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  • Capacitação e assistência técnica são chaves para adoção de tecnologias na produção de erva-mate, aponta estudo

    Capacitação e assistência técnica são chaves para adoção de tecnologias na produção de erva-mate, aponta estudo

    Um estudo realizado por pesquisadores da Embrapa Florestas, Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) identificou os principais fatores que influenciam a adoção de tecnologias por produtores de erva-mate no Brasil. A pesquisa, que entrevistou 470 produtores em 116 municípios dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, revelou que a capacitação dos produtores e a presença de assistência técnica são os elementos mais determinantes para a incorporação de práticas modernas no cultivo da erva-mate.

    “O estudo, conduzido entre 2019 e 2020, envolveu os quatro estados produtores e se destaca por oferecer dados robustos, capazes de representar cerca de 10% dos agricultores que atuam na atividade, com aproximadamente 15% da área total de produção, segundo os dados fornecidos pelo IBGE”, explica Ives Goulart, analista da Embrapa Florestas e primeiro autor do artigo, publicado na revista Caderno Pedagógico. Entre as tecnologias analisadas estão a análise de solo, adubação, uso de calcário, cobertura vegetal, mudas melhoradas, manejo da altura dos galhos produtivos, percentual de folhas remanescentes após a colheita e renovação por decepa.

    Baixa produtividade e desafios tecnológicos

    A erva-mate é uma cultura de grande importância econômica e cultural na região Sul do Brasil, especialmente para a agricultura familiar. No entanto, a produtividade média dos ervais comerciais, que frequentemente são manejados com baixa tecnologia, está abaixo do potencial produtivo da cultura. Enquanto áreas de pesquisa alcançam produtividades de até 35 toneladas por hectare (t/ha), a média nacional, em 2023, foi de apenas 8,5 t/ha.

    Os resultados mostraram que a escolaridade dos produtores e a participação em capacitações sobre erva-mate aumentam significativamente a probabilidade de adoção de tecnologias. Por exemplo, um aumento no nível de escolaridade eleva em 26% a chance de o produtor realizar análise de solo. Além disso, a presença de assistência técnica foi um fator crucial, com produtores que recebem visitas técnicas tendo até 2,326 vezes mais chances de adotar práticas como a análise de solo e a adubação. “Produtores que contam com orientação regular e participam de cursos ou dias de campo tendem a incorporar mais práticas recomendadas”, aponta o analista da Embrapa.

    Resistência cultural e desafios históricos

    Outro ponto fundamental verificado pelo estudo é o impacto da tradição familiar na resistência a mudanças. Em propriedades que cultivam erva-mate por diversas gerações, foi observada uma tendência a manter práticas mais antigas, mesmo quando já existem alternativas mais produtivas e sustentáveis. “A chance de adotar adubação cai 43% quando o produtor vem de uma família tradicionalmente envolvida na produção de erva-mate. Esse comportamento pode estar relacionado a práticas extrativistas herdadas de gerações anteriores, que muitas vezes não incluem o uso de tecnologias modernas”, conclui o analista.

    Por outro lado, o tamanho da propriedade, aspectos econômicos e como acesso ao financiamento agrícola não se mostraram significativos para a adoção de tecnologias, contrariando expectativas iniciais dos pesquisadores. Isso sugere que políticas públicas focadas em capacitação e extensão rural podem ser mais eficazes do que investimentos em crédito agrícola para impulsionar a modernização do setor.

    Impacto das tecnologias na produtividade

    O estudo também confirmou que a adoção de tecnologias causou um impacto significativo na produtividade. Produtores que adotaram as oito tecnologias estudadas alcançaram uma produtividade média de 17,4 t/ha, enquanto aqueles que não adotaram nenhuma tecnologia tiveram uma média de apenas 5,0 t/ha. O estudo também revelou que o conhecimento do custo de produção influencia na adoção de técnicas, como a adubação, por exemplo. “Entender quanto custa produziros gastos e o retorno potencial deixa o produtor mais confiante em investir. A erva-mate é uma das poucas culturas onde a melhoria de manejo impacta tão fortemente.”, afirma.

    Recomendações para o setor

    Os pesquisadores recomendam que políticas públicas priorizem a capacitação de produtores e extensionistas rurais, além da atualização da grade curricular de cursos técnicos e superiores relacionados à cultura da erva-mate. A assistência técnica, em particular, deve ser estimulada e fortalecida, já que se mostrou um fator crítico para a adoção de tecnologias. “O aumento da renda da erva-mate ao produtor depende da melhoria do manejo dos cultivos por meio da adoção de tecnologias sustentáveis de produção”, afirma.

    Além disso, Goulart enfatiza a importância de se focar em soluções de baixo custo, que gerem ganhos mais imediatos para subsidiar o retorno do investimento. O levantamento reforça que ações simples, por exemplo, adequar a poda e o intervalo de colheita podem elevar o produtor a um patamar de produtividade mais alto e, a partir daí, viabilizar tecnologias mais avançadas, como o uso de cultivares específicas e de maior produtividade.

  • Erva-mate: Em meio à crise, os produtores buscam soluções para recuperação de áreas afetadas pelas chuvas

    Erva-mate: Em meio à crise, os produtores buscam soluções para recuperação de áreas afetadas pelas chuvas

    Um encontro do Recupera Rural RS, programa capitaneado pela Embrapa, reuniu pesquisadores e técnicos extensionistas para discutir os impactos das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul e as consequências ao setor ervateiro. As discussões tiveram como foco as perdas na produção de erva-mate, a recuperação de áreas afetadas e a necessidade de ações conjuntas para minimizar os danos. A reunião foi realizada durante o 3º Seminário Erva-mate XXI, organizado pela Embrapa Florestas, em Curitiba/PR.

    Durante a reunião, foi apresentado o relatório de danos modificados pela Emater-RS/Ascar para todo o Rio Grande do Sul. A perda de solo das encostas e o assentamento dos rios foram indicados como os maiores problemas, além da deposição de sedimentos sobre áreas de cultivos agrícolas. Na verdade, há relatos de perdas de milhares de animais.

    No caso da erva-mate, cerca de 200 hectares foram afetados diretamente, com perdas de plantas por penetração de terras. Outro problema foi a queda de folhas por conta dos alagamentos. Em relação ao solo, as enxaurradas erodiram parte dos horizontes superficiais, justamente os que contêm a maior proporção de fertilidade. Além disso, o escoamento da erva-mate colhida tem sido prejudicado pela destruição de estradas vicinais ainda não reconstruídas, impactando as colheitas que estão sendo realizadas.

    Alguns problemas indiretos também afetaram a cadeia ervateira, como a redução drástica de mão de obra, uma vez que houve migração de trabalhadores para regiões não afetadas. A perda de mercado é outro aspecto mencionado na reunião: é no Vale do Taquari, região fortemente afetada pelas enchentes, que são muitos dos compradores da erva-mate produzida nos pólos ervateiros. Além disso, o próprio mercado consumidor da região metropolitana de Porto Alegre apresenta redução no consumo e estes fatores preocupam o setor ervateiro.

    “Tivemos, sim, áreas de produção onde houve penetração de terra em encostas, mas com impacto menor quando comparado a outras culturas”, explica Antônio Borba, extensionista da Emater-RS/Ascar. “No entanto, boa parte da produção ia para vendedores especializados na região mais afetada, e estes não estão conseguindo absorver a produção”, explica. Borba ainda destacou a necessidade de valorizar o planejamento de microbacias e o uso de instrumentos de gestão como o Zoneamento Ecológico e Econômico e os Comitês de Bacias.

    A necessidade de investimento para a recuperação da vegetação nativa e das áreas de preservação permanente também foi apontada como um ponto crucial. Os participantes da reunião concordaram que a recuperação das áreas afetadas requer ações coordenadas e investimentos em longo prazo. “A Embrapa está à disposição para auxiliar os técnicos e produtores com pesquisas, informações e tecnologias para a recuperação do solo e da vegetação”, enfatizou Edina Moresco, Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Florestas. “O programa Recupera Rural RS é uma iniciativa que visa congregar ações para que possamos fornecer rapidamente soluções ao Rio Grande do Sul”, explica.

    A necessidade de ações para a recuperação das matas ciliares e áreas de preservação permanente também foi destacada, com o objetivo de evitar novos desastres e proteger as áreas de produção.

    A reunião contou com a participação de aproximadamente 20 pessoas, entre elas, representantes da Emater-RS/Ascar, Embrapa Florestas, Embrapa Clima Temperado e o IDR Paraná. No Seminário, o grupo de extensionistas participou de extensa programação técnica, que envolveu diversos aspectos tecnológicos para o cultivo da erva-mate, incluindo manejo sustentável do solo e de planejamento, entre outros.