Tag: Legalização do Aborto

  • Na Paulista, marcha pede legalização do aborto e igualdade de gênero

    Na Paulista, marcha pede legalização do aborto e igualdade de gênero

    A Avenida Paulista tornou-se roxa e verde nesta sexta-feira (8), com a manifestação de movimentos sociais pelo Dia Internacional da Mulher.

    Mulheres, homens e pessoas não-binárias participaram da marcha para cobrar direitos, como o acesso a serviços gratuitos e de qualidade na área da educação e da saúde, à água e a legalização do aborto.

    O roxo e o lilás representam a luta do movimento feminista. Já o verde remete à onda que identifica os países onde o aborto foi totalmente descriminalizado.

    Os manifestantes também denunciaram a violência de gênero, que aparece tanto em índices elevados de feminicídio nos últimos anos, como de maneira mais cotidiana, na forma de discriminação e iniquidade no mercado de trabalho.

    A marcha teve início por volta das 18h e percorreu diversos quilômetros, sob chuva, até a Rua Augusta. Com vigor, lideranças se revezaram aos microfones gritando palavras de ordem como “Estado de Israel, Estado assassino. E viva a luta do povo palestino”, outra posição política adotada durante o protesto.

    Os manifestantes também homenagearam nomes da resistência feminista no Brasil. Um deles foi a psicóloga Nalu Faria, uma das articuladoras da Marcha Mundial das Mulheres e que faleceu em outubro de 2023, aos 64 anos. Integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF), ela fazia tratamento contra insuficiência cardíaca, em São Paulo.

    Em meio às pessoas, encontravam-se bordados do grupo Linhas de Sampa, que grava através das produções têxteis, entregues a mulheres que compareceram ao protesto. Entre as bandeiras, estandartes e cartazes, havia mensagens como “Resistimos para viver, marchamos para transformar”, “Respeitem o padre Julio Lancellotti”, “Na luta por defesa dos nossos corpos, territórios e soberania” e “O medo não vai nos parar”, o que demonstra a variedade das causas defendidas. Outra mensagem que chamou a atenção foi “Sem igualdade de gênero e raça, não há justiça climática”.

    Outra pauta dos movimentos foi o pedido pela prisão do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, justificados pelo desejo de que responda pelos retrocessos ocorridos durante a sua gestão e efeitos de suas decisões ao longo da pandemia de Covid-19, como as barreiras contra a vacinação, que ocasionaram a morte de centenas de milhares de brasileiros. Para a fisioterapeuta Graziela Almeida, que estava no ato, a medida é adequada porque Bolsonaro provocou muitos danos à população na pandemia.

    Ao todo, estavam previstos 26 atos por todo o Brasil. Para sábado (9), estão programados outros três, sendo um em Caruaru (PE), um em São Bernardo do Campo (SP) e o terceiro em Guarapari (ES).

    Edição: Carolina Pimentel

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  • Legalização do aborto volta ao debate público com julgamento no STF

    Legalização do aborto volta ao debate público com julgamento no STF

    A descriminalização do abortoaté a 12ª semana de gravidez,que começou a ser julgada virtualmentepelo Supremo Tribunal Federal (STF) na madrugada do dia 22 de setembro, é tema polêmicotanto entre grupos mais conservadoresque se opõem à legalização, como os evangélicos, quanto entre movimentos de esquerda e mais progressistas.

    A presidente do STF, ministra Rosa Weber, é relatora do processo e registrou,na sexta-feira (22),o voto a favor de que a prática não seja considerada crime. Oministro Luís Roberto Barroso pediu que o julgamento fosse suspenso e levado ao plenário físico.A nova data ainda não foi marcada.

    Legalização do aborto

    Nesta quinta-feira (28) é celebrado oDia de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto na América Latina e Caribe. A Frente de São Paulo contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto convoca partidos, movimentos e coletivos para ato unificado a favor da pauta. A concentração começaàs 17hno vão do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).

    Na América Latina, diversos países já legalizaram o procedimento. Em 2012, enquanto o Brasil ainda decidia se o aborto de anencéfalos era crime ou não – o STF decidiu que não -, o Uruguai já legalizava a prática, independentemente da situação da gestantee da concepção. Em 2020, 2021 e 2022, a Argentina, o México e a Colômbia, respectivamente,se juntaram ao Uruguai.

    A descriminalização é uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que defende que seja um direito de todas, sem limite de idade gestacional, e que se optepreferencialmentepelo aborto medicamentoso, com misoprostol e mifepristona, proibidono Brasil.

    Na região metropolitana de São Paulo, a pauta ganhou destaque neste mês. A Câmara Municipal de Santo André promulgou a Lei nº 10.702, proibindo que qualquer órgão da administração local, direta ou indireta ou autarquia “incentiveou promovaa prática do aborto”. OArtigo 128 do Decreto-lei nº 2.848diz que não se pune o médico que executa o procedimento para salvar a gestante e em caso de estupro da mulher. A Lei nº 10.702 foi uma proposta do vereador Márcio Colombo (PSDB). No Brasil, o aborto é considerado legal emcasos de gestação decorrente de estupro, risco de vida à gestante e anencefalia fetal.

    Julgamentomoral

    Para a médica ginecologista e obstetra Helena Paro, a postura deprofissionais mais conservadores quanto ao direito ao aborto em qualquer circunstância é um elemento que gera negligência em consultórios e hospitais, estendendo-se até mesmo àspacientes que estão respaldadas pela lei. A médicatrabalha há cerca de seis anos com aborto legal e afirma que a atividade devolveu a ela “o sentido da vida”, pois se sente bem ao ajudar jovens. Helena citou uma paciente atendidahá poucos diasque engravidou após ser vítima de estupro. Ela conta que, se a jovemmantivesse a gestação que não queria e nem programou para ter, reduziria a quase zero as chances de realizar o sonho de cursar arquitetura.

    “O sofrimento maior é o do estigma e ode morrer na clandestinidade”, resume a profissional, que é professora de Medicina e integrante do Nuavidas, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais.

    Helena afirmaque grupos contrários à descriminalização pressionam quem é a favor e, no seu caso, apresentam questionamentos a órgãos públicos.”A gente tem um Estado laico, mas também uma cruz nas paredes dos salões das sedes dos Poderes”, afirma, fazendo referência ao símbolo colocado nesses locais e à interferência do cristianismo na tomada de decisões e na proposição de leis.A ginecologista argumenta que “o aborto que mata é o clandestino”.

    De acordo com a Pesquisa Nacional de Aborto 2021, estima-se que 5 milhões de mulheres tenham feito abortoem todo o país. A proporção é de que uma em cada sete já fezo procedimento até os 40 anos de idade, sendo que 81% delas têm religião, o que sugere que, mesmo com suas crenças, consideramser mais urgente resolver a gravidezpor não desejarem dar à luz a uma criança que não queremnaquele momento. O estudo indica que muitas das mulheres têm religião de linha conservadora e, mesmo assim, fazemo aborto, ainda que não compartilhem a decisão com outras pessoas.Para movimentos a favor da legalização, a atitude revela hipocrisia.

    Perigos e barreiras

    Os movimentos feminista e mulherista chamam a atenção para o fato de que o aborto clandestino coloca as mulheres emsituação de maior vulnerabilidade e, por essa razão, defendem que se trata de uma questão de saúde pública. Essaassociação pode ser observada por meiode outro dado da pesquisa nacional: 43% delas precisam ser hospitalizadas após o procedimento.

    O risco do aborto feito de modo improvisado, sem a proteção legal e, portanto, sem assistênciaadequadade profissionais de saúde, pode levar à morte e, nesse cenário, a maioria é negra. De acordo com o mais recente levantamento oficial do país, 64% das mulheres que perderam a vida após tentar fazer um aborto não especificado – termo mais usado para os abortos clandestinos -tinham esse perfil,tendo comobase o intervalo de 2012 a 2021. De 2012 a 2019, mais de 192 mil mulheres foram internadas após abortos não especificados ou após a tentativa dar errado.

    A advogada Letícia Vella, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, avalia que, se a mentalidade do país fosse outra, o acesso seria mais fácil até para quem tem, atualmente, direito a fazer um aborto. “As barreiras são inúmeras”, observa.

    Ela citou, entre essas barreiras: poucos serviços que oferecem consultas para que se chegue à possibilidade de realização do procedimento; objeção de consciência por parte dos profissionais;limite de idade gestacional;autorização judicial, quando não é necessária; e desconfiança na palavra dasmulheres. Citou ainda tentativas de verificar a compatibilidade da idade gestacional com a época da violência (estupro)ea desconsideração de doenças crônicas.

    Relato

    A designer Ísis* tinha 39 anos e saía há um mês com seu companheiro, apesar de o conhecer há anos, quando descobriu a gravidez indesejada. O relacionamento era tão recente quanto o emprego que conseguira. Pela lei que vigora hojeno Brasil, Ísis não poderia realizar um aborto. Ela chegou a tomar a pílula do dia seguintepara evitar a gravidez, mas não funcionou.

    A ajuda chegou por meio de pessoas de sua confiança, emsua maioriamulheresque indicaram contatos para a compra de substâncias abortivas. Ísis também consultou um médico para saber como deveria tomar o medicamento, que adquiriu com dinheiro guardado na poupança, e para conhecer osriscos. Ela contou com o apoio do companheiro, que teve receio de que ela morresse ou ficasse com sequelas após o procedimento.

    “Também conheço uma moça que, mesmo tendo dinheiro, quase não conseguiuabortar. Ela estava grávida de gêmeos. Só soube quando foi verificar no exame transvaginal”, conta Ísis, acrescentando que o aborto de um dos fetos não foi feito com sucesso e que ela precisou recorrer a doses de mifepristona, que obteve por meio de um coletivo feminista.

    “Eu não estava preocupada em morrer, estava preocupada em parir sem ter planejado. Eu tinha pouquíssimo tempo no emprego. Imagina a confusão”, afirma.

    *O nome da entrevistada foi trocado para preservar sua identidade.

    Edição: Graça Adjuto
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  • STF julgará descriminalização do aborto no plenário presencial

    STF julgará descriminalização do aborto no plenário presencial

    O Supremo Tribunal Federal (STF) vai iniciar no plenário físico o julgamento sobre a descriminalização doaborto até a 12ª semana de gravidez. A data ainda não foi marcada.

    O julgamento do caso foi iniciado na madrugada desta sexta-feira (22) no plenário virtual da Corte, mas um pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso suspendeu o julgamento. O pedido de destaque é justamente a solicitação para levar para o plenário físico um julgamento que corre em ambiente virtual.

    A análise do caso no Supremo é motivada por uma ação protocolada pelo PSOL, em 2017. O partido defende que interrupção da gravidez até a 12ª semana deixe de ser crime. A legenda alega que a criminalização afeta a dignidade da pessoa humana e afeta principalmente mulheres negras e pobres.

    Atualmente, a legislação brasileira permite oabortoem casos de estupro, risco à vida da gestante ou fetos anencéfalos.

    A ação é relatada por Rosa Weber, que deixará o tribunal na semana que vem ao completar 75 anos e se aposentar compulsoriamente.A ministra será substituída por Barroso, que tomará posse na quinta-feira (28).

    Edição: Marcelo Brandão
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