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  • Embrapa programa de atividades institucionais na Abertura da Colheita do Arroz

    Embrapa programa de atividades institucionais na Abertura da Colheita do Arroz

    A Embrapa, em conjunto com a Federarroz e o Senar, está realizando a  35ª edição da Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas  pelo sétimo ano funcionando nas dependências da Estação Experimental Terras Baixas, no Capão do Leão, de 18 a 20 de fevereiro. No dia 19 de fevereiro, às 17h30, ocorre a assinatura do protocolo de interesse para importantes relações institucionais em atividades de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) e Transferência de Tecnologia, com ênfase no Acordo de Cooperação Técnica (ACT) do aplicativo PlanejArroz, o qual irá inserir a Federarroz como instituição parceira para compor o grupo de trabalho. Atualmente uma parceria é formada pela Embrapa, Irga, UFSM e INMET. Confira a participação completa da Embrapa  no evento .

    Expandir a divulgação do aplicativo junto aos produtores de arroz é uma das intenções ao ingressar na Federarroz como parceira do grupo de trabalho. O software usado em cerca de 6% da área cultivada no Estado deverá aumentar o volume de usuários. Segundo o pesquisador da área de Agrometeorologia Silvio Steinmetz, o aplicativo tem mais de mil downloads e esse trabalho conjunto com mais parceiros vai movimentar o conhecimento e uso da ferramenta. Ele explicou que o aplicativo possui dois módulos e dados para chegar a essa versão atual foram armazenados há 30 anos, apresentando 41 cultivares específicas e seis estádios de desenvolvimento da planta e dados de clima atualizados a cada hora pelo INMET.

    O PlanejArroz é um aplicativo (plataformas Android e iOS) para o planejamento do manejo e estimativa da produtividade do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, que pode ser acessado pelo Google Play. As estimativas podem ser feitas a partir dos dados de ocorrência dos seis estádios de desenvolvimento das plantas de cultivares recomendadas pela Embrapa, na média dos anos e nas safras, movimentos o manejo e a tomada de decisão nas culturas.

    Parceria com a Yara é assinada para ações de recuperação no Rio Grande do Sul

    Também na solenidade do dia 19, às 17h30, será firmado contrato de cooperação ligado à Recupera Rural RS, iniciativa do Projeto Plataforma Colaborativa Sul para Mitigação de Efeitos Climáticos Adversos na Agropecuária, para enfrentamento aos impactos das enchentes e às mudanças climáticas. O contrato será assinado entre a Yara do Brasil, Embrapa e Fundação de Apoio à Pesquisa Edmundo Gastal (Fapeg).

    Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado

    Outro destaque da solenidade é o lançamento do 13ª Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado (CBAI) no dia 19, às 18h, na Estande da Embrapa, durante a Abertura Oficial da Colheita do Arroz. O Congresso acontecerá em Pelotas, entre os dias 12 e 15 de agosto deste ano, nas dependências do SESI Pelotas. O CBAI é o maior evento técnico de arroz irrigado brasileiro.

    O XIII CBAI será promovido pela Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (SOSBAI) e a realização é a carga da Embrapa, contando com EPAGRI, IRGA, UFPel, UFRGS e UFSM como instituições correalizadoras.

    O tema escolhido para o XIII CBAI é “Semeando conhecimento, alimentando o Brasil”. Nesta edição, pretende-se reunir cerca de 700 participantes entre pesquisadores, professores, técnicos, profissionais ligados ao agronegócio, estudantes e produtores para a apresentação e discussão de inovações científicas e resultados de pesquisas direcionadas ao setor orizícola.

    Homenagem Pá do Arroz

    Uma das homenagens significativas que a Embrapa receberá durante a 35ª edição do evento é a premiação Pá do Arroz, que será entregue ao diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento (DEPD) da Embrapa, Clenio Pillon. Ele receberá uma homenagem na categoria Técnico Federal. Junto a ele, serão homenageados mais dez personalidades destacadas em outras categorias da premiação. A Pá do Arroz é um reconhecimento à contribuição do trabalho de profissionais, entidades, empresas e produtores para o setor arrozeiro, realizado durante a Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas. O ato acontecerá no dia 18 de fevereiro, às 18h30min, no Auditório Frederico Costa, dentro da estrutura do evento. A noite contará também com a entrega de placas de reconhecimento às pessoas/empresas que participaram da iniciativa do Drenar RS, operação que auxiliou no escoamento das águas das enchentes que atingiram a Região Metropolitana de Porto Alegre em maio de 2024.

    Exposição Jardineiros do Butiazal

    A exposição de fotografias denominada “Jardineiros do Butiazal” traz cenas de animais da fauna nativa que se alimentam de butiá e dispersam as sementes. Essa exposição ocorrerá durante os dias da Abertura Oficial da Colheita do Arroz, no prédio da Estação Experimental Terras Baixas (ETB), com livre circulação. A exposição atenderá ao objetivo de apresentar uma diversificação de culturas que são alternativas para compor a própria temática da Abertura da Colheita deste ano: “Produção de Alimentos no Pampa Gaúcho: Uma visão de futuro”.

    Programação on-line e presencial

    O evento conta com uma programação técnica no auditório Frederico Costa, outra agenda técnica no estande da Embrapa, um roteiro técnico nas vitrines tecnológicas e palestras paralelas na Arena Digital. Esta agenda técnica se mantém nos formatos on-line e presencial, com debates fundamentais sobre aspectos técnicos das multiculturas do bioma Pampa; desafios da produção de alimentos com preservação do meio ambiente; atualizações mercadológicas das principais culturas de terras baixas, em especial arroz, soja, milho, trigo e integração labora pecuária; além de temas como gestão de pessoas, financeiro, inovação e muito mais. São esperados 16 mil visitantes, numa feira com cerca de 200 expositores do agronegócio e 50 vitrines tecnológicas, com trabalhos demonstrativos que darão ênfase em inovações voltadas à nutrição de plantas, transparentes, sementes e agroquímicos, mostradas “na prática” aos produtores, suas equipes e técnicos.

  • Vírus transmitidos pela mosca-branca voltam a deficiências polos de produção de tomate

    Vírus transmitidos pela mosca-branca voltam a deficiências polos de produção de tomate

    Nos últimos três anos, um aumento na população de mosca-branca nas regiões produtoras de tomate tem deixado em alerta os produtores, os pesquisadores e técnicos que se dedicam à cultura. Condições climáticas projetadas como altas temperaturas e baixa umidade favoreceram a taxa de reprodução dos insetos e, além disso, a alteração no regime de chuvas, como o veranico e a ocorrência de chuvas fortes e equipamentos, soma dificuldades no controle da praga.

    “As viroses transmitidas pela mosca-branca foram entre os principais problemas fitossanitários do tomateiro por volta de uma década atrás e estavam sob controle até que, de 2021 em diante, observamos o aumento das revoadas de moscas-brancas que migraram de cultivos de soja em final de ciclo e encontram alimento nas lavouras de tomate recém-plantadas”, contextualiza a pesquisadora Alice Nagata, da área de Virologia da Embrapa Hortaliças (Brasília/DF).

    Com esse cenário, desde o ano passado, houve mais frequência dos relatos de produtores sobre a ocorrência de diversas viroses em trabalhos de tomate, que ocasionaram grandes prejuízos financeiros em estados como Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. De acordo com um pesquisadora, quando se olha a paisagem agrícola, a presença da soja por perto piora a situação, um exemplo do que hoje tem sido visto na região de Faxinal/PR, um polo importante de produção de tomate em estufa e com economia baseada no cultivo de milho e soja. Em casos assim, as plantas de soja se multiplicam como moscas-brancas e ainda podem hospedar o vírus e contribuir para o agravamento da situação no tomateiro.

    Amostras de plantas de tomate com sintomas de infecção viral, coletadas dessa região do Paraná, foram comprovadas pela equipe do laboratório de Virologia da Embrapa Hortaliças e, segundo Alice, embora os resultados sejam preliminares, há promessas da importância dos begomovírus e da mosca-branca como inseto-vetor.

    “Para um controle eficiente, é preciso que os agricultores e extensionistas estejam aptos a identificar os sintomas da doença na planta para, então, fazer um manejo adequado segundo as recomendações técnico-científicas”, esclarece. O uso de cultivares com algum nível de resistência às viroses é uma das medidas de controle possíveis, pois ainda que as plantas infectadas tenham a possibilidade de não comprometer completamente a produção.

    Como as viroses transmitidas por mosca-branca não eram um problema predominante até os últimos anos, os produtores vinham privilegiando o plantio de cultivares com outras características, como maior produtividade e, com isso, quando ocorreu o surto de mosca-branca, não havia oferta no mercado de sementes com resistência a viroses associadas ao vetor.

    Sintomas e recomendações

    A publicação “ Guia para Identificação de Pragas do Tomateiro ” traz informações sobre o ciclo de vida e características das implicações que influenciam os cultivos de tomate, bem como sobre os sintomas e os danos ocasionados nas plantas em decorrência das infestações.

    Segundo o documento, no caso da mosca-branca, as toxinas injetadas no processo de extração da seiva causada pelo vigor da planta e causam anomalias nos frutos como amadurecimento irregular e polpa descolorida e sem sabor – o que é conhecido como isoporização da polpa. Além disso, pode ocorrer a formação de fumagina nas folhas e nos frutos e, em infestações muito graves, pode haver murcha e morte de mudas e plantas jovens, ou nanismo e redução da conversão.

    Para consultar as medidas de controle da mosca-branca e suas viroses associadas, a publicação “ Guia para o Reconhecimento e Manejo da Mosca-branca, da Geminivirose e da Crinivirose na Cultura do Tomateiro ” detalha como obter bons resultados por meio do manejo integrado de tradição, que envolve várias medidas de controle, não somente controle químico e uso de cultivares resistentes, sendo todas medidas igualmente importantes para um controle eficaz.

    Reunião Técnica

    Devido à relevância das viroses associadas à mosca-branca nos plantios de tomate do Paraná, a pesquisadora Alice Nagata participa, na quinta-feira (13), de uma reunião técnica promovida pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná). Ela irá falar sobre o panorama de viroses do tomateiro no Brasil para os extensionistas que atuam na área de olericultura.

    O evento tem o objetivo de atualizar os técnicos sobre as medidas para prevenção e manejo de viroses na cultura do tomate e irá contar com palestras de diferentes especialistas do instituto sobre temas como: panorama da cultura do tomate no Paraná, resultados de detecção e identificação de viroses na cultura do tomate na região de Faxinal, insetos vetores de vírus em tomate, e aspectos legais e programa de sanidade da cultura do tomate – apresentado pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR).

  • Políticas públicas e valorização profissional estimulam o jovem a permanecer no campo

    Políticas públicas e valorização profissional estimulam o jovem a permanecer no campo

    A permanência dos jovens no campo e a continuidade das propriedades familiares dependem diretamente de estratégias que garantam seu envolvimento nas atividades rurais. A principal solução apontada por pesquisadores e produtores é a criação de nichos de especialização e a autonomia na tomada de decisão dentro da propriedade. Essa abordagem é essencial para estimular a inovação e garantir que uma nova geração de agricultores continue no setor.

    O pesquisador Ivan Alvarez, da Embrapa Meio Ambiente, explica que estudos realizados no Estado de São Paulo indicam que a falta de incentivo à autonomia dos jovens e a pressão urbanística são os principais desafios para a sucessão familiar na agricultura. De acordo com Alvarez, uma pesquisa focada no município de Valinhos, que faz parte do Circuito das Frutas, estabelece três perfis distintos de produtores: agricultores familiares tradicionais, aqueles em transição para um modelo empresarial e aqueles que já operam de forma empresarial, com maior autonomia dos jovens.

    “A urbanização acelerada, a valorização imobiliária e a falta de políticas públicas adequadas têm impactado diretamente a permanência dos jovens nas propriedades rurais”, destaca Alvarez. Para enfrentar esses desafios, pesquisadores e produtores sugeriram, em workshops realizados com produtores locais, a criação de incentivos financeiros, acesso à educação, políticas de inclusão digital e medidas de proteção da agricultura periurbana nos planos diretores municipais.

    A pesquisa utilizou o método AHP (Processo de Análise Hierárquica) para priorizar soluções junto aos agricultores, resultando na definição da “união familiar” como o fator mais relevante para garantir a continuidade das propriedades. O estudo também apontou a necessidade de políticas específicas para diferentes perfis de produtores, oferecendo soluções adaptadas à realidade de cada grupo.

    Os resultados demonstram que a revitalização da agricultura periurbana exige a implementação de medidas concretas que garantam o futuro do setor. A sucessão familiar no campo é um desafio que precisa ser tratado com urgência para evitar o avanço da urbanização nas áreas produtivas e garantir a continuidade da produção de alimentos no Estado de São Paulo.

    Uma análise de campo realizada com agricultores familiares periurbanos revelou a existência de três grupos diferentes de produtores, cada um com características próprias e diferentes desafios em relação à sucessão familiar e à modernização do setor. A pesquisa que envolve a manutenção das propriedades rurais está diretamente relacionada à autonomia dos jovens na gestão e à capacidade de agregar valor à produção.

    O primeiro grupo compreende pequenos agricultores familiares, com propriedades variando entre um e quatro módulos fiscais, cuja renda provém exclusivamente da terra. A gestão desses estabelecimentos é limitada e a produção destinada ao mercado interno, com forte presença em centros de abastecimento como Ceasa/Ceagesp em São Paulo e Campinas. Nessas famílias, a mão de obra é essencialmente familiar, com pais e filhos envolvidos em todas as etapas, desde o plantio até a comercialização.

    No segundo grupo, encontramos os produtores que estão em transição para um modelo mais empresarial, utilizando máquinas e tecnologia digital para aprimorar a produção. Apesar de manterem uma base familiar, já contratam mão de obra local e buscam expandir seus mercados, investindo em processos de exportação e agregação de valor aos produtos.

    O terceiro grupo engloba agricultores tecnificados, com propriedades superiores a 20 hectares. Esses produtores possuem gestão estruturada e comercialização eficiente, destinando parte significativa de sua produção para exportação. A gestão familiar foca na administração do negócio, enquanto a mão de obra externa é amplamente utilizada na produção.

    A pesquisa também demonstrou que a sucessão familiar é um desafio comum entre os grupos. O método AHP utilizado na análise apontou que a “união da própria família” é a solução interna mais valorizada pelos produtores, seguida pela “iniciativa para buscar novos mercados” e “iniciativa para buscar cursos”. Em relação às soluções externas, os grupos destacam-se a “educação e extensão rural”, os “subsídios financeiros para iniciar atividade” e as “cooperativas para fortalecimento” como principais prioridades.

    “O estudo revela ainda que o êxodo rural está mais presente entre os filhos de agricultores em situação de exclusão econômica, enquanto aqueles pertencentes a famílias capitalizadas tendem a permanecer no campo. A autonomia dos jovens na gestão da propriedade e a existência de um nicho de atuação dentro da atividade são fatores determinantes para a permanência na atividade agropecuária, informou Sandro Pereira, analista da Embrapa Meio Ambiente.

    No primeiro grupo, os filhos atuam majoritariamente como trabalhadores, executando tarefas operacionais sem autonomia na gestão. Muitos não possuem formação superior ou optaram por cursos não relacionados ao agronegócio. No segundo grupo, a gestão é mais compartilhada, e os filhos começam a buscar seu próprio espaço dentro da atividade. No terceiro grupo, os jovens desempenham funções estratégicas na gestão e logística, geralmente possuindo formação em administração ou relações internacionais, com foco na expansão e internacionalização do negócio.

    O estudo enfatizou a necessidade de políticas públicas externas à educação e à qualificação técnica dos jovens rurais, além do incentivo às cooperativas e ao acesso ao crédito. Sem o suporte adequado, as dificuldades da agricultura periurbana continuarão comprometendo a renovação geracional e a sustentabilidade da produção familiar no Brasil. O estudo reforça que a inclusão dos agricultores familiares no processo de formulação de políticas é essencial para garantir a permanência e a prosperidade dessas comunidades no cenário agrícola nacional.

    O trabalho completo foi publicado na Revista Contemporânea, vol. 4, nº. 12, 2024. ISSN: 2447-0961 e teve também a participação do pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Fagoni Calegario.

  • Produtores familiares quadruplicam produtividade de cafés Robustas Amazônicos

    Produtores familiares quadruplicam produtividade de cafés Robustas Amazônicos

    O cultivo de variedades de café clonal, conhecido como Robustas Amazônicos, associado a outras tecnologias recomendadas pela Embrapa, tem possibilitado trabalhos mais produtivos e grãos de qualidade em propriedades rurais familiares da Amazônia. Produtores do Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima e outras localidades da região conseguiram quadruplicar a produção, em relação aos cultivos seminais, saindo de uma produtividade entre 20 e 30 sacas de 60 quilos de café em grãos por hectare, para até 120 sacas. Esse resultado garante mais renda e qualidade de vida para as famílias rurais.

    Os cafés Robustas Amazônicos são cultivados há décadas na Amazônia e, nos últimos dez anos, ganharam visibilidade no mercado e a preferência dos cafeicultores da região. A atividade começou com agricultores de Rondônia e se expandiu entre produtores de outros estados, que passou a renovar antigos cafés seminais e implantaram novos plantios com variedades clonais. Segundo o pesquisadora da Embrapa Acre , Aureny Lunz , os cafés seminais apresentam pouca alta variabilidade genética, fator que limita a produção e torna a cultura competitiva.

    “Já os cafés clonais Robustas Amazônicos, além de altamente produtivos, obtiveram maturação uniforme, essencial para obtenção de grãos de qualidade, e o uso de variedades precoces ou tardias permite planejar a colheita. Esses materiais genéticos, aliados às tecnologias de manejo, conferem à cafeicultura expressiva capacidade de gerar renda e agregar valor à produção familiar e elevar o potencial de transformação da cultura, ainda mais visível na vida de pequenos produtores”, destaca.

    Salto na produtividade

    De acordo com Enrique Alves , pesquisador da Embrapa Rondônia , a cafeicultura na Amazônia evoluiu de um modelo quase extrativista para uma produção tecnológica sustentável. A média atual de produção de estados como Acre (45 sacas por hectare) e Rondônia (52 sacas), em nada lembra a produtividade de um passado recente, que raramente superava 10 sacas por hectare.

    “Alcançamos avanços significativos na cultura e dispomos de tecnologias que possibilitam aproveitar todo o potencial agronômico dos clones de cafés Robustas Amazônicos e elevar a produção. Por isso, é comum encontrar propriedades familiares com produtividade de 120 a 150 sacas de café por hectare e alguns trabalhos superam 200 sacas”, ressalta o pesquisador.

    O agricultor Wanderlei de Lara, morador de Acrelândia, principal polo de produção de café do Acre, plantou os primeiros clones de Robustas Amazônicos em 2016, depois de conhecer, junto com outros produtores, a experiência de cafeicultores da Nova Brasilândia, em Rondônia. Ele conta que esses cafés possibilitaram um salto na produtividade, resultado da qualidade genética dos materiais clonais e adoção de práticas adequadas de manejo e inspeção das lavouras.

    “Saímos de 20 sacas de 60 quilos, com os cafés seminais, para 100 sacas por hectare. Na safra de 2024 produzimos 120 sacas por hectare, comercializadas entre mil e parcelas e mil e trinta reais, cada”, relata o produtor, informando que o retorno econômico na atividade possibilitou modernizar a produção e a infraestrutura da propriedade. “Hoje, vendemos o nosso café todo torrado e moído, pronto para ser embalado. Minha família tem melhores condições de trabalho e uma vida mais confortável, graças à cafeicultura clonal”, enfatiza Lara, que também investe na produção de café fermentado, produto vendido pelo dobro do preço do café em coco.

    Negócio familiar rentável

    No Juruá, uma das regionais do Acre, o café é cultivado há mais de duas décadas, mas a produção ganhou força a partir de 2021, com a criação da Cooperativa dos Cafeicultores do Vale do Juruá (Coopercafé), iniciativa que reúne 92 produtores familiares e incentiva o uso de clones Robustas Amazônicos em pequenas propriedades. Na propriedade do agricultor Romualdo da Silva, de Mâncio Lima, a produção chama a atenção pelo vigor do cafezal e os resultados obtidos possibilitaram a criação do café Vô Raimundo, já disponível em mercados locais.

    “Somente com o uso de clones adequado, o manejo nutricional baseado nas necessidades das plantas e um sistema de diretiva eficiente, a cultura evoluiu. Produzimos 120 sacas de grãos em uma área de 1,2 hectares, um desempenho excelente. Com o apoio da cooperativa, adequamos a propriedade para um processo de produção que vai do campo à xícara e transformamos a atividade em um negócio familiar rentável. Ver o nosso café nas prateleiras de supermercados é a realização de um sonho”, declara o agricultor.

    Para Michelma Lima, agrônoma da Secretaria de Agricultura do Acre (Seagri), a cafeicultura é uma atividade em expansão na Amazônia, processo fruto de investimentos em tecnologias. “No Acre, o aumento da área cultivada e da eficiência produtiva na cafeicultura é prioridade do programa de fortalecimento da produção agrícola do estado. Além de obter ganhos no rendimento dos cafezais, o acesso dos produtores a clones adaptados à região e à assistência técnica continuada reduz os custos na produção”, avalia.

    Cafeicultura gera turismo rural sustentável

    Outro exemplo de como uma cafeicultura tem ajudado a transformar a produção familiar e a vida no campo é a família Bento, de Cacoal (RO), que mantém uma produtividade de 100 sacas de café por hectare, desempenho que gera renda para cinco famílias no Sítio Rio Limão. O trabalho compartilhado e os investimentos em tecnologias de cultivo e para melhoria da qualidade dos grãos trouxeram a propriedade uma referência em cafés Robustas Amazônicos de excelência e em turismo rural sustentável na Amazônia.

    O produtor Ronaldo Bento explica que a colheita no tempo certo e os processos de secagem e investigação bem orientados, além de procedimentos adequados no armazenamento, transformaram o perfil sensorial dos grãos, resultando em um café especial, premiado em concursos estaduais e nacionais. A qualidade e notoriedade do produto chamou a atenção dos turistas e, nos últimos cinco anos, a propriedade já recebeu visitantes de mais de 20 países.

    “Atendemos cerca de dois mil turistas por mês, que buscam conhecer as lavouras e o processo produtivo e degustar um típico café colonial. Vendemos uma média de 200 quilos de café por semana, somente na propriedade. Cada embalagem com 500 gramas de café comum ou 250 gramas de café gourmet custa 25 reais. Além disso, nosso café abastece mercados locais e de outros estados. Produzir café está no nosso sangue. Não imagino minha família em outra atividade”, enfatiza Bento.

    Café indígena

    Os cafés Robustas Amazônicos também são cultivados em diferentes terras indígenas e se destacam como vitrine da sociobioeconomia amazônica. Em Rondônia, o “Projeto Tribos”, iniciativa do Grupo 3 Corações, reforçado pela Embrapa, implementa um modelo de produção sustentável que gera renda para cerca de 150 famílias, de oito etnias que habitam as terras indígenas Sete de Setembro e Rio Branco.

    “O trabalho se baseia na transferência de tecnologias que preconizam a preservação das florestas, o protagonismo indígena e a qualidade da produção. Entre os resultados alcançados está um café especial, produzido por uma família Suruí, avaliado com nota 100, pontuação máxima atribuída a cafés Robustas em premiações, no mundo”, explica o pesquisador Enrique Alves.

    No estado de Roraima, a produção de Robustas Amazônicos envolve agricultores de diferentes municípios, incluindo indígenas da comunidade Kauwê, na Terra indígena Raposa Serra do Sol, localizada em Pacaraima, onde os primeiros cafezais foram implantados em 2020, com apoio da Embrapa. Idauto Pedrosa Lima cultiva 10 variedades desses cafés, com a participação de toda a família, e o rigor na atividade, especialmente na colheita, seleção e torra dos grãos, resultado em um café indígena com qualidade aprovada por consumidores de diversas partes do mundo.

    “Testamos a bebida com a comunidade e a acessibilidade foi muito positiva. A partir desse resultado, buscamos um nome e uma identidade visual que refletissem a sua origem e batizamos o produto de Café Uyonpa (“café família” na língua Macuxi). A produção é vendida para turistas que visitam a Terra Indígena e pela internet e gera uma renda média mensal de quatro mil reais.

    O analista da Embrapa Roraima , Lourenço Cruz , que acompanha as atividades na Terra Indígena, considera o apoio às famílias indígenas essencial para viabilizar uma atividade econômica sustentável. “Os produtores estão comprometidos com a produção de café de qualidade e já estão gerando renda para suas famílias. O projeto tem potencial para ser replicado em outras comunidades indígenas de Roraima”, afirma.

    Aproveitamento de áreas degradadas

    Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (AM)  Edson Barcelos , o estudo de cafés clonais no Amazonas começou há pouco mais de uma década e tem se tornado uma alternativa para o aproveitamento e conversão de áreas alteradas em espaços produtivos. “A cafeicultura é uma importante atividade econômica para dez municípios amazonenses; a maioria dos cultivos tem até dois hectares e predominam clones Robustas Amazônicos”, destaca.

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    No município de Silves, uma atividade teve início, a partir de 2015, com Unidades de Referência Tecnológica (URTs) implantadas com apoio da Embrapa, na área da Associação Solidariedade Amazonas (ASA), na estrada da Várzea. A família Lins, uma das primeiras a adesão à parceria, passou a colher dez vezes o que produzia com o café seminal. Além de boa produtividade e qualidade diferenciada, a atividade, realizada somente em áreas de capoeira, permite conservar a floresta em pé.

    Conciliar produção de qualidade e conservação ambiental rendeu à família o prêmio Florada Premiada, na categoria Campeãs Regionais Canéfora, em 2024. Para a matriarca Maria Karimel Lins (a dona Vanda), a conquista é resultado do conhecimento adquirido em capacitações sobre diferentes aspectos da cafeicultura. “Melhoramos procedimentos de colheita, pós-colheita e os cuidados para manutenção da qualidade dos grãos”, relata a produtora, que acredita que a premiação pode inspirar outros agricultores a valorizar a qualidade e o meio ambiente na produção de café.

  • STF isenta Embrapa de pagamento de ICMS e determina restituição de valores em Mato Grosso

    STF isenta Embrapa de pagamento de ICMS e determina restituição de valores em Mato Grosso

    Em decisão recente, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu ao pedido da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para não efetuar repasses de ICMS referente às suas atividades em Mato Grosso. Além disso, o magistrado determinou que o Estado devolva os valores recolhidos indevidamente nos últimos cinco anos.

    A ação foi movida pela Embrapa e sua unidade descentralizada Embrapa Agrossilvipastoril, sob o argumento de que, sendo uma empresa pública prestadora de serviço público e com capital social pertencente à União, a instituição tem direito à imunidade tributária. No processo, a Embrapa solicitou que o governo do Estado de Mato Grosso se abstivesse de cobrar ICMS sobre suas atividades.

    O governo estadual, por sua vez, defendeu a cobrança do imposto, argumentando que a Embrapa realiza atividades de venda de excedente de produção de pesquisa agropecuária, o que caracterizaria uma atividade econômica em sentido estrito, não abrangida pela imunidade tributária prevista na Constituição.

    Ao analisar o caso, o ministro Luiz Fux citou o artigo 150 da Constituição Federal, que trata sobre imunidade tributária, destacando que a norma se estende a empresas públicas prestadoras de serviço, desde que comprovada a natureza essencial, exclusiva e não concorrencial da atividade desenvolvida.

    Fux destacou ainda que a Lei nº 5.851/1972, que autorizou a criação da Embrapa, bem como seu Estatuto Social, comprovam que a empresa se enquadra como prestadora de serviço público essencial e não concorrencial, voltado à produção de ciência e tecnologia no setor agrícola. Segundo o ministro, a Embrapa é totalmente dependente de repasses de recursos públicos e não possui finalidade lucrativa.

    Com base nesses argumentos, o ministro julgou procedente a ação, determinando que Mato Grosso cesse a cobrança de ICMS sobre a Embrapa e restitua os valores arrecadados indevidamente nos últimos cinco anos.

    “A entidade promovente exerce atividade estatal típica que não se confunde, absolutamente, com a exploração de atividade econômica (…), e que, notadamente, logra se enquadrar nos requisitos enumerados na jurisprudência desta Corte para os fins do gozo da imunidade tributária”, concluiu Fux em sua decisão.

     

  • Dia de Campo da Embrapa sobre ILPF tem sinergia com as atividades do Cat que participa do evento com representantes de Sorriso

    Dia de Campo da Embrapa sobre ILPF tem sinergia com as atividades do Cat que participa do evento com representantes de Sorriso

    Produtores da Agricultura Familiar do Assentamento Jonas Pinheiro, Rita de Cássia Hachiya (sítio Vila Láctea) e José Reis (sítio Cristo Rei) estiveram presentes na segunda edição do Dia de Campo sobre Pecuária Leiteira em Sistemas Integrados de Produção (ILPF) promovido pela Embrapa Agrossilvipastoril.

    O evento aconteceu no campo experimental da Embrapa, em Sinop e visou levar aos produtores de leite, profissionais de assistência técnica e estudantes informações que possam trazer melhorias para a produção leiteira em Mato Grosso. A programação contou com palestras que abordaram temas de interesse do produtor, como qualidade do leite, manejo de forrageiras, genética do rebanho e uso de sistemas de integração lavoura-pecuária e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na pecuária leiteira.

    A participação dos produtores foi viabilizada com o apoio do CAT Sorriso, por meio do projeto Cultivando Vida Sustentável. Os dois foram acompanhados pela técnica de campo, a engenheira florestal Bruna Valério, que destacou a importância do evento. “O dia de campo da Embrapa sobre ILPF e gado leiteiro foi muito produtivo, destacando a importância da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta como uma estratégia para aumentar a eficiência e a sustentabilidade da pecuária leiteira. Participar desse tipo de evento é essencial para conhecer novas técnicas e manejos aplicáveis às realidades locais. Além disso, levar produtores da região para vivenciar essas experiências possibilita a troca de conhecimento e incentiva a adoção de práticas mais eficientes e sustentáveis na pecuária leiteira”.

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    O sistema ILPF melhora a qualidade das pastagens, proporciona conforto térmico para os animais e otimiza o uso da terra ao integrar diferentes componentes produtivos. Essas condições favorecem a saúde do rebanho e o aumento na produção de leite, além de gerar benefícios ambientais e econômicos para os produtores.

    Rita já possui uma unidade demonstrativa de ILPF e Sistemas Agroflorestais em seu sítio e José Reis está em fase de implementação em sua propriedade. Os dois seguem na jornada de busca por conhecimento e pesquisa, com apoio do CAT Sorriso, por meio do projeto Cultivando Vida Sustentável.

    Rita relatou como foi sua experiência em participar desse dia de campo: “Foi uma experiência muito enriquecedora participar desse dia de campo. Tive oportunidade de conhecer novas tecnologias, boas práticas, melhoramento genético, incluindo manejo alimentar. Consegui tirar muitas dúvidas, poder ver onde estou errando e onde estou acertando e onde posso melhorar. Um momento muito valioso essa troca de experiência entre produtores, técnicos e pesquisadores. E saber que muitas coisas que a Embrapa desenvolve lá a gente já faz na nossa propriedade, uma delas é o melhoramento genético, nosso rebanho é 100% leite A2A2, que é mais saudável e a Embrapa está mudando o rebanho para leite A2A2. Fiquei feliz em saber que estamos no caminho certo e podemos ser referência para outros produtores. E quero agradecer a parceria do CAT pelo apoio e da Bruna que me acompanhou nesse dia de campo”.

    José dos Reis agradeceu todo apoio recebido do CAT e parceiros e destacou o que chamou sua atenção durante o dia de campo, em relação aos trabalhos desenvolvidos pela Embrapa. “Há vários anos eles vêm trabalhando essa questão do Agrossilvipastoril, integração lavoura pecuária floresta, com a arborização, é um trabalho inovador e que vem trazendo resultados fantásticos para todos os produtores que tenham interesse em copiar. É um trabalho brilhante que vale a pena e traz resultados positivos tecnicamente, economicamente, ambientalmente e socialmente e prezando pelo conforto dos animais com o sombreamento das pastagens que traz resultados para os animais e para os produtores que visam equilibrar a atividade leiteira de forma rentável com o meio ambiente. É uma integração interessantíssima. Com base em tudo isso podemos repensar nossa atividade e ver no que podemos melhorar para aumentar nossa produtividade e melhorar a posição de Mato Grosso para ser um dos maiores produtores de leite do País”.

  • Brasil cria seu primeiro equipamento digital para medir permeabilidade do solo

    Brasil cria seu primeiro equipamento digital para medir permeabilidade do solo

    O novo equipamento tem potencial para incrementar a medição de parâmetros físicos relacionados ao comportamento da água no solo, impactando questões agronômicas e de infraestrutura urbana. Trata-se do SoloFlux , o primeiro permeâmetro digital automatizado totalmente desenvolvido com tecnologia nacional, capaz de medir a permeabilidade ou condutividade hidráulica do solo saturado. Fruto da parceria pública privada, o produto é resultado de um trabalho conjunto entre a Embrapa Solos (RJ), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas ( CBPF ) e a empresa Falker Automação Agrícola , de Porto Alegre (RS), que foi lançado recentemente no mercado.

    Medir a permeabilidade da água no solo é importante para descrever a capacidade de drenar e redistribuir a água que infiltra no solo. Essas informações são fundamentais para o manejo e o aproveitamento da água da segurança e o dimensionamento de projetos hidráulicos, como canais, locais de recarga de aquíferos, áreas de alto risco de contaminação com agrotóxicos e seleção de locais para aterros sanitários e, até mesmo, cemitérios. A previsibilidade do comportamento da água no solo frente a eventos climáticos adversos também é fundamental para estudos de cenários de escassez e de alto volume de chuvas.

    O SoloFlux automatiza a captura, transmissão e leitura de dados, registrando os fluxos de água no tempo que permite calcular a condutividade hidráulica saturada do solo. Essas informações são transmitidas via aplicativo e sistema web, com sincronização e armazenamento na nuvem, exibição de gráficos e comunicação via USB e Bluetooth para leitura remota dos dados de solos.

    Outro grande diferencial do novo produto é que ele é digital e totalmente nacional, complementando os aparelhos analógicos importados, que comentam de um operador altamente especializado para cada equipamento em uso, para anotar os dados de fluxo a cada um ou minutos três, dependendo do solo. O SoloFlux coleta os dados de modo preciso e automático e já fornece as informações da condutividade hidráulica saturada do solo instantâneo no final da avaliação.

    “Trate-se de um equipamento com preço mais acessível e que otimize o trabalho de quem está no campo. Antes, o operador trabalhou com atenção exclusiva à medição de dados. Agora, com a medição automática, ele pode se dedicar a outras atividades”, revela Wenceslau Teixeira , pesquisador da Embrapa Solos, que participa do desenvolvimento do equipamento.

    O SoloFlux simplifica o processo ao medir o fluxo de água num pequeno poço, que pode ser escavado em diferentes profundidades, por meio de um trado que vem com o produto.

    “Outra vantagem significativa do SoloFlux é a agilidade operacional. Ele permite analisar mais pontos em menos tempo, expandindo a área de estudo em uma única ida ao campo, o que é essencial para solos com alta variabilidade espacial. Essa eficiência operacional e sua interface mais simples tornam o produto uma ferramenta inovadora, que melhora e torna mais acessível a análise quantitativa de parâmetros físicos relacionados ao comportamento da água no solo”, diz o pesquisador Geraldo Cernicchiaro, do CBPF.

    O SoloFlux pode ser adquirido no site da Falker . É um equipamento portátil, com uma mochila para transporte ao campo.

    A concepção do SoloFlux

    O SoloFlux surgiu de um projeto de recarga de aquíferos na ilha de São Luís, no Maranhão. “Eu fiquei vários dias analisando a condutividade hidráulica saturada com um perímetro de Guelph, que é o mais comum, importado dos Estados Unidos, e cheguei à conclusão de que não era prático, exigia dedicação exclusiva, tinha que ficar o dia inteiro lá, anotando os dados, e sem tempo para outras atividades. Perguntei ao Geraldo, que é especializado em instrumentação, se não seria possível automatizar aquela coleta de dados”, conta Teixeira.

    “Fiquei muito liberado quando o Wenceslau me apresentou um desafio que não era apenas cientificamente relevante, mas também com grande potencial de impacto econômico e ambiental: melhorar e tornar mais acessível a análise quantitativa de parâmetros físicos relacionados ao comportamento da água no solo”, lembra Cernicchiaro.

    Os pesquisadores construíram um primeiro protótipo, por meio do que procuraram medir a carga hidráulica, mas ele não funcionou. “Depois, o Geraldo teve uma ideia bem interessante, que era medida o descartável, o vazio; funcionou muito bem e montamos o primeiro protótipo dentro de uma marmita de plástico. Fiz um segundo teste de avaliação de campo, num projeto em canaviais em São Paulo e funcionou muito bem. Escrevemos, então, um artigo científico a respeito, que foi publicado no Journal of Hydrology . Ao tomar conhecimento, a empresa Falker se interessou pelo projeto e começamos uma negociação que se concretizou agora com o lançamento do equipamento”, revela Teixeira.

    O CEO da Falker, Marcio Albuquerque, destaca a importância da parceria público-privada e, principalmente, da parceria pesquisa-mercado. “Elas são fundamentais para a inovação. Exigem vontade, confiança mútua para vencer e vencer as barreiras. Quando se consegue, permite uma situação em que todas as partes ganham, desde as envolvidas diretamente na parceria até o mercado, que conta com novas tecnologias”, afirma.

    “Ver o trabalho acadêmico sair das prateleiras e ser aplicado na sociedade reforça a importância de se investir em ciência. Essa conexão entre pesquisa e aplicação prática é algo que valorizamos no CBPF”, reitera Cernicchiaro.

    Potencial de uso no Brasil e exterior

    O SoloFlux permite a obtenção de dados sobre a condutividade hidráulica saturada do solo, ou seja, informações que caracterizam a dinâmica da água, como a velocidade que ela caminha no solo. Seu uso possibilita, por exemplo, o avanço nos estudos de lixiviação de nutrientes e agrotóxicos, modelos de predição da produtividade de cultivos e também trabalhos envolvendo ciclos biogeoquímicos, incluindo o carbono. Dados de condutividade hidráulica dos solos também são essenciais para alguns modelos de previsão meteorológica que revelam dados da dinâmica da água no solo.

    Além disso, os dados favorecem o manejo eficiente dos recursos na agricultura, melhor dimensionamento de sistemas de integridade e drenagem, além de seleção de locais para instalação de lagoas, aterros sanitários e depósitos de resíduos de agrotóxicos e de contaminantes. Os dados de condutividade hidráulica da água no solo são essenciais, ainda, para estudos de recargas de aquíferos e dimensionamento de sistemas de drenagem urbana. Em função de sua operação facilitada na coleta de dados e na realização dos cálculos, não há necessidade de alta especialização técnica do operador.

    “No início, o equipamento deve ser usado em pesquisa e por empresas pioneiras no agro. Com o tempo, se tornará uma ferramenta de campo de um número maior de agricultores e, quem sabe, até de produtores. Já ajudamos a introduzir outras tecnologias no mercado percorrendo este caminho: tecnologias que eram conhecidas apenas de pesquisadores e hoje são ferramentas de trabalho de produtores”, analisa Albuquerque.

    De acordo com os especialistas, o perímetro digital e automatizado para medir a condutividade hidráulica e dinâmica da água e outros fluxos no solo apresenta grande potencial de adoção e movimentação também no exterior, principalmente em países que praticam agricultura irrigada, por se tratar de um dispositivo de coleta simplificada, com transmissão de dados via internet e adaptado à agricultura de precisão. A SoloFlux já possui licença para comercialização em 16 países.

    Desafios do desenvolvimento

    Conforme os parceiros, o maior desafio na criação da SoloFlux foi a natureza interdisciplinar do projeto, que desenvolve um esforço significativo para integrar conceitos, vocabulários e modelos de áreas como física, engenharia e agronomia. Houve um grande compromisso para conciliar demandas e interesses específicos de cada disciplina, assim como para transformar um estudo científico em um produto funcional e acessível ao mercado.

    Para os pesquisadores da Embrapa Solos e do CBPF, o sucesso do SoloFlux só foi possível devido à parceria com a empresa Falker, que demonstrou sensibilidade, capacidade de diálogo e resiliência para enfrentar esses desafios. “Essa colaboração foi fundamental para alinhar os aspectos técnicos às demandas práticas e viabilizar o processo de transferência de tecnologia, resultando em um produto que combina inovação com aplicabilidade”, conclui Wenceslau Teixeira.

  • Brasil e Estados Unidos mantiveram menores custos de produção de frango de corte em 2023

    Brasil e Estados Unidos mantiveram menores custos de produção de frango de corte em 2023

    Os dados apontam que em 2023 o Brasil e os Estados Unidos tiveram o menor custo de produção de frango de corte em comparação com três países da União Europeia – Holanda, Alemanha e Polônia. A estimativa é feita anualmente pelo Instituto de Pesquisa em Economia da Universidade de Wageningen, com cooperativamente de Peter van Horne, pesquisador e economista em avicultura, e tem como objetivo avaliar a competitividade dos países. Uma ferramenta de design de custo foi desenvolvida por ele para comparar os custos de produção da carne de frango entre países.

    Os dados para o Brasil referem-se a um aviário climatizado com pressão positiva no estado do Paraná e foram disponibilizados pela Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC). Para o pesquisador Marcelo Miele, da área de socioeconomia, “é importante divulgar essas informações para os agentes da cadeia produtiva no Brasil”.

    Os custos de produção nas granjas do Brasil são os menores em comparação com os demais países elencados no estudo, com um valor de R$ 4,53 por kg vivo, seguido dos Estados Unidos com R$ 5,23 por kg vivo. Já a Alemanha apresentou o maior custo, ficando em R$ 6,08 por Kg vivo. Para chegar a esses números, os pesquisadores avaliaram os itens de custo: ração, pintos de um dia, mão de obra, outros e instalações. Em relação à instalação, a metodologia exige manutenção, depreciação e juros sobre capital.

  • Zarc avança e ajuda os produtores de soja no enfrentamento às mudanças climáticas

    Zarc avança e ajuda os produtores de soja no enfrentamento às mudanças climáticas

    O Brasil é o maior produtor de soja do mundo e deve colher mais de 166 milhões de toneladas do grão na safra 2024/25, de acordo com estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Entretanto, as últimas colheitas têm registado perdas de produtividade, em todo o território nacional, decorrentes de secas, regimes de chuvas mal distribuídas e altas temperaturas, que são alguns dos efeitos causados ​​pelas mudanças climáticas. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), ferramenta de política pública, foi reconhecido como o principal aliado dos produtores para o enfrentamento dos riscos climáticos que interferem no desenvolvimento dessa commodity.

    Segundo José Renato Farias, pesquisador da Embrapa Soja (PR), o Zarc está hoje em um nível bem avançado e conta com uma base de dados bastante consistente. “Isso garante ao produtor segurança para diminuir e amenizar os impactos decorrentes das adversidades climáticas”, explica. Além disso, é uma ferramenta em constante evolução para atender às necessidades do setor produtivo. Um dos avanços mais recentes, com potencial imediato de contribuição na adaptação dos plantios de soja aos riscos climáticos, é o Zarc Níveis de Manejo (Zarc NM).

    Um protótipo do aplicativo com essas novidades está em fase de experimentação em trabalhos de soja no Paraná, com resultados bastante positivos, como explica o pesquisador. O Zarc NM recomenda as práticas de manejo do solo como fundamentais no momento do plantio, uma vez que melhoram o armazenamento, recarga e distribuição da água no solo, além de fornecerem maior profundidade das raízes, o que incrementa o volume de água disponível às plantas. “Isso pode ser fundamental em momentos de deficiência de chuvas”, destaca Farias.

    A expectativa é que, além de expandir o Zarc NM para muitas regiões brasileiras, a ferramenta possa beneficiar também outras culturas de importância socioeconômica, como o milho e o trigo, por exemplo.

    Vantagens do novo avanço do Zarc

    Praticamente 95% da produção de soja no Brasil é conduzida em áreas de sequeiro, ou seja, não irrigadas. Culturas não irrigadas possuem como fontes hídricas ao seu desenvolvimento a água proveniente da oferta pluviométrica (chuva) e reflexão disponibilizada pelo solo. Práticas de manejo do solo podem otimizar o armazenamento hídrico, incrementando o volume de água disponível para as plantas.

    A melhoria do manejo impacta diretamente nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, no teor de matéria orgânica, na redistribuição de água, no crescimento do sistema radicular e na produtividade. “Além de reduzir o risco hídrico da cultura, a adoção de melhores níveis de manejo do solo resulta em outros benefícios potenciais, como conservação do solo e da água e aumento do carbono orgânico no solo”, complementa Farias.

    Segundo ele, os indicadores considerados para avaliação do nível de manejo do solo nos sistemas produtivos foram definidos com base em trabalhos de pesquisa e fundamentados por publicações técnicas e científicas, a partir de uma revisão bibliográfica extensiva e detalhada. Eles estão diretamente associados à qualidade do manejo e à fertilidade do solo, para o enquadramento das atividades em diferentes níveis de manejo do solo (NM).

    Outras práticas recomendadas

    Além do manejo do solo, o pesquisador destaca ainda outras práticas que podem contribuir para mitigar os efeitos dos riscos climáticos, como: utilizar cultivares tolerantes à seca, usar sementes de qualidade, não semear toda a área em uma mesma época e utilizar cultivares com ciclos diferentes.

  • Novas cultivares de soja com tecnologia inovadora chegam ao mercado para a safra 2024/2025

    Novas cultivares de soja com tecnologia inovadora chegam ao mercado para a safra 2024/2025

    Os produtores rurais já podem contar com duas novas cultivares de soja equipadas com a tecnologia Intacta2/Xtend® (I2X), que oferece tolerância aos herbicidas glifosato e dicamba, além de resistência a importantes pragas e doenças da cultura. Desenvolvidas pela Embrapa em parceria com a Fundação Meridional, as variedades BRS 2361 I2X e BRS 2058 I2X apresentam elevado potencial produtivo e chegam como uma promessa para impulsionar a produtividade na safra 2024/2025.

    Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Carlos Lázaro Melo, a BRS 2361 I2X se destaca por sua capacidade produtiva, atingindo mais de 5 mil quilos por hectare (kg/ha) nos testes de avaliação. Além disso, possui resistência a doenças como câncer da haste, podridão radicular de Phytophthora e pústula bacteriana, além de resistência moderada à mancha-olho-de-rã. Com grupo de maturidade 6.1 e ciclo médio de 120 dias, essa cultivar é especialmente indicada para regiões com altitudes acima de 600 metros no Paraná e em São Paulo.

    A BRS 2058 I2X, por sua vez, é recomendada para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, destacando-se pelo alto rendimento em altitudes superiores a 650 metros. Seu grupo de maturidade é 5.8, com ciclo médio de 125 dias. Segundo o pesquisador Antonio Pipolo, essa cultivar apresenta resistência às principais doenças da soja e moderada resistência ao nematoide de galhas (Meloidogyne javanica), além de elevada produtividade.

    Lançamento oficial e expectativas para o mercado

    O lançamento oficial das novas cultivares ocorrerá durante o Show Rural Coopavel, entre os dias 10 e 14 de fevereiro, em Cascavel (PR), na Vitrine de Tecnologias da Embrapa. O gerente executivo da Fundação Meridional, Ralf Udo Dengler, destaca que a plataforma I2X representa um avanço significativo para os produtores, especialmente diante dos desafios fitossanitários das últimas safras. “Estamos otimistas com a produção de sementes para atender à demanda do mercado, pois as cultivares já demonstraram excelente desempenho nos testes”, ressalta Dengler.

    Manejo avançado contra pragas e resistência a herbicidas

    As cultivares com tecnologia I2X possuem três proteínas inseticidas (Cry1A.105, Cry2Ab2 e Cry1Ac), ampliando a proteção contra seis das principais lagartas que atacam a soja, como Helicoverpa armigera, Spodoptera cosmioides e lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis). O pesquisador Daniel Sosa Gómez explica que a combinação dessas proteínas reduz a probabilidade de surgimento de insetos resistentes, mas alerta sobre a importância do manejo adequado, incluindo a manutenção de áreas de refúgio.

    No controle de plantas daninhas, a tecnologia I2X confere tolerância ao dicamba e ao glifosato, herbicidas eficazes no combate a plantas invasoras como buva, caruru e corda-de-viola. No entanto, o pesquisador Fernando Adegas reforça a necessidade de um manejo integrado, com rotação de herbicidas e uso de culturas de cobertura, para evitar a seleção de plantas resistentes.

    Impacto para a produtividade e mercado

    A introdução dessas cultivares no mercado deve beneficiar produtores que enfrentam desafios com pragas, doenças e plantas daninhas de difícil controle. Com alto potencial produtivo e novas ferramentas de manejo, a BRS 2361 I2X e a BRS 2058 I2X chegam para fortalecer a competitividade da sojicultura brasileira, consolidando a tecnologia I2X como uma alternativa promissora para a próxima safra.