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  • Pesquisa aponta que a maioria dos produtores rurais adota plantas de cobertura

    Pesquisa aponta que a maioria dos produtores rurais adota plantas de cobertura

    Uma pesquisa de opinião realizada pela Embrapa Cerrados mostrou que 74% dos produtores rurais que responderam ao questionário utilizam plantas de cobertura em suas propriedades. No entanto, entre os 26% que não adotaram a tecnologia, praticamente todos estão interessados ​​em considerar o seu uso.

    Dos 709 questionários respondidos, 38% são produtores rurais e 4% são gerentes agrícolas, perfis que foram o foco do trabalho. Sobre as respostas dadas por esses participantes, num total de 300 pessoas, foi feita a análise do questionário. Os demais participantes foram identificados como representantes de universidades e ensino, consultores técnicos, representantes de sistema público de assistência técnica e extensão rural e técnicos de empresas privadas relacionadas ao setor agropecuário.

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    Para o pesquisador Marcelo Ayres, coordenador da pesquisa, esse foi um bom resultado, tratando-se da primeira experiência com esse tipo de sondagem feita diretamente com os públicos-alvo da tecnologia. “Nosso objetivo é entender os critérios que levam os produtores rurais a adotar ou não as plantas de cobertura em suas propriedades e o nível de conhecimento sobre seus benefícios, além de identificar as dificuldades que eles têm em relação à tecnologia. Para uma primeira aproximação, obtivemos informações importantes, que nos ajudarão a direcionar nossas ações”, explica.

    O pesquisador informa que a ideia é repetir a pesquisa, para acompanhar a situação da adoção das plantas de cobertura no país, como é feito nos Estados Unidos: “Temos uma parceria com o USDA [ Serviço de Pesquisa Agrícola ] e a Universidade da Flórida. Lá eles realizarão pesquisa semelhante há mais de dez anos, com atualizações anuais. Aqui, também comentamos realizar essa sondagem periodicamente”.

    Informações sobre a tecnologia

    Entre os produtores rurais que utilizam plantas de cobertura em seus sistemas agrícolas, aproximadamente 50% adotam essa prática há mais de cinco anos. Outros 30% o fazem há mais de dez anos. Metade dos entrevistados utiliza plantas de cobertura em uma área equivalente a 40% da área agrícola da propriedade.

    Entre as espécies mais usadas, foram citadas a braquiária ruziziensis (57%) e o milheto (54%), seguidas pelo nabo-forrageiro com 37%. Já as culturas comerciais mais plantadas nas propriedades dos entrevistados são o milho e a soja.

    Como fatores mais importantes para ampliar a área com plantas de cobertura na propriedade, os entrevistados apontaram a disponibilidade de sementes comerciais em quantidade, qualidade e procedimento conhecido e informações sobre quais espécies utilizar.

    Em geral, os produtores rurais e gerentes agrícolas percebem diversos benefícios com o uso de plantas de cobertura, dentre os quais se destacam a melhoria do solo – estrutura física, retenção de umidade, redução da compactação, além do aumento da matéria orgânica.

    Com relação à utilização das áreas semeadas com plantas de cobertura para pastejo, 40% responderam que fazem esse tipo de manejo. Outros 7% fazem silagem e 2% produzem feno.

    Quase 70% dos produtores adquiriram sementes para plantio. Enquanto 34% produz sua própria semente. “Essa informação sugere um grande mercado para sementes das espécies de plantas de cobertura”, analisa Ayres.

    Outras questões do questionário abordaram o uso de mistura de coberturas, como formas de cultivo e o manejo das plantas de cobertura e o custo dos preços das sementes.

    Perfil das propriedades

    Considerando as propriedades dos entrevistados, Minas Gerais foi o estado mais representado, seguido do Paraná, São Paulo e Goiás. “Esse dado foi uma surpresa para mim. Pensei que receberíamos mais participação dos estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, destaca o pesquisador da Embrapa Cerrados.

    Quanto à assistência técnica, foi apontada uma diversidade de opções entre consultores particulares, consultores técnicos vinculados a empresas de insumos e equipe técnica própria, enquanto 21% disseram não receber nenhum tipo de assistência.

    A pesquisa

    A pesquisa de opinião foi desenvolvida no âmbito do projeto “ Fertilize 4 Life – Redução da dependência de fertilizantes por meio do uso de leguminosas como plantas de cobertura em sistemas de integração laboral e pecuária” e foi realizada entre novembro e dezembro, por agora on-line.

    O objetivo foi avaliar o nível de adoção de plantas de cobertura em sistemas agrícolas e em pastagens formadas com integração laboral-pecuária (ILP). A divulgação do questionário foi feita por reportagem divulgada na imprensa, cooperação com instituições que atuam com o setor agropecuário, apoio de diversos centros de pesquisa da Embrapa e contato por WhatsApp.

    Marcelo Ayres completa: “O relatório com a análise de todos os dados e informações está sendo elaborado para divulgação completa dos resultados. Temos em mãos um riquíssimo conjunto de informações que ajudam a orientar políticas públicas, novas pesquisas e ações de comunicação e transferência de tecnologia, além de subsidiar o desenvolvimento de práticas agrícolas para reduzir as dificuldades de manejo nos sistemas de produção em todo o país”.

  • Cientistas dão passos importantes para a reprodução artificial do pirarucu

    Cientistas dão passos importantes para a reprodução artificial do pirarucu

    Pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) deram um passo importante na reprodução artificial do pirarucu ( Arapaima giga s), espécie amazônica ameaçada de extinção e altamente valorizada na gastronomia e até pela indústria da moda. Pela primeira vez, foi possível analisar e descrever as células espermáticas do peixe e comprovar a previsão de coleta de esperma, avanço considerado essencial para garantir a oferta de alevinos e atender à crescente demanda do setor produtivo por uma reprodução artificial (fora do corpo do animal), como ocorre com outras espécies de peixes criados em cativeiro.

    Frutos de quase uma década de estudos, os resultados foram publicados na revista científica Fishes e se deram no âmbito do projeto internacional Aquavitae, o maior consórcio científico mundial voltado para aquicultura, e que abrange o Atlântico e regiões banhadas por esse oceano ( veja quadro no fim da matéria ). “Esse é mais um marco em uma pesquisa que já dura nove anos e agora foca na criopreservação de material genético para a conservação e reprodução artificial da espécie”, relata Lucas Torati , pesquisador que lidera o estudo.

    Diferentemente da tilápia ( Oreochromis niloticu s), por exemplo, cuja reprodução em cativeiro já está consolidada há anos, a domesticação do pirarucu é um dos maiores desafios da ciência. Ainda hoje boa parte do setor produtivo realiza a sua reprodução de forma natural. Estima-se que, num universo de 10 a 15 casais formados numa propriedade, apenas três ou quatro irão se reproduzir a cada ano.

    Olhando nesse cenário, os cientistas pretendem consolidar um protocolo para a reprodução artificial da espécie, de modo que a oferta de alevinos seja constante ao longo do ano, uma antiga demanda do setor produtivo. O primeiro desafio foi encontrar um método para identificar machos e fêmeas. Torati explica que a dificuldade de diferenciar os sexos da espécie faz com que os criadores povoem os viveiros aleatoriamente na tentativa de formar casais. Quando um casal se formava, era colocado em um viveiro menor, mais fácil de se manter o controle dos peixes.

    Como resposta ao problema da sexagem, os pesquisadores desenvolveram um método de canulação ( foto e vídeo abaixo ). Um tubo estreito é inserido no “oviduto” do animal permitindo distinguir o sexo e ainda verificar o grau de maturidade das fêmeas. “Um piscicultor que trabalhou conosco nessa pesquisa obteve margens muito superiores de sucesso na reprodução do pirarucu, só pelo fato de ele usar a canulação”, conta Torati.

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    Peixe sendo canulado (Foto: Acervo pessoal de Moisés Zorzeto)

    Salto de duas para sete reproduções anuais

    O piscicultor em questão é Moisés Zorzeto Neto, dono da Piscicultura Raça, em Canabrava do Norte (MT). Depois que ele aprendeu a técnica de canulação, sua produção de alevinos aumentou consideravelmente. “Antes, conseguíamos uma ou duas reproduções por casal por ano. Com a técnica, esse número subiu para até sete”, relata Zorzeto, que há 18 anos produz alevinos de cinco espécies de peixes. A inovação o ajuda a organizar matrizes reprodutoras e aumenta a eficiência do manejo em cativeiro.

    Reprodução de peixes nativos: um desafio científico

    Embora tecnologias para a reprodução de espécies como tilápia e salmão sejam bem condicionais, o mesmo não ocorre com peixes nativos brasileiros. Espécies como o tambaqui, por exemplo, dependem de terapia hormonal para ovular em cativeiro.

    No caso do pirarucu, até 2010 poucos métodos conseguiam distinguir machos e fêmeas, pois não havia uma ferramenta segura e disponível para confirmar o sexo dos peixes. “Àquela época, nem se fala em reprodução artificial do pirarucu. Mesmo porque procedimentos corriqueiros em outras espécies, como a coleta de gametas, era algo considerado impossível para o pirarucu”, conta Torati.

    Um dos grandes empecilhos para a reprodução causada pelo pirarucu estava na falta de tecnologias para a realização de uma biópsia ovariana na espécie, algo fundamental para se avançar com as terapias hormonais desejadas. Para resolver o problema, foram feitos estudos de anatomia do peixe com a utilização de um ureterorrenoscópio, endoscópio utilizado para a remoção de desenho renal em seres humanos.

    Durante os estudos, os cientistas perceberam que a anatomia do pirarucu é diferente de outros peixes, os quais possuem um oviduto propriamente dito aqui. “Em certo momento, depois de entender a anatomia do peixe, consegui substituir o ureterorrenoscópio por uma cânula duracida com um arame dentro dela. Com essa cânula duradoura conseguiu acessar uma cavidade celomática do animal, onde fica o ovário. Isso possibilitou que conseguíssemos distinguir machos e fêmeas com um acerto entre 80% a 100% e viabilizou identificar quais fêmeas são maduras e aptas para receber o hormonal e induzir sua reprodução”, detalha o pesquisador da Embrapa.

    O desafio da coleta do sêmen do pirarucu

    250204 ReproducaoPirarucu Moises Zorzeto ovocitos de pirarucu menor

    No início do projeto Aquavitae, em 2019, o maior desafio foi coletar o sêmen do pirarucu. “Nas primeiras coletas, começamos a encontrar problemas de contaminação com urina. Ao coletar esperma de qualquer espécie, não pode ter água ou urina junto, pois o espermatozóide é ativado. Por isso, estávamos desenvolvendo uma técnica para bloquear o canal urinário a fim de fazer uma coleta adequada”, pontua Luciana Ganeco-Kirschnik , pesquisadora da Embrapa, que participou do trabalho.

    Após vários testes, a equipe conseguiu publicar o trabalho Possibilidade de coleta de sêmen do pirarucu e descrição das células espermáticas , no qual são descritas, pela primeira vez, a anatomia do espermatozóide – que possui dois flagelos –, rico em mitocôndrias; o tempo de motilidade e a técnica de coleta do sêmen sem contaminação com urina.

    “Esse foi o principal resultado do projeto Aquavitae. O próximo passo é conseguir pegar o momento da ovulação das fêmeas, para conseguir coletar ovócitos ( foto à esquerda ) e realizar uma fertilização artificial com a nova técnica de extração de sêmen do macho”, revela Torati. “Futuramente, abriremos uma nova linha de pesquisa: a criopreservação do sêmen do pirarucu, tal como é feito com outras espécies”, acrescenta Ganeco.

    250402 reproducaoPirarucu Siglia Souza
    Foto: Siglia Souza

    Sobre o Aquavitae

    Orçado em oito milhões de euros oriundos majoritariamente do programa  Horizonte 2020 , da União Europeia, o  Aquavitae  reuniu 29 instituições de 16 países americanos, africanos e europeus com o objetivo de aumentar a produção aquicola por meio de pesquisas no prazo de quatro anos.

    Segundo o pesquisador  Eric Arthur Routledge , da Gerência Geral de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, o consórcio internacional é uma conquista valiosa. “Ele é fruto de dez anos de esforços que envolveram o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com a participação da Embrapa e algumas universidades brasileiras de referência em aquicultura”, conta.

    Routledge relata que esses músculos geraram os subsídios para que o governo brasileiro e a Comunidade Europeia formalizassem, em julho de 2017, o acordo de cooperação em pesquisa e inovação do Atlântico, a “Declaração de Belém”, assinada pelo Brasil, África do Sul e União Europeia. Isso viabilizou pela primeira vez a participação do Brasil no consórcio internacional que aprovou, no final de 2018, o projeto Aquavitae, cuja primeira reunião ocorreu em junho daquele ano, na Noruega.

    As pesquisas sobre protocolos para a reprodução do pirarucu foram realizadas em parceria com a Universidade Estadual Paulista ( Unesp ) e o Instituto Norueguês de Pesquisa Alimentar ( Nofima ), que coordena o Aquavitae.

    Uma das principais características do Aquavitae foi a expressiva participação do setor produtivo em todos os países em que o projeto foi executado. No Brasil, houve sete parceiros da indústria, como a Primar Aquacultura, e a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), representadas no projeto pela Piscicultura Fazenda São Paulo, em Brejinho de Nazaré (TO). “Essa proximidade permitiu que as pesquisas fossem realizadas em sintonia com as demandas do setor produtivo”, ressalta Torati.

  • Edição gênica de microrganismos benéficos vai impulsionar controle biológico no Brasil

    Edição gênica de microrganismos benéficos vai impulsionar controle biológico no Brasil

    Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão (GO) vêm aplicando uma técnica inovadora baseada na edição gênica para melhoria de microrganismos benéficos usados ​​na agricultura. Uma pesquisa, que utiliza a tecnologia CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), permite modificar genomas de forma precisa, principalmente de fungos filamentosos economicamente relevantes, com a geração de organismos não transgênicos. A expectativa é que os microrganismos geneticamente editados impulsionem ainda mais o controle biológico de indiretamente e doenças agrícolas no Brasil, que já é líder mundial nessa prática, com mais de 20 milhões de hectares tratados, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Além disso, devemos contribuir também para a promoção do crescimento das plantas.

    O primeiro grande avanço ocorreu no primeiro semestre de 2024, quando o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento de Bioinsumos da Embrapa Arroz e Feijão (ProBio) desenvolveu uma linhagem editada do fungo Trichoderma harzianum com maior capacidade de produção de melanina, aumentando sua proteção em três vezes , comparado com uma cepa selvagem, quando exposta a alta dose de irradiação em condições de laboratório. Com isso, espera-se que o agente de controle biológico seja mais estável, quando aplicado na parte aérea da planta, sob exposição solar. Utilizado para o controle de doenças fúngicas em culturas como soja e feijão, o microrganismo foi melhorado geneticamente, com grande potencial de ser classificado como não transgênico.

    Marcio Côrtes, cientista da Embrapa e coordenador dos estudos, explica que a inovação está no uso de plasmídeos (pequenas moléculas de DNA circulares que atuam principalmente em funções adaptativas por carregar em informação genética independente do genoma da célula) não integrativas, especialmente desenhados para esse fim. Os vetores plasmidiais carregam todo o material genético necessário para as células-alvo, cujos elementos são expressos de maneira transitória, desencadeando mudanças precisas no genoma do microrganismo. “Adaptamos a ferramenta para ser eficaz na modificação genética de espécies de fungos filamentosos não modelo. Isso abre caminho para melhorar geneticamente os fungos dos gêneros Trichoderma sp., Metarhizium sp. e Beauveria sp., mais utilizados no controle biológico, aumentando sua eficiência no combate os fitopatógenos e na promoção do crescimento de plantas”, destaca.

    Além disso, uma equipe avançou na produção de metabólitos secundários, que são moléculas de interesse industrial. “A mesma melanina mencionada anteriormente, quando produzida e purificada, pode ser utilizada como protetor solar em formulações de bioinseticidas. Estudos preliminares demonstraram que a cepa selvagem formulada com a melanina foi capaz de resistir a altas doses de irradiação, em torno de quatro vezes mais do que a mesma cepa não formulada”, complementa Côrtes.

    Melhoria de precisão

    O pesquisador da  Embrapa Algodão  (PB) e ex-presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança  (CTNBio) entre 2020 e 2023,  Paulo Barroso , é um dos parceiros nesses projetos. Ele explica que os organismos geneticamente modificados (OGMs) envolvem a transferência de sequências de DNA entre espécies não aparentadas, superando barreiras intransponíveis ao melhoramento clássico. Nesses casos, cada novo OGM corresponde a um organismo inédito, sem precedentes na natureza e com histórico de uso seguro ainda não previsto. Por essa razão, os OGMs precisam passar por etapas de avaliação adicionais, a fim de verificar a segurança para a saúde humana, animal e para o meio ambiente antes de serem disponibilizados à sociedade.

    Já os organismos editados via TIMP (Técnicas Inovadoras de Melhoramento de Precisão) envolvem a transferência ou a alteração de sequências gênicas que poderiam ser realizadas por cruzamentos, indução de mutação e outros métodos usados ​​nos programas de melhoramento convencional, seja de plantas, animais ou microrganismos . Eles não sobrepujam barreiras evolutivas naturais. Segundo Barroso, isso torna o processo de obtenção de um novo genótipo melhorado mais rápido, preciso e eficiente, acelerando o desenvolvimento em muitos anos.

    Ele esclarece ainda que os genótipos melhorados via métodos clássicos são essencialmente semelhantes aos genótipos melhorados via TIMP e também guardam semelhanças quanto ao risco. Por isso, os métodos de avaliação de segurança podem ser os mesmos para ambos, dispensando as etapas adicionais para a avaliação da biossegurança dos OGMs.

    Um ponto importante é que, para ser legalmente considerado um genótipo TIMP, ele deve ser avaliado pela CTNBio, que usa critérios claros e internacionalmente aceitos conforme sua  Resolução Normativa n° 16, de 2018 .

    Foco em FBN para o feijoeiro

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    Foto: Sebastião Araújo

    Uma nova frente de estudo busca melhorar as bactérias responsáveis ​​pela fixação biológica de nitrogênio  (FBN ) no feijoeiro. O objetivo é reduzir a dependência de fertilizantes nitrogenados, gerando impacto econômico e ambiental positivo. “Nos próximos quatro anos, nossos esforços são direcionados para aumentar a eficiência da fixação de nitrogênio no feijão, por meio do melhoramento genético de estirpes bacterianas selecionadas”, afirma Côrtes.

    “É um estudo em estágio inicial, que conta com uma equipe multidisciplinar, o que nos gera grande expectativa em relação ao impacto econômico relacionado à adubação nitrogenada para essa importante cultura. A importância estratégica do tema nos propiciou obter recursos específicos para aquisição de equipamentos financiados pelo Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)”, comemora o pesquisador.

    Com potencial de transformar práticas agrícolas, a aplicação da tecnologia CRISPR reforça a liderança da Embrapa no desenvolvimento de soluções sustentáveis ​​para o agronegócio brasileiro.

  • Sistema inédito monitora remotamente a temperatura corporal de bovinos

    Sistema inédito monitora remotamente a temperatura corporal de bovinos

    Embrapa Gado de Corte (MS) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ( UFMS ) desenvolveram um sistema inovador de monitoramento de bovinos, capaz de medir a temperatura corporal de forma remota. A tecnologia, que se baseia em um sensor no canal auditivo, é de boa fixação e não machuca o animal, privilegiando o bem-estar e o manejo, ao mesmo tempo em que contribui para aumentar a rastreabilidade da carne, cada vez mais relevante diante de cenários de segurança alimentar e barreiras sanitárias. A patente foi depositada pelas instituições no Instituto Nacional de Propriedade Industrial ( INPI ), sob o número BR 10 2024 021350 5.

    O sistema é fruto do trabalho de mestrado em Engenharia da Computação de Arthur Lemos, no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Faculdade de Computação ( Facom-UFMS ), em parceria com a Embrapa. A temperatura do animal foi escolhida como parâmetro porque é um indicativo fisiológico de infecções e inflamações, além de períodos de cio e estresse. A invenção, que funciona com energia solar, sem necessidade de baterias e livre da influência da temperatura do ambiente, permite detectar e evitar prejuízos à saúde dos bovinos, com rapidez e sustentabilidade.

    Segundo Lemos, a opção por essa fonte alternativa de alimentação deve à durabilidade do sistema e à baixa necessidade de manutenção. Já a escolha pelo brinco na orelha garante boa fixação, com menos chances de perdas durante o manejo, além de favorecer o bem-estar animal.

    Um dos pioneiros em pecuária de precisão no País, Pedro Paulo Pires , pesquisador da Embrapa, reforça o potencial de impacto dessa ferramenta de monitoramento. Segundo ele, a medição manual da temperatura corporal central (TCC) de um mamífero de casco pode apresentar uma série de problemas; entre eles, o custo elevado e o estresse animal.

    Por exemplo, caso o estudo empregasse transponders de identificação por radiofrequência (RFID) dotados de sensores de temperatura, teria a exigência de leitores RFID espalhados pela fazenda, o que oneraria os custos de monitoramento. Outra possibilidade, que são as câmeras termográficas, também não é eficiente pela influência do ambiente na medição. “Encontrar um instrumento ideal é um desafio, mas a inovação tem gerado resultados bastante promissores”, complementa.

    Parceria resultado em soluções digitais em prol da pecuária brasileira

    Lemos e Pires trabalham em cooperação com o professor da Facom-UFMS Fábio Iaione, orientador de Lemos, e com o analista em tecnologia da informação (TI) da Embrapa  Quintino Izidio , que é coorientador do mestrando, em estudos voltados à peculiaridade de precisão.

    A parceria Facom-UFMS e Embrapa, nessa pós-graduação, já terminou em quase 50 dissertações concluídas, ao longo de 15 anos, e prova como a comunhão de habilidades em pesquisa aplicada derivada em inovações educacionais.

    Os pesquisadores enfatizam que os trabalhos desenvolvidos nesse mestrado profissional em computação aplicada são todos focados em soluções tecnológicas para a pecuária brasileira.

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    Dispositivo está pronto para parcerias

    O equipamento utiliza conhecimentos de zootecnia, pecuária, veterinária, engenharia e computação. Sua composição se baseia em uma unidade principal e um sensor de temperatura, além de uma base transceptora, que pode estar a até 25 km de distância dos animais monitorados. Isso evidencia que é possível cobrir toda a área por onde circulam.

    O professor Iaione explica que a invenção mede periodicamente a temperatura no canal auricular, por meio de um sensor e a geolocalização do animal. “A seguir transmite, por wireless , para um receptor localizado à distância, que está conectado à internet e reenvia os dados para um computador-servidor”, detalha.

    Com as informações disponíveis, o produtor terá um sistema de alerta quando um animal apresentar febre, inflamações, estresse térmico e outras condições perigosas.

    Pires, que é médico-veterinário, lembra que doenças como a febre aftosa se disseminam rapidamente entre os animais, principalmente, em regiões livres de doença, sem vacinação. Em outras situações, como o estresse térmico, ele afirma que há diminuição na produção de carne e leite, queda na qualidade dos alimentos produzidos e maior incidência de doenças nos animais.

    A Embrapa procura parceiros para fabricação do dispositivo em larga escala, facilitando o acesso do produtor rural à inovação. Izidio ratifica que, assim como a pesagem dos animais sem obrigação de ida ao mangueiro, o equipamento facilitará a rotina, tanto na saúde do animal, como na identificação do cio e parto, por meio da variação de temperatura das fêmeas.

    Como nasce uma patente

    O Manual de Patentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OECD , sigla em inglês) define uma patente como uma forma de proteger as invenções desenvolvidas por empresas e pessoas que podem ser interpretadas como indicadores de invenções. O caminho para registro de uma patente pode parecer burocrático, custoso e dispendioso, mas é vantajoso quando se considera que ele é o reconhecimento não somente da autoria, como também do direito de exclusividade.

    Na Embrapa, há instâncias responsáveis ​​por acompanhar esse processo inventivo. A analista  Dayanna Schiavi  relata que uma invenção é patenteável desde que atende aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, obedecendo a critérios legais. Ela e sua equipe, com profissionais da Agência de Internacionalização e de Inovação ( Aginova ), da UFMS, auxiliaram os cientistas da estatal e da universidade no registro da ferramenta de monitoramento, que se enquadram nos quesitos exigidos.

    A complexidade do processo, que pode exigir uma consultoria especializada, começa com uma pesquisa para verificar se a tecnologia já existe. Em caso negativo, é cadastrado no INPI, a partir de um formulário de pedido de registro; e conta com acompanhamento posterior. “A patente agrega valor ao ativo, especialmente na fase de negociação junto ao mercado”, ressalta Schiavi.

  • Vigilância em suínos ajuda a prevenir transmissão da influenza para humanos

    Vigilância em suínos ajuda a prevenir transmissão da influenza para humanos

    Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), da Embrapa Suínos e Aves (SC), e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) identificaram em humanos, no Brasil, vírus influenza A (IAV) variantes de origem suína. O trabalho revelou que, entre 2020 e 2023, oito casos de infecção humana por vírus de origem suína foram detectados no estado do Paraná. As cidades de Ibiporã, Irati, Toledo e Santa Helena foram palco das infecções, que ocorreram, em sua maioria, entre pessoas que tinham contato direto ou indireto com suínos. Dos oito casos, seis apresentaram sintomas respiratórios leves, enquanto dois foram graves, incluindo um óbito.

    O estudo, que também contou com a atuação do Laboratório Central do Estado do Paraná (Lacen/PR) e da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa/PR), faz parte de uma abordagem de Saúde Única, que busca integrar a saúde humana, animal e ambiental a partir da vigilância da influenza humana e suína. Essa vigilância tem o objetivo de prevenir novas pandemias, uma vez que o contato próximo entre humanos e animais pode levar à transmissão de vírus zoonóticos.

    250121 InfluenzaSuina Rejane Schaefer pesquisadora

    De acordo com Rejane Schaefer, pesquisadora da Embrapa, a identificação desses casos só foi possível graças à vigilância estruturada da influenza em humanos no Brasil. Ela explica que a vigilância da influenza e outros vírus respiratórios no País é realizada por meio da vigilância sentinela de síndrome gripal (SG) e da vigilância de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em pacientes hospitalizados. “A vigilância sentinela monitora indicadores em unidades de saúde distribuídas em todas as regiões do País, chamadas de ‘Unidades Sentinelas’, que servem como alerta precoce ao sistema de vigilância”, detalha Schaefer. Apesar de essas ações serem importantes, a pesquisadora alerta para a necessidade de expandir a vigilância em suínos, com o objetivo de monitorar a evolução genética dos vírus e auxiliar no desenvolvimento de novas vacinas, controlando a doença em suínos e reduzindo o risco de transmissão entre espécies.

    Saiba mais sobre os vírus da influenza A

    Os vírus da influenza A (subtipos H1N1, H1N2 e H3N2) são endêmicos em populações suínas e, quando são transmitidos e infectam humanos, são chamados de vírus “variantes” e um “v” é adicionado ao subtipo do vírus para identificá-lo como de origem animal (ex: H1N1v, H1N2v, H3N2v). Desde 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou 38 casos de H1N2v, 18 de H1N1v e 439 de H3N2v em humanos.

    Em 2015, o IOC/Fiocruz detectou pela primeira vez no Brasil uma variante de IAV em humanos e acionou a Embrapa Suínos e Aves para auxiliar na análise do vírus, que foi confirmado como originário de suínos. Os pesquisadores usaram sequenciamento genético para rastrear a evolução do vírus nos suínos brasileiros e relacionaram os vírus identificados em humanos com as linhagens genéticas de IAV predominantes em suínos no País.

    No estudo atual, publicado pela Nature Communications, a equipe destaca que, até o momento, a transmissão viral suíno-humano ocorreu apenas pelo contato direto com os suínos e não entre humanos, ou seja, a probabilidade de transmissão sustentada de pessoa a pessoa continua sendo baixa. O trabalho descreve detalhadamente os métodos utilizados para identificar os vírus variantes e sua relação com os vírus que circulam em suínos no Brasil.

    Os pesquisadores recomendam a vigilância contínua de novos vírus influenza A, o qual está em constante evolução, podendo causar surtos sazonais, zoonóticos ou até pandemias. Suínos são particularmente suscetíveis à infecção tanto pelo vírus da influenza humana sazonal quanto pelo vírus da influenza aviária, uma vez que possuem receptores celulares no trato respiratório que permite infecção por ambos os tipos de vírus. Essa suscetibilidade torna fundamental o monitoramento das interfaces entre humanos, animais e o meio ambiente, no esforço global de prevenção e controle de doenças infecciosas.

    O estudo também relembra um caso significativo de transmissão zoonótica da influenza ocorrido no Brasil em 2015, quando uma jovem de 16 anos contraiu a variante H1N2v após começar a trabalhar em uma granja de suínos no estado do Paraná. Casos como esse reforçam a necessidade de uma vigilância integrada, com foco na abordagem “Uma Só Saúde”.

    Os pesquisadores enfatizam que a vigilância em suínos é vital para acompanhar a evolução dos vírus e prevenir surtos que possam cruzar a barreira entre espécies, gerando novas ameaças à saúde pública global.

    Estudo e vigilância da influenza

    Nos oito casos registrados de infecção humana por IAV de origem suína, os pacientes tiveram contato direto ou indireto com suínos e foram identificados três subtipos de IAV que são endêmicos em suínos (H1N1, H1N2 e H3N2). O Paraná, terceiro maior produtor de carne suína do Brasil, é um importante polo da suinocultura em um país que ocupa o quarto lugar mundial na produção e exportação dessa carne. Esses casos foram identificados graças ao sistema de vigilância da influenza em humanos ativa no estado.

    Segundo Schaefer, a vigilância da influenza humana no Brasil recomenda a coleta semanal de cinco amostras de casos de síndrome gripal (SG) por unidade sentinela. No entanto, a distribuição dessas unidades é heterogênea entre os estados. O Paraná, por decisão estadual, possui o maior número de unidades sentinela no País, totalizando 34. Algumas delas estão localizadas em áreas próximas a municípios com alta densidade de suínos, o que pode ter facilitado a detecção dos vírus variantes.

    O Ministério da Saúde (MS) estabelece que uma cidade precisa ter mais de 300 mil habitantes para contar com uma unidade sentinela, critério que exclui muitas áreas rurais, onde vírus variantes podem surgir inicialmente. “Colocar unidades sentinela estrategicamente em regiões rurais de produção de suínos e aves, ou orientar a população dessas áreas a buscar atendimento nas unidades existentes, pode melhorar a detecção de vírus influenza A variantes”, sugere a pesquisadora da Embrapa.

    O vírus da influenza A humana sazonal pode ser transmitido para suínos. Após se adaptar ao hospedeiro suíno, o vírus pode evoluir e ser reintroduzido em humanos como uma nova variante viral. Os oito vírus influenza A variantes foram inicialmente detectados pelo Lacen/PR e posteriormente enviados para o Centro Nacional de Influenza (NIC) da Organização Mundial de Saúde (OMS), localizado no IOC/Fiocruz (RJ) para análises moleculares e fenotípicas complementares.

    Os pesquisadores ressaltam a importância da integração entre a vigilância humana e suína para monitorar a ocorrência de transmissão zoonótica. “Monitorar a emergência em humanos de vírus de origem suína nos permite agir de forma assertiva na prevenção e no desenvolvimento de vírus candidatos vacinais para uso em humanos, caso seja necessário”, afirma Schaefer.

    Ela ressalta que a vigilância contínua é essencial para avaliar riscos relacionados a surtos sazonais, zoonóticos e pandêmicos. Fortalecer a abordagem de Saúde Única permitiria o monitoramento mais eficaz de eventos de transmissão entre espécies, identificando potenciais epidemias e pandemias. Apesar de considerados esporádicos, os casos recentes de influenza A variantes no Brasil tiveram um bom resultado clínico (com recuperação da maioria dos pacientes) e não houve transmissão sustentada entre as pessoas. No entanto, os cientistas afirmam que manter os sistemas de vigilância sensíveis e articulados é fundamental para a detecção precoce de novos vírus variantes que possam representar uma ameaça à saúde pública.

    Apoio ao Ministério e alimentos seguros

    A Embrapa atua com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), subsidiando e apoiando com informações técnicas as ações de vigilância e monitoramento. A Empresa ressalta que a produção de suínos nacional é realizada sob sistemas com biosseguridade e o consumo de produtos de origem suína permanece seguro no Brasil.

  • Safra dos Cafés do Brasil totalizou 54,21 milhões de sacas de 60kg no ano-cafeeiro 2024

    Safra dos Cafés do Brasil totalizou 54,21 milhões de sacas de 60kg no ano-cafeeiro 2024

    A safra total dos Cafés do Brasil produzidos e efetivamente colhidos no ano-cafeeiro 2024, incluindo o somatório das espécies de Coffea arabica (café arábica) e de Coffea canephora (robusta+conilon), atingiu o volume físico equivalente a 54,21 milhões de sacas de 60kg beneficiadas, o qual representa um ligeiro decréscimo de 1,6%, em relação à safra de 2023, que foi de 55,07 milhões de sacas.

    No contexto deste mesmo comparativo, constata-se que a safra total colhida das duas espécies em 2024 foi produzida numa área de aproximadamente 1,88 milhão de hectares, o que permitiu obter uma produtividade média em nível nacional de 28,83 sacas por hectare. No entanto, a citada performance equivale a um ligeiro decréscimo de 1,9% da produtividade total brasileira, na comparação com a safra de 2023, que, praticamente, foi cultivada numa área equivalente à de 2024.

    Também merece destacar nesta análise e divulgação do Observatório do Café que a produção especificamente da espécie de C. arabica totalizou o equivalente a 39,59 milhões de sacas de 60kg, as quais correspondem a 73,03% da produção nacional de 2024. E, ainda, que tal espécie foi cultivada e colhida numa área de 1,50 milhão de hectares, o que gerou uma produtividade média em torno de 26,2 sacas/ha, a qual representa um incremento de apenas 0,2% em relação à produtividade da safra anterior.

    Em complemento, com relação ao C. canephora, vale também salientar que a produção em nível nacional colhida dessa espécie no ano-cafeeiro 2024 atingiu o equivalente a 14,61 milhões de sacas de 60kg, volume físico que correspondeu a aproximadamente 26,97% do somatório da safra total brasileira das duas espécies. E ainda que, no caso em destaque, o Canephora foi obtido numa área de 372,42 mil hectares com produtividade média de 39,2 sacas/ha, as quais retratam uma ligeira redução de 5,9% na comparação com a média da produtividade dessa espécie na safra anterior.

    Como os Cafés do Brasil são produzidos em praticamente vinte estados da Federação, incluindo o Distrito Federal, nas cinco regiões geográficas do País, constata-se que na Região Sudeste a produção total do ano-cafeeiro de 2024, que está sendo objeto desta análise, atingiu a soma de 47,75 milhões de sacas de 60kg, volume que equivale a expressivos 88,08% de toda a produção nacional.

    Na sequência vem a Região Nordeste cuja safra obtida foi de 3,07 milhões de sacas, performance que representou 5,68%, e, logo a seguir, na terceira posição, destaca-se a Região Norte com 2,11 milhões de sacas colhidas (3,90%). Na quarta colocação desse ranking, figura a Região Sul com 675,30 mil sacas (1,24%), e, por fim, na quinta posição regional, vem o Centro-Oeste, cuja safra colhida em 2024 foi de 524,00 mil sacas, volume físico que corresponde em torno de 1,01% da safra nacional.

    Concluindo esta análise do ano-cafeeiro 2024, convém esclarecer que os dados e os números que permitiram realizar este estudo foram obtidos do Quarto Levantamento da Safra de Café de 2024, da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, o qual está disponível na íntegra no Observatório do Café do Consórcio Pesquisa Café, rede integrada de pesquisa e inovação que é coordenada pela Embrapa Café.

  • Piscicultura brasileira apresenta aumento recorde nas exportações

    Piscicultura brasileira apresenta aumento recorde nas exportações

    As exportações da piscicultura brasileira tiveram um crescimento recorde de valor em 2024: aumento de 138%, em relação a 2023, chegando a 59 milhões de dólares. Em volume, o crescimento foi de 102%, passando de 6.815 toneladas para 13.792 toneladas. É o maior aumento no volume exportado desde 2021. O aumento dos embarques de arquivos frescos foi o principal fator responsável pelo incremento das exportações em 2024, atingindo US$ 36 milhões. Os peixes inteiros congelados foram a segunda categoria mais exportados com US$ 17 milhões. Essas e outras informações constam na mais nova edição do Informativo Comércio Exterior da Piscicultura , produzido pela Embrapa Pesca e Aquicultura, em parceria com a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR).

    De acordo com Manoel Pedroza, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, o motivo do aumento de 138% no valor exportado deve-se à redução no preço da tilápia no mercado interno. “Houve uma importante queda no preço da tilápia paga ao produtor ao longo de 2024. Se,  no final de 2023,  o preço da tilápia paga ao produtor chega a uma média de R$ 9,73 o quilo, ao término de 2024 esse o valor caiu para R$ 7,85, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea . Isso estimulou que algumas empresas passassem a mirar o mercado externo”, explicou.

    O aumento da cotação do dólar frente ao real também é outro fator que justifica o aumento das exportações, além do aumento da produção da tilápia. “Houve um aumento de produção da espécie, e o mercado interno não absorveu a maior oferta. Com isso, as empresas procuraram outros países para vender o pescado”, explica Pedroza.

    Tilápia responde por 94% das exportações

    A tilápia representa 94% das exportações na piscicultura nacional, totalizando US$ 55,6 milhões – crescimento de 138% em relação ao ano anterior. Em volume, houve um crescimento de 92%, atingindo 12.463 toneladas de tilápia vendidas a outros países. Os curimatás ocuparam a segunda posição, com US$ 1,2 milhão e crescimento de 437% em valor.

    Os Estados Unidos foram o país que mais importou o peixe brasileiro, sendo responsáveis ​​por 89% das exportações nacionais da piscicultura em 2024, totalizando US$ 52,3 milhões. A principal espécie vendida aos norte-americanos foi a tilápia. Já os peixes nativos foram a preferência do Peru, que importou US$ 1,1 milhão de curimatá, US$ 746 mil de pacu e US$ 571 mil do nosso tambaqui.

    Apesar do crescimento recorde nas exportações em 2024, a balança comercial de produtos da piscicultura fechou com déficit de US$ 992 milhões, devido ao aumento das despesas que atingiram US$ 1 bilhão. O salmão é a principal espécie importada na piscicultura pelo Brasil, seguida pelo pangasius. “Houve um aumento de 9% em valor da importação do salmão e de 5% em volume, atingindo a marca de 909 milhões de dólares. Isso corresponde a 87% do volume total importado pelo país”, afirma Pedroza.

  • Embrapa Soja apresenta novas cultivares em evento no Paraná

    Embrapa Soja apresenta novas cultivares em evento no Paraná

    A Embrapa Soja participa do Agrotec, evento promovido pela cooperativa Integrada, nos dias 22 e 23 de janeiro em Londrina (PR), destacando duas cultivares de soja: a BRS 1064IPRO e o lançamento BRS 2361 i2X. Ambas foram desenvolvidas em parceria com a Fundação Meridional, com foco em alta produtividade e resistência a herbicidas e pragas.

    A cultivar BRS 1064IPRO apresenta alto desempenho produtivo, estabilidade e ampla adaptação. É uma soja transgênica resistente ao herbicida glifosato e eficaz no controle de algumas espécies de lagartas. Com Grupo de Maturidade 6.4, é indicada para regiões quentes com altitudes inferiores a 600 metros, abrangendo o Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e sul de Goiás.

    Suas vantagens incluem uma ampla janela de semeadura, resistência ao acamamento e às principais doenças da soja, como a podridão radicular de fitóftora. Além disso, a cultivar é resistente a nematoides de galha (Meloidogyne javanica) e de cisto (raça 3), problemas recorrentes nas regiões indicadas, tornando-a uma opção promissora para os produtores.

    A nova cultivar BRS 2361 i2X conta com a tecnologia Intacta2 Xtend® (I2X), que proporciona tolerância aos herbicidas glifosato e dicamba, além de resistência às principais lagartas da soja. Com maior potencial produtivo em altitudes acima de 600 metros, é indicada para a macrorregião REC 201 dos estados do Paraná e São Paulo.

    Essa cultivar permite a semeadura antecipada, otimizando a “janela” para o plantio do milho safrinha, uma característica estratégica para a produção integrada na região.

    As apresentações no Agrotec 2025 reforçam o compromisso da Embrapa Soja em oferecer soluções tecnológicas que aliam produtividade e sustentabilidade, contribuindo para o avanço do agronegócio brasileiro.

  • Oficina em Brasília debaterá a conservação de sementes realizadas por guardiãs(ões)

    Oficina em Brasília debaterá a conservação de sementes realizadas por guardiãs(ões)

    Brasília (DF) sediará, nos dias 11 e 12 de fevereiro, a primeira Oficina sobre Conservação da Agrobiodiversidade por Guardiãs(ões) em Bancos Comunitários de Sementes (BCS): Experiências, Diálogos e Demandas. Guardiões de sementes são agricultores que dedicam a vida a proteger a biodiversidade agrícola e a usam para melhorar suas vidas e a vida de outras pessoas. Por seu trabalho, eles têm forte atuação na conservação local dos recursos genéticos (conservação in situ/on farm). Para o pesquisador Irajá Ferreira Antunes, da Embrapa Clima Temperado (RS), o evento inédito “será um marco na agricultura brasileira”.

    O workshop integra as ações do projeto ConservaIn, liderado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), e é organizado por um grupo de pesquisadores, e foi reforçado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome-MDS, por meio de um Termo de Execução Descentralizada.

    Até o momento, 29 guardiões de todas as regiões do Brasil confirmaram a participação. “Teremos a presença de representantes de agricultura familiar, quilombolas, apanhadoras de flores, indígenas, agricultura realizada em áreas urbanas e periurbanas e de outras comunidades. Essa diversidade de guardiãs e guardiões é enriquecedora para que possamos trocar experiências e conhecer quais são as reais demandas por regiões e comunidades”, destaca a pesquisadora Antonieta Nassif Salomão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

    A Comissão Organizadora da Oficina conta ainda com colegas de outras Unidades da Embrapa e da Sede, que têm larga experiência no tema. Também estão confirmados novos técnicos de instituições parceiras da Embrapa, entre eles professores e pesquisadores de Organizações não Governamentais, institutos e universidades que já trabalham com os guardiões.

    “A ideia é praticarmos uma escuta sensível das falas dos guardiões e buscarmos fortalecer trabalhos colaborativos, os convidando a trabalhar conosco”, explica a coordenadora do ConservaIn, a pesquisadora Marília Burle, também da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

    De acordo com ela, os guardiões são considerados lideranças em suas comunidades, pois utilizam diversas estratégias para economizar as sementes, empregando métodos que variam conforme o ambiente e sua própria experiência, e também atuam como multiplicadores desse conhecimento.

    “Entre as técnicas, destacam-se, em alguns locais, o uso de areia e óleo de carnaúba, que ajudam a prolongar a vida útil das sementes, mas geralmente por não mais do que três anos, o que é considerado um período curto” , esclarece.

    Troca de experiências

    Para Marília, a Embrapa e outras instituições técnicas podem contribuir muito para aprimorar essas formas de conservação local. “A oficina visa justamente reunir esses agricultores em Brasília para uma troca de experiências, onde eles poderão compartilhar suas práticas de manejo e expor suas demandas técnicas. Certamente a gente também vai aprender muito com eles”, destaca.

    A pesquisadora Semíramis Rabelo, da Embrapa Alimentos e Territórios (AL), ressalta que um dos produtos concretos do escritório será o diagnóstico e o mapeamento dessas formas de conservação que têm, inclusive, consequências na qualidade das sementes conservadas por essas comunidades.

    O evento contará com serviço de moderação que auxiliará na dinâmica das discussões e na elaboração de um relatório. Além disso, representantes de diversos ministérios foram convidados a participar, com o objetivo de alinhar políticas públicas às necessidades dos agricultores.

    De acordo com Marília, a Diretoria de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa demonstrou grande interesse na temática e apoiou a realização do workshop desde o início.

    A expectativa é de que o evento, além da troca de conhecimentos, identifique gargalos e demandas que afetam a conservação de sentimentos. “Assim, ouvindo os agricultores e fomentando diálogos produtivos, será possível que a Embrapa contribua mais para o fortalecimento da conservação da agrobiodiversidade”, diz ela.

    Segundo a pesquisadora Terezinha Dias, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ao ampliar as possibilidades de novos arranjos e interações que fortalecerão a conservação de recursos genéticos, o evento contribui com metas e diretrizes da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), e especialmente para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em temas como segurança alimentar e conservação (ODS 2 e 15), redução da desigualdade de acesso (ODS 10) e ampliação da resiliência de sistemas agrícolas frente à mudança do clima (ODS 13), entre outros.

    Marco

    O pesquisador Irajá Ferreira Antunes, lotado na Estação Experimental Cascata, trabalha com agroecologia e acredita que a oficina é um marco, pois “pela primeira vez será realizado um evento específico para conhecer as diferentes formas de atuação das guardiãs e dos guardiões na conservação das sementes das variedades crioulas”.

    Para ele, o escritório vai possibilitar a troca de experiência e até que alguns agricultores, que já são guardiões, aprendam novas formas de conservar as sementes. “Serão mostradas experiências muito variadas, que podem servir de exemplo para os outros”, assinala.

    Ao mesmo tempo, na opinião de Irajá, a oficina servirá de incentivo à formação de novos guardiões e guardiãs, que poderão se sentir estimulados pelo encontro. “Também é um estímulo para que a autoestima de cada um desses agricultores cresça. É uma forma de mostrar a importância que eles têm no mundo de hoje. Além disso, devemos lembrar que a riqueza alimentar que se tem hoje no planeta se deve a esses agricultores”, afirma.

    Em tempos de mudanças climáticas, o pesquisador lembra que os guardiões, com seus cultivos, podem produzir novas opções de alimentos que toleram essas alterações. “Isso normalmente acontece na natureza”, explica ele.

  • Cultivo de centeio no Brasil ganha zoneamento agrícola de risco climático

    Cultivo de centeio no Brasil ganha zoneamento agrícola de risco climático

    O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou na terça-feira (14), no Diário Oficial da União, as portarias do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura do centeio, com a indicação dos períodos de semeadura e os aptos para o cultivo de cereais em nove estados da federação e no Distrito Federal. Os estudos foram coordenados pela Embrapa Trigo (RS) no âmbito da Rede de Pesquisa e Desenvolvimento do Zarc, com apoio do ministério e do Banco Central.

    O zoneamento era uma demanda do setor produtivo e deveria ajudar a produção a produção no País. Os estudos levaram em consideração os riscos de prejuízo no espigamento, o déficit hídrico no estabelecimento e na fase de enchimento de grãos e o excesso de chuva na colheita. Por meio da análise de riscos climáticos, foram identificados os ambientes específicos para a produção de centeio, considerando as classes de solo, a disponibilidade de água, o regime climático e o ciclo das cultivares. Os estados contemplados são: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Bahia, além do Distrito Federal.

    O centeio faz parte do grupo dos principais cereais cultivados no mundo. É uma espécie de estação fria, que se presta tanto para alimentação humana (grãos) quanto animal (forragem verde, feno, silagem e grãos). O cereal também é utilizado como planta de serviço, seja em cultivo isolado, como cobertura verde/morta do solo, ou como componente de misturas de espécies de plantas de cobertura que são usadas, exclusivamente, para a melhoria das características físicas, químicas e biológicas dos solos.

    “Não obstante essas características positivas e de ser o segundo cereal mais importante para a indústria de panificação, com destaque para a produção de alimentos integrais e dietéticos, o cultivo de centeio, em escala mundial e no Brasil, vem trazendo a cada ano que passa ”, explica o agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo, que coordenou a equipe responsável pela elaboração do zoneamento do Centeio no Brasil. As causas dessa redução, em segundo lugar, vão desde as mudanças de hábitos alimentares, com o consumidor dando preferência aos pães de trigo, à menor produtividade desse cultivo, quando comparado com os demais cereais.

    “Deve ser considerado, ainda, que o centeio não passou por um processo de melhoramento genético tão intenso quanto os outros cereais e nem tem sido, exaustivamente, treinado em termos de práticas de manejo cultural”, completa.

    O centeio no Brasil, informa Cunha, foi introduzido pelos imigrantes alemães e poloneses no século XIX. Atualmente, as estatísticas oficiais do IBGE indicam o cultivo de centeio apenas no Rio Grande do Sul e no Paraná, embora, informalmente, trabalhos de centeio sejam conhecidos em Mato Grosso do Sul e em outras unidades da federação. “A área registrada pelo Mapa para produção de sementes de centeio contabilizou, em 2024, 6.297 hectares. Essa área pode produzir sementes suficientes para semear ao redor de 125 mil hectares”, Frisa Cunha. Na atualidade, o centeio tem sido, majoritariamente, utilizado como planta forrageira para pastejo de animais e como planta de cobertura de solo, seja como espécie isolada ou em misturas de espécies.

    No Brasil, o interesse pelo centeio tem aumentado, especialmente, na função da sua rusticidade, que faz com que esse cereal se adapte bem em solos pobres quimicamente, com acidez mais elevada, e em ambientes mais secos. Além do potencial da sua farinha na produção de alimentos saudáveis, também tem papel importante como ‘planta de serviço’, seja em misturas de espécies ou isoladamente, na construção de perfis férteis dos solos.

    Aplicativo Zarc Plantio Certo

    O Zoneamento de Risco Climático para a cultura do centeio poderá ser acessado no aplicativo móvel  Zarc Plantio Certo , desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital (SP) e disponível gratuitamente nas lojas de aplicativos para os sistemas iOS e Android. Os resultados do Zarc também podem ser consultados por meio da plataforma “Painel de Indicação de Riscos” , no site do Mapa.