Tag: Fronteiras

  • Países vizinhos afetam eleição municipal nas fronteiras do Brasil

    Países vizinhos afetam eleição municipal nas fronteiras do Brasil

    Para cerca de 11 milhões de brasileiros, a eleição municipal é também um assunto internacional, uma vez que essas pessoas vivem em cidades localizadas na chamada faixa de fronteira. A área representa 16% do território nacional, com largura de 150 quilômetros a partir da linha que divide o Brasil dos seus dez vizinhos sul-americanos.

    Especialistas consultados pela Agência Brasil destacam que a realidade municipal da fronteira tem uma dimensão internacional que exige dos prefeitos e vereadores capacidade diplomática e boa articulação com os governos federal e estadual.

    Brasília (DF), 30/09/2024 - Professor Tomaz Espósito, coordenador do mestrado de fronteiras e direitos humanos da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul (MS). Matéria Eleições em fronteiras. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
    Professor Tomaz Espósito, coordenador do mestrado de fronteiras e direitos humanos da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – Arquivo pessoal/Divulgação

    “Os municípios precisam desenvolver uma diplomacia paralela que exige uma discussão dos dois lados da fronteira para destinação de resíduos sólidos, para captação de recursos, transporte escolar e combate à dengue, por exemplo”, explica o professor Tomaz Espósito, coordenador do mestrado de fronteiras e direitos humanos da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em Mato Grosso do Sul (MS).

    Existem 588 municípios dentro da faixa de fronteira. Desses, 124 cidades estão na linha que divide o Brasil da Venezuela, do Paraguai, da Bolívia, da Argentina, entre outras nações. Além disso, no Brasil há 33 “cidades-gêmeas”, que são municípios com forte integração com uma cidade do país vizinho.

    São cidades-gêmeas, por exemplo, Guajará-Mirim (RO) e Guayaramerín, na Bolívia; Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero, no Paraguai; e Pacaraima (RR) e Santa Elena de Uairén, na Venezuela.

    Por sua condição de vizinhos de outros países, os municípios de fronteira enfrentam desafios próprios como imigração, contrabando internacional, forte presença do crime organizado, ausência de projetos de desenvolvimento econômico local e alta evasão escolar.

    Brasília (DF), 30/09/2024 - Mapa do Brasil. Matéria Eleições em fronteiras. Foto: Ipea/Divulgação
    Faixa de fronteira representa 16% do território nacional – Ipea/Divulgação

    Imigração e moradia

    As políticas municipais para moradia popular podem resolver os problemas que a imigração trouxe ao estado de Roraima (RR), avalia a agricultora familiar Maria Ferraz de Matos, de 53 anos. Ela coordena a Cozinha Solidária no estado, projeto do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) que oferece refeições gratuitas para pessoas em situação de pobreza.

    Brasília (DF), 30/09/2024 - Agricultora familiar Maria Ferraz de Matos, de 53 anos, coordena a Cozinha Solidária em Roraima, projeto do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Matéria Eleições em fronteiras. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

    Agricultora familiar Maria Ferraz de Matos (de rosa) coordena a Cozinha Solidária em Roraima, projeto do MTST – Arquivo pessoal/Divulgação

    “Você anda em Boa Vista [RR] e encontra mulheres, homens e crianças venezuelanas dormindo no chão. Temos aqui um déficit habitacional muito grande. Tem também muita família brasileira vivendo de fazer bico para pagar aluguel e vem comer aqui na Cozinha Solidária”, conta.

    O intenso fluxo migratório tem acirrado os ânimos entre brasileiros e venezuelanos em Roraima. “O brasileiro fica chateado porque acredita que os venezuelanos têm mais direito do que ele. Muitas vezes tenho que mediar conflitos entre os dois grupos”, diz Maria Ferraz.

    Para a coordenadora, as prefeituras devem promover políticas de moradia que ajudem tanto os brasileiros quanto os venezuelanos. “Tem muita terra aqui que poderia ser usada para política de moradias. Porém, como os venezuelanos não votam, parece que os candidatos não se preocupam com eles”, avalia.

    Promover políticas para moradia é um dever constitucional que também é dos municípios, como determina o Artigo 23 da Constituição brasileira.

    Integração latino-americana

    O parágrafo único do Artigo 4º da Constituição, dispositivo que define os princípios das relações internacionais do país, afirma que o Brasil “buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

    O professor Tomaz Espósito destaca que a integração é diária nos municípios de fronteira e sugere que as prefeituras promovam projetos para que a população brasileira possa ser atendida no país vizinho e vice-versa.

    “Na fronteira do Brasil com o Uruguai já vimos projetos em que há troca de oferta de serviços médicos, com brasileiras indo realizar tomografia no Uruguai e uruguaios realizando hemodiálises no Brasil. Pode-se criar arranjos para que a fronteira deixe de ser apenas um obstáculo e se torne de fato a integração. O Brasil começa na fronteira”, diz o especialista.

    Brasília (DF), 30/09/2024 - Presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), Luciano Stremel Barros. Matéria Eleições em fronteiras. Foto: Arquivo Pessoal/DivulgaçãoPresidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), Luciano Stremel Barros – Arquivo pessoal/Divulgação

    Para o presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), Luciano Stremel Barros, os municípios sozinhos não têm estrutura financeira e administrativa para enfrentar os graves problemas das fronteiras brasileiras e, por isso, as autoridades locais devem ter boa capacidade técnica e de gestão.

    “O principal ponto é buscar gestores que tenham capacidade ou que possam, em conjunto com a sociedade, ter condições técnicas mínimas para trabalhar aspectos legislativos e administrativos. O tanto que o país perde em corrupção ele perde também com má gestão”, avalia o presidente do Idesf, com sede em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai.

  • Eleição: economia frágil favorece crime e contrabando nas fronteiras

    Eleição: economia frágil favorece crime e contrabando nas fronteiras

    Viver em um município que faz fronteira com cidades em países como Paraguai, Venezuela, Bolívia ou Argentina traz desafios e problemas específicos que vão desde a evasão escolar maior do que a média nacional até a presença de poderosas organizações do crime organizado ou uma economia dominada pelo contrabando.

    Para entender os desafios enfrentados pelo eleitor que vive em regiões de fronteiras e terá que escolher prefeito e vereador no próximo domingo (6), a Agência Brasil consultou especialistas no tema. Eles destacam que a falta de projetos para o desenvolvimento econômico local dos municípios fronteiriços é um dos principais obstáculos para combater o contrabando e reduzir a influência do crime organizado.

    O presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), Luciano Stremel Barros, disse que o relativo atraso econômico de regiões fronteiriças ocorre porque elas foram as últimas áreas do país a receber investimentos.

    “Você tem problemas de infraestrutura e de falta de atividades que sejam bastante significativas. Com isso, esses municípios acabam tendo dificuldade de fixar uma mola propulsora do desenvolvimento”, observa.

    O Brasil tem 588 municípios na faixa de fronteira, área que compreende 150 quilômetros a partir do limite com os dez países vizinhos e que ocupa cerca de 16% do território nacional, concentrando 11 milhões de habitantes.

    Para o presidente do Idesf, as gestões municipais podem, em parceria com os governos federal e estadual, desenvolver o turismo nas fronteiras, que vão desde os Pampas gaúchos, passando pelo Pantanal, até a Amazônia.

    “Há um grande potencial turístico nessas áreas que pode ser mais explorado, como o turismo de pesca. Esses biomas não estão só no Brasil, eles perpassam pelos outros países”, destaca Barros.

    Crime organizado

    Como o Brasil se tornou rota do tráfico internacional da cocaína e da maconha produzidas, principalmente, na Bolívia, no Peru, na Colômbia e no Paraguai, o crime organizado tem se fixado em diversos municípios de fronteira, chegando a se infiltrar nas estruturas estatais locais.

    O coordenador do mestrado de fronteiras e direitos humanos da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), professor Tomaz Espósito, considera preocupante a infiltração das organizações criminosas nos municípios.

    “Cada vez mais se percebe a entrada do crime organizado nas estruturas estatais para lavagem de dinheiro. Tem serviços de lixo, de transporte público e licitações em que há muito interesse do crime organizado de participar para lavar dinheiro e comprar apoio”, destaca o especialista.

    Além disso, Espósito avalia que, como os cargos das prefeituras dos municípios de fronteira são em grande parte ocupados por comissionados, muitas vezes não há continuidade nas políticas públicas. “Isso fragiliza muito o papel do Estado e abre brecha e espaço para o crime organizado e outros grupos de adentrarem no espaço estatal do município.”

    Brasília (DF), 30/09/2024 - Mapa do Brasil. Matéria Eleições em fronteiras. Foto: Ipea/Divulgação Faixa de fronteira representa 16% do território nacional  – Ipea/Divulgação

    Evasão escolar e contrabando

    Um dos problemas que afetam os municípios de fronteira é a elevada evasão escolar, que é superior à média nacional. Para o presidente do Idesf, a evasão escolar está relacionada à questão econômica.

    “O contrabando e o tráfico de drogas são extremamente lucrativos, e garotos de 15 ou 16 anos conseguem receber de R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês. Essas atividades pagam mais do que qualquer outra nessas áreas”, afirma Luciano Stremel Barros.

    O professor Tomaz Espósito avalia que o contrabando faz parte da cultura das regiões fronteiriças. “Para muitos, o contrabando não é visto como algo ilícito. Até porque não tem uma base econômica forte em muitos municípios de fronteira. Não tem grandes empresas, não tem grandes empreendimentos”, explica.

    Estima-se que o contrabando de produtos movimente, por ano, centenas de bilhões de reais no Brasil, levando à sonegação de impostos que deveriam entrar nos cofres públicos.

    “A capacidade financeira municipal é muito baixa. A dinâmica da fronteira traz muita sonegação. Faz falta também uma política permanente para o desenvolvimento dessa região”, acrescenta Espósito.

    O professor da UFGD acrescenta que falta capacitação e pessoal para que esses municípios consigam acessar recursos para projetos locais, como os disponíveis no fundo do Mercosul para o desenvolvimento econômico das fronteiras (Focem).

    “Normalmente, eles não conseguem acessar esse dinheiro por causa da falta de burocracia especializada em fazer um projeto”, enfatiza Tomaz Espósito, lembrando ainda que as condições favoráveis do Paraguai têm atraído empresários brasileiros para o país vizinho.

    “Boa parte do agronegócio paraguaio é dominada por agricultores brasileiros. Tem também um processo de industrialização do Paraguai feito por empresários brasileiros, que atravessam a fronteira para usar plástico, energia e mão de obra mais baratas. Eles montam os produtos e reexportam para o Brasil”, completa o professor.

    Política nacional

    Em maio deste ano, o governo federal publicou decreto criando a Política Nacional de Fronteiras “com vistas à promoção da segurança, do desenvolvimento sustentável, da integração regional, dos direitos humanos, cidadania, proteção social nas fronteiras brasileiras”.

    Para o presidente do Idesf, a nova política foi um avanço para a integração sul-americana. “Essa Política Nacional de Fronteiras traz a possibilidade de maior integração entre os órgãos federais, estaduais e municipais”, explica Luciano Stremel Barros.

  • Governo Federal autoriza emprego da Força Nacional em Mato Grosso

    Governo Federal autoriza emprego da Força Nacional em Mato Grosso

    O Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública em Mato Grosso, para o combate ao crime organizado na região de fronteira.

    A autorização foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) na última terça-feira, 3.

    Segundo o  senador Wellington Fagundes (PL-MT), no estado são 720 quilômetros de divisas secas e 200 quilômetros de fronteira por água. Essa região, continuou o senador, por estar desprotegida, é um caminho aberto para a entrada de armas ilegais e drogas e, consequentemente, para o aumento da violência não somente em Mato Grosso, mas em todo o Brasil.

    Wellington Fagundes alertou, no entanto, que para mudar de fato o cenário da região de fronteira, é preciso ir além das ações de segurança.

    — É seguir, portanto, na defesa da implantação de um projeto integrado de ocupação de nossa faixa de fronteira, inclusive para gerar desenvolvimento, oportunidades e empregos. Eu sempre tenho dito que uma região abandonada fica muito mais vulnerável, principalmente ao crime organizado. E isso passa objetivamente também pela regularização fundiária e também por políticas públicas de atendimento específico às necessidades locais daqueles municípios.

    Wellington Fagundes explicou que o ato do governo também implanta o Programa Vigia, pelo prazo de 180 dias, por meio de operações integradas, aquisição de equipamentos e capacitação de bases operacionais, com integração dos sistemas. Ele espera que essas medidas sejam capazes de aumentar a fiscalização e a repressão ao crime na faixa de fronteira.

     

  • PRF prende quarteto com dois veículos furtados após tentativa de fuga na Ponte Internacional da Amizade (PR)

    PRF prende quarteto com dois veículos furtados após tentativa de fuga na Ponte Internacional da Amizade (PR)

    Ao tentar fugir, um dos veículos furtados colidiu na traseira de um caminhão

    A Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu quatro pessoas no Km 730 da BR-277, em Foz do Iguaçu, divisa entre Brasil e Paraguai. Por volta das 17h desta segunda (25), os agentes da PRF deram ordem de parada a um veículo VW/Gol com placas de Foz do Iguaçu/PR. O condutor, um paraguaio de 18 anos de idade, desobedeceu e acelerou o veículo em direção ao Paraguai, porém, colidiu na traseira de um caminhão, momento em que desembarcou e iniciou fuga a pé, sendo alcançado com o auxílio dos policiais da Força Nacional.

    Ao ser conduzido à Unidade Operacional da PRF o preso identificou outro veículo, um Toyota/Premio com placas paraguaias, que também seguia pela rodovia sentido Paraguai, afirmando que os responsáveis pelo furto estavam em seu interior.  De imediato, os agentes abordaram esse segundo veículo, e os três ocupantes, todos de nacionalidade paraguaia, tendo um deles dois mandados de prisão emitidos em seu desfavor, foram presos.

    Devido às lesões sofridas com o impacto do acidente, o condutor  do VW/Gol, que havia sido furtado no mesmo dia em Foz do Iguaçu, foi socorrido pelo SIATE e encaminhado ao Hospital Municipal de Foz do Iguaçu sob custódia policial.

    Os veículos e os quatro envolvidos foram encaminhados para a Delegacia da Polícia Civil de Foz do Iguaçu (PR).