Brasil: E qual o contexto em que esses avanços ocorrem?
    Brondízio: Esses grandes avanços vêm acontecendo lado a lado com a transformação da região pela expansão do desmatamento, mineração, infraestrutura e urbanização. Progressivamente, essas transformações estão criando uma sinuca para áreas indígenas e protegidas. Hoje, a expansão desordenada dessas atividades, além da expansão do crime organizado, representa uma ameaça à sustentabilidade desses territórios. As áreas que são protegidas estão sitiadas e viraram “ilhas”. São efetivos para garantir governança ambiental dentro dos seus limites, mas não para impedir os impactos do que vem de fora. É uma prioridade hoje salvaguardar esses territórios e dar condições às comunidades de avançar nos ganhos da sociobioeconomia.

    Outro elemento é a urbanização da região, só na Amazônia legal são 770 cidades. Anteriormente desarticuladas e pouco conectadas fisicamente, hoje as conexões interurbanas estão criando uma grade que irá definir a governança ambiental do território pelas próximas décadas. Hoje, as realidades urbana, rural e indígena se entrelaçam na região. Boa parte das áreas urbanas da Amazônia é das mais precárias do Brasil e também está sofrendo com as questões climáticas como seca, inundação e temperaturas extremas com muita intensidade, além de altos níveis de poluição de mercúrio, pesticidas e poluição do ar.

    Agência Brasil: Quais as condições destas cidades hoje, principalmente das capitais?
    Brondízio: Os dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], de 2022, mostram, por exemplo, que as ocupações subnormais dominam nas principais capitais da Amazônia, chegando a mais de 55% das ocupações em Belém e Manaus. Isso não pode ser esquecido, pois a maior parte da população da Amazônia Brasileira, quase 80%, vive nessas áreas. Além disso, as áreas urbanas têm influência direta nas áreas rurais e indígenas e na saúde da floresta e dos rios da região. A precariedade das áreas urbanas e rurais vem levando a um crescimento acelerado das economias ilegais e do crime organizado na região. Alem da violência urbana na região, alta em relação ao resto do Brasil, cenário que tem colocado uma pressão enorme nas comunidades indígenas e rurais, além de estar aliciando jovens para a economia ilegal e para o crime organizado, ambos cada vez mais próximos do tráfico internacional de drogas.

    Agência Brasil: Nesse contexto, qual a importância do surgimento de lideranças jovens na região?
    Brondízio: É muito grande. Os avanços na proteção e sociobioeconomia na Amazônia vêm da luta de uma geração de líderes que enfrentou esses desafios dos anos 1970 a 1990, conseguindo oferecer um modelo de governança territorial e alternativas econômicas baseadas na biodiversidade regional. A geração nova precisa carregar essas vitórias para a frente. É muito gratificante ver uma nova geração de jovens indígenas e rurais continuando esses avanços e buscando novas alternativas e narrativas para o futuro da região compatíveis com seus valores culturais, mas também integradas e tendo acesso a serviços e oportunidades para melhorar as condições de vida onde vivem.

    A tendência global e nacional nos últimos 50 anos vem sendo de uma diminuição da população rural e indígena muito forte, e isso é resultado de uma série de pressões sociais, econômicas e ambientais. A falta de priorização de investimentos nessas áreas, falta de opções econômicas e de acesso a serviços e oportunidades de educação desincentivam a vitalidade de comunidades rurais e indígenas. Essas condições também levam muitos jovens a serem empregados nas economias ilegais e no crime organizado. Em áreas onde oportunidades estão presentes, a gente vê essas lideranças se engajando nas discussões nacionais e internacionais, tendo protagonismo em acordos nacionais e internacionais de biodiversidade e clima e também trazendo novas visões e resposta para demandas atuais.

    Temos visto a constituição de redes de jovens da região. Porém, para manter os jovens em suas comunidades é fundamental assegurar a viabilidade econômica da sociobioeconomia, dar acesso à educação compatível às realidades locais e também acesso às tecnologias de comunicação. Por fim, essa questão passa pela valorização social e cultural do papel dessas comunidades na economia, conservação e enfrentamento dos problemas sociais da região. Aquele jovem que vê a sociedade valorizar as populações da Amazônia e seus papéis no desenvolvimento sustentável regional fica orgulhoso das suas contribuições e digno do seu papel no futuro da região. Precisamos valorizá-los, eles são o futuro da Amazônia.

  • Governo Federal atua para enfrentar ondas de calor e mudanças climáticas

    Governo Federal atua para enfrentar ondas de calor e mudanças climáticas

    O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) vem ampliando a articulação com os ministérios da Educação (MEC) e da Saúde (MS) para o enfrentamento às ondas de calor que atingem o país, agravadas pela mudança do clima.

    O objetivo é alertar a população sobre os cuidados necessários para lidar com a elevação das temperaturas e viabilizar ações para minimizar seus impactos, principalmente nas escolas.

    Em janeiro, a média de temperatura global esteve 1,75ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900), de acordo com o Copernicus, observatório climático da União Europeia. O Brasil sofre os efeitos do aquecimento global, entre eles, o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como ondas de calor severas. Há previsão de temperaturas intensas para as próximas semanas, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em especial para o Sul do país. Em alguns municípios, os termômetros devem registrar mais de 40°C.

    O MMA tem atuado para estimular a construção da resiliência do país frente aos impactos da mudança do clima. Uma das frentes de ação é o Programa Cidades Verdes Resilientes, que tem o objetivo de aumentar a qualidade ambiental e preparar os municípios para lidar com a mudança do clima. O programa é implementado a partir de ações baseadas em seis eixos temáticos: áreas verdes e arborização urbana; uso e ocu pação sustentável do solo; infraestrutura verde e azul e soluções baseadas na natureza; tecnologias de baixo carbono; mobilidade urbana sustentável e gestão de resíduos urbanos.

    No guarda-chuva do programa, está a iniciativa AdaptaCidades, que fornecerá apoio técnico para que estados e municípios desenvolvam planos locais e regionais de adaptação. Ao aderir ao projeto, os governos estaduais devem indicar dez municípios com alto índice de risco climático para receber a capacitação. Também podem ser beneficiados consórcios intermunicipais e associações de municípios em caráter excepcional. A aprovação das indicações será feita pelo MMA com base em critérios técnicos, considerando o risco climático e o número de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Até o momento, 21 estados já participam da iniciativa.

    Cidades Verdes Resilientes e AdaptaCidades estão alinhados ao Plano Clima, que será o guia das ações de enfrentamento à mudança do clima no Brasil até 2035. Em elaboração por 23 ministérios, sob a presidência da Casa Civil e a coordenação do MMA, o plano tem um dos eixos voltados à adaptação dos sistemas naturais e humanos aos impactos da mudança do clima. O segundo pilar é dedicado às reduções de emissões de gases de efeito estufa (mitigação), cujas altas concentrações na atmosfera causam o aquecimento do planeta.

    Além das Estratégias Nacionais de Mitigação e Adaptação, o Plano Clima será composto por planos setoriais: são sete para mitigação e 16 para adaptação. Traz ainda Estratégias Transversais para a Ação Climática, que definirão meios de implementação (como financiamento, governança e capacitação) e medidas para a transição justa, entre outros pontos.

    O MEC tem retomado as atas de registro de preços do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que oferecem ganhos de escala, produtos padronizados e de qualidade aos entes federados, que ficam desobrigados a realizar processos licitatórios próprios (podendo aderir a ata da Autarquia). Já está disponível ata de registro de preços para compra de ventiladores escolares e está prevista ata para aparelhos de ar-condicionado ainda no primeiro semestre de 2025.

    Além das ações coordenadas pelo governo federal, planos de contingência para período de extremo calor devem ser desenvolvidos por cada rede de ensino, considerando o princípio constitucional da autonomia federativa e as realidades locais.

    Cuidados e dicas

    As ondas de calor são caracterizados por temperaturas extremamente altas, que superam os níveis esperados para uma determinada região e época do ano. Esses períodos de calor intenso podem durar dias ou semanas e são exacerbados pelo aquecimento global, que tem aumentado tanto a frequência quanto a intensidade do calor em várias partes do mundo.

    Esses episódios são potencializados em áreas urbanas devido ao efeito das ilhas de calor, fenômeno em que a concentração de edifícios, concreto e asfalto retém mais calor e aumenta ainda mais as temperaturas.

    A saúde de toda a população pode ser afetada nessas situações, em especial os mais vulneráveis — como idosos; crianças; pessoas com problemas renais, cardíacos, respiratórios ou de circulação; diabéticos; gestantes; e população em situação de rua. O calor excessivo pode causar tontura; fraqueza; dor de cabeça; náuseas; suor excessivo; e alterações na pele. Ao notar esses sintomas, é essencial buscar ajuda médica.

    Entre os cuidados para se proteger, é recomendável beber água regularmente, ainda que sem estar com sede; evitar exposição ao sol das 10h às 16h; usar roupas leves, chapéu e óculos escuros; refrescar-se com banhos frios e utilizar toalhas úmidas; e nunca deixar pessoas ou animais em veículos fechados.

  • Ministra diz que novo sistema leva país à vanguarda contra desastres

    Ministra diz que novo sistema leva país à vanguarda contra desastres

    O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) lançou, nesta segunda (17), em São José dos Campos (SP), o Sistema de Previsão de Risco de Deslizamentos de Terra, o chamado GeoRisk. Para a ministra Luciana Santos (da Ciência, Tecnologia e Inovação), a tecnologia criada coloca o país “na vanguarda da antecipação de risco”.

    De acordo com a ministra, a ferramenta é inovadora, tem o potencial de salvar mais vidas e de evitar perdas materiais, que se tornaram frequentes em um momento de extremos climáticos. Luciana Santos explicou que o GeoRisk foi um trabalho prioritário do Cemaden para evitar mais desastres e tragédias.

    Pesquisador do Cemaden, o engenheiro Pedro Camarinha afirma que, desde o início dos testes com o GeoRisk, o sistema foi capaz de detectar 90% dos principais desastres associados a deslizamentos de terra.  Ele explica que o sistema foi aprimorado ao longo de três verões consecutivos, por meio de testes estatísticos e calibração com aprendizado de máquina (machine learning), o que aumentou a precisão do sistema.

    A ministra Luciana Santos avalia que os extremos climáticos exigem respostas como essa dos cientistas. “Há um processo que já nos afeta com fortes chuvas, enchentes, secas, ondas de calor, com impacto em diversos setores e em nossos modos de vida”. Ela alertou que esses eventos vão se agravar e isso cobra ações “coordenadas e urgentes”. A ministra ainda cita que o país tem um desenvolvimento urbano descontrolado, o que agrava a situação. “Mais de 80% da população brasileira nesse país continental vive nos centros urbanos e muitas vezes em áreas de risco, ou em morros ou em alagados”.

    Atualmente, o Cemaden cobre 1.133 municípios do Brasil (dos quais 1.083 já possuem limiares de risco específicos identificados). A previsão é que haja, até o ano de 2026, ampliação para mais 762 municípios, e assim atingir 60% da população do país em que as pessoas estão numa situação maior de risco. O sistema de prevenção de desastres brasileiro será apresentado na COP 30, em Belém, segundo explicou a ministra Luciana Santos. O GeoRisk foi calibrado para oferecer resultados tanto a nível regional quanto municipal.

    Prevenção no orçamento

    O ministro Jader Filho (Cidades), também presente ao evento de anúncio da plataforma, destaca que a prevenção é o caminho principal para reduzir as chances de desastres e que, quando o atual governo assumiu a gestão, não havia recursos o suficiente. Jader Filho cita que “muitas obras de contenção em encostas e de drenagem” tinham sido paralisadas, por exemplo.

    “A prevenção precisa estar no orçamento de todos os entes da nossa federação”, defende. Ele citou a tragédia no Rio Grande do Sul, no ano passado, onde se perderam mais de 180 vidas.

    O pesquisador do Cemaden Pedro Camarinha, que esteve à frente do desenvolvimento da plataforma, explica que o GeoRisk pode indicar, a partir dos dados de diferentes fontes reunidas, que a chance de deslizamentos pode ser maior em uma região do que em outras. “A gente aqui, dentro da sala de situação, sabe interpretar os boletins de previsão do risco de uma forma bastante bem direcionada”.

    Avaliações permanentes

    Camarinha acrescenta que os dados são observados também sob o ponto de vista histórico de chuva antecedentes de até sete dias. “A gente acopla múltiplos modelos de previsão do tempo, baseado nos limiares críticos de precipitação, que aumentam muito as chances de deslizamentos, e aplica uma equação combinando todos esses modelos”, detalha.

    Um trabalho na sequência é avaliar, ao longo do tempo, o quanto esse resultado do GeoRisk está acertando ou errando. “Nós só conseguimos fazer isso porque temos um banco de dados de registro de ocorrências. Se estamos sinalizando que uma região tem um risco alto, nada mais justo do que avaliar no dia seguinte se houve a ocorrência para poder balizar e calibrar o sistema”.

    Assim, os especialistas buscam detectar mais eventos que causam deslizamentos a fim de enviar menos alertas imprecisos ou falsos. A ferramenta, segundo o especialista, é um aperfeiçoamento das atividades. “Uma grande vantagem é que hoje a gente consegue entregar dados de qualidade com três dias de antecedência. Nós vamos acompanhando, ao longo dos dias, se aquele risco se mantém ou não”.

  • Inmet prevê calor intenso no Sudeste e temporais no Sul

    Inmet prevê calor intenso no Sudeste e temporais no Sul

    Os próximos dias serão de calor intenso no Sudeste e de temporais no Sul do Brasil. No Rio de Janeiro, os termômetros devem marcar 41 graus Celsius (°C) nesta segunda-feira (17), informou o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em nota.

    O clima continuará quente em áreas do Sudeste do país, em especial no estado de São Paulo, Minas Gerais; no sul do Espírito Santo e no nordeste do Paraná, além do Rio de Janeiro. “Pontualmente, os termômetros podem ultrapassar os 5°C acima da média da temperatura do mês”, destacou o instituto..

    Já no Sul do país, a previsão é de “pancadas de chuva que podem ser pontualmente fortes, com aviso laranja de perigo para tempestade nesta segunda-feira, englobando áreas dos três estados da região. A previsão é de chuvas de até 100 mm, ventos de até 100 km/h e possibilidade de queda de granizo”, detalhou o Inmet.

    Há expectativas de que essas tempestades cheguem ao extremo sul de São Paulo, ao Mato Grosso do Sul, ao Rio Grande do Sul, a Santa Catarina e a áreas do Paraná, com aviso de “perigo potencial e chuvas que podem chegar a 50 milímetros”.

    No resto do país, há previsão de chuvas intensas e muita instabilidade em áreas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

    “Na faixa norte do país, entre o Amapá e o Maranhão, alcançando ainda o litoral da Paraíba, as chuvas são motivadas pelo deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) mais ao sul, causando volumes que podem chegar a 50 milímetros em precipitações e rajadas de vento de até 60 km/h”, complementa o Inmet.

  • Apenas dez países entregaram metas climáticas; prazo termina segunda

    Apenas dez países entregaram metas climáticas; prazo termina segunda

    A nove meses da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, o prazo estabelecido no Acordo de Paris para entrega da terceira geração de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) terminará na segunda-feira (10). Dos 197 países que fazem parte do tratado, apenas dez atualizaram suas ambições para redução de gases do efeito estufa.

    Este ano, o Acordo de Paris, o maior tratado global firmado por líderes para evitar a piora dos impactos climáticos e limitar o aquecimento global em 1,5 grau Celsius (ºC), completa dez anos, mas as nações têm falhado nessa ambição. Até 2035, para estabilizar os termômetros nesse nível, acima da temperatura pré-industrial, será necessário reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 57%, aponta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

    Em janeiro, ao apresentar as prioridades das Nações Unidas para o ano de 2025, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os países devem centrar esforços para criar planos capazes de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 60% até 2035, com claras metas de diminuição da produção e consumo de combustíveis fósseis. Ele destacou ainda o trabalho para impulsionar as ações, “em estreita colaboração com o anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, o presidente Lula do Brasil.”

    Compromissos

    O Brasil responde atualmente por 2,45% das emissões globais, de acordo com o relatório de 2024 do Banco de Dados de Emissões para Pesquisa Atmosférica Global (Edgar, na sigla em inglês) e foi o segundo país a atualizar a NDC, depois apenas dos Emirados Árabes Unidos.

    Na nova ambição, estabeleceu uma faixa de redução das emissões entre 59% a 67%, para 2035, na comparação com 2005. O corte levará o país a uma emissão líquida anual de 850 milhões de toneladas a 1,05 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e), unidade utilizada para medir as emissões de gases do efeito estufa em relação ao seu potencial de aquecimento do planeta.

    No caso dos Emirados Árabes Unidos, que representam atualmente 0,51% (Edgar) das emissões globais, a redução foi menos ambiciosa, com uma meta de corte em 47% para 2035, em comparação com 2019, o que levaria o país a um volume anual de o 103,5 milhões de toneladas de CO2e.

    O terceiro país a entregar a NDC foi os Estados Unidos, ainda em 2024, antes mesmo de anunciar a saída do Acordo de Paris. A contribuição apresentada foi coerente com o segundo maior emissor de gases do efeito estufa do planeta, que hoje representa 11,25% (Edgar) das emissões globais. A ambição é pela redução na faixa de 61% a 66% para 2035, em comparação com as medições de 2005.

    O Uruguai, que representa apenas 0,08% das emissões globais, encerrou as entregas de NDCs no ano de 2024, com o compromisso de limitar as emissões de gases do efeito estufa a partir de medição dos níveis absolutos de dióxido carbônico (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que representam 99,3% das emissões no país. Para 2035, o país estabeleceu os limites de emissões de CO2 em até 9,6 milhões de toneladas, de CH4 em 818 mil toneladas e de N2O em até 32 mil toneladas; além de limitar em 30% o consumo de hidrofluorcarbonetos – gases sintéticos presentes em aerossóis e usados em sistemas de refrigeração, na comparação com níveis de 2022.

    O país também apontou o avanço adicional que é possível ser alcançado com a disponibilidade de condições que vão além do que o Uruguai dispõe, como financiamento internacional. Nesse caso, as metas condicionadas acresceriam aos limites reduções de CO2 em mais 960 mil toneladas, de CH4 em mais 61 mil toneladas e de N2O em mais 2 mil toneladas; a limitação do consumo de hidrofluorcarbonetos chegaria a 35%.

    2025

    Nos dois primeiros meses deste ano, mais seis países apresentaram suas metas: Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Equador e Santa Lúcia , que respondem juntos por apenas 1,1% das emissões globais. Enquanto a Suíça, com 0,08% das emissões globais, apontou para uma redução de 65%, o Reino Unido – que responde por 0,72% – foi além e assumiu o compromisso de mitigar 81% das emissões, até 2035. Ambos usam como parâmetro comparativo as emissões em 1990.

    A Nova Zelândia, responsável por 0,16% dos gases na atmosfera, apontou para uma faixa entre 51% e 55% de redução das emissões, para 2035, na comparação com 2005. Diferente dos demais países que já chegaram à terceira geração de NDC, essa foi a segunda atualização de ambição tanto para o país da Oceania, quanto para a Suíça, que haviam apresentado suas primeiras versões respectivamente em 2021 e 2017.

    Andorra entregou a terceira geração da NDC também dentro do prazo e, apesar de ser um local com baixíssimas emissões que nem chegam a representar um percentual (370 mil toneladas de CO2e em 2005), pretende reduzir suas emissões a 137 mil toneladas de CO2e, em 2035, o que representa um compromisso de mitigar 63%.

    Assim como em Andorra, os gases de efeito estufa gerados em Santa Lúcia não chegam a representar um percentual nas emissões globais, mas o país insular também atualizou a NDC em sua terceira versão ampliando a ambição de 14,7% para 22% para os setores energético e de transporte, até 2035, tendo como base as medições de 2010.O país também estabeleceu uma meta condicionada que poderia elevar esse percentual a 32%, caso haja disponibilidade de recursos para geração de energia geotérmica.

    O país qualificou ainda sua NDC com a ampliação de sua capacidade de captação dos gases do efeito estufa, que deverá atingir 251 mil toneladas de CO2e por ano, até 2035, permitindo a retirada de mais 10% dos gases já emitidos para a atmosfera.

    O Equador usou o ano de 2010 como referência para apontar uma redução de 7% para as emissões em 2035, o que equivale a 8,8 milhões de toneladas de CO2e. O país, que atualmente representa 0,14% das emissões globais, adicionou ainda uma meta condicionada de alcançar até 8%, o que equivaleria a 10,6 milhões de toneladas de CO2e.

    Os dez países, que juntos representam 15,3% das emissões globais, reafirmaram o compromisso net zero para 2050, o que significaria alcançar a neutralidade entre as emissões e a remoção de gases da atmosfera, por meio de medidas de compensação como restauração de vegetação nativa e o próprio mercado de carbono.