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  • Santa ignorância

    Santa ignorância

    Que o atual governo brasileiro não tem proximidade com o agronegócio nacional não é novidade para ninguém, afinal tirando um pouco menos de meia dúzia de hiper megas conglomerados do campo, desde o 1º dia a interlocução entre a esplanada dos ministérios e o campo foi terrível, ou melhor, não existiu.

    Essa relação tão distante poderia se justificar pelo fato de que, os produtores rurais do Brasil sempre deixaram claro a preferência por outro governante, e isso fica mais claro ainda quando observamos os resultados das eleições nas principais regiões produtoras da terrinha. Até poderia, mas não deveria, afinal as escolhas políticas fazem parte da democracia, e passado o dia da eleição todos fazem parte de um único Brasil. Alguns dizem “estamos todos no mesmo barco!”, ou seria mais correto dizer que estamos todos na mesma tempestade?

    Mas com todo o respeito, alguém precisa dizer para o pessoal da esplanada e da praça dos 3 poderes que o agronegócio brasileiro é a galinha dos ovos de ouro do país. Dizer que somos o maior produtor de alimentos, fibras e energia do planeta. Que colocamos comida na mesa de mais de 180 países. Que é o agronegócio que sustenta a balança comercial brasileira há mais de uma década, e que tudo isso foi feito com muito trabalho, dedicação e ousadia.

    Mas a ignorância de alguns iluminados próximos ao poder tem tirado o sono do setor. A relação que não foi próxima tomou ares de conflito, e nos últimos meses  volte e meia tomam as manchetes notícias de que o governo pretende fazer alguma coisa que, sem intenção é lógico, irá prejudicar a produção agropecuária verde e amarela de alguma forma seja no curto ou no longo prazo. Exemplo? Vários.

    A taxa de juros que não para de subir. A insegurança sobre o marco temporal. A burocracia estatal em simples operações administrativas. Taxar as exportações para conter os preços no mercado interno. E por fim enterrar o plano safra exatos 7 meses após seu lançamento. Sim, é isso mesmo. O plano safra 2024/2025 foi lançado com toda a pompa e circunstância no dia 03 de julho de 2024, e deveria valer até o dia 30 de junho de 2025.

    No dia do lançamento autoridades políticas, militares, eclesiásticas e representantes de toda a imprensa falada, escrita e televisada lotavam o salão do Palácio do Planalto para o anúncio do maior plano safra da história desse país, eram mais de 400 bilhões de reais destinados para os médios e grandes produtores rurais.

    Porém, se lembram, sempre existe um porém?

    No dia seguinte começaram os mesmos problemas de sempre. Os juros caros, a burocracia ao acesso às linhas de crédito complicadas, o atraso nos repasses e o Banco do Brasil querendo vender seguro de vida e título de capitalização. Mas o que ninguém esperava é que 7 meses após seu lançamento, ou se você preferir 4 meses antes do seu término, as mesmas autoridades vêm à público noticiar a suspensão do plano safra 2024/2025.

    Na prática, estão suspensas todas as novas contratações de financiamentos com subvenção federal na esfera do plano agrícola o que certamente trará graves consequências ao setor, ao Brasil e é lógico, aos brasileiros, já que sem crédito não há contratações, sem contratações não há safra, sem safra não há produção, sem produção a oferta fica menor e com a oferta menor os preços sobem.

    Muito simples não? É simples mesmo, e qualquer pessoa com o poder na mão deveria saber isso de cor e salteado, mas parece que esse tipo de pessoa não tem frequentado as reuniões do governo, ou não tem coragem de se levantar contra o poder.

    *Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.

  • Orai e vigiai

    Orai e vigiai

    A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) confirmou na última semana um caso de febre aftosa próximo à cidade de Berlim, na Alemanha. A doença ressurge no centro da Europa após mais de 40 anos. A febre aftosa é uma doença viral que afeta bovinos e suínos, com impacto econômico significativo, especialmente em países onde a pecuária de corte e leite é fundamental para a economia.

    No Brasil, o último registro da doença foi em 2006, no estado do Mato Grosso do Sul, próximo à divisa com o Paraguai. Apesar de quase 20 anos terem se passado, o tema ainda preocupa muitos produtores, que se lembram do impacto negativo no preço da arroba do gado.

    Desde então, houve uma mobilização intensa das entidades privadas para fortalecer a prevenção. Foram criados fundos indenizatórios, implantados programas de prevenção e vigilância, além de investimentos na estrutura dos serviços de defesa estaduais, com aquisição de veículos, contratação de pessoal e melhorias operacionais para impedir o retorno do vírus.

    Atualmente, muitos afirmam com convicção que não há circulação do vírus no Brasil. Os testes de sorologia comprovam a eficácia das ações conjuntas entre produtores, estados e governo federal, especialmente com a vacinação obrigatória. Os resultados foram tão positivos que o Brasil decidiu avançar com o Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA), que prevê a retirada da vacinação.

    Com isso, o Brasil integra a seleta lista de países com status sanitário livre de febre aftosa sem vacinação, abrindo portas para mercados altamente exigentes, como o Japão. Quanto mais rigoroso o mercado, maior é a valorização da carne bovina brasileira. Desde abril de 2024, nenhuma dose de vacina foi aplicada no país, e, em maio próximo, em Paris, a OMSA deve reconhecer oficialmente esse novo status.

    No entanto, inicia-se agora um novo ciclo: o da vigilância.

    O serviço de defesa oficial será cada vez mais essencial. Monitoramento, vigilância constante, investimentos, capacitação e pessoal qualificado precisam ser prioridades diárias das autoridades brasileiras. Afinal, são 240 milhões de bovinos e bubalinos espalhados por todo o território nacional.

    A prevenção deve ser o lema, pois não há mais retorno possível.

    A responsabilidade de manter esse status será exclusivamente do serviço de defesa oficial, o que exigirá investimentos robustos em pessoal, equipamentos e infraestrutura, especialmente nas áreas de fronteira internacional. O episódio de 2006 não pode ser esquecido.

    Os fundos estaduais terão papel fundamental nesse processo. É ilusório pensar que o governo federal conseguirá sustentar essa missão sozinho. E, no fim das contas, o produtor rural será o mais prejudicado caso algo dê errado.

    Por fim, só nos resta orar e vigiar.

    Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.