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  • Busca por minerais da transição energética acelera crise climática

    Busca por minerais da transição energética acelera crise climática

    A procura no Brasil por minerais usados na transição energética acelera a crise climática no Pará (PA), na Bahia (BA), em Goiás (GO) e em Minas Gerais (MG), os principais produtores de minérios do país, com “mudanças consideráveis nos padrões climáticos em curto prazo (até 2030)”.

    Essa é a conclusão de estudo inédito divulgado nesta quarta-feira (23) pelo Observatório da Mineração a partir de dados elaborados pela consultoria TMP, que analisa eventos climáticos extremos.

    Araçuaí (MG), 22/04/2025 - Cleonice Pankararu, da Aldeia Cinta Vermelha Jundiba. Mineração da transição energética. Foto: Cleonice Pankararu/Arquivo Pessoal
    Cleonice Pankararu vice em uma uma aldeia no município de Araçuaí (MG) próxima a áreas de extração de lítio – Foto: Cleonice Pankararu/Arquivo Pessoal

    “Uma empresa de mineração de lítio chegou no Vale do Jequitinhonha [MG] e derrubou mil árvores em uma região semiárida como a nossa. O impacto para qualidade do ar e da água é muito grande. O Rio Araçuaí e o Rio Jequitinhonha estão quase desaparecendo”, alertou a indígena Cleonice Pankararu, de 58 anos.

    A liderança do povo Pankararu vive em uma aldeia no município de Araçuaí (MG) próxima a áreas de extração de lítio – um dos mais procurados minerais da indústria da transição energética, usado para produção de baterias de carros elétricos.

    Calor e chuvas fortes fora de época, aumento dos dias secos consecutivos, perda anual de chuvas e temperaturas extremas são alguns dos efeitos climáticos esperados com a expansão da mineração nesses estados.

    “A mineração tem se vendido como uma ‘solução’ verde sustentável para a transição energética. Estamos saindo de uma dependência fóssil para outra ainda maior de base mineral que requer a abertura de centenas, talvez milhares, de minas em áreas sensíveis, como a Amazônia e o Cerrado”, explicou o diretor do Observatório da Mineração, Maurício Angelo.

    A consultora do observatório, Gabriela Sarmet, destacou que o relatório mostra que a segurança climática está em risco pela disputa geopolítica por esses minérios da transição. “Estamos criando zonas de sacrifício no Brasil para atender à demanda de descarbonização do Norte”, disse, referindo-se aos países mais desenvolvidos, localizados principalmente no Hemisfério Norte.

    Da base fóssil à base mineral

    O especialista Maurício Angelo, doutorando em ciência ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), alertou à Agência Brasil que uma mina sempre vem acompanhada por gigantescas obras de infraestrutura com consideráveis impactos ambientais e sociais.

    “Ancoradas nas melhores bases científicas, nossas previsões mostram que as emissões de gases da mineração para transição energética serão enormes. Não dá para dizer que a transição energética está assegurada com a troca de uma base fóssil por uma base mineral. Estamos trocando um problema por outro”, disse Angelo.

    Para o especialista, é preciso superar o atual modelo de desenvolvimento para amenizar a crise climática. “Temos que questionar o padrão de consumo que importamos para o Brasil, muitas vezes, dos Estados Unidos. Esse padrão de produção e consumo é incompatível com os limites do planeta”, avaliou.

    O estudo lembra que o Brasil tem se posicionado como um dos principais fornecedores de minerais para a transição energética. São previstos investimentos de US$ 64 bilhões até 2028 para a expansão do setor mineral no país.

    Araçuaí (MG), 22/04/2025 - Indígenas da Aldeia Cinta Vermelha Jundiba. Mineração da transição energética. Foto: Cleonice Pankararu/Arquivo Pessoal
    Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, em Araçuaí (MG) – Foto: Cleonice Pankararu/Arquivo Pessoal

    Vale do Lítio

    O território indígena onde fica a aldeia de Cleonice Pankararu, no Vale do Jequitinhonha, tem sido chamado de Vale do Lítio devido às grandes reservas do mineral usado na transição energética.

    A liderança indígena disse à Agência Brasil que a extração do mineral na região começou em 2017 e que, desde então, as explosões com dinamite, a poeira das minas e a contaminação dos rios têm causados problemas de saúde na população local.

    “Antes do lítio, não tinha tanto problema de saúde. A gente gripava e demorava a gripar de novo. Agora, a gente gripa constantemente e temos muito problemas gastrointestinais. É muito mesmo. As pessoas estão com muita diarreia”, contou Cleonice Pankararu.

    Minas Gerais detém 80% das reservas nacionais de lítio, e o principal polo de extração é o Vale do Jequitinhonha. “Com mais sete projetos em andamento, espera-se que a produção de lítio aumente cinco vezes até 2028 e atraia US$6 bilhões em investimentos na próxima década”, diz o estudo.

    Água e luz

    Na avaliação dos pesquisadores, o uso intensivo de água pela mineração deve agravar a escassez das bacias hidrográficas. “A extensão dos rios já diminuiu em grande parte de Minas Gerais, Goiás e Bahia, apontando para a redução da disponibilidade de água e o aumento da competição por recursos”, diz o levantamento.

    Como a maioria parte da energia brasileira vem das hidrelétricas, a pesquisa considera que a mineração pode prejudicar o fornecimento de energia elétrica no Brasil.

    “A siderúrgica e a mineração usam quantidade desproporcional de eletricidade, consumindo cerca de 11% da produção nacional em 2021, apesar de contribuírem apenas com cerca de 3% do PIB [Produto Interno Bruto]”, acrescentou.

    A análise hidrológica do estudo revelou que de 32% a 39% das sub-bacias de Minas Gerais, Goiás e Bahia registraram um declínio na extensão dos rios em um nível considerado de “alto risco” (ou seja, um declínio de mais de 10%), entre o final do século 20 e o início do século 21.

    “Isso provavelmente é resultado da crescente demanda de água devido ao crescimento populacional e à expansão associada de atividades industriais como agricultura, geração de energia (especialmente hidrelétrica) e mineração”, diz o documento.

    Brasília (DF), 22/04/2025 - De 32% a 39% das sub-bacias de Minas Gerais, Goiás e Bahia registraram um declínio na extensão dos rios em um nível considerado de “alto risco” (ou seja, um declínio de mais de 10%), entre o final do século 20 e o início do século 21. Arte: TMP e Watermarq/Divulgação

    De 32% a 39% das sub-bacias de Minas, Goiás e Bahia registraram declínio na extensão dos rios em nível considerado de “alto risco” entre o final do século 20 e o início do século 21. Arte: TMP e Watermarq/Divulgação

    Pará

    O Pará – sede da Conferência para Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP30) deste ano – é a unidade da federação com mais riscos de eventos climáticos extremos decorrentes da ampliação da mineração. O estado é responsável por cerca de 90% da produção de alumínio no Brasil.

    “Enquanto o mundo se prepara para a COP30 em Belém, a corrida pelos chamados minerais críticos está acelerando a crise climática na Amazônia”, disse Gabriela Sarmet.

    Recomendações

    O estudo traz uma série de recomendações para os governos, agências de fiscalização e empresas para mitigar os efeitos climáticos causados pela expansão de mineração nesses quatros estados brasileiros.

    “O gerenciamento dos impactos adversos da mineração exigirá das empresas uma abordagem proativa para a gestão de riscos, estruturas políticas sólidas para garantir incentivos eficazes, supervisão robusta por parte das autoridades”, diz o documento.

    Maurício Angelo, diretor do Observatório da Mineração, pondera que as recomendações terão pouco efeito se o Estado não assumir seu papel de fiscalizador do setor mineral. “Não é razoável que o Estado se comporte como sócio das mineradoras e abra mão do seu papel de ser um fiscalizador e regulador da atividade mineral”, completou.

    Futuro

    No Vale do Jequitinhonha, em Minas, enquanto aguarda a demarcação da terra hoje ocupada pelos pataxó e pankararu, em Araçuaí, a liderança Cleonice Pankararu, que tem três filhas e uma neta, teme que a expansão do lítio inviabilize o modo de vida dos povos indígenas e tradicionais da região.

    “Nossa preocupação é a mineração porque ela está indo muito rápido. Os licenciamentos ambientais em Minas estão soltos demais. É muito fácil pegar uma licença para desmatar, para minerar. E temos um Congresso que não apoia os povos indígenas nem o meio ambiente. E aí a mineração avança”, lamentou.

  • Governo amplia para 48% a meta de redução da emissão de gases de efeito estufa até 2025

    Governo amplia para 48% a meta de redução da emissão de gases de efeito estufa até 2025

    O Governo Federal ampliou o compromisso brasileiro de redução da emissão de gases de efeito estufa de 37% para 48% até 2025. Para 2030, a previsão passou de 50% para 53%. O anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, nesta quarta-feira (20/09), durante a abertura da Cúpula da Ambição Climática, evento que integra a programação da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, Em Nova York (EUA).

    Na ocasião, a ministra fez a leitura de uma carta, em nome do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e destacou o compromisso do governo em zerar o desmatamento até 2030, reforçando que também é necessário um olhar mais incisivo sobre as metas de emissões dos gases de efeito estufa.

    “O mundo requer uma transição energética mais ampla. O Brasil, que já tinha uma das metas climáticas mais ambiciosas do mundo, decidiu ir além. Tenho a satisfação de anunciar hoje que vamos atualizar nossa contribuição nacionalmente determinada no âmbito do Acordo de Paris. Vamos retomar o nível de ambição que apresentamos originalmente na COP21 e que tinha sido alterado no governo anterior”, afirmou a ministra, completando que o Brasil decidiu reduzir a emissão de 37% para 48% até 2025, e de 50% para 53% até 2030.

    De acordo com a carta do Presidente Lula, as mudanças climáticas já atingem diretamente mais de 3 bilhões de pessoas, sobretudo em países de renda baixa ou média. “São os mais pobres, mulheres, indígenas, idosos, crianças, jovens, imigrantes os mais impactados. Nenhum país deve ter que escolher entre lutar contra o aquecimento global ou combater a fome ou a pobreza. Esse é um falso dilema, todos temos o compromisso ético de fazer ambos”, destacou o documento.

    COP30
    Marina Silva chamou atenção também para a importância da 30ª edição da Conferência do Clima das Nações Unidas, que será realizada em novembro de 2025. A COP30 será a primeira organizada na região amazônica, em Belém, no Pará. “Foi para continuar avançando na construção de um consenso social sobre esses temas que nos propusemos a sediar a COP30, em 2025, em Belém. Ela será a COP mais importante, desde o acordo de Paris. Antes disso, sediaremos a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, em 2024. Em nossa presidência no G20 lançaremos uma força-tarefa sobre a mobilização global contra a mudança do clima. Constituiremos um mundo justo e um planeta sustentável”, concluiu a ministra.Por: Agência Gov
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