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  • Podcasts feitos por negros e indígenas terão apoio de R$ 440 mil

    Podcasts feitos por negros e indígenas terão apoio de R$ 440 mil

    O Instituto Serrapilheira lançou nesta semana chamada pública para apoiar podcasts com a ciência na pauta e feitos por pessoas negras ou indígenas. A iniciativa faz parte do Camp Serrapilheira, braço do Programa de Jornalismo e Mídia do instituto, que inclui treinamento e apoio financeiro a iniciativas de comunicação de ciência. Podcast é um arquivo de áudio ou vídeo digital que pode ser reproduzido a qualquer momento.

    O investimento total previsto é de R$ 440 mil, e as inscrições vão de 15 de abril até 30 de maio.

    Serão selecionadas oito propostas para receber financiamento de até R$ 55 mil cada, valor que custeará a produção de uma temporada de cada podcast. Os aprovados terão sete semanas de treinamento online com especialistas em produções de áudio e de conteúdo sobre ciência, além de uma etapa presencial e sessões de mentoria remota.

    É a segunda vez que o Serrapilheira anuncia um edital de apoio a podcasts cujas equipes sejam formadas, em sua maioria, por pessoas negras – e, desta vez, passa a incluir também indígenas. O objetivo é valorizar a diversidade na divulgação científica e ajudar a diminuir a sub-representação desses grupos nos mercados de audiovisual e de podcasts no país.

    “Embora as pessoas negras autodeclaradas representem 55,9% da população brasileira, e indígenas 0,83% (Censo 2022), essas porcentagens não se refletem na distribuição de cor/raça no jornalismo e nos mercados de audiovisual e de podcasts brasileiros, especialmente em posições de liderança”, diz o instituto.

    Estudo feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa-Uerj) revela que, nos três maiores jornais em circulação no país, pessoas brancas são maioria nas equipes, totalizando 84% da composição dos funcionários.

    Outro estudo do mesmo grupo aponta sub-representação de pessoas negras em posições de liderança no mercado audiovisual.

    “Em nossos editais há uma sobrerrepresentação de submissões de pessoas brancas e do Sudeste. Entendemos que um edital exclusivo é uma tentativa de reduzir esse cenário”, afirma Natasha Felizi, diretora do Programa de Jornalismo e Mídia do Serrapilheira. “O objetivo desse programa é contar boas histórias nas quais a ciência cumpra um papel importante. E, quanto mais diversas forem as maneiras de pensar e produzir ciência, mais ricas e interessantes serão as histórias.”

    Os projetos devem trazer pautas em que a ciência tenha destaque e as áreas apoiadas pelo Serrapilheira (ciências da vida, geociências, física, química, ciência da computação e matemática) tenham visibilidade.

    Podem participar da seleção tanto propostas de podcasts em fase inicial, ainda a desenvolver, quanto aqueles já estabelecidos. Não há restrição quanto ao formato. Propostas com estrutura clara de roteiro, no entanto, serão priorizadas em relação a conversas improvisadas ao vivo.

    As candidaturas serão avaliadas por um comitê formado por profissionais que atuam na área de podcasts. O anúncio dos aprovados será em 8 de agosto.

    Além do apoio financeiro, os selecionados vão participar de um treinamento online de sete semanas e uma imersão presencial de cinco dias em Salvador. Nessa etapa, que visa ajudar a estruturar os projetos, serão abordados aspectos da produção, roteiro e distribuição de podcasts.

    O treinamento e imersão serão conduzidos pelo Laboratório 37, empresa de comunicação com foco em áudio e responsável por criar o podcast 37 Graus – apoiado pelo Serrapilheira em 2018 e um dos seis selecionados no Google Podcasts creator program, edital que teve mais de 10 mil inscrições ao redor do mundo. As aulas também contarão com professores e palestrantes convidados. Os custos do deslocamento e estadia durante a etapa presencial serão cobertos pelo Serrapilheira.

    A preparação inclui ainda mentoria remota aos selecionados. A expectativa é que, ao final dessa etapa, as equipes apresentem uma temporada-piloto de cada podcast. Em 2024, a chamada incluiu projetos que envolvem temas como a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025; agroecologia; menopausa; história do Haiti e derramamento de petróleo, entre outros.

    Serrapilheira

    Lançado em 2017, o Instituto Serrapilheira é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Foi criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar sua visibilidade, ajudando a construir uma sociedade cientificamente informada e que considera as evidências científicas nas tomadas de decisões.

    O instituto tem três programas: Ciência, Formação em Ecologia Quantitativa e Jornalismo & Mídia. Desde o início de suas atividades, já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação da ciência, com mais de R$ 90 milhões investidos.

  • Baixa escolaridade é fator de risco para declínio cognitivo no Brasil

    Baixa escolaridade é fator de risco para declínio cognitivo no Brasil

    A baixa escolaridade no Brasil figura atualmente como maior fator de risco para o declínio cognitivo, característica ligada a quadros de demência. A conclusão é de um estudo liderado pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eduardo Zimmer, com o apoio do Instituto Serrapilheira, e publicado no periódico The Lancet Global Health.

    Em nota, o Instituto Serrapilheira avalia que o estudo é importante porque contraria a premissa, prevista na literatura científica, de que o declínio cognitivo é causado sobretudo por fatores como idade avançada e sexo. “O novo artigo amplia o leque de riscos de perda de cognição, considerando as particularidades de outros contextos”, destacou o comunicado.

    O estudo demonstra que modelos de pesquisas desenvolvidas em países de alta renda não são replicáveis para todo tipo de nação. Por meio do uso de inteligência artificial (IA) associada a técnicas de machine learning, a pesquisa analisou dados de mais de 41 mil pessoas na América Latina, divididas em dois grupos: países de baixa e média renda (Brasil, Colômbia e Equador) e países de alta renda (Uruguai e Chile).

    No Brasil, foram 9.412 casos analisados, oriundos do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil). “A baixa escolaridade foi o maior fator de risco para casos de declínio cognitivo, seguida de sintomas de saúde mental, atividade física, hábitos de fumo, isolamento social, entre outros”, destacou o instituto Serrapilheira.

    Idade e sexo, considerados fatores de risco mais proeminentes globalmente, aparecem de forma menos relevante em termos estatísticos. “Os níveis baixos de escolaridade, junto com as já conhecidas instabilidade econômica e insegurança social do país, têm impacto significativo no envelhecimento cerebral da população brasileira, especialmente nas regiões mais pobres”.

    “Ao identificar a educação como um fator central no risco de declínio cognitivo, a expectativa de Eduardo Zimmer e outros pesquisadores que participaram do estudo é influenciar as políticas públicas do Brasil e da América Latina em relação ao tema”, completou o instituto.

    No Brasil, cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais apresenta algum tipo de demência – algo em torno de 2,71 milhões de pessoas, conforme dados do Ministério da Saúde. “A projeção para 2050 indica que esse número pode aumentar para 5,6 milhões de diagnósticos no país”, concluiu o instituto.