A comunidade de surdos de Lucas do Rio Verde começou a se organizar nos últimos meses em busca de maior visibilidade e políticas públicas que atendam às suas necessidades. Na segunda-feira (03), o grupo acompanhou a sessão ordinária da Câmara de Vereadores, com o auxílio de uma intérprete de Libras, para demonstrar a importância da inclusão e da acessibilidade no município. A mobilização tem como objetivo chamar a atenção das autoridades e da sociedade para as dificuldades enfrentadas diariamente pelas pessoas surdas.
Regiane Otero, autônoma e uma das apoiadoras da mobilização, destacou a falta de acessibilidade em serviços públicos e privados do município. “Hoje, se você olhar nos espaços públicos, não temos ninguém apto a atender os surdos, traduzindo e informando o que eles precisam. Não há intérpretes na saúde, na polícia ou em qualquer outro setor. Eles não são atendidos da forma que precisam”, explicou.
A falta de intérpretes de Libras em locais essenciais, como hospitais, delegacias e repartições públicas, dificulta o acesso dos surdos a serviços básicos. Além disso, a ausência de políticas de inclusão limita a participação dessas pessoas na sociedade, restringindo suas oportunidades de trabalho, educação e convívio social.
Organização e primeiros passos
Regiane contou que tomou conhecimento da comunidade surda durante a última campanha eleitoral e decidiu apoiar a causa. “Eu não sabia que havia tantas pessoas surdas em nossa cidade. A partir disso, decidi ajudar, porque eles não têm voz ativa e enfrentam dificuldades para se organizar e buscar seus direitos”, disse.
A mobilização começou com encontros iniciais para reunir a comunidade surda e discutir suas necessidades. O primeiro grande passo foi a participação na sessão da Câmara de Vereadores, um marco para o grupo. “Foi um acontecimento para eles, porque isso não é comum. Eles não têm convívio na sociedade e muitas vezes não saem de casa por falta de comunicação”, explicou Regiane.
Demanda por intérpretes e inclusão
Um dos principais objetivos da mobilização é garantir a presença de intérpretes de Libras em órgãos públicos e em eventos oficiais. “No estado de Mato Grosso, apenas quatro cidades têm intérpretes de Libras na área pública. Lucas do Rio Verde ainda não tem, mas estamos começando a mudar isso”, afirmou Regiane.
Ela também destacou a importância de iniciativas como a inclusão de intérpretes de Libras em vídeos oficiais, um pequeno passo, mas significativo para a acessibilidade. “Já é um bom começo. Precisamos de mais ações como essa para garantir que os surdos sejam incluídos em todas as esferas da sociedade”.
Estimativa da comunidade surda
Ainda não há um levantamento oficial sobre o número de pessoas surdas em Lucas do Rio Verde, mas o grupo organizado já conta com 33 integrantes. Regiane acredita que a demanda é muito maior, já que muitos surdos não têm contato com a comunidade devido ao isolamento imposto por suas famílias. “Muitos pais, por medo ou falta de informação, não permitem que os surdos saiam de casa. Por isso, não sabemos quantos são. A Secretaria de Saúde poderia nos ajudar com esses dados”, sugeriu.
Como a comunidade pode ajudar?
Regiane enfatizou a importância do engajamento de toda a sociedade para fortalecer o movimento. “Precisamos de espaços para que os surdos possam se reunir, se conhecer e discutir suas necessidades. Além disso, é fundamental que as pessoas aprendam Libras e se sensibilizem com a causa”, disse.
A mobilização da comunidade surda de Lucas do Rio Verde é um passo importante para a construção de uma sociedade mais inclusiva e acessível. Com o apoio das autoridades e da população, é possível transformar a realidade dessas pessoas e garantir que elas tenham voz e participação ativa na cidade.
