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  • Agronegócio tem impacto maior na economia do que estatísticas tradicionais indicam

    Agronegócio tem impacto maior na economia do que estatísticas tradicionais indicam

    O agronegócio brasileiro tem um impacto ainda maior na economia do que as estatísticas tradicionais indicam, especialmente quando se consideram todas as atividades que vão “além da porteira”, abrangendo desde o fornecimento de insumos e beneficiamento das safras até o transporte e comércio dos produtos. Um estudo inédito realizado pelo departamento econômico do banco Itaú, assinado pelos economistas André Matcin e Pedro Renault, revelou que, nesse conceito ampliado, o setor responde por 21% do PIB brasileiro, um valor mais de três vezes superior ao PIB agro medido pelo IBGE, que é de 6%.

    A análise busca oferecer uma visão mais abrangente do agronegócio, levando em conta toda a cadeia produtiva. O estudo utilizou dados da Tabela de Usos e Recursos (TRU) do IBGE, que permite detalhar a cadeia de consumo do setor. Os economistas ressaltam que não há divergência entre essa abordagem e a metodologia do IBGE, mas sim uma perspectiva mais integrada da atividade agroindustrial.

    Empregos e comércio exterior

    Outro ponto destacado pelo levantamento é a geração de empregos. No conceito ampliado, o agronegócio emprega diretamente 17% da população ocupada, o que representa mais de 17 milhões de trabalhadores. Desse total, 7,9% estão na produção primária, 1,7% no beneficiamento e 7,4% no comércio e transporte.

    No comércio exterior, o agronegócio segue como pilar do superávit da balança comercial brasileira. Em 2024, o setor foi responsável por 31% da corrente de comércio do país e gerou um saldo positivo de US$ 109 bilhões, enquanto o superávit total do Brasil foi de US$ 75 bilhões. Os economistas também destacam que o beneficiamento de produtos agropecuários representa uma parcela expressiva do valor exportado, desmistificando a ideia de que o setor exporta apenas commodities in natura.

    Perspectivas para 2025

    A tendência é que o agronegócio continue sendo protagonista do crescimento da economia brasileira nos próximos anos. De acordo com estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e órgãos do governo brasileiro, a safra de 2025 promete ser robusta, o que deve garantir uma contribuição significativa para o PIB e manter o setor como um dos principais motores econômicos do país.

  • Ferrogrão: Estudo revela impacto positivo no escoamento da soja brasileira para a Ásia

    Ferrogrão: Estudo revela impacto positivo no escoamento da soja brasileira para a Ásia

    A construção da Ferrogrão, ferrovia EF-170, tem o potencial de revolucionar o transporte de soja no Brasil, segundo um estudo conduzido pelo Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária (CILIP) da USP e pela Fundação Vanzolini. A pesquisa, liderada pelos professores Daniel de Oliveira e Ronaldo Benevides Veloso, utilizou o modelo matemático de decisão Markov para avaliar a viabilidade e os impactos de um corredor ferroviário de 933 quilômetros, ligando Sinop (MT) a Itaituba (PA).

    A Ferrogrão surge como uma alternativa estratégica para o escoamento da produção agrícola, especialmente para os mercados asiáticos, reduzindo a dependência do transporte rodoviário e aliviando a sobrecarga no Porto de Santos. Segundo Oliveira, a ferrovia pode reconfigurar a logística nacional, direcionando parte significativa do fluxo de soja para a região Norte, sem comprometer os demais portos estratégicos, como Manaus, Santarém e São Luís.

    Além da eficiência logística, o projeto oferece benefícios ambientais. A distância média percorrida por caminhões cairia de 914 para 171 quilômetros, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em cerca de 60%. Isso reforça o caráter sustentável do novo modal de transporte.

    Ampliação da área de influência

    Outro destaque do estudo é o aumento da área de influência logística. O número de cidades diretamente beneficiadas pela infraestrutura ferroviária passaria de 20 para 33, enquanto a área atualmente atendida pelo Porto de Santos sofreria uma pequena redistribuição, com a redução de 44 para 37 municípios.

    Essa reorganização potencializa a competitividade do agronegócio brasileiro, expandindo a capacidade de armazenagem e escoamento sem prejudicar a operação de outros corredores logísticos do país.

    Do ponto de vista econômico, a Ferrogrão promete um impacto significativo na rentabilidade do setor. O estudo aponta que o custo logístico mais baixo pode aumentar a renda média por saca de soja de R$ 12,25 para R$ 15,25 — um ganho de R$ 3,00 por saca. Esse resultado considera o preço médio da soja em R$ 150,00 e o custo do diesel a R$ 6,00.

    Para Oliveira, isso consolida a ferrovia como um elemento estratégico na cadeia de exportação agrícola do Brasil. “A Ferrogrão tem o potencial de ampliar a competitividade da soja brasileira no mercado asiático, ao mesmo tempo em que reduz os impactos nos corredores existentes e gera ganhos econômicos e ambientais”, afirma.

    A Ferrogrão desponta como um marco na logística agrícola brasileira. Com capacidade para reconfigurar o transporte da soja, aumentar a rentabilidade e reduzir impactos ambientais, a ferrovia é apresentada como uma solução sustentável e economicamente viável para consolidar a posição do Brasil como líder global no agronegócio.

  • Estudo aponta perda de nascentes e assoreamento de rios em áreas rurais do Paraná

    Estudo aponta perda de nascentes e assoreamento de rios em áreas rurais do Paraná

    Estudo técnico-científico realizado pela Embrapa e parceiros mostra perda alarmante de nascentes e assoreamento de rios na região rural da Bacia Hidrográfica Paraná III (BHP III), localizada a oeste do estado. As análises consideraram caracterização de solos e clima, vegetação fluvial, geologia e processos erosivos, entre outros, e resultaram na publicação Anais da 1ª Reunião de Correlação e Classificação de Solos e Vegetação Fluvial (RCCSV). Com mais de dez artigos, o documento traz um capítulo com indicativos inéditos para orientar políticas públicas e tomadas de decisão voltadas, principalmente, ao uso de práticas mais sustentáveis de manejo do solo, vegetação e água na região.

    Participaram do estudo a Embrapa Florestas (PR), a Embrapa Soja (PR) e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), com patrocínio da Itaipu Binacional e do governo do estado do Paraná, além do apoio técnico da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto Água e Terra (IAT) e Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (Faped).

    Segundo a pesquisadora da Embrapa Florestas Annete Bonnet, que fez parte do grupo coordenador da publicação, os resultados demonstram a necessidade da gestão mais integrada dos recursos naturais e o desenvolvimento premente de ações que harmonizem a produção agropecuária e a preservação ambiental.

    A perda de nascentes e o assoreamento de rios são provocados, entre outros fatores, por práticas de manejo inadequadas aplicadas à agropecuária, urbanização desordenada e desmatamento. Essas constatações tiveram como base os resultados do PronaSolos Paraná (levantamento dos solos paranaenses) e do projeto Ação Integrada de Solo e Água (AISA), além de apurações de pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Soja e o IDR-PR.

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    Foto: Embrapa

    A erosão do solo, por exemplo, não degrada apenas a terra, mas também compromete a qualidade da água dos rios e lagos. De acordo com o pesquisador da Embrapa Florestas Gustavo Curcio, que também é um dos coordenadores do RCCSV, um cenário de aumento da escassez hídrica impactaria profundamente a sustentabilidade dos ecossistemas e a qualidade de vida das populações, bem como as atividades de produção agrícola, um dos pilares da economia do estado.

    O estudo apresenta os principais desafios para o manejo sustentável dos solos na região, como a erosão, a compactação e a perda de matéria orgânica. Mas, paralelamente, apresenta oportunidades para melhorar as práticas agrícolas e aumentar a produtividade de forma sustentável. O plantio direto, a rotação de culturas com o emprego de práticas agronômicas, o uso de coberturas vegetais e o manejo integrado de pragas e doenças são algumas das práticas que contribuem para a melhoria da qualidade do solo e a redução dos impactos ambientais.

    Valdemar Bernardo Jorge, secretário de estado de Desenvolvimento Sustentável do Paraná, e um dos integrantes do grupo técnico, exalta os resultados trazidos pela publicação. “Esperamos que esse documento seja uma fonte de conhecimento e de inspiração para todos os que se interessam pelo desenvolvimento sustentável da BHP III, contribuindo para a valorização e a proteção dessa região que é uma das principais propulsoras econômicas do estado do Paraná”, afirma o secretário.

    Estudo resultou na proposição de dez categorias de políticas públicas

    Curcio explica que o estudo tentou repetidamente, em várias paisagens, destacar a necessidade de os técnicos ampliarem os quesitos básicos de análise de composição das pedossequências (sequências de solo observadas ao longo de uma paisagem), assim como suas potencialidades e fragilidades decorrentes. “A 1ª RCCSV apresentou aos participantes novas classificações de solos em diferentes cenários da BHP III, fato considerado importante para o planejamento de tratos de manejo diferenciados, além da apresentação de novas classes de solos para o Paraná”, observa.

    Nesse contexto, a formulação de políticas públicas adequadas é essencial para implementar e fazer valer ações de conservação, manejo sustentável e educação ambiental. Mediante um processo participativo, o grupo de técnicos que integrou a RCCSV realizou, ao final dos trabalhos, a proposição de sugestões para políticas públicas, com a indicação de sete prioridades, entre dez categorias propositivas.

    Segundo Bonnet, as indicações visam à implementação de ações permanentes e continuadas no meio rural do estado. “O ordenamento técnico de indicativos para políticas públicas, apontados pelos participantes do estudo, é oportuno para o governo do estado do Paraná, uma vez que esses indicativos advêm dos debates técnicos de um grupo plural de profissionais que atuam em diferentes setores e áreas do estado. Com base nesses dados, pode-se constatar que os apontamentos do grupo retratam estratégias importantes para o alcance da sustentabilidade no meio rural do Paraná, e que devem ser executadas em um contexto de planejamento interinstitucional, sobretudo, interdisciplinar”, destaca a pesquisadora.

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    Foto: Embrapa

    Bonnet ressalta também outras contribuições trazidas pelo estudo. “A despeito dos esforços que vêm sendo efetuados pelo governo do estado e instituições vinculadas, além de cooperativas, órgãos de pesquisa, de transferência e de ensino, no sentido de conservar os recursos naturais da região, a publicação poderá trazer algumas complementações relativas à análise das interações de temáticas da paisagem e produtos gerados no meio rural. A região encontra-se com sistemas produtivos que adotam tecnologias de ponta, porém apresenta deficiências no que concerne à preservação de florestas fluviais, estejam elas em rios ou cabeceiras de drenagem”, complementa a pesquisadora.

    Indicativos propostos pelo RCCSV

    Entre as proposições do estudo, estão ações de capacitação integrada de técnicos das ciências agrárias para manejo da paisagem, com ênfase em solo, água e vegetação e criação de protocolos com parâmetros sobre potencialidades e fragilidades das paisagens. Outra indicação apontada se refere à integração técnica intra e interinstitucional para apoiar as secretarias de estado na criação de soluções e resoluções para o meio rural. Ainda como apontamento, destaca-se o manejo emergencial da erosão, tendo como uma de suas ações a criação de programas de adequação de terraços, implantação de áreas com cobertura verde e aumento da cobertura do solo, com a priorização de ações, considerando a fragilidade das paisagens.

    Outras ações prioritárias indicadas pelo grupo técnico se referem ao desenvolvimento de uma base de dados georreferenciada e padronizada, que permita a integração dos dados e mapas; à valorização do componente florestal no sistema produtivo, considerando a produção de água e a fragilidade das paisagens; à criação e regulamentação de legislação que incentive a conservação de solo e água, assim como a garantia de pagamento aos produtores que conservem seus recursos, bem como o financiamento, via crédito rural, para propriedades que adotem práticas conservacionistas.

    De acordo com o engenheiro da Itaipu Binacional Hudson Leonardo, doutor em Ciências dos Solos e Nutrição de Plantas, trabalhos de décadas de parceria entre a Itaipu Binacional, Embrapa e IDR-PR acerca de temas relacionados ao manejo e conservação de solos e água demonstram de maneira consistente, com base em dados, a real possibilidade se obter rentabilidade econômica em sistemas produtivos. Para Leonardo, modelos como o plantio direto e os sistemas integrados (Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)) promovem melhores condições de infiltração de água no solo, enraizamento das plantas, disponibilidade hídrica para as culturas, maior produtividade, estabilidade de produção em anos com menores índices pluviométricos, menos perdas de água, solos e nutrientes das lavouras, decorrentes da menor erosão hídrica etc.

    “Os conhecimentos, dados, informações e tecnologias apontados pelo grupo técnico precisam de apoio continuado para que sejam adotados. Para isso, é fundamental que induzam políticas públicas de estado”, reforça o engenheiro-agrônomo.

    Graziela Barbosa, pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar – Emater (IDR-Paraná), destaca o papel da instituição nos trabalhos que envolveram diversos atores. “Fizemos a conexão da pedologia com o manejo do solo considerado ideal, levando em conta a aptidão agrícola dos solos estudados. A integração feita entre diversas instituições públicas e privadas em prol de um único objetivo é muito importante para o entendimento dos solos na paisagem e isso leva à escolha das melhores práticas de manejo para uma agricultura conservacionista”, explica.

    O pesquisador da Embrapa Soja Júlio Franchini vem pesquisando as relações entre pedologia e manejo do solo, no sentido de integrar estas informações para otimizar o uso de insumos, como sementes e fertilizantes, reduzir a compactação, aumentar a resiliência e aumentar a produtividade e rentabilidade dos sistemas de produção de grãos. “Queremos avançar no entendimento dos fatores mais limitantes em cada classe de solo e de que forma o manejo pode contribuir para reduzi-los, permitindo maior rentabilidade e estabilidade da produção em sistemas agrícolas e pecuários. Então, nosso foco é estabelecer as melhores práticas de manejo para as diferentes classes de solos”, detalha Franchini.

    Um mosaico de paisagens: a diversidade dos solos paranaenses

    A pesquisa revelou uma grande diversidade de solos na região oeste do Paraná, cada um com suas características, decorrentes de relações específicas do clima, geologia e vegetação. As sequências de solos que se desenvolvem ao longo de uma paisagem são fundamentais para entender a dinâmica e as potencialidades de cada área.

    O componente geomorfológico foi analisado para aumentar a compreensão sobre a dinâmica hidrológica das pedossequências. A análise da mineralogia da fração argila, por exemplo, permitiu identificar fatores que influenciam a estrutura, a capacidade de retenção e infiltração de água, a fertilidade, além de aspectos relativos à suscetibilidade à erosão. Vale destacar que todos esses dados determinam a maior ou menor potencialidade de uso das paisagens.

    Água: o potencial de recarga hídrica dos solos

    A água é um recurso essencial para a vida e para os sistemas de produção. O estudo demonstrou que a capacidade de armazenamento nos solos varia significativamente de acordo com o tipo e a posição na paisagem. Solos mais profundos e com boa estrutura, como aqueles encontrados em áreas com relevos mais suaves, possuem maior capacidade de armazenar água, contribuindo para a recarga dos aquíferos e garantindo a disponibilidade hídrica durante períodos de seca. De forma contrária, também ficou retratada a ineficiência dos solos rasos na possibilidade de armazenamento de água; consequentemente, determinando alta fragilidade ambiental.

    Vegetação fluvial: protegendo as margens dos rios

    A vegetação que margeia os rios desempenha um papel fundamental nas funcionalidades ecossistêmicas, tais como a proteção dos solos constituintes, a manutenção da diversidade biológica e da qualidade da água.

    As raízes das plantas ajudam a fixar o solo, minimizando a erosão, enquanto a cobertura vegetal reduz o impacto das gotas de chuva, aumenta a infiltração da água e garante baixas amplitudes térmicas. Enfim, o estudo destacou a importância da conservação e da necessidade de recuperar as florestas fluviais que atualmente inexistem, propiciando melhorias na dinâmica dos recursos hídricos.

  • Estudo inédito do AgriHub revela que 76% dos produtores rurais de Mato Grosso têm perfil inovador

    Estudo inédito do AgriHub revela que 76% dos produtores rurais de Mato Grosso têm perfil inovador

    Na noite desta terça-feira (29), o AgriHub apresentou um estudo inédito realizado no estado que é líder na produção das principais commodities agrícolas do país. O Perfil de Inovação do Produtor Rural de Mato Grosso examinou de perto como essa estratégia está moldando o futuro da agricultura no estado, destacando o papel decisivo que a aceitação e difusão de novas práticas desempenham no desenvolvimento sustentável e na competitividade do setor. O presidente do Sistema Famato, Vilmondes Tomain, ressalta a importância do fornecimento de informações para a cadeia produtiva do agro.

    ”A inovação no agronegócio mato-grossense é uma jornada essencial para o fortalecimento e a sustentabilidade do setor. O AgriHub, reconhecido como a Casa de Inovação do Produtor Rural de Mato Grosso e parte integrante do Sistema Famato, tem como missão conhecer a fundo a realidade do produtor rural para fornecer inovações e tecnologias que possam transformar seus negócios”, explica Vilmondes.

    A pesquisa revela que 76% dos produtores rurais de Mato Grosso têm um perfil inovador ou altamente inovador, mostrando que a maioria adota práticas que favorecem a utilização de novas tecnologias. O estudo também identificou uma variação considerável entre as regiões, indicando áreas que necessitam de maior suporte para promover o perfil de inovação dos produtores rurais de Mato Grosso foi avaliado com base em três indicadores principais: Adoção de Tecnologias, Digitalização e Influência.

    O levantamento de dados iniciou em 2022 em 72 municípios de Mato Grosso através dos sindicatos rurais para identificar, por região, os níveis de inovação de cada produtor. Mais de 26 mil informações foram coletadas ao longo dos últimos três anos com 930 produtores entrevistados.

    “Através deste panorama, buscamos não apenas destacar o potencial já existente, mas também identificar oportunidades para fortalecer a adoção de tecnologias, garantindo que Mato Grosso continue sendo um exemplo de vanguarda no agronegócio”, destaca Paulou Ozaki, Superintendente do AgriHub.

  • Dia do Cerrado: bioma é o segundo mais ameaçado no país

    Dia do Cerrado: bioma é o segundo mais ameaçado no país

    O segundo maior bioma brasileiro também ocupa essa posição (segundo) quando o assunto é ameaça à biodiversidade e aos serviços ecossistemáticos. De acordo com estudo realizado pela Mapbiomas, o Cerrado perdeu 27% de sua vegetação nativa nos últimos 39 anos, o que representa 38 milhões de hectares.

    Em toda a cobertura natural do país que sofreu transformação no uso do solo, o bioma, proporcionalmente, só foi menos afetado que o Pampa, que perdeu 28% de vegetação nativa ao longo desses anos.

    Também conhecido como savana brasileira, o Cerrado ocupa 25% do território nacional, em 11 estados que se estendem do Nordeste à maior parte do Centro-Oeste, e mantém áreas de transição com praticamente todos os biomas, exceto os Pampas. Pelas características adquiridas no contato com mais quatro ecossistemas (Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga), é considerada a savana mais biodiversa do planeta.

    Ao longo desse período, o bioma teve 88 milhões de hectares atingidos pelo fogo, o que causou a perda de 9,5 milhões de hectares. Embora seja mais resiliente aos incêndios, pesquisadores apontam que as mudanças climáticas associadas ao uso indiscriminado do fogo têm ameaçado a integridade de sua cobertura natural. “É essencial implementar políticas públicas que promovam a conscientização, reforcem sistemas de monitoramento e apliquem leis rigorosamente contra queimadas ilegais”, reforça a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Vera Arruda.

    Cavalcante (GO) 12/09/2023 - Vista do cerrado na Comunidade quilombola Kalunga do Engenho II. O cerrado é um dos cinco grandes biomas do Brasil, cobrindo cerca de 25% do território nacional e perfazendo uma área entre 1,8 e 2 milhões de km2 Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
    O cerrado é um dos cinco grandes biomas do Brasil, cobrindo cerca de 25% do território nacional – Joédson Alves/Agência Brasil

    Junto com a cobertura natural do solo, a perda do Cerrado significa perder também a sua enorme capacidade de reter gás carbônico na biomassa de suas longas raízes, de recarregar a água subterrânea e de manter o ciclo hídrico que equilibra o planeta. “Temos observado que as áreas úmidas no Cerrado estão secando. Além disso, a expansão da agricultura sobre essas áreas vêm ocorrendo em algumas regiões no bioma, o que pode afetar o abastecimento hídrico e resultar em escassez de água para a população e para a agricultura, aumentando também a vulnerabilidade a desastres climáticos e à perda de biodiversidade”, alerta Joaquim Raposo, pesquisador do Ipam.

    Para se ter uma ideia, de toda a área perdida ao longo dos 39 anos estudados, 500 mil hectares foram de áreas úmidas substituídas principalmente por pastagem. São áreas naturais consideradas fundamentais na manutenção dos recursos hídricos, presentes em 6 milhões de hectares do bioma onde nascem oito das 12 bacias hidrográficas brasileiras.

    Neste 11 de setembro, em que é celebrado o Dia do Cerrado, organizações da sociedade civil como os institutos Cerrados, Sociedade População e Natureza, Ipam e WWF Brasil lançaram uma campanha de sensibilização sobre a relevância do bioma e os desafios a serem enfrentados para a sua preservação.

    Chamada Cerrado, Coração das Águas, a campanha foi lançada em um site que reúne informações relevantes sobre o bioma, suas características, biodiversidade, povos, turismo e caminhos para a preservação, além de reunir boas histórias dessa “floresta invertida”.

    Edição: Graça Adjuto

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  • Agronegócio ainda está longe da agenda ambiental, diz estudo

    Agronegócio ainda está longe da agenda ambiental, diz estudo

    Os conflitos e as dificuldades de diálogo tendem a manter apartadas as agendas da conservação ambiental e da produção rural no Brasil. Essa é a conclusão da mais recente publicação da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.

    O objetivo do estudo é aproximar as duas áreas e compatibilizar seus interesses, mostrando como o agronegócio se beneficia e depende da biodiversidade.

    Lançado nesta terça-feira (16), o estudo aborda os desafios associados ao modelo de uso da terra no país e as soluções para tornar a agropecuária uma prática mais sustentável e inclusiva. O documento visa influenciar gestores e lideranças das esferas pública e privada na tomada de decisões com foco na sustentabilidade.

    Pesquisador do Observatório da Bioeconomia, da Fundação Getúlio Vargas,  Eduardo Assad  fala da importância do equilíbrio entre agricultura e biodiversidade, e cita um exemplo recente que mostra essa relação:

    “Os municípios do Rio Grande do Sul que praticam agroecologia foram muito pouco atingidos (…) aqueles que desrepeitaram acintosamente o código florestal foram destruídos (…) A gente dobra a produtividade agrícola sem derrubar um hectare de floresta. Tem potencial para isso. Só precisa entender que é possível de fazer”

    Modelos projetados estimam, por exemplo, que na fronteira entre a Amazônia e Cerrado as variações no clima vão comprometer a viabilidade de 74% das atuais terras agrícolas até 2060. Em 2022, a agropecuária já ocupava 33% da área do país e suas emissões respondiam por cerca de 27% do total de 2,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa  lançados pelo Brasil na atmosfera.

    Segundo o relatório, pode ser que esse avanço não pare por aí. Se o modelo de agronegócio no país for mantido, projeções de cenários futuros indicam aumento da área destinada ao setor.  A tendência é a ampliação de cultivos de soja, milho e cana-de-açúcar no Cerrado e na Mata Atlântica e de áreas de pastagens na Amazônia e no Pantanal. Essa expansão intensificará a pressão sobre unidades de conservação e terras indígenas, com impactos negativos para o meio ambiente e as comunidades locais.

    O fomento à agricultura familiar,  conhecida pelo manejo conservacionista dos recursos ambientais, pelo menor uso de insumos e pela diversidade de cultivos, além da congregação de pequenos produtores rurais, povos e comunidades tradicionais, é um dos caminhos apontados pelo estudo para conciliar a produção agrícola com baixas emissões de carbono e com a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.

    No entanto, o setor ainda enfrenta dificuldades na busca por crédito rural e assistência técnica para conseguir avançar.

  • A temperatura nas florestas tropicais está aumentando, diz estudo na Nature Climate Change

    A temperatura nas florestas tropicais está aumentando, diz estudo na Nature Climate Change

    As florestas tropicais em todo o mundo, até as mais conservadas, já apresentam alterações climáticas em decorrência do aquecimento global. A descoberta é de um trabalho de modelagem do microclima que analisou a temperatura média em, aproximadamente, 9 milhões de quilômetros quadrados no interior das áreas de florestas nos últimos trinta anos.

    O estudo divulgado no artigo Novelas temperaturas já estão espalhadas sob as copas das florestas tropicais do mundo , publicado na revista Nature Climate Change , é revisado por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, e pesquisado a partir da análise de registros microclimáticos e dados de pesquisa de campo em 300 mil pontos de coleta em todos os trópicos globais, incluindo Brasil, Peru, Uganda, República Democrática do Congo e Malásia.

    O trabalho conta com dados de pesquisa da Rede Amazônia Sustentável (RAS) , coletivo internacional multidisciplinar de pesquisa sobre a sustentabilidade dos usos da terra, que envolve mais de 30 instituições de pesquisa e é co-coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental (PA).

    O grupo de pesquisa quantificou a temperatura abaixo da copa das árvores, praticamente no chão da floresta (a 5 centímetros acima do solo), de hora em hora entre 1990 e 2019 em todas as regiões de florestas tropicais do mundo. A descoberta foi que o regime de temperatura nos últimos 14 anos (2005 a 2019) está fora da faixa registrada historicamente (entre 1990 a 2004).

    A maioria das florestas tropicais não perturbadas não só experimentaram condições climáticas, pelo menos parcialmente, diferentes das médias históricas registradas, mas muitas delas sofreram temperaturas médias quase próximas novas, de acordo com os resultados da análise. Essas áreas incluem parques nacionais de importância mundial, reservas indígenas e grandes extensões de áreas ecologicamente não fragmentadas.

    “Nosso estudo desafia a noção predominantemente de que as copas das florestas tropicais irão mitigar os impactos das mudanças climáticas e nos ajuda a entender como priorizar a conservação dessas áreas-chave da biodiversidade de forma eficaz”, afirma Alexander Lees , pesquisador da Universidade Metropolitana de Manchester (Reino Unido) e co-autor do artigo. A temperatura é um fator importante na distribuição das espécies e na função ecológica das florestas, segundo os especialistas.

    A América Latina, em especial no sul da Amazônia e nos Andes, experimentou uma grande mudança geral em termos de temperatura cumulativa e na temperatura média anual, faixa de temperatura média diurna e sazonalidade de temperatura. Nesse continente, do qual o bioma amazônico é parte importante, 27% da floresta não perturbada teve regimes totalmente novos de temperatura média anual e 31% apresentou faixas de temperatura média diurna totalmente novas. Entre as principais causas dessa mudança estão, em nível global, a queima de combustíveis fósseis, e na Amazônia, o desmatamento e as queimadas, apontam os especialistas.

    Conservar e restaurar florestas tropicais

    Até recentemente, as temperaturas no interior das florestas permaneciam negativas, o que significa que a biodiversidade presente nessas áreas evoluiu em uma estreita faixa de temperaturas. Mudanças no microclima da floresta, portanto, podem impactar diretamente a biodiversidade local e as funções ecológicas das áreas.

    As florestas tropicais são os ecossistemas terrestres mais diversos do mundo, acolhendo mais de 62% das espécies de vertebrados e mais de 75% das espécies de plantas com flores, aponta o artigo. “Essas florestas, que abrigam muitas das espécies altamente especializadas do mundo, são particularmente sensíveis até mesmo às pequenas mudanças climáticas. Para proporcionar às espécies a melhor oportunidade de se adaptarem às mudanças, já que as florestas devem ser conservadas e protegidas frente à ação humana”, afirma Brittany Trew , pesquisadora da Universidade de Exeter (Reino Unido) e principal autora do estudo.

    As mudanças, segundo o estudo, foram mais exacerbadas nas áreas de floresta mais conservadas quando comparadas às florestas fragmentadas e florestas degradadas. “As áreas mais fragmentadas são mais ‘resistentes’ às variações climáticas”, explica Joice Ferreira , pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.

    Em florestas fragmentadas, especialmente na África, os pesquisadores identificaram que as mudanças climáticas afetaram um pouco as temperaturas médias. Esses locais devem ser considerados refúgios climáticos e são cruciais para esforços de restauração e conservação, recomendam os especialistas. Os cientistas observaram que grandes áreas na Amazônia também são refúgios climáticos importantes.

    Para Alexander Lees, além da necessidade urgente das reduções globais nas emissões de carbono, “a priorização e proteção de refúgios e a restauração de florestas altamente ameaçadas são restritas para mitigar maiores danos aos ecossistemas florestais ambientais globais”, destaca.

    “Os dados do trabalho fornecem novas intenções das mudanças no clima que estão ocorrendo na escala mundial, incluindo a Amazônia. São mudanças que implicam um efeito de perda da biodiversidade e aquecimento global com a perda de integridade de nossas florestas. Essas evidências, juntamente às perdas humanas que vivemos, tendo em vista a situação do Rio Grande do Sul, nos convidamos a mudar a nossa abordagem frente ao problema. de vida e agir para resolver esse problema”, finaliza Joice Ferreira.

  • Aroma do café pode ser instrumento para reduzir tabagismo

    Aroma do café pode ser instrumento para reduzir tabagismo

    O aroma prazeroso do café pode ser elemento importante para reduzir o vício do tabagismo. Essa foi a conclusão de estudo preliminar de pesquisadores brasileiros com 60 fumantes, dos quais 30 inalaram fragrância de aroma de pó de café e metade voltou a fumar.

    Os pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) descobriram, em 2014, que a fragrância do café ativa uma região específica no cérebro, que faz parte do sistema de recompensas, em especial o núcleo acumbens, estrutura cerebral que é ativada também com substâncias psicoativas, como a cocaína. “Esse sistema de recompensas é ativado com atividades prazerosas como, por exemplo, escutar música, ter relações sexuais, tudo que dá prazer, beber água inclusive, mas também é um sistema que pode ser mal utilizado por meio de substâncias psicoativas”, confirmou a pesquisadora do IDOR e diretora científica da Café Consciência, startup de biotecnologia parceira do instituto, Silvia Oigman.

    Como o café ativou de forma intensa essa região do cérebro, os pesquisadores decidiram utilizar o aroma do café para substituir a vontade de fumar dos participantes de um segundo ensaio clínico pequeno, feito com 16 fumantes, em 2016. Esse ensaio serviu de base para o estudo mais amplo, realizado em 2022, com 60 fumantes, cujos resultados foram divulgados agora.

    Resultados

    Silvia Oigman informou nessa segunda-feira (3) que da metade dos 60 fumantes expostos à fragrância do aroma do café, 50% fumaram logo depois que ocorreu a intervenção. Entre a outra metade dos participantes, que não inalou a fragrância do café, mas uma fragrância neutra à base de sabão, 73,3% voltaram a fumar. “Foi um número expressivo, mas não é significativo. Na prática, não houve diferença estatística. Mas é um resultado considerado indicador de potencial dessa abordagem, inclusive porque era um ensaio clínico piloto. A gente estava fazendo um estudo prévio com a fragrância do pó do café. Não é a fragrância final que a gente espera empregar para um paciente de fato”, explicou Silvia.

    Segundo Silvia, o ensaio clínico foi importante para os pesquisadores encontrarem questões a serem resolvidas e fazer um novo ensaio de maior porte. O ensaio clínico foi conduzido durante seis meses. “Não foi tão rápido como a gente gostaria. Quando a gente lida com fragrâncias, como o pó de café e o vinho, eles perdem muitos voláteis. Ainda que o armazenamento e toda a entrega tenham sido monitorados e feitos da melhor forma possível, cai a qualidade pelo tempo”, disse a pesquisadora do IDOR. Esse foi um aspecto que pode ter prejudicado o desempenho da fragrância. “É nesse aspecto que a gente está pretendendo atuar”.

    A pesquisa recebeu investimentos de R$ 373 mil da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

    Produtores de café de Mato Grosso buscam impulsionar a produção na região norte e noroeste do estado

    Formulação terapêutica

    O projeto final visa a utilizar a fragrância do café para redução do desejo de consumo do tabaco por usuários crônicos. Silvia afirmou que a ideia é avançar ainda mais e dar continuidade ao projeto. “A gente entendeu o resultado obtido como um indicador de potencial”. Os pesquisadores estão desenvolvendo agora uma formulação terapêutica à base de voláteis de café e vão adaptá-la em dispositivo eletrônico, para realizar novo ensaio clínico com maior número de fumantes. “Ainda há alguns passos até isso ser feito”. A expectativa é que essa nova fase do projeto seja realizada antes de 2026. A abordagem multidisciplinar é conduzida por especialistas brasileiros em diversas áreas.

    Silvia desconhece a existência de outros grupos de pesquisa que usem a inalação inócua do aroma do café como ativador do sistema de recompensa para fins medicinais. Os resultados obtidos até agora levaram o grupo a depositar e ter concedidas nove patentes nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Mais três patentes estão em andamento no Brasil, na Austrália e no Canadá.

    De acordo com as últimas estimativas do relatório de tendências de tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em janeiro deste ano, há em todo o mundo 1,25 bilhão de adultos usuários de tabaco. O vício de fumar mata mais de 8 milhões de pessoas anualmente, sendo mais de 7 milhões dessas mortes resultado do uso direto do tabaco, enquanto mais de 1,2 milhão das mortes são de fumantes passivos.

    Edição: Graça Adjuto

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  • Produção local pode melhorar alimentação em centros urbanos

    Produção local pode melhorar alimentação em centros urbanos

    Oito em cada dez adultos (78,6%) que vivem em capitais brasileiras mantinham, em 2023, uma alimentação sem a quantidade mínima de frutas, legumes e verduras recomendada, índice que poderia melhorar com o fomento à produção na zona urbana. Esse é um dos alertas feitos por especialistas do Instituto Escolhas e da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

    Em publicação nessa quinta-feira (26), os pesquisadores lembram que a porção diária recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 400 gramas dessa classe de alimentos, essenciais para manter a saúde em dia. Segundo o estudo, menos de um quinto (19%) dos produtos alimentícios adquiridos pelos domicílios (pessoa/ano/kg) foi de frutas, legumes e verduras em 2018. Foram utilizados dados da Vigitel Brasil 2023 – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, do Ministério da Saúde, para dimensionar o contexto atual.

    Alimentos mais saudáveis têm sido substituídos por ultraprocessados, que contêm aditivos químicos e representam risco à saúde, se consumidos com frequência. A ingestão desse tipo de produto preocupa órgãos como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), que divulgou informe destacando que é a favor do aumento da carga de tributos sobre a categoria, como forma de desestimular a compra por parte dos consumidores.

    Na nota, o CNS ressalta que, “de 2006 a 2022, os preços dos alimentos subiram 1,7 vezes mais que a inflação geral (IPCA) e que os alimentos saudáveis tiveram elevação quase três vezes maior, comparados aos ultraprocessados”. Os pesquisadores que assinam o estudo observam que a má alimentação é um fator relacionado ao sobrepeso corporal, à obesidade e ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, diabetes e as doenças cardiovasculares e respiratórias.

    Uma das saídas apontadas pelos autores da pesquisa é estimular a rede de produção de alimentos saudáveis localmente. “Quando o alimento é produzido perto dos consumidores, há potencial redução dos custos de transporte e comercialização, que se reflete no preço final. Circuitos curtos de comercialização estimulam a venda direta dos alimentos produzidos pelos agricultores locais aos consumidores das cidades, sem a necessidade de muitos intermediários ou deslocamentos”, afirmam.

    Estimativas do Instituto Escolhas, mencionadas no estudo, indicam que a região metropolitana de São Paulo, por exemplo, teria potencial para abastecer 20 milhões de pessoas com legumes e verduras todos os anos, caso iniciativas dessa natureza fossem incentivadas. No caso de Belém, Curitiba, do Rio de Janeiro e Recife, o contingente chegaria a 1,7 milhão, 551.910, 372.376 e 252.424 pessoas por ano, respectivamente.

    Edição: Graça Adjuto

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  • Estudo relaciona condições de trabalho e adoecimento mental

    Estudo relaciona condições de trabalho e adoecimento mental

    Enfermeiros – assim como outros profissionais de saúde, ou mesmo de outras áreas – que atuaram na linha de frente durante a pandemia de Covid-19, precisaram encarar a doença em pelo menos dois níveis, o pessoal e o profissional. Preocupados com os efeitos desse esforço em sua saúde mental, pesquisadores de diversas instituições investigaram a relação entre sintomas de sofrimento mental com o perfil social, de saúde e laboral destes dos profissionais da região amazônica, durante a pandemia de covid-19.

    Eles observaram uma relação significativa entre a carga horária de trabalho, os constrangimentos sofridos no período e a existência de doenças pré-existentes com certos sintomas psicopatológicos. A pesquisa foi conduzida a partir da aplicação de questionários com um total de 261 enfermeiros da região Amazônica do Brasil.

    Além do perfil socioeconômico, um questionário de auto-relato sobre sintomas psicopatológicos foi utilizado, visando responder sobre quatro condições: ansiedade, somatização, psicoticismo e obsessividade/compulsividade. “Em nossas conclusões, observamos uma associação significativa entre a carga horária de trabalho e sintomas de ansiedade; o sofrimento de constrangimentos e/ou violências durante o trabalho com sintomas de somatização; e a existências de doenças prévias com sintomas de psicoticismo.”, explica um dos pesquisadores envolvidos, o professor Darci Francisco dos Santos Juntos, da Universidade Federal de Mato Grosso.

    Tensão do período potencializou problemas

    Ansiedade, como muitos já sabem, é um sentimento normal, ligado à preocupação, nervosismo e o medo, mas que pode se tornar um distúrbio quando em níveis muito elevados. A somatização, por sua vez, refere-se aos sintomas físicos que se manifestam relacionados a algum tipo de sofrimento mental, incluindo dores no corpo, alergias, entre outros. E o psicoticismo, por fim, são sintomas de hostilidade e idéias paranóides.

    “Na questão da ansiedade, observamos que maiores jornadas de trabalho, com períodos prolongados de contato com os pacientes durante a pandemia, promovia maior exposição do profissional e aumento do risco e da preocupação com se infectar, o que poderia desencadear a ansiedade e o medo”.

    Quanto à somatização e os constrangimentos sofridos, o pesquisador lembra que foi um período de muita tensão, com agressão verbal, física e psicológica, tanto por parte da sociedade que tentava negar a pandemia, quanto pelos pacientes.

    “Neste caso, havia uma pressão por um atendimento mais rápido, mas a precariedade em que muitos trabalhavam impedia isso, fazendo com que, por vezes, os usuários agissem de forma violenta com a equipe de enfermagem. A violência gera revolta e sofrimento, sentimento de culpa, preocupação, tensão, estresse, desespero, raiva, medo, tristeza, frustração e desinteresse em atuar na área . Esses sentimentos podem, em longo prazo, gerar repercussões negativas para a saúde dos profissionais”.

    Já sobre a relação entre doenças pré-existentes e o psicoticismo, o pesquisador lembra que outros estudos também apontam para prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, hipertensão, etc.) em profissionais da enfermagem. “Isso, somado ao cansaço e ao estresse ocupacional, promovem a falta de tempo do enfermeiro para atividades de autocuidado, o que propicia a ocorrência de adoecimento, como a síndrome de Burnout, e o aparecimento de sintomas psicopatológicos”.

    A fim de combater essas situações, o professor Darci destacou ainda a importância do acolhimento psicológico e de melhores condições de trabalho.

    “Eu gostaria de enfatizar que não é porque cuidamos das pessoas que estamos imunes ao sofrimento. Somos humanos, assim como você que está em casa lendo essa matéria. Somos uma profissão que trabalha muito, mas que apresenta grande desvalorização profissional”, concluiu.

    A pesquisa foi publicada em dezembro de 2023, na Revista Brasileira de Enfermagem, com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade Federal do Amapá, Universidade de São Paulo e Universidade Federal de São Carlos.