Tag: eventos climáticos extremos

  • Entenda a relação dos impactos climáticos com a vida cotidiana

    Entenda a relação dos impactos climáticos com a vida cotidiana

    Em um único dia, Luiz Antônio Ceccon viu toda sua história de vida e o seu trabalho, na Ilha da Pintada, em Porto Alegre (RS), serem levados pelas águas do Rio Jacuí.

    “Eu tinha criação de animais, eu era pescador, perdi barco, perdi rede. Eu tinha criação de bicho, ovelha, cabrito, porco, perdi tudo. Porque minha casa era meio longe aqui da ilha, para chegar lá só de barco. Eu perdi os pés da minha casa na Mexiana, dentro da Ilha da Pintada, e tudo que tinha dentro. Aqui na Picada, eu perdi também tudo que tinha dentro, que é uma casa de aluguel onde minha mulher ia abrir uma floricultura. Perdemos tudo.”

    Luiz e a esposa são sobreviventes das chuvas e enchentes que, em maio de 2024, devastaram 468 municípios do Rio Grande do Sul e atingiram mais de 2,34 milhões de pessoas, deixando 183 mortos, 806 feridos e 27 desaparecidos.

    Já no Norte do país, poucos meses antes, em fevereiro do mesmo ano, a Comunidade de Tumbira, no município de Iranduba (AM), começava a se recuperar de um longo período de estiagem, mais forte e longo que nos anos anteriores.

    Sem chuvas, o Rio Negro atingiu um dos níveis mais críticos das últimas décadas, em setembro de 2023. Nos meses seguintes, as 140 famílias de Tumbira – que têm no turismo a principal forma de subsistência – foram afetadas drasticamente.

    “Fumaça, calor acima da média, o rio seco, as ilhas de capim e o Cauxim – que é um fenômeno que deixa um [material] orgânico no rio quando ele seca além do normal, pega o sol, e vira tipo assim um pozinho que dá alergia nas pessoas”, conta o líder comunitário Roberto Macedo sobre o que chama de sequelas da seca.

    Relatório

    O pesquisador Ronaldo Christofoletti, do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que o dia a dia dessas pessoas foi afetado pelo que denominou “desastres climáticos”, no primeiro relatório da série Brasil em Transformação, que analisa como os desastres naturais no país são intensificados pelas mudanças climáticas ocorridas em todo o planeta.

    “Tem um dado ali que chama muita atenção, quando a gente olha que 92% dos municípios brasileiros já registraram desastres, já foram afetados de alguma forma e que está aumentando de frequência”

    O estudo cruzou dados do Climate Change Institute, da Universidade do Maine, que evidenciam o aumento gradual da temperatura planetária tanto no ar, quanto no oceano; com os números do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, dos últimos 32 anos (1991 a 2023).

    A partir desses dados, os pesquisadores concluíram que para cada aumento em 0,1 grau Celsius (°C) na temperatura média global do ar, houve um aumento de 360 registros de desastres.

    Quando o mesmo aumento ocorreu nos oceanos, houve um crescimento foi de 584 registros. Isso representou um crescimento médio de 100 ocorrências ao ano no Brasil, no período compreendido entre 1991 a 2023.

    Ao longo desse período, o estudo identificou 64.280 desastres climáticos e os classificou de acordo com cinco tipos de registro:

    1. climatológicos, para os relacionados a seca (estiagens, incêndios florestais e baixa umidade do ar);
    2. hidrológicos, pra os relacionados a cheias (enxurradas, inundações e alagamentos);
    3. meteorológicos, relacionados a mudanças de temperatura (ondas de frio, calor, ciclones, ventos costeiros);
    4. geológicos, para os relacionados a deslocamento de massa (deslizamentos, terremotos e erosão); e
    5. biológicos, para os relacionados ao desequilíbrio de espécies (epidemias e infestações).

    “Quando você passa a ter alterações ambientais mais amplas, como desmatamento, poluição e enriquecimento de águas por nutrientes, você passa a beneficiar a proliferação de vários agentes infecciosos. De vírus, de bactérias e assim segue. Então, a partir daí, esse é um desastre biológico, porque ele não aconteceria naturalmente”, explica o pesquisador.

    Do total de desastres climáticos, 49,8% foram climatológicos. Outros 26,58% foram hidrológicos; 19,87% foram classificados como desastres meteorológicos; 3,32% desastres geológicos e, por fim, os desastres biológicos somaram 0,35% dos registros entre 1991 e 2023.

    Prejuízos

    Os pesquisadores também concluíram que a cada aumento 0,1°C na temperatura média global do ar, houve um prejuízo econômico estimado de R$5,6 bilhões no país.

    “Todos esses dados de prejuízo econômico, a gente pode afirmar, com certeza, que são subestimados. A gente sabe que é mais do que isso, porque o dado que a gente usou para avaliar o impacto econômico é apenas aquele que as prefeituras lançam na plataforma de desastre da Defesa Civil”, explica o Christofoletti.

    Para o pesquisador, os impactos econômicos chegam à população duas vezes: uma de forma mais direta, quando os efeitos dos desastres climáticos afetam os bens, a moradia e a forma produtiva das pessoas; e uma segunda vez, quando o poder público precisa redirecionar recursos para as necessidades emergenciais criadas.

    “Esse é um dinheiro de gasto público para reconstruir para reformar, recuperar as cidades, que é dinheiro que poderia estar indo para educação, saúde, em benefícios da sociedade, mas está sendo usado para reconstruir cidade.”

    Há ainda os impactos sociais que alcançam cada vez mais pessoas, revelou o estudo. Nos últimos quatro anos da pesquisa, período entre 2020 e 2023, quase 78 milhões de pessoas foram afetadas por desastres climáticos, o equivalente a 70% do número de afetados nos dez anos anteriores, entre 2010 e 2019.

    De acordo com o pesquisador, esses números se traduzem em impactos sociais que vão além do número de vítimas contabilizadas entre mortos, feridos e afetados. Christofoletti cita ainda as perdas emocionais não contabilizadas dessas vítimas.

    “Aquela casa, principalmente para populações mais vulneráveis, ela vinha da mãe, do avô, do bisavô. Aquilo tinha história das pessoas lá dentro. São perdas que não são mensuráveis e tem um impacto de saúde mental muito grande.”

    Segundo o pesquisador, outro estudo desenvolvido pela equipe do instituto da Unifesp apontou que 62% das pessoas entrevistadas sentem medo em dias com previsão de chuva intensa na sua região.

    “Quando você tem 62% da população falando ‘Eu sinto medo quando vai chover!’, a gente já está falando de um impacto de saúde mental. As pessoas passam a ter medo e isso é um impacto muito forte, seja pela perda daqueles bens, que não é pelo dinheiro em si mas pelas memórias e pelo valor afetivo que eles têm, seja como isso está afetando a saúde mental propriamente”.

    De acordo com a equipe, esses temas serão detalhados nas próximas publicações da série que, inicialmente, detalhará cada tipo de desastre e analisará seus impactos de forma mais específica.

    “Nesse primeiro relatório a gente teve que analisar esses desastres todos juntos. Então assim, o pacote total de desastres, porque eles têm essa classificação ampla. Agora o passo que a gente vai dar, que a gente já está finalizando a primeira parte, é explorar desastre por desastre.”

  • BNDES libera R$ 7,3 bilhões para o Fundo Clima entre abril e outubro

    BNDES libera R$ 7,3 bilhões para o Fundo Clima entre abril e outubro

    O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou, de abril a outubro, cerca de R$ 7,3 bilhões para operações do programa Fundo Clima, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima.

    Apresentado nesta semana na 36ª reunião ordinária do Comitê Gestor do fundo, o valor corresponde a 70% da quantia reservada pela União para financiar projetos de mitigação da mudança climática.

    O valor aprovado corresponde a 2,5 vezes a soma de todas os montantes alocados no Fundo Clima de 2013 a 2023, um total de R$ 3 bilhões, em cifras atualizadas.

    O dinheiro disponibilizado permite, por exemplo, o desenvolvimento de iniciativas voltadas à resiliência e sustentabilidade da zona urbana e à transição energética, que podem acelerar a substituição de combustíveis fósseis, um dos aspectos do Brasil mais criticados por especialistas. A expectativa é de que sejam aprovados R$ 10 bilhões até o final do ano.

    Conforme destacou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, 15,2 mil empregos verdes foram criados com a aprovação dos recursos, superando em 20 vezes a quantidade do ano passado, de 753.

    Mercadante ressaltou, ainda, que R$ 167 milhões devem servir a projetos de produção de combustíveis sustentáveis, incluindo o combustível de aviação sustentável (SAF) e os de navegação, definição que demonstra que o Brasil tem uma janela de oportunidade para assumir uma posição de protagonismo no processo de descabonização.

    “Somos líderes globais da agenda de biocombustíveis há mais de 50 anos e a demanda para entrarmos nos combustíveis sustentáveis está muito forte. Por isso, precisamos, pelo menos, dobrar os recursos do Fundo Clima, como já está previsto no orçamento do ano que vem.”

    Dos R$ 7,3 bilhões, R$ 2,7 bilhões ainda terão o destino definido até dezembro e a projeção para 2025 é de cerca de R$ 11,5 bilhões.

    Outra questão salientada pela instituição financeira é a ampliação de verbas para as regiões Norte e Nordeste. No caso do Nordeste, o valor aprovado no período foi 19 vezes maior do que as aprovações de 2022, ou seja, de R$ 1 bilhão ante R$ 51 milhões.

    Volume de emissões

    Em outras palavras, quando se busca entender o que representam os números liberados, dentro do contexto de metas que o Brasil e outros países devem atingir, em relação ao Acordo de Paris, a resposta é de que evitam ou removem 3,3 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente por ano. Esse volume é igual ao total de emissões evitadas no ano passado (204 mil tCO2e/ano) multiplicado por 16.

  • BNDES necessitará criar linha de crédito para perdas e danos climático

    BNDES necessitará criar linha de crédito para perdas e danos climático

    O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá que criar linhas de crédito especiais para perdas e danos provocados pelas mudanças climáticas, segundo afirmou o diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos, Nelson Barbosa. Durante evento global sobre financiamento climático, que reuniu representantes de bancos de desenvolvimento e representantes de governos do G20, ele defendeu linha de crédito para reconstrução do Rio Grande do Sul.

    “Nesse momento, a gente enfrenta um novo desafio devido aos eventos climáticos do Rio Grande do Sul, que irão requerer uma linha de crédito especial para reconstrução. Já temos linhas para mitigação e para adaptação, agora temos que pensar também em linhas para cuidar de perdas e danos”, destacou o diretor do banco.

    Barbosa afirmou que, com a nova realidade, os bancos de desenvolvimento também terão que enfrentar com outras realidades dos eventos climáticos extremos como lidar com os efeitos dos refugiados climáticos.

    “O volume dos recursos envolvidos e o prazo necessário tornam inevitáveis uma participação mais direta do governo”, disse Barbosa. “O BNDES vai cumprir seu papel, de auxiliar o Ministério da Fazenda e as demais autoridades regionais nessa reconstrução.

    Barbosa lembrou que o BNDES já administra o Fundo Clima, mantido com recursos da União, para financiar a transição climática no país, com juros subsidiados. Hoje o fundo conta com US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).

    De acordo com a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, o montante necessário para lidar com as mudanças climáticas já vem sendo discutido há anos.

    “Sabemos que teremos que ir de bilhões para trilhões. O diagnóstico é muito claro, temos que avançar nas melhores formas de lidar com o compartilhamento de riscos e na conexão de diferentes instituições, locais ou globais, nacionais ou subnacionais, e reunir recursos públicos e privados para atingir a escala que necessitamos”.

    Rosito também destacou o papel que os bancos multilaterais de desenvolvimento terão nesse cenário.

    Edição: Aécio Amado

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  • Presidente se solidariza com o povo gaúcho

    Presidente se solidariza com o povo gaúcho

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou solidariedade ao povo gaúcho, nesta terça-feira (5), em razão da tempestade que atinge o norte do Rio Grande do Sul desde a madrugada desta segunda-feira (4). Ao menos quatro pessoas morreram nas cidades de Mato Castelhano, Passo Fundo e Ibiraiaras e várias regiões do norte gaúcho estão inundadas, com bloqueios e às escuras.

    Segundo o presidente, representantes da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil vão ao Rio Grande do Sul, colocando o governo federal à disposição para “ajudar naquilo que for necessário”.

    “Onde tiver um problema, o governo federal estará lá para ajudar as pessoas a se salvar desses problemas. Portanto, nossa solidariedade ao povo gaúcho. Peço a Deus que diminua a chuva porque as pessoas precisam ter paz, tranquilidade e sossego para continuar vivendo bem, trabalhando e curtindo a vida como é de direito de todo mundo”, disse Lula durante o programa semanal Conversa com o Presidente, transmitido pelo Canal Gov.

    Brasília (DF), 05.09.2023 - Presidente Lula é entrevistado por Marcos Uchoa no programa Conversa com o Presidente, com a participação do ministro Camilo Santana, da Educação, no Palácio da Alvorada, em Brasília. Imagem: Canal GovBrasília (DF), 05.09.2023 – Presidente Lula é entrevistado por Marcos Uchoa no programa Conversa com o Presidente, com a participação do ministro Camilo Santana, da Educação, no Palácio da Alvorada, em Brasília. Imagem: Canal Gov

    Presidente Lula no programa Conversa com o Presidente, que teve a participação do ministro Camilo Santana, da Educação – Canal Gov

    Lula lembrou que, no primeiro semestre, uma comitiva de ministros esteve no estado para ver os prejuízos com a estiagem que afetou 400 municípios e impactou a produção agrícola. Em fevereiro, o governo federal liberou R$ 430 milhões para ações de mitigação. Em março, 12 cidades gaúchas afetadas pela seca receberam socorro de mais R$ 2,2 milhões.

    Para o presidente, essas ocorrências extremas são um alerta de que a questão do clima não é uma questão menor. “Não é uma questão de professor de universidade, não é uma questão de ambientalista, é uma questão da humanidade, do planeta estar sofrendo as consequências da irresponsabilidade do ser humano”, disse, reafirmando que tem o projeto de colocar o tema das mudanças climáticas no currículo escolar.

    “Para que as crianças possam, desde cedo, ter uma noção da importância da gente preservar a natureza, da gente cuidar da natureza. Nós temos que cuidar das árvores, temos que cuidar das águas, da fauna, mas temos que cuidar do ser humano, porque se ele não estiver bem ele é destruidor”.

    Em diversas ocasiões, Lula já defendeu que a questão ambiental passa pelo bem-estar da população.

    Na tarde desta terça-feira, o presidente participa, no Palácio do Planalto, de evento em celebração ao Dia da Amazônia. Segundo ele, na ocasião, o governo vai demarcar terras indígenas e áreas de proteção ambiental.

    Edição: Denise Griesinger
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