A presidência brasileira da COP 30, a Conferência do Climas das Nações Unidas, divulgou nesta segunda-feira (21/4) mensagem em que destaca o papel do papa Francisco na discussão de uma noiva agenda ambiental global, nos primeiro anos de seu pontificado. A mensagem destaca a importância da publicação da Encíclica Laudato Si’, em 2015, ao dos anos de gestão à frente da Igreja Católica e meses antes da realização da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 21, Na ocasião foi elaborado o Acordo de Paris, que determinaria objetivos a serem perseguidos pelos países para conter o aquecimento global.
Confira a mensagem da presidência da COP 30
“Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental”, escreveu o Papa Francisco na Laudato si’, a primeira encíclica papal sobre meio ambiente. A resposta à mudança do clima, afirmou acertadamente o pontífice, demanda “abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”.
Papa Francisco foi não só um exemplo de dignidade humana, respeito e acolhimento, mas um ativista climático, defensor da natureza, das florestas e dos povos indígenas e comunidades tradicionais. A Laudato si’, publicada em 2015, e sua defesa de uma ecologia integral inspiraram o consenso que, poucos meses depois, permitiu a adoção do histórico Acordo de Paris.
A mudança do clima, como bem reconhecia Francisco, é um acelerador de pobreza, desigualdade e sofrimento — e seu combate deve ser abrangente e guiado pela solidariedade. Se nada neste mundo nos é indiferente, o futuro de nossa casa comum depende urgentemente de ação coletiva rápida, inclusiva e eficaz.
Que os ensinamentos do Papa Francisco e sua corajosa liderança sirvam de exemplo em um momento-chave para acelerarmos a implementação do Acordo de Paris e de soluções climáticas. Seu legado nos inspirará na COP 30 e na mobilização de um mutirão global para combater a mudança do clima sem deixar ninguém para trás.
O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, disse nesta segunda-feira (21), que “ninguém deverá se surpreender” se o novo papa, a ser escolhido durante o Conclave, seja um asiático ou africano.
“Ninguém deveria se surpreender se fosse escolhido um cardeal africano para ser papa ou um cardeal asiático para ser papa ou novamente um cardeal italiano para ser papa. Está nas possibilidades. Se isso acontecer, não significará que a igreja voltou-se só para África ou voltou-se apenas para Ásia, voltou às costas para América ou voltou a se centrar na Europa. Qualquer um que for escolhido papa deve recuperar o cuidado da Igreja como um todo. Portanto, é o tempo do pontificado que vai depois nos dizer para onde irão as escolhas pessoais que o papa fará”, disse.
Dom Odilo destacou que essa variedade de nacionalidades entre as possibilidades para um novo papado decorre do fato de que, durante o pontificado de Francisco, o colégio de cardeais ficou ainda mais diversificado.
Missa em em homenagem ao Papa Francisco, na Catedral da Sé – Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
“O que mudou é que, desde o papa Francisco para cá, o colégio dos cardeais hoje está muito mais internacionalizado do que antes. A grande maioria dos cardeais não são mais os europeus. As américas Latina e do Norte têm um grande peso. A África tem um peso significativo e a Ásia também tem um peso no Colégio Cardinalício”, explicou.
Para o cardeal, embora ainda não seja possível revelar a nacionalidade ou posicionamento político do novo papa, o que se sabe até o momento “é que ele não será um novo Francisco”.
“Ninguém espere que o próximo papa seja o Francisco II. Pode até ter o nome de Francisco II, mas não será a imagem semelhante à de Francisco II. Será um outro papa”.
“Ninguém espera um papa a favor da guerra. Ninguém espera um papa que não cuide dos pobres. Ninguém espera um papa que não diga aos padres para que sejam bem formados. Isso é a norma geral. Portanto, o próximo papa será alguém que vai cuidar bem da vida da Igreja e da missão da Igreja. Porém, o próximo papa será uma pessoa humana, não será um robô”, reforçou.
Cardeal
Padre Júlio Lancellotti participa da missa em em homenagem ao Papa Francisco, na Catedral da Sé – Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Dom Odilo foi nomeado cardeal em 2007, pelo papa Bento XVI. Um cardeal é a autoridade da Igreja Católica que está mais próxima do papa e que pode participar e votar no Conclave para a escolha de um novo papa. Todos os cardeais com menos de 80 anos de idade, como é o caso de dom Odilo, podem votar no Conclave. E qualquer cardeal pode ser eleito papa.
Em entrevista coletiva concedida na manhã desta segunda-feira, na Catedral da Sé, no centro da capital paulista, antes de celebrar uma missa em homenagem ao papa Francisco, dom Odilo revelou que deve participar do funeral do pontífice e também do Conclave, do qual já participou em 2013 e que elegeu Jorge Mario Bergoglio como papa. Nesse mesmo ano, o nome de dom Odilo chegou a ser especulado entre as possibilidades de ser um novo líder católico.
O cardeal destacou que após a morte do papa Francisco, nesta madrugada de segunda-feira, essas “especulações e torcida” sobre o novo pontificado terão início. Apesar disso ser natural, disse, a escolha do novo papa será “resultado de um discernimento coletivo” dos cardeais.
“A escolha do papa não é um conchavo feito anteriormente, já pronto. Isso é fantasia. A escolha do papa vem de um discernimento que se faz em um clima de oração e de um auto-senso de responsabilidade em relação à Igreja. A responsabilidade é pela igreja, não de salvar uma ideologia ou um partido ou um gosto. Não é uma campanha eleitoral”, explicou.
Dom Odilo também disse que as especulações sobre se o novo papa será mais conservador ou progressista são preocupações externas e não se refletem na Igreja.
“A preocupação na escolha do papa, com toda certeza, não é a questão se ele é progressista ou conservador. Esta é uma preocupação externa. O evangelho é tanto progressista quanto conservador. Claramente a opção pelos pobres, a atenção à justiça social, o cuidado dos migrantes e a preocupação com a paz do mundo não são posturas progressistas ou conservadoras, são posturas do evangelho”.
Cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, celebra missa em sufrágio do papa Francisco – Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Último encontro
Durante a entrevista, dom Odilo revelou que a última vez em que esteve com o papa Francisco foi em fevereiro deste ano, pouco antes dele ser internado por problemas de saúde.
“Guardo com muito carinho esse último encontro e essa última participação numa audiência com ele, no dia 13 de fevereiro deste ano”, revelou.
Mas essa não foi a única vez em que estiveram juntos.
“Tive algumas conversas mais prolongadas e pessoais com o papa Francisco e foram muito boas. Como sempre, ele escutava muito, depois falava com muita sabedoria”.
Em um desses encontros, logo após a visita do papa Francisco ao Brasil, em 2013, dom Odilo entregou ao papa um livro. Esse livro reunia diversas caricaturas do papa Francisco feitas por artistas brasileiros na ocasião de sua visita ao Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial da Juventude.
“Alguns artistas e cartunistas produziram um livro com charges do papa Francisco e me entregaram para que eu desse para ele. Eu levei e entreguei para ele após uma missa. Ele olhou, olhou, e caiu numa gargalhada muito bonita”, contou.
O Vaticano divulgou nesta segunda-feira (21) que o Papa Francisco faleceu devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) seguido de insuficiência cardíaca irreversível. A certidão de óbito médica detalha que o pontífice sofreu um AVC cerebral, entrou em coma e teve um colapso cardiocirculatório irreversível às 7h35, horário de Roma (2h35 em Brasília).
O boletim médico também aponta que o quadro de saúde do Papa Francisco foi agravado por pneumonia bilateral, bronquiectasias múltiplas, hipertensão e diabetes tipo 2.
A morte foi confirmada por um eletrocardiograma. O atestado foi assinado por Andrea Arcangeli, diretor do Departamento de Saúde e Higiene da Cidade do Vaticano.
O Papa Francisco havia sido hospitalizado por mais de um mês, entre fevereiro e março, para tratar uma pneumonia bilateral. Apesar da alta hospitalar, ele continuou sob cuidados médicos em sua residência, devido ao seu estado de saúde delicado.
O arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, destacou o legado de justiça social deixado pelo papa Francisco, morto nesta segunda-feira (21), no Vaticano, aos 88 anos de idade. Dom Orani celebrou uma missa pela alma do pontífice na Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, no centro da cidade.
“Nós agradecemos por sua vida e missão. O papa nos fez chegar mais próximo do povo, das pessoas e preocupado com tantas situações tanto da ecologia como também da fraternidade, do diálogo inter-religioso ecumênico, também as preocupações com as pessoas que vivem em guerra”, disse dom Orani na missa.
Mais cedo, em coletiva na sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro, o cardeal destacou a preocupação de Francisco com os mais pobres e necessitados, com a paz no mundo.
“Ele teve um grande trabalho na questão social. Seu legado será estudado, aprofundado, em tantos aspectos sobre o seu pontificado. Ele também tinha uma grande preocupação com a Igreja, uma Igreja mais simples, mais próxima das pessoas, e de valorizar o papel da mulher na Igreja, colocando em cargos importantes, não só no Vaticano, mas nas grandes decisões também. Ele sempre teve preocupação com a justiça social e era muito antenado com o mundo de hoje”, disse dom Orani, que vai participar das exéquias do papa Francisco no Vaticano e de seu primeiro conclave que vai escolher o novo pontífice.
Membro do Apostolado da Oração da Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Glória, a dona de casa Dicelene Lopes Campos disse que não esperava a morte do papa.
“Ele foi uma pessoa maravilhosa. Colocou a América do Sul em destaque, participando da Igreja. Deu destaque às mulheres. Atualizou muitas coisas na Igreja. Gostava de ele ser franciscano, humilde”, disse.
Vestida com uma camisa da Jornada Mundial da Juventude, a primeira viagem internacional de Francisco como papa ao Rio de Janeiro, Cleusa Maria Augusto, de 78 anos de idade, lembra da participação do papa na jornada.
“Deixou só coisas boas. Ele fez tudo de bom. Infelizmente chegou a hora dele”.
O governo do estado do Rio de Janeiro decretou luto de 3 dias pela morte do papa. A prefeitura da cidade decretou luto de 7 dias.
Missa em sufrágio do papa Francisco na Catedral Metropolitana – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Em nota, a Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), disse que a Igreja, a Companhia de Jesus e a comunidade universitária se despedem de um líder inspirador, que “fez história ao se tornar o primeiro papa jesuíta, o primeiro das Américas e do Hemisfério Sul e o primeiro não europeu eleito em Roma em mais de mil anos. Seu pontificado foi marcado pela fé, humildade e compromisso com os mais necessitados”.
“Guiado pelos princípios jesuítas, o papa Francisco uniu tradição e inovação, promovendo transparência no Vaticano, ampliando espaços de escuta e renovação dentro da Igreja e destacando a importância da ética e da responsabilidade social no avanço tecnológico”, diz comunicado da PUC-Rio.