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  • Manejo da mancha-alvo é tema do SojaTalks

    Manejo da mancha-alvo é tema do SojaTalks

    A mancha-alvo é uma doença causada pelo fungo Corynespora cassiicola, cuja  incidência tem aumentado na cultura da soja em razão do aumento da semeadura de cultivares suscetíveis, da utilização de culturas em sucessão que são hospedeiras do fungo, como o algodão e a crotalária e da menor sensibilidade e/ou maior resistência do fungo a fungicidas. Para debater esse tema, o SojaTalks, programa da Embrapa Soja no Spotify, entrevistou o pesquisador Maurício Meyer.

    Meyer explica que as estratégias de manejo recomendadas para essa doença são: a utilização de cultivares resistentes/tolerantes, o tratamento de sementes, a rotação/sucessão de culturas com milho e outras espécies de gramíneas e o controle químico com fungicidas. Além da soja, o pesquisador relata que o fungo, causador da doença, infecta mais de 400 espécies de plantas, entre elas importantes culturas como o algodão, o mamão, a seringueira, o tomate, o feijão, a crotalária e diversas plantas daninhas. Além disso, o fungo pode sobreviver em sementes infectadas e em restos de cultura e formar estruturas de sobrevivência.

    A publicação Eficiência de fungicidas para o controle da mancha alvo, Corynespora cassiicola, na cultura da soja, na safra 2023/2024: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos, traz um comparativo sobre a eficiência de fungicidas registrados e em fase de registro para o controle da mancha-alvo na cultura da soja. Os resultados vêm sendo gerados, desde a safra 2011/2012, por uma rede de pesquisa, formada por diferentes instituições brasileiras.

  • Oeste baiano supera Minas Gerais e se torna o maior polo de irrigação do Brasil

    Oeste baiano supera Minas Gerais e se torna o maior polo de irrigação do Brasil

    O extremo oeste da Bahia conquistou o posto de maior polo de irrigação por pivôs centrais no Brasil, ultrapassando o Noroeste de Minas Gerais, que liderava o ranking até recentemente. A revelação é de levantamento realizado pela Embrapa, com dados até outubro de 2024, que mostrou uma expansão de quase 300 mil hectares irrigados no País em relação à última análise, feita em 2022, pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). De acordo com o levantamento atual, 2,2 milhões de hectares são irrigados por pivôs centrais no Brasil. Em 2022, a área correspondia a 1,92 milhão de hectares.

    “Os dados de hoje revelam um crescimento em áreas irrigadas acima de 14% em apenas dois anos, comprovando a dinâmica do setor,” declara o pesquisador Daniel Guimarães, da área de Agrometeorologia da Embrapa Milho e Sorgo (MG), um dos autores do estudo, que contou com a participação da pesquisadora da área de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, Elena Charlotte Landau.

    Acréscimo de 140 mil ha e 3,8 mil pivôs de irrigação

    Os resultados obtidos com o levantamento mostraram uma área de 2.200.960 hectares irrigada por 33.846 pivôs centrais, com um acréscimo de 140.842 hectares e 3.807 novos equipamentos de irrigação. “Os municípios com as maiores áreas irrigadas por pivôs centrais no País são São Desidério, na Bahia, com 91.687 hectares; Paracatu, em Minas, com 88.889 hectares; Unaí, também em Minas Gerais, com 81.246 hectares; Cristalina, em Goiás, com 69.579 hectares; e Barreiras, na Bahia, com 60.919 hectares”, enumera o pesquisador.

    De acordo com Guimarães, esse crescimento está relacionado às condições topográficas, às facilidades de implantação dos empreendimentos, ao uso das águas do Aquífero Urucuia e ao armazenamento da água de irrigação em tanques de geomembrana. “As tendências de crescimento das principais áreas irrigadas mostram que em breve o município de Barreiras (BA), também deverá superar Cristalina, (GO)”, adianta o pesquisador. Segundo ele, Minas Gerais continua sendo o estado com maior área irrigada por pivôs centrais no País (637 mil hectares), e a Bahia superou Goiás, ocupando atualmente o segundo lugar, com uma área irrigada de 404 mil hectares.

    Entre os biomas brasileiros, mais de 70% dos equipamentos de irrigação estão localizados no Cerrado, e apenas o Pantanal não registrou o uso de irrigação por pivôs centrais no atual levantamento. Mais de 70% dos equipamentos de irrigação do País usam águas oriundas das bacias hidrográficas do Rio Paraná (37,7%) e do Rio São Francisco (33,1%). “O dimensionamento das áreas irrigadas e o status de uso desses equipamentos (inativos ou cultivados) são fundamentais para a gestão eficiente dos recursos hídricos no País, além de permitirem a expansão dessa atividade de forma sustentável e reduzirem os conflitos pelo uso da água”, analisa o pesquisador.

    Maioria da produção agrícola brasileira depende das chuvas

    Apesar de o Brasil ser um dos grandes produtores globais de alimentos, bioenergia e fibras, a maior parte de sua produção agrícola é baseada em sistemas de sequeiro, ou seja, dependente das chuvas. “A área brasileira irrigada, de acordo com as atuais estatísticas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), corresponde a apenas 2,6% da área irrigada global, apesar de termos cerca de 12% da água superficial e as maiores reservas de água subterrânea (aquíferos) do planeta”, analisa Guimarães.

    “A área total irrigada do Brasil, de cerca de 9,2 milhões de hectares – incluídos todos os sistemas de irrigação como o uso de gotejamento, inundação e aspersão convencional, por exemplo – é menor que as áreas irrigadas do Irã e Paquistão, três vezes menores que a dos Estados Unidos e oito vezes menor que as áreas irrigadas da China e Índia”, compara o pesquisador.

    As principais vantagens do uso da irrigação, segundo ele, estão relacionadas ao aumento da produtividade por área (entre duas e três vezes em relação aos cultivos não irrigados), qualidade e estabilidade da produção, produção na entressafra, além da redução na pressão para expandir a fronteira agrícola.

    A desvantagem, conforme o cientista, está no grande consumo de água dos mananciais. A maioria dos aquíferos está em processo de depleção, em que a recarga é menor que o volume retirado, como o Aquífero Ogalalla, nos Estados Unidos, principal fonte de água do estado de Nebraska, que tem a maior área irrigada daquele país.

    “O rebaixamento do nível de água dos aquíferos traz grandes desafios para a produção de alimentos no futuro associados à menor oferta de água em longo prazo, maiores custos de bombeamento, redução nas vazões das águas superficiais e tendência de salinização das águas subterrâneas”, alertam Guimarães e Landau.

    Ainda segundo eles, os eventos climáticos extremos, como estiagens prolongadas, ondas de calor e excesso de chuvas, têm impactado de forma negativa a produção agrícola de sequeiro no Brasil, além de provocar abalos no mercado interno e na pauta das exportações. “Essas volatilidades inerentes à produção de sequeiro têm refletido na tendência de crescimento da agricultura irrigada no Brasil”, completa o pesquisador.

    Além das vantagens comparativas do Brasil em termos de quantidade e qualidade das águas superficiais e subterrâneas, a Agência Nacional de Águas faz o monitoramento dos recursos hídricos e das principais fontes de consumo. A agricultura irrigada é a principal usuária desses recursos, especialmente no caso da irrigação de arroz e cana-de-açúcar por pivôs centrais.

    De acordo com ambos os pesquisadores da Embrapa, o sistema de irrigação por pivôs centrais apresenta a maior tendência de crescimento e vem sendo monitorado desde 1985, por meio de parcerias da Agência Nacional de Águas com a Embrapa e outras instituições.

  • Uso do trigo para produção de etanol é tema de capacitação com cooperativas do Brasil

    Uso do trigo para produção de etanol é tema de capacitação com cooperativas do Brasil

    A Embrapa Agroenergia recebeu no início deste mês um grupo de 25 técnicos ligados à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), parte do encerramento da capacitação “Embrapa e Sistema OCB em trigo tropical”, promovida pela Embrapa Trigo ao longo de 2024.

    Em Brasília, a equipe participou de um encontro que discutiu a possibilidade de utilizar o trigo para a produção de etanol, no contexto da transição energética, que incluiu a visita à Embrapa Agroenergia. O grupo foi recebido pelo Chefe-Geral Alexandre Alonso, que falou sobre o crescimento do movimento de utilização de grãos e cereais como matérias-primas para a produção de biocombustíveis. “Embora tenha iniciado há poucos anos, o movimento de produção de etanol a partir de cereais já alcança uma relevância significativa. Esse crescimento abre a oportunidade de conectar a expansão da produção de trigo com as agendas de segurança alimentar e energética, criando novas possibilidades de negócios para produtores e cooperativas”, ressaltou Alonso.

    Para Bruno Laviola, Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, o encontro foi um momento importante para debater com os técnicos cooperados sobre as oportunidades e desafios para o trigo tropical no contexto bioenergia. “O uso do trigo para a produção de etanol tem despertado interesse de usinas no Brasil. Vale ressaltar que a transição energética é um desafio global e urgente, demandando a substituição de fontes fósseis por alternativas renováveis. Esse movimento é fundamental para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas”, explicou.

    Giovani Faé, Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, contou que o treinamento com as cooperativas é realizado há dez anos e este é o primeiro ano com foco no trigo tropical. “Estamos encerrando o treinamento na Embrapa Agroenergia porque o trigo tem uma cadeia bem diversa. Recentemente, está surgindo um mercado de etanol amiláceo e trazer esse grupo das cooperativas para a Embrapa Agroenergia para entender todas as oportunidades é extremamente relevante para conseguirmos, cada vez mais, gerar valor, viabilizar essa cultura para o produtor ter mais liquidez e extrair todo o ganho ambiental que o trigo traz no sistema de produção”, disse Faé.

    A produção de etanol, com ênfase no uso de grãos e cereais de inverno como matéria-prima, foi um dos temas abordados durante o encontro, incluindo as oportunidades e desafios relacionados ao controle de micotoxinas durante o processo produtivo. Esses assuntos foram apresentados aos técnicos em palestras conduzidas pelos pesquisadores Maurício Lopes e Félix Siqueira.

    Luan Pivatto, do departamento técnico da Cooperativa Cooperalfa, achou interessante as informações sobre a produção de bioenergia por meio de biomassa: “Várias informações que eu não tinha conhecimento, como a produção de biomassa através de bambu, foram muito interessantes. Essa agenda de aumento de etanol no combustível fortalece toda a cadeia de produção de cereais. Nossa macrorregião pertence ao Cerrado e a evolução do trigo tropical passa por esse treinamento que a gente está fazendo. Está sendo muito produtivo”, avaliou.

    Possibilidades de parcerias

    O evento também foi importante na perspectiva de gerar, por parte das cooperativas, interesse em algumas das linhas de pesquisa da Embrapa Agroenergia. Juliana Evangelista, Chefe de Transferência de Tecnologia, falou sobre os modelos tradicionais de parcerias e cooperação por meio de financiamento. Juliana explicou que a Embrapa Agroenergia tem duas iniciativas importantes: a primeira é o “Portas Abertas”, na qual os laboratórios podem receber empresas e utilizar a infraestrutura da Unidade, e a outra é o credenciamento da Embrapa Agroenergia junto à Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), empresa federal que pode fazer aporte financeiro nos projetos para a inovação industrial.

    Segundo o modelo de fomento, os recursos Embrapii podem ser utilizados para custear 1/3 do valor de cada projeto em parceria com empresas. A indústria parceira fica responsável por financiar mais 1/3 do montante e a Embrapa completa o terço restante, que corresponde a infraestrutura e pessoal.

    O encontro finalizou com uma visita guiada aos laboratórios e áreas experimentais da Embrapa Agroenergia, conduzida pelo supervisor do Setor de Gestão de Laboratórios Felipe Carvalho.

  • Podridão dos grãos da soja: produtores do MT relatam situação das lavouras

    Podridão dos grãos da soja: produtores do MT relatam situação das lavouras

    Para obter informações na região do Médio Norte de Mato Grosso sobre a podridão dos grãos da soja, a Embrapa e a Croplife do Brasil promoveram reuniões com 16 produtores de soja em Sorriso, membros da Cooperativa Agropecuária e Industrial Celeiro do Norte (Coacen) e da Cooperativa Agropecuária Primavera (Coap), e com um consultor em Sinop entre os dias 2 e 6 de dezembro.

    Os encontros foram realizadas pelo pesquisador da Embrapa Cerrados (DF) Auster Farias e o consultor Nery Ribas e integram ações de um projeto com a participação da Embrapa Cerrados, da Embrapa Soja (PR) e da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) em cooperação com a Croplife do Brasil.

    A podridão de grãos tem causando perdas na soja na região desde a safra 2019/2020 e destacadamente nas safras 2020/2021 e 2021/2022. Desde então, a Embrapa e parceiros vêm desenvolvendo trabalhos principalmente no manejo de fungicidas, na avaliação de cultivares para reação à podridão e em metagenômica, visando à identificação detalhada das causa da podridão.

    “Todos os produtores nos relataram a presença da podridão de grãos em suas lavouras nos últimos anos, porém em níveis aceitáveis. O controle da podridão está sendo possível devido ao manejo robusto de fungicidas e pelo plantio de cultivares com maior nível de resistência”, informa Farias, salientando que a recomendação de manejo de fungicidas e a identificação das cultivares mais resistentes são frutos de trabalhos realizados pela Embrapa em cooperação com diversos parceiros em Mato Grosso.

    Segundo o pesquisador, outro ponto interessante discutido nas reuniões foi a influência da nebulosidade, especialmente na fase de florescimento e enchimento de grãos, na produtividade das lavouras da região. “Os produtores foram praticamente unânimes em relatar que em anos de muita nebulosidade as lavouras têm queda em produtividade”, afirma.

    A Embrapa e a Croplife do Brasil promoverão outras reuniões com produtores da região em 2025, tanto de forma presencial e como virtual.

  • Desenvolver a computação quântica é fator estratégico para a agricultura do Brasil

    Desenvolver a computação quântica é fator estratégico para a agricultura do Brasil

    Uma tecnologia emergente promete impulsionar a agricultura digital e impactar profundamente áreas de pesquisa agropecuária: a computação quântica. Com potencial para resolver problemas complexos de forma mais rápida e precisa, essa inovação pode ser aplicada em áreas como agricultura inteligente, modelagem climática, sensoriamento remoto e bioinformática, segundo estudo da Embrapa Agricultura Digital (SP) com apoio do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

    Publicado na revista científica Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB), o artigo analisa as aplicações e os desafios da computação quântica no agro e a colocam como estratégica para o futuro do setor. “Pesquisas na fronteira do conhecimento, como em computação quântica, podem apoiar a tomada de decisões em diferentes elos das cadeias produtivas do setor de forma mais eficiente, pois envolvem processos com elevado grau de incerteza, desde o plantio até a comercialização da produção agrícola”, explica Édson Bolfe, pesquisador da Embrapa e coautor do estudo.

    Como funciona a computação quântica?

    O coordenador do trabalho, o pesquisador Kleber Souza, explica que, diferentemente do que hoje se vê em funcionamento em automóveis, aparelhos celulares e computadores domésticos, os novos equipamentos utilizam propriedades da física quântica para realizar operações de armazenamento e processamento de informações e resolver problemas complexos. Tais máquinas têm potencial superior em termos de qualidade e velocidade de respostas ao testarem múltiplas possibilidades e variáveis ao mesmo tempo. Desse modo, vão além da alternativa binária (entre dois caminhos por vez) oferecida pelos computadores clássicos, incluindo os supercomputadores.

    Diferentemente dos computadores convencionais, que operam com bits binários (“0” ou “1”), os computadores quânticos utilizam qubits, que podem representar “0” e “1” simultaneamente. Essa característica, conhecida como superposição, permite que esses dispositivos processem múltiplas variáveis ao mesmo tempo, trazendo respostas mais rápidas e detalhadas para problemas complexos.

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    Divulgação Embrapa

    Aplicações da computação quântica na agricultura

    Na prática, a computação quântica já se mostra promissora em diversas frentes. Em modelagem climática, ela será capaz de melhorar a precisão do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), sistema desenvolvido pela Embrapa e utilizado por gestores para elaborar políticas públicas e por instituições financeiras para embasar a concessão de créditos e cálculos de seguro agrícola.

    Na área de fitossanidade, as simulações feitas pela arquitetura quântica ajudarão a identificar precocemente doenças em culturas como soja e milho. O emprego de aprendizado de máquina já resultou em uma tecnologia de identificação precoce de doenças. A computação quântica pode potencializar essas operações.

    Na bioinformática, análises de dados genômicos podem ser altamente aceleradas com a computação quântica, beneficiando estudos de melhoramento genético. O estudo também aponta que, no futuro, a tecnologia poderá integrar sensores avançados e algoritmos de aprendizado de máquina, ampliando ainda mais sua aplicação no campo.

    Desafios e investimentos necessários

    Apesar do potencial promissor, o desenvolvimento de aplicações quânticas para o agro ainda enfrenta desafios. Um dos principais é o custo. Um computador quântico pode custar até 20 milhões de dólares, além de exigir infraestrutura avançada, como temperaturas de operação próximas do zero absoluto e ambientes altamente isolados.

    Mesmo assim, segundo Souza, o domínio da tecnologia quântica será estratégico para o Brasil. “A pesquisa e a educação [voltadas ao tema] são áreas em que o Brasil também terá de investir para garantir a soberania tecnológica e manter a competitividade do setor agropecuário brasileiro”, defende.

    Computação quântica no Brasil

    No Brasil, os desafios para a implantação da computação quântica estão sendo mapeados e importantes iniciativas já estão em curso, ressalta Souza. Em 2022, foi organizado, pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pela Softex o evento “Desafio Brasil Computação Quântica” para discutir a questão.

    No mesmo ano, teve também o lançamento da Rede MCTI-Softex de Tecnologias Quânticas, coordenada pelo Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai). O objetivo é fomentar o ecossistema brasileiro de computação quântica, integrando as ações do governo aos centros de pesquisas, startups e preparar o País para a tecnologia.

    Em 2023, a Embrapa e o Senai Cimatec lançaram uma Unidade Mista de Pesquisa e Inovação Digital em Agricultura Tropical (Umipi DITAg). A parceria viabiliza o compartilhamento das infraestruturas computacionais e equipes das instituições para, a partir do uso de novos sensores, tecnologias quânticas, automação e robótica, alavancar o desenvolvimento de soluções digitais voltadas ao setor agropecuário em áreas como inteligência artificial, agricultura de precisão, internet das coisas, fotônica e rastreabilidade.

    Em 2024, a Fapesp lançou um programa de pesquisa para promover o progresso das tecnologias quânticas, impulsionar o desenvolvimento de startups, atrair investimentos globais e trazer talentos para o estado de São Paulo.

    Capacitação é chave para o avanço

    A Austrália avalia que em 2045 serão necessários 19,4 mil especialistas para suprir a demanda para atuação em computação quântica, relata Souza, ao destacar a pesquisa e a educação como áreas igualmente essenciais para o desenvolvimento dessa área no Brasil.

    Além de infraestrutura, o País precisa investir em formação de especialistas. De acordo com o artigo, países como Austrália e Alemanha já oferecem cursos de engenharia quântica, enquanto no Brasil, instituições começam a adotar programas voltados ao tema. Para Souza, computadores educacionais, acessíveis a partir de 500 dólares, podem ser uma porta de entrada para a capacitação de profissionais e testes iniciais de algoritmos. “Não se consegue fazer muito somente com eles, mas, associados aos serviços em nuvem, podem auxiliar as instituições a empreenderem um planejamento estratégico para incorporar a computação quântica”, avalia.

    Pensando nisso, o artigo apresenta um mapeamento dos serviços e simuladores de computação quântica em nuvem já disponíveis para testes de algoritmos ou até mesmo para a familiarização com essa nova forma de computação.

    Souza destaca que a ideia é aprofundar a pesquisa na vanguarda do conhecimento nesta área aplicada à agricultura digital. O artigo relata que algumas universidades já iniciaram o oferecimento de cursos em Engenharia Quântica. A Universidade Saarland, na Alemanha, iniciou seu curso de graduação em 2019; a Universidade de New South Wales, na Austrália, inaugurou um mestrado em 2021, e a Virginia Tech, nos EUA, em 2022, como um curso de especialização.

    Um olhar para o futuro

    Com simuladores de computação quântica em nuvem já disponíveis, o Brasil tem a oportunidade de acelerar sua entrada nesse campo. “Esses simuladores permitem que empresas e pesquisadores experimentem soluções antes mesmo de adquirir equipamentos físicos”, explica Bolfe.

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    Os autores destacam que, mesmo com o potencial promissor da tecnologia quântica, o seu desenvolvimento continua sendo um desafio para a modelagem de processos biológicos na agricultura, uma vez que eles envolvem ampla gama de variáveis.

    Portanto, a evolução dessas aplicações em diferentes setores produtivos requer desenvolvimento computacional contínuo e treinamento de pessoal para o avanço científico e tecnológico.

    A computação quântica, embora ainda distante da maioria das propriedades rurais, promete ser uma aliada poderosa para enfrentar os desafios da agricultura moderna. Investir em pesquisa, desenvolvimento e capacitação não é apenas uma questão de inovação, mas de garantir que o País continue a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

    Os números da computação quântica

    Escala – A nova tecnologia permite alterar a escala de problemas que é capaz de resolver e como a modelagem é realizada no sistema quântico. Ao invés de processar 10 mil possíveis interações de dados obtidos em campo (solo, planta e clima) em um computador tradicional em determinado tempo, no processamento quântico seria possível processar 100 mil interações nesse mesmo tempo.

    Qubits – Os três bilhões de pares de bases do genoma humano, que requerem 1,5 gigabytes em um computador convencional, podem ser armazenados em aproximadamente 34 qubits de um computador quântico. Duplicando-se a quantidade de qubits para 68, tem-se espaço suficiente para armazenar os genomas de toda a humanidade.

    Mercado – Um exemplo de investimento massivo é a parceria firmada em 2022 entre a Cleveland Clinic e a IBM para a instalação do sistema de computação quântica One. A parceria envolve recursos da ordem de 500 milhões de dólares nos próximos dez anos.  O foco de atuação será em patógenos emergentes e doenças relacionadas a vírus, encurtando pesquisas críticas em tratamentos e vacinas.

  • Pecuária de Precisão auxilia na tomada de decisões e no aumento da eficiência

    Pecuária de Precisão auxilia na tomada de decisões e no aumento da eficiência

    As ferramentas da Pecuária de Precisão podem contribuir para aumentar a produtividade, a eficiência e a rentabilidade dos sistemas de produção. Automação de processos, inteligência artificial, sensores, chips, entre outras tecnologias que permitam o monitoramento contínuo em tempo real de aspectos produtivos, reprodutivos, saúde e bem-estar dos bovinos e controle das áreas de pastagens são essenciais para reduzir o impacto ambiental e melhorar a sustentabilidade da pecuária nacional.

    No livro Agricultura de Precisão: um novo olhar na era digital, lançado em novembro pela Embrapa, há uma seção dedicada para apresentar tecnologias e resultados de pesquisas de vários centros da Embrapa sobre Pecuária de Precisão.

    De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste Alberto Bernardi, que também é editor do livro, os capítulos tratam de diversos assuntos relacionados às tecnologias digitais e de como elas podem aumentar a lucratividade com menor dano ao meio ambiente, com bem-estar animal, diminuição de resíduos e equilíbrio no uso dos recursos naturais. “As  tecnologias digitais que possibilitem identificar e medir os indicadores produtivos, comportamentais e fisiológicos para melhorar a produtividade e bem-estar dos animais podem ser decisivas para tornar a pecuária bovina ainda eficiente. Como já se tem observado no contexto da produção de suínos e aves”, fala Bernardi.

    Os capítulos da seção abordam temas como o uso de robôs na ordenha, drones, softwares e sensores para monitoramento e captura de imagens e movimentos. Essas tecnologias permitem a coleta de dados e a organização e processamento dessas informações para contribuir na tomada de decisões mais acertadas nessa atividade em que o Brasil é um dos principais produtores mundiais de carne e leite bovinos, com rebanho estimado em mais de 230 milhões de animais.

  • Vitrines virtuais disponibilizam tecnologias sustentáveis para a Amazônia na palma da mão

    Vitrines virtuais disponibilizam tecnologias sustentáveis para a Amazônia na palma da mão

    Duas das principais tecnologias sustentáveis da Embrapa para a Amazônia já podem ser acessadas na palma da mão. Uma nova forma de apresentação, as vitrines virtuais mostram Sistemas Agroflorestais (SAFs) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) gratuitamente em computadores, tablets e celulares. A ferramenta só está disponível para aparelhos com sistema operacional Android.

    Uma das maiores vantagens da tecnologia é a possibilidade de baixá-la em celulares simples e acessá-la offline, ou seja, sem conexão com a internet. A funcionalidade democratiza o conhecimento técnico-científico gerado pela pesquisa, permitindo que produtores, técnicos e estudantes tenham acesso a informações de maneira prática e intuitiva, independentemente da localização. Trata-se de uma solução da Embrapa que promove maior eficiência produtiva e resiliência das propriedades rurais frente às mudanças climáticas.

    Preparação para a COP 30 e além

    A cerca de um ano da realização da COP 30 — primeira Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas a ser realizada no Brasil, em Belém do Pará, em novembro de 2025 —, a Embrapa oferece uma imersão virtual completa, do planejamento à execução, em tecnologias validadas para a produção de alimentos. Essas soluções garantem segurança alimentar, ganhos ambientais e vantagens econômicas, reafirmando que é possível produzir na Amazônia sem derrubar árvores, além de restaurar áreas degradadas.

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    Segundo Bruno Giovany de Maria, chefe-adjunto de transferência de tecnologia da Embrapa Amazônia Oriental, a ferramenta é fruto de uma parceria consolidada com o Governo do Estado do Pará, por meio do Programa Territórios Sustentáveis (PTS), executado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). Ele destaca que o grande diferencial das vitrines está na inclusão de públicos de regiões remotas, onde o acesso a capacitações presenciais ou à infraestrutura tecnológica é limitado. “Hoje, em praticamente qualquer lugar, as pessoas têm um celular. Isso permite que o produtor ou técnico visualize, a qualquer momento, como implantar e aplicar essas tecnologias em campo”, explica.

    De Maria também ressalta que as vitrines oferecem uma experiência imersiva, simulando a aplicação das técnicas no campo, com atualizações constantes de conteúdo e acesso à base de dados da Embrapa. “Essa iniciativa não apenas fortalece a transferência de tecnologia, como também democratiza o acesso ao conhecimento técnico essencial para práticas agrícolas mais sustentáveis em diferentes regiões do Brasil”, enfatiza.

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    Foto: Ronaldo Rosa (ILPF em Paragominas)

    Diana Castro, coordenadora de Desenvolvimento Rural Sustentável e Incentivos Econômicos da Semas, reforça a importância das vitrines como ferramentas de disseminação do que a Embrapa e a Semas propõem no âmbito do PTS. “As técnicas de produção de baixas emissões e a restauração produtiva, por meio de sistemas agroflorestais e ILPF, podem agora alcançar a ponta. Temos grande expectativa de que as vitrines sejam utilizadas por extensionistas e produtores rurais na melhoria dos sistemas produtivos e no desenvolvimento local”, afirma Castro. “A parceria com a Embrapa destaca a importância da pesquisa agropecuária para a formulação e implementação de políticas públicas de enfrentamento às mudanças climáticas, fortalecendo as economias locais com a preservação da biodiversidade”, complementa.

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    Ferramenta democratiza tecnologias de produção agrícola para desenvolvimento local

    Depois do sucesso da primeira vitrine virtual da Embrapa no Pará, integrada ao curso online “Manejo da cultura do açaí em terra firme: da semente à pós-colheita e processamento”, lançado na plataforma e-Campo em 2020, a instituição percebeu nas ferramentas digitais a melhor forma de levar sua expertise além das barreiras geográficas. O curso, que já atingiu mais de 1,7 mil usuários no Brasil e em outros países da Amazônia, inspirou o desenvolvimento de novas funcionalidades para maior acessibilidade e oferta de conteúdo.

    A analista da Embrapa Mazillene Borges, gestora do curso e uma das articuladoras do PTS, explica que a experiência bem-sucedida foi a semente para o despertar da criação de um ambiente virtual aberto a todos os públicos. Além das duas vitrines inéditas, é possível acessar também o Meliponário Virtual e a área de plantio de Açaí de Terra Firme. As novas vitrines da plataforma oferecem versão mobile, com uso offline após o download dos conteúdos.

    Segundo Michell Costa, analista da Embrapa e co-desenvolvedor das plataformas, o foco principal foi garantir linguagem acessível, material técnico adaptado e democratização da informação. “Pensar na Amazônia é reconhecer sua dimensão continental e os desafios de acesso à tecnologia da informação. Essa ferramenta tem potencial para promover inclusão digital e práticas sustentáveis em uma região de difícil acesso”, afirma Costa.

    Impactos na juventude rural

    O produtor e técnico agrícola Adailton Amaral foi um dos alunos do curso online de Açaí de Terra Firme, e vivenciou, pela primeira vez, a experiência de uma vitrine virtual em um processo de formação. Jovem produtor e defensor do fortalecimento da sucessão familiar no campo, avaliou que as ferramentas digitais dialogam diretamente com a juventude, sendo, assim, um estímulo à reaproximação desse público com a propriedade e produção familiar.

    Para Amaral, além de possibilitar acesso às tecnologias que podem melhorar a vida no campo, os conteúdos digitais de fácil acesso e compreensão, a exemplo das vitrines, podem unir as várias gerações e profissionalizar a produção. “É mais produção, renda e qualidade de vida para as famílias e toda a Amazônia, pois garantem também benefícios ambientais que já vivenciamos em nossa propriedade”, comenta.

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    Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

    SAFs e ILPF garantem produtividade e resiliência climática

    Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) são reconhecidos como as soluções sustentáveis mais eficazes para a produção de alimentos na Amazônia, proporcionando benefícios econômicos, sociais e ambientais. As pesquisadoras da Embrapa Célia Calandrini e Débora Aragão coordenaram as equipes responsáveis por desenvolver os conteúdos das vitrines virtuais.

    Calandrini conta que o ILPF combina diferentes sistemas produtivos em uma mesma área — agrícola, pecuário e florestal —, otimizando o uso da terra e promovendo benefícios mútuos entre as atividades. “O sistema aumenta a produtividade, diversifica a produção, gera empregos e promove serviços ambientais, como a preservação da água no solo, redução de emissões de gases de efeito estufa e aumento do sequestro de carbono”, explica.

    Aragão reforça que os SAFs simulam a dinâmica da floresta ao combinar espécies vegetais diversas, promovendo eficiência produtiva e segurança alimentar. “Os benefícios vão desde a introdução de espécies de ciclo curto, que garantem renda imediata, até a proteção do solo e a melhoria da biodiversidade, reduzindo a necessidade de insumos químicos”, destaca.

    Com essas iniciativas, a Embrapa e seus parceiros esperam ampliar o impacto das tecnologias na Amazônia e fortalecer a adaptação das propriedades rurais às mudanças climáticas.

  • Setor agroindustrial dá passo importante para mapeamento da pegada de carbono do algodão

    Setor agroindustrial dá passo importante para mapeamento da pegada de carbono do algodão

    No dia 26 de novembro, foi firmada uma parceria técnica entre a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a Bayer e a Embrapa Meio Ambiente. O objetivo é mensurar a pegada de carbono do algodão, em um movimento que busca consolidar práticas mais sustentáveis no setor agroindustrial brasileiro.

    O projeto será conduzido pelas pesquisadoras Marília Folegatti e Nilza Patricia Ramos, da Embrapa Meio Ambiente, e inclui a análise das emissões de carbono associadas a diferentes produtos derivados do algodão, como a pluma, o caroço, o farelo e o óleo. Trata-se de um estudo inédito no Brasil, que pretende estabelecer uma referência nacional confiável sobre o impacto ambiental da cultura, destacando tanto sua eficiência produtiva quanto os atributos sustentáveis dos seus subprodutos.

    Histórico da iniciativa

    Segundo Marília Folegatti, a pesquisa na área de algodão teve início há cerca de um ano. Desde então, a Embrapa vem desenvolvendo um módulo para calcular a pegada de carbono do algodão em sistema de produção. A terceira versão dessa calculadora já contempla essa solução e foi aplicada pela Bayer em uma área de 77 mil hectares no Centro-Oeste do país.

    “No entanto, o Brasil é um país extremamente diverso, e há várias formas de se produzir algodão. Para representar bem essa produção em escala nacional, consideramos fundamental trazer mais dois parceiros estratégicos: a Abrapa e a Abiove”, explicou a pesquisadora.

    A Abrapa reúne cerca de 18 mil produtores, responsáveis por 95% da produção nacional de algodão, enquanto a Abiove, parceira de longa data da Embrapa, tem contribuído para discussões importantes, como as que envolvem o programa RenovaBio, e agora ajudará a estruturar a análise de extração de óleo e produção de biodiesel a partir do caroço do algodão.

    Amplitude e impacto da parceria

    A colaboração envolve toda a cadeia produtiva do algodão, envolvendo a caracterização dos processos agrícolas e industriais. Segundo Folegatti, o trabalho permitirá mapear a pegada de carbono de produtos como pluma, óleo, farelo e biodiesel, considerando as diferentes tecnologias praticadas no Brasil.

    “Essa associação é crucial para representar a diversidade de métodos de produção no país. A Abrapa contribui com sua visão sobre os sistemas agrícolas, enquanto a Abiove agrega com sua expertise nas fases seguintes da cadeia, incluindo a extração de óleo e a produção de biodiesel. A valorização de subprodutos, como o farelo utilizado para a alimentação animal, também merecerá atenção do projeto”, destacou a pesquisadora.

    Além disso, a iniciativa fortalece o compromisso da Abiove com a sustentabilidade, alinhando-se a programas como o RenovaBio, que busca fomentar a descarbonização na agroindústria. O projeto não apenas ajuda a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também valoriza práticas que tornam o algodão brasileiro mais competitivo no mercado global.

    Sustentabilidade como prioridade

    O Brasil é um dos maiores exportadores de algodão do mundo e, com essa iniciativa, reforça seu papel de liderança em práticas agrícolas sustentáveis. A parceria entre Embrapa, Abiove, Abrapa e Bayer é mais um exemplo concreto do esforço coletivo para tornar a agroindústria nacional mais eficiente, sustentável e alinhada às demandas de consumidores e mercados internacionais por produtos com menor impacto ambiental.

    O estudo, além de subsidiar decisões estratégicas no setor, deverá servir como um modelo para outras cadeias produtivas, fortalecendo o compromisso do agronegócio brasileiro com a sustentabilidade e a inovação tecnológica.

  • Diferentes cenários mostram como o trigo avança no Cerrado Brasileiro

    Diferentes cenários mostram como o trigo avança no Cerrado Brasileiro

    Com uma área próxima a 450 mil hectares na safra 2024, o trigo tropical vem ganhando espaço no Cerrado nos últimos anos. O cultivo está crescendo em diferentes ambientes, onde cada região tem particularidades que orientam o avanço da triticultura tropical no Brasil. Veja na reportagem como evolui a produção e a comercialização de trigo nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.

    Na produção agrícola do Brasil Central, o trigo tem sido utilizado como alternativa na rotação de culturas com grãos e hortaliças para quebra do ciclo de previsões e doenças. A geração de tecnologias e a transferência de conhecimentos garantiram o crescimento de 119% na área e de 95% na produção de trigo tropical nos últimos sete anos (Conab 2018-2024). O crescimento é resultado da oferta de cultivares e conhecimentos em manejo, desenvolvidos por diferentes empresas que atuam na pesquisa e na assistência técnica em trigo tropical.

     Plante trigo para colher feijão

    Para produzir feijão na região de Goiás, foi preciso encontrar uma cultura capaz de interromper o ciclo de doenças como antracnose, fusariose, mofo branco ou, ainda, nematoides no solo, além de fazer a recuperação do solo. “O cultivo de feijão estava se tornando inviável no começo dos anos 1990. Apesar do bom preço, as produtividades vinham diminuindo nas áreas com monocultivo de feijão. Precisávamos aprimorar o sistema de rotação de culturas e o trigo surgiu como a melhor alternativa”, conta o engenheiro agrônomo da Coopa-DF, Cláudio Malinski. Além da disponibilidade de sementes e da garantia de compra do trigo produzido, a cooperativa iniciou uma campanha com o slogan “Plante trigo para colher feijão”, explicando técnicos a importância de inserir o cereal de inverno no sistema de produção. “Mais tarde, o trigo benéfico também para a soja, ajudando no controle de plantas específicas como buva e capim amargoso. Temos resultados de até seis sacos a mais de soja após o cultivo do trigo”, conta Cláudio.

    A entrada do trigo na Coopa-DF ocorreu à construção do moinho, em 1994, que passou a agregar ainda mais valor à produção. Hoje o trigo representa 9% do volume de grãos que a cooperativa recebe e 33% no faturamento geral. “Sem o trigo, seria impossível manter o sistema produtivo com grãos na região”, conclui Cláudio Malinski.

    Trigo como protagonista

    Entre os cooperados da Coopa-DF estão os produtores Paulo Bonato e o filho Luis Felipe Bonato, com fazendas de grãos em Cristalina/GO e Planaltina/DF. Na rotação, são culturas como soja, milho, feijão e trigo (sequeiro e irrigado). “Meu pai e meu avô trabalharam com hortaliças também. Financeiramente, produzir hortaliças é mais vantajoso, mas agronomicamente não é sustentável no longo prazo”, explica Paulo Bonato.

    O trigo irrigado chegou ao sistema de produção da família Bonato há 30 anos, com evolução gradual na área destinada ao cultivo. Nos anos 1990, eram 50 hectares (ha), passando para 100 ha nos anos 2000, chegando a 200 ha em 2024. “O tamanho da área pode aumentar ou diminuir, mudando em função da rotação dos pivôs”, conta Paulo Bonato, lembrando que “à medida que a área aumenta, também aumenta os problemas, já que a pressão no ambiente revelada na maior incidência de doenças, como a brusone”. A estratégia do produtor para escapar da brusone (principal doença do trigo tropical) foi ajustar os dados de semeadura, semeando o trigo de sequeiro após 10 de março e o trigo irrigado após 10 de maio A colheita em 2023 chegou a 27 sacos por hectare (sc/ha) de média no trigo. de sequeiro e um 138 sc/ha no trigo irrigado “O rendimento mais baixo no trigo de sequeiro é compensado pela qualidade e o menor custo, além da palhada que o trigo deixa para próxima cultura, ajudando a reduzir plantas que são de difícil controle em outras culturas”, afirma o produtor, lembrando que o custo de produção no trigo irrigado pode chegar a 100 sc/ha, contabilizando até seis aplicações de fungicidas, enquanto no sequeiro, algumas vezes, o custo empata com os ganhos, mas o trigo acaba trazendo benefícios para o sistema de produção.

    Em função do trigo, a família Bonato fez ajustes no sistema de segurança para suprir a demanda que atinge cerca de 500 mm de água por hectare no trigo irrigado. “Investimos em sensores que monitoram a umidade do solo para acionar os pivôs. Um sistema que reduz o consumo de água e de luz, além de suprir o trigo no momento de maior demanda das plantas”, explica Luis Felipe Bonato.

    Rotação com hortaliças

    Em diversas regiões do Cerrado, o trigo irrigado é utilizado na rotação com culturas como feijão e hortaliças, como batata, cenoura, cebola e alho. “O trigo é candidato preferido na rotação porque reduz os principais problemas no cultivo, já que consegue quebrar o ciclo de doenças de solo, como o podridão de esclerotínia ou mofo branco e a fusariose, além de inibir a multiplicação de determinados nematoides”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Chagas.

    A sede da cooperativa Coopadap está localizada em São Gotardo, MG. A cidade é conhecida como “capital nacional da cenoura” e responde por aproximadamente 70% da produção nacional de cenoura. Em 2023, os cooperados da Coopadap cultivaram 1.300 hectares de cenoura e 1.600 hectares de alho, culturas de alto valor agregado que movimentam a economia da região, cuja produção é voltada ao mercado nacional e internacional. O trigo irrigado foi utilizado em 3.800 hectares, principalmente em áreas para rotação de culturas.

    De acordo com o gerente de pesquisa da Coopadap, Luciel Dezordi, a rotação beneficia tanto o trigo quanto as hortaliças. “O trigo consegue aproveitar o resíduo de adubo deixado pela cenoura, formando um trabalho de menor custo com alto potencial de rendimento. Por outro lado, as raízes do trigo podem chegar a quase um metro de profundidade, melhorando o solo para o cultivo das hortaliças”, diz Luciel.

    Seca ainda é o maior adversário

    A região do Cerrado é marcada por duas estações: a estação das águas (primavera/verão) e a estação seca (outono/inverno). A semeadura do trigo começa no final das chuvas, nos meses de março e abril no cultivo de sequeiro, e de abril a junho no cultivo irrigado. “Antecipar esta semelhança, aumenta os riscos para a incidência de brusone, mas se protelar muito, falta água para implantar a lavoura e pode comprometer o desenvolvimento das plantas”, explica o pesquisador Vanoli Fronza, da Embrapa Trigo. Segundo ele, o clima quente e seco dos últimos anos tem desafiado o manejo do produtor: “A chuva cessou mais cedo neste ano, prejudicando o desenvolvimento das plantas e causando queda no peso do hectolitro (PH), resultando em grãos pequenos e leves no trigo de sequeiro. O calor também acelerou o ciclo das plantas, antecipando a colheita”.

    Na Fazenda Jaguarandi, em Ponta Porã, MS, foram cultivados 1.890 ha com trigo de sequeiro nesta safra mas, com apenas 70mm de chuvas, muitas áreas precisaram ser replantadas. “No ano passado, a média de produtividade ficou em 50 sc/ha e neste ano fechou em 15 sc/ha”, lamenta o responsável técnico da fazenda, Rodrigo do Amaral. Apesar da frustração, o trigo deve seguir dividindo espaço com o milho na rotação de culturas no inverno: “Sabemos a importância da grama no inverno para manter os rendimentos da soja no verão e não podemos apostar somente no milho. É preciso diversificar para diluir os riscos”, diz Rodrigo.

    Na Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) da Coopadap, o responsável Marcelo Guerra também sente os impactos do clima seco e quente que está afetando o trigo no Cerrado: “Historicamente, o trigo chegava na UBS nos meses de julho e agosto. Nas últimas safras, recebemos trigo a partir de junho, prolongando o tempo que as sementes ficarão guardadas. As temperaturas mais altas no inverno também favoreceram os carunchos, exigindo, pela primeira vez, investimento em expurgo para controle de legislações nos orgânicos”.

    Em 2023, a média de rendimento do trigo de sequeiro em MS era de 46 sc/ha, enquanto em 2024 ficou em 18 sc/ha. O calor também aumentou a evaporação da água no cultivo irrigado, aumentando os custos de produção. Em geral, a produtividade média nas lavouras de GO, MG e DF deverá oscilar entre 30 sc/ha nos cultivos de sequeiro e 115 sc/ha no trigo irrigado.

    O desenvolvimento de cultivares mais adaptadas à seca e ao calor é imperativo em programas de melhoramento genético para trigo tropical. O crescimento na oferta de cultivares passou de 17 na década de 1990 para 33 cultivares em 2023. Para o pesquisador Joaquim Soares Sobrinho, a cultivar de trigo de sequeiro BRS 404, lançada em 2015, é uma prova deste esforço: “A BRS 404 tem mostraram um desempenho superior em condições de déficit hídrico, com rendimentos até 12% superiores quando comparados às demais cultivares utilizadas na região”, conta Joaquim. Outro destaque da pesquisa é a cultivar de trigo irrigado BRS 264, lançada ainda em 2005, que possibilitou a colheita sete dias antes do que as demais cultivares disponíveis no mercado na época, permitindo economia de água. “Trabalhamos hoje, além do melhoramento genético, com novas tecnologias em marcadores moleculares e transgenia. Acredito que logo o trigo tropical vai passar por uma revolução através das cultivares que estão em processo final de seleção”, conclui o pesquisador.

    Do produtor direto para a indústria

    O clima quente e seco que afeta o trigo na lavoura, pode favorecer as operações na indústria moageira. “O trigo sai da lavoura com menos de 12% de umidade e elimina a etapa de secagem quando chega na indústria. Vai do caminhão direto para o silo e parte para a moagem”, conta a diretora da Talita Alimentos, Maiko Priamo. A indústria, com base no sudoeste do Paraná, chegou a Dourados, MS, em 2021, instalando uma planta para mais de 90 toneladas de trigo/dia. “Utilizamos 95% de trigo nacional, mas queremos ampliar ainda mais a compra do trigo tropical produzido na região para suprir parte da demanda do nosso outro moinho instalado no Paraná”, informa Maiko. A próxima meta da Talita Alimentos é construir uma unidade cerealista para fazer a logística dos grãos.

    No Moinho Sete Irmãos, com sede em Uberlândia, MG, o contato direto com os produtores garante a uniformidade do produto final. A expectativa é que a entrada de novos operadores na triticultura tropical aumente a oferta de trigo de qualidade na região: “Há dez anos, falávamos em 80 mil toneladas de trigo produzido no Cerrado. Agora falamos das 450 mil toneladas. O crescimento tem garantido o fornecimento de 95% do moinho com trigo produzido no triângulo mineiro, facilitando a logística e gerando renda na região”, avalia o gerente comercial Max Mahlow. A seca nesta safra preocupa o gestor, por isso ele justifica a necessidade de ampliar a produção em todo o Cerrado.

    De olho neste mercado, a cooperativa Cooperalfa, com sede em Chapecó, SC, chegou ao Mato Grosso do Sul em 2014. O objetivo inicial era fomentar milho para abastecer a indústria de suínos e aves em Santa Catarina, mas a cooperativa passou a contar com uma fábrica de rações instaladas em Dourados, MS, suprindo os cooperados no modelo de integração e também para as matrizes em Sidrolândia, MS. Agora o trigo é alvo, inicialmente para ser destinado ao moinho da Cooperalfa em Santa Catarina: “O trigo produzido em MS pode suprir parte das necessidades do moinho, principalmente em anos de frustração climática com o trigo no Sul”, informa o engenheiro agrônomo da Cooperalfa, Luan Pivato, destacando também as características de qualidade do trigo produzido em MS. Avaliando o aspecto econômico do negócio de moagem, ele destaca que é mais barato importar trigo, mas o cultivo do cereal na região é necessário para a sustentabilidade da produção de grãos: “O produtor de MS trabalha somente com soja e milho há muitos anos no sistema de produção. Quando colocamos o trigo no sistema, temos vários benefícios agronômicos como ciclagem de nutrientes e manejo de plantas específicas. Os resultados do trigo refletem na produtividade da soja e do milho a longo prazo”.

    Conforme estimativa do pesquisador Cláudio Lazzarotto, da Embrapa Agropecuária Oeste, se utilizado apenas 1% da área de milho safrinha para cultivo do trigo em sucessão à soja, o estado de Mato Grosso do Sul teria cerca de 210 mil ha com trigo/ano, considerando apenas os dez municípios com melhores condições de altitude, solo e temperatura desenvolvidos ao trigo. “O objetivo não é substituir toda a produção de milho, mas fazer rotações de gramíneas para o maior sucesso no sistema produtivo com diferentes alternativas de mercado ao produtor”, argumenta Lazzarotto.

    Crescimento em todos os elos

    Na Sementes Jotabasso, o trigo entrou para complementar o portfólio e oferecer uma alternativa adicional na safra de inverno aos produtores. Voltada à comercialização de sementes de soja e de sorgo, a empresa começou a produzir sementes de trigo há cerca de três anos e mantém uma área expressiva de sua produção dedicada à cultura. De acordo com o gerente de produção da unidade Jotabasso em Ponta Porã, MS, Guilherme de Souza, as sementes de trigo são destinadas principalmente aos mercados de SP, PR e MS. “Vimos a demanda de trigo em MS crescer 50% em relação ao ano passado, isso mostra o interesse do produtor em investir na cultura”, observa Guilherme.

    Na Sementes Aurora, de Cristalina, DF, o trigo começou para o negócio há 15 anos, com 80 hectares. Na safra 2023, a produção de sementes chegou a 800 hectares com trigo de sequeiro e 700 hectares com trigo irrigado. Mesmo com o aumento na demanda, a taxa de uso de semente certificada no trigo tropical está estimada em 50% na região. “O custo alto da semente resulta, principalmente, da necessidade de fazer um bom investimento em fertilizantes para produzir semente de qualidade. O preço e a dificuldade de obter algumas cultivares levam o produtor a salvar grãos para usar como semente na próxima safra. Mas acredito que o produtor está ficando mais consciente, não apenas do valor de investir em semente de qualidade, mas também de investir na labora. O trigo tropical tem retorno financeiro na maioria dos anos”, avalia o engenheiro agrônomo Moacir Messias.

  • Embrapa lançará em MT cultivares de maracujá resistentes à doença do solo

    Embrapa lançará em MT cultivares de maracujá resistentes à doença do solo

    No dia 10 de dezembro, a Embrapa e a cooperativa Coopernova farão, em Terra Nova do Norte (MT), o lançamento das cultivares de maracujá BRS Terra Nova e BRS Terra Boa. Os materiais são resistentes à doença fusariose e são indicados para cultivo no estado de Mato Grosso. O evento de apresentação será aberto ao público e está com inscrições abertas.

    As duas novas cultivares foram obtidas de espécies de maracujazeiro nativo ( Passiflora alata e Passiflora nítida ) e devem ser usadas como porta-enxertos para cultivares comerciais de maracujá-azedo Passiflora edulis. Desta forma, a muda enxertada mantém-se resistente à fusariose, uma doença causada pelo fungo Fusarium spp presente no solo.

    Este fungo aproveita lesões nas raízes para infectar a planta. Com o tempo ocorre o apodrecimento do sistema radicular e a murcha das folhas, levando o maracujazeiro à morte.

    A fusariose foi responsável por praticamente dizimar os plantios de maracujá na região norte de Mato Grosso. Com essas novas cultivares, que já foram distribuídas pela Coopernova, a atividade está retornando ao estado. De acordo com o IBGE, em 2023 a área colhida com a fruta foi de 320 hectares, em 313 estabelecimentos rurais, o que gerou uma renda de R$ 27,8 milhões, R$ 10 milhões a mais do que em 2022. A maior A produção está na região norte do estado, em municípios como Guarantã do Norte, Juína, Terra Nova do Norte, Peixoto de Azevedo e Matupá.

    A comercialização das sementes das novas cultivares e de mudas enxertadas será feita pela Coopernova, parceira da Embrapa Cerrados e Embrapa Agrossilvipastoril no desenvolvimento das pesquisas para se chegar aos materiais.

    Lançamento

    O evento de lançamento das cultivares de maracujá será no clube AERT, em Terra Nova do Norte, a partir das 8h do dia 10. Haverá apresentações sobre o histórico da parceria entre Embrapa e Coopernova, sobre o sistema de produção do maracujá, sobre a doença fusariose e sobre resultados de pesquisas com as novas cultivares como porta-enxerto.

    No fim da manhã há duas visitas técnicas, uma à área de produção de sementes e mudas da Coopernova e outra a uma propriedade rural produtora de maracujá.

    As inscrições são gratuitas e podem ser feitas em embrapa.br/web/portal/busca-de-eventos/-/evento/490413 .