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  • Pesquisadores identificam linhagens globais do fungo da antracnose do milho e alertam para risco de novos surtos

    Pesquisadores identificam linhagens globais do fungo da antracnose do milho e alertam para risco de novos surtos

    Um estudo internacional liderado por uma rede de cientistas de 17 países revelou novas informações sobre a evolução e a disseminação do Colletotrichum graminicola, fungo causador da antracnose do milho. A pesquisa, que analisou 212 isolados do patógeno coletados em cinco continentes, identificou três linhagens geneticamente distintas: norte-americana, brasileira e europeia — todas com possível origem na Mesoamérica, seguindo a rota de domesticação do milho.

    Segundo Flávia Rogério, pesquisadora da Universidade de Salamanca (Espanha) e da Universidade da Flórida (EUA), a linhagem da América do Norte é apontada como a mais ancestral e pode ter sido o elo de disseminação para as demais regiões. “Apesar de mais antiga, a linhagem europeia mostrou-se a mais virulenta, o que acende um alerta para o risco de novos surtos, principalmente em áreas com histórico da doença”, afirma.

    O estudo também detectou migração genética entre a Argentina e a Europa, sugerindo que o uso de sementes contaminadas em viveiros de inverno na América do Sul pode ter contribuído para o intercâmbio de isolados. A troca internacional de materiais vegetativos, muitas vezes sem controle sanitário adequado, é apontada como fator determinante na disseminação do patógeno, ao lado da mobilidade natural do fungo, que se espalha por vento, chuva e solo.

    De acordo com Wagner Bettiol, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, os dados indicam que 80% dos isolados analisados possuem sinais de mistura genética, o que eleva a complexidade para o desenvolvimento de cultivares resistentes. “Essa diversidade amplia os desafios para o controle da doença, tornando essencial o monitoramento genético constante”, destaca.

    Além disso, a análise estatística e computacional utilizada na investigação revelou que até 35,8% da variação genética do fungo está relacionada à distância geográfica, reforçando o impacto da movimentação humana nas últimas décadas. Os cientistas também observaram diferenças no padrão de introgressão genética — o processo pelo qual genes de uma linhagem são incorporados em outra — entre as populações do Brasil, América do Norte e Europa.

    Ensaios de patogenicidade realizados na Espanha demonstraram variações expressivas de virulência entre isolados, com potencial para danos semelhantes aos registrados nos Estados Unidos na década de 1970, quando lavouras inteiras foram destruídas, gerando perdas de até 100% em estados do centro-norte e leste do país.

    A pesquisa reforça a importância do manejo integrado como estratégia essencial para conter a antracnose do milho. Especialistas da Embrapa Milho e Sorgo recomendam práticas como o uso de cultivares resistentes, adubação balanceada, rotação de culturas e a evitação de plantios sucessivos, além da rigorosa seleção de sementes livres de contaminação.

    A identificação das linhagens e da população ancestral do Colletotrichum graminicola representa um avanço importante para o entendimento da dinâmica evolutiva da doença e abre caminho para o desenvolvimento de variedades de milho mais resistentes, protegendo a produtividade agrícola e contribuindo para a segurança alimentar global.

  • Parecer favorável da Embrapa fortalece regularização da agropecuária nas áreas úmidas do Araguaia e Guaporé

    Parecer favorável da Embrapa fortalece regularização da agropecuária nas áreas úmidas do Araguaia e Guaporé

    A validação técnica da Embrapa Solos aos estudos que indicam caminhos para a regularização ambiental das áreas úmidas dos Vales do Araguaia e do Guaporé foi considerada uma vitória pelos produtores rurais de Mato Grosso. A conquista foi tema central de uma audiência realizada nesta terça-feira (29), no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em Brasília, com a participação do segundo vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Amarildo Merotti.

    Merotti esteve acompanhado do superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT), Marcelo Lupatini, e do gestor jurídico da Famato, Rodrigo Bressane. O grupo foi recebido pelo ministro Carlos Fávaro e pelo secretário-executivo Irajá Rezende de Lacerda para tratar da regularização do uso e ocupação das planícies dos vales do Araguaia e do Guaporé, regiões historicamente ligadas à produção agropecuária e que, há décadas, enfrentam entraves legais que dificultam a atividade no campo.

    Durante o encontro, foi apresentado o parecer técnico da Embrapa Solos, que valida o estudo conduzido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pelo Instituto Uniselva, com apoio da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT). O estudo traz critérios científicos para orientar a ocupação e o uso sustentável das áreas, com base em levantamentos de solo e relevo em alta precisão.

    O parecer, assinado pelo chefe-geral interino da Embrapa Solos, Daniel Vidal Pérez, reconhece a robustez científica da metodologia utilizada e recomenda que as diretrizes sobre o uso e manejo das áreas úmidas sejam consolidadas em um documento com força de lei, respaldado por dados detalhados sobre solos, vegetação e topografia.

    “Esse parecer representa uma conquista fundamental para o produtor rural que, há décadas, convive com a insegurança jurídica e com entraves legais que dificultam o trabalho no campo. A validação científica da Embrapa nos dá a certeza de que é possível produzir com responsabilidade ambiental. Agora, é preciso que isso se traduza em regras claras, seguras e executáveis. O produtor não pode continuar sendo penalizado pela ausência de critérios técnicos atualizados”, afirmou Amarildo Merotti, vice-presidente da Famato.

    A audiência também contou com a participação da presidente da Associação dos Fazendeiros do Vale do Araguaia, Carmem Bruder; da presidente da Associação Campos Guaporé, Joana de Resende; do prefeito de Vila Bela da Santíssima Trindade, Jacob Andrade; do secretário municipal de Fomento, Edcley Coelho; do assessor parlamentar da ALMT, Gideon Danni; além de técnicos do Mapa e representantes das associações.

    Para o gestor jurídico da Famato, Rodrigo Bressane, a integração entre a ciência, o setor produtivo e o poder público são premissa indispensável para a construção de soluções sustentáveis. “A temática em questão requer a conciliação entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico. Nesse contexto, o parecer técnico emitido pela Embrapa representa um importante instrumento de embasamento técnico-científico para assegurar esse equilíbrio de forma jurídica e responsável”, ressaltou.

    Com a entrega oficial do parecer, o próximo passo será a elaboração de um marco legal estadual que reconheça os dados técnicos apresentados e permita a modernização da legislação ambiental, garantindo segurança jurídica e acesso à tecnologia para os produtores dos Vales do Araguaia e do Guaporé.

  • CNA, Embrapa e FGV debatem transição energética com foco no biodiesel

    CNA, Embrapa e FGV debatem transição energética com foco no biodiesel

    Na perspectiva da transição energética, os biocombustíveis já têm papel de destaque na agenda global. O Brasil se destaca há décadas na produção de fontes alternativas ao combustível fóssil com base em matérias-primas geradas pela agricultura. Os desafios e oportunidades na produção e adoção de biocombustível no cenário nacional form debatidos no Seminário AGROENERGIA Transição Energética – edição Biodiesel, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), com apoio da Embrapa Agroenergia e do Observatório de Bioeconomia da FGV, dia 24 de abril, em Brasília-DF.

    São 21 anos desde a criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), em 2004, que teve como marco inicial a Lei 11.097 de 13/01/2005 (Lei do Biodiesel). Em duas décadas de políticas públicas aliadas à ciência e tecnologia no campo, o País alcançou um patamar de destaque como produtor de biocombustível. Com uma produção consolidada de matéria-prima, hoje, 74% do biodiesel vem do óleo de soja, mas com uma crescente diversificação dessas matérias a partir de  grãos, canola e óleo de dendê, óleo de milho, de algodão, para citar alguns.

    Segundo destacou Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, em sua fala de abertura no evento, a discussão e ações em relação ao biodiesel já vem de longa data no Brasil, mas, com a conexão direta que o tema dos biocombustíveis com a transição energética e, consequentemente, às questões climáticas, o assunto ganha novo destaque no cenário mundial. “Sem agricultura, não há biocombustível, e nós temos ciência e tecnologia para essa agricultura. O que pode levar o Brasil a uma posição de destaque no mundo”.

    Hoje, 45% da matriz energética do Brasil vem de fontes renováveis, é o que apresentou o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, na palestra de abertura do Seminário. “O Brasil já está no processo de transição energética há algum tempo. É importante que o mundo reconheça o País como um dos maiores produtores de biocombustíveis sustentáveis”, destacou. Em 2024, o País bateu recorde na produção de biodiesel, alcançando 9 bilhões de litros. Segundo dados da UFOP, o Brasil ocupa hoje a 3ª posição global em produção de biodiesel. Se considerado o contexto unitário, visto que a União Européia, que está em segundo lugar, é uma agrupamento de países, já somos o 2º maior produtor.

    Atualmente, a produção nacional de biodiesel se concentra nas regiões Centro-Oeste (MT) e Sul (RS), por serem os locais com maior escala de produção da soja, principal matéria-prima. Para Bruno Laviola, a perspectiva de levar essas produções também para as regiões Norte e Nordeste é ampliar a geração de emprego e renda e melhorar a logística nesses locais, ou seja, conectando cada vez mais todas as regiões do País às 58 usinas que hoje produzem biodiesel (dados ANP).

    Ainda na perspectiva de aumento de produção, pensar em tecnologias que tornem possível aproveitar a 2ª safra (safrinha) para o cultivo de oleaginosas é também uma oportunidade a ser explorada. Segundo Laviola, o aproveitamento da safrinha é uma alternativa para ampliar a escala de produção de óleo sem aumentar um hectare e agregando a isso o fator desenvolvimento regional que o aumento de produção de matérias-primas pode gerar. Ou seja, o Brasil está apto a produzir matérias-primas para geração de biodiesel, trazendo junto geração de renda, emprego e produtividade sem aumento de área plantada.

    A Embrapa Agroenergia desenvolve projetos de pesquisa voltados ao desenvolvimento de matérias-primas, produção de biodiesel e aproveitamento de resíduos e coprodutos da cadeia de produção. Em destaque, pode-se citar os projetos envolvendo estudos para domesticação da macaúba, espécie nativa, tropicalização da canola e agregação de valor a glicerina.

    COP 30

    No ano que teremos a COP 30 realizada no Brasil, é premente destacar e debater o impacto desse produto na agenda das questões climáticas. Falar de biocombustível, é falar de descarbonização. O uso de biocombustível diminuiu em até 80% a emissão de CO2 em relação ao combustível fóssil.

    Seminário na íntegra

    O Seminário AGROENERGIA Transição Energética – edição Biodiesel teve a participação de entidades do setor, produtores rurais, especialistas, diretores do Sistema CNA/Senar e presidentes de Federações de agricultura e pecuária dos Estados. A mesa de abertura contou com  o presidente da CNA, João Martins, o deputado federal Arnaldo Jardim, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, e o coordenador do Centro de Estudos em Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Bastos.

    O evento também recebeu como palestrantes no Painel 1: Do Campo à transformação: Explorando as matérias-primas do biodiesel, Alexandre Pereira, diretor comercial da Biopower; Fábio Júnior Benin, coordenador de PD&I da Be8; e Dioger Teruel, gerente de Pesquisa e Inovação da Acelen Renováveis e no Painel 2: Energia limpa em movimento: O papel do biodiesel na transição energética, Lucas Boacnin, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Argus Media, e André Lavor, CEO e cofundador da Binatural.

    Assista no canal do Sistema CNA/Senar no Youtube e baixe também a publicação “Biodiesel – A força da agricultura brasileira na transição energética”, que reúne informações e números de destaque relacionados ao biodiesel no Brasil, elaborada pela Embrapa Agroenergia e o Observatório de Bioeconomia da FGV.

    Políticas públicas

    A transição energética a partir da agricultura no Brasil não é recente — ela começou a se desenhar já na década de 1970, com um movimento estruturado de transformação da agropecuária nacional, que coincide com a criação da Embrapa em 1973. Desde então, o País passou a investir de forma estratégica em pesquisa agropecuária, desenvolvendo soluções inovadoras baseadas em recursos renováveis.

    Esse processo foi amplificado por políticas públicas federais que, ao longo das décadas, promoveram o uso de matérias-primas sustentáveis, com destaque para o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), lançado em 1975, que consolidou o etanol como alternativa à gasolina.

    Já nos anos 2000, a criação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), em 2004. Mais recentemente, com o lançamento da Política Nacional de Combustível do Futuro (Lei 14.993 de 8 de outubro de 2024), o Brasil reafirmou seu compromisso com a descarbonização da matriz de transportes, integrando iniciativas como o RenovaBio, o Programa Rota 2030 e o incentivo ao uso de combustíveis sustentáveis da aviação (SAF) e do diesel verde. A Embrapa Agroenergia teve participação direta na formulação da Lei do Combustível do Futuro, integrando o grupo de trabalho de pesquisa, desenvolvimento e inovação, contribuindo por meio de notas técnicas e participação em audiências públicas sobre o tema.

    Em todas essas políticas públicas, a Embrapa tem exercido papel estratégico como geradora de conhecimento, tecnologia e inovação para o uso sustentável da biomassa — uma atuação que ganha ainda mais relevância nesta semana em que a Empresa completa 52 anos de contribuição contínua ao desenvolvimento do Brasil.

  • Tecnologia com laser vai medir carbono em projeto de pecuária sustentável

    Tecnologia com laser vai medir carbono em projeto de pecuária sustentável

    Dez anos depois, a parceria iniciada entre a Embrapa Instrumentação e a startup Agrorobótica, ambas localizadas em São Carlos, cidade no interior paulista, dá um novo salto, desta vez, para dar suporte científico e tecnológico a um projeto de pecuária sustentável na região do Xingu (MT), que envolve as empresas SCL Agrícola e Agro Penido.

    A plataforma IA AGLIBS, que utiliza a tecnologia LIBS (Laser Induced Breakdown Spectroscopy – Espectroscopia de Plasma Induzida por Laser), a mesma utilizada pela NASA nas missões espaciais em Marte, vai avaliar 18,5 mil hectares de pastagem e conversão para a agricultura em três fazendas da Agro Penido e SLC Agrícola.

    Uma nova commodity

    Denominado Carbono Xingu, o projeto pretende proporcionar benefícios para os produtores, tais como: geração de créditos de carbono no solo; acesso a crédito verde com melhores taxas; solo digitalizado para decisões rápidas e rastreáveis; aumento da produtividade e da rentabilidade; valorização da propriedade rural; commodities sustentáveis com maior valor de mercado.

    “O carbono aparece como essa nova commodity, tão desejada, tão anunciada, e agora se materializando no nosso solo”, comentou Caio Penido,  sócio da Agro Penido, que busca comprovar que o programa, quando implementado corretamente no sistema de produção agrícola tropical, pode produzir mais alimentos, ao mesmo tempo em que melhora o carbono no solo e contribui para a redução de emissões.

    Agenda estratégica

    “Essa agenda do carbono é absolutamente estratégica, não só para a Empresa, hoje, mas no mundo inteiro não há como dissociar a ciência de uma agenda como essa, que está colocada em primeiro lugar no nosso plano estratégico da Embrapa”, disse Clenio Pillon, diretor-executivo de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa, que preside um grupo dedicado ao tema.

    Antes de participarem da assinatura do contrato de parceria (dia 23 de abril), os representantes das empresas tiveram a oportunidade de visitar o Laboratório Nacional de Agro-Fotônica (Lanaf), na Embrapa Instrumentação, para ver a tecnologia LIBS em funcionamento e conhecer os detalhes até chegar ao equipamento com capacidade para analisar mil amostras por dia e avaliar 23 parâmetros do solo.

    Vanguarda internacional

    “É uma imersão na ciência, onde vemos que o Brasil não está atrás de nenhum país do mundo nesse tema, nós estamos na frente e também com publicações científicas sobre o LIBS”, explicou Fábio Angelis, CEO da Agrorobótica, que viu a tecnologia num evento da Embrapa em 2014 e resolveu empreender e criar o que chama de “primeiro centro agro-fotônico do mundo”.

    A pesquisa de vanguarda foi referendada pela pesquisadora Débora Milori, líder das pesquisas com LIBS na Embrapa Instrumentação, ao fazer uma apresentação sobre o histórico do trabalho realizado no Centro de Pesquisa. “Quando a certificadora Verra reconheceu essa tecnologia (para geração de créditos de carbono auditáveis), utilizou dez artigos internacionais, cinco são da nossa equipe, um motivo de orgulho”, relatou a coordenadora do Lanaf.

    A ciência faz a diferença

    “A plataforma poderá gerar mapas de agricultura de precisão com deficiências de nutrientes para indicar o manejo com adubo e outros insumos nas áreas das fazendas, além de mensurar o estoque de carbono no solo. É o fruto da parceria público-privada que agora ganha escala para tornar nossa agropecuária cada vez mais sustentável”, avaliou José Manoel Marconcini, chefe-geral da Embrapa Instrumentação.

    Para Aurélio Pavinato, diretor-presidente da SLC Agrícola, empresa que possui 26 fazendas e 830 mil hectares de culturas, “a ciência faz toda a diferença na evolução da condição de vida de um povo. O LIBS é mais um case de sucesso em termos de tecnologia, agilizando o processo, tornando mais eficiente. Nós, felizmente, temos conseguido evoluir nessa parte com esse trabalho maravilhoso que a Embrapa faz”, concluiu Pavinato.

  • Valor Bruto da Produção dos Cafés do Brasil estimado para o ano-cafeeiro de 2025 atinge R$ 125,70 bilhões

    Valor Bruto da Produção dos Cafés do Brasil estimado para o ano-cafeeiro de 2025 atinge R$ 125,70 bilhões

    O faturamento bruto dos Cafés do Brasil estimado para o corrente ano-cafeeiro de 2025, tendo como base os preços médios recebidos pelos produtores no período de janeiro a março de deste ano, deverá atingir a cifra total de R$ 125,70 bilhões. Tal valor representa um expressivo acréscimo de 57%, na comparação com o ano anterior de 2024, o qual registrou uma receita bruta de R$ 80,07 bilhões. Para tanto, o total previsto para 2025 considera R$ 86,52 bilhões calculados para a espécie de Coffea arabica (café arábica), que equivalem a 71,2% da cifra total estimada, e, adicionalmente, R$ 36,18 bilhões que foram estimados para a espécie de Coffea canephora (robusta+conilon), receita que corresponderá a 28,8% do total geral em nível nacional.

    Como os Cafés do Brasil são produzidos em vinte estados da Federação, incluindo o Distrito Federal, com abrangência nas cinco regiões geográficas brasileiras, vale demonstrar um ranking do faturamento bruto dos seis maiores estados produtores de café no País, considerando no caso específico o total das receitas estimadas para as espécies C. arabica e C. canephora (R$ 125,70 bilhões).

    Dessa forma, verifica-se que o estado de Minas Gerais, que é o maior produtor de café do nosso País e responsável por metade da produção nacional, teve o seu faturamento bruto da cafeicultura estimado, para o ano-cafeeiro de 2025, em R$ 62,93 bilhões, cifra que equivale a 50,06% do total geral. Na segunda colocação, destaca-se o Espírito Santo, cuja receita apurada foi de R$ 30,88 bilhões, montante que representa 24,57% do mesmo total.

    Dando continuidade, na terceira posição desse ranking figura o estado de São Paulo, com faturamento estimado em R$ 12,26 bilhões (9,75%), o qual vem seguido pela Bahia, em quarto, com R$ 9,81 bilhões (7,8%). Na quinta posição, destaca-se Rondônia, com R$ 5,94 bilhões (4,73%), e, na sexta colocação, vem o estado do Paraná, com R$ 1,78 bilhão, faturamento que equivale a 1,42% do total estimado em nível nacional. Demais estados produtores completam os 100% do faturamento bruto previsto para os Cafés do Brasil em 2024. Vale destacar que tais cifras, caso sejam confirmadas, representará, em todos os estados citados, o maior valor já arrecadado com a produção de café em um único ano.

    Cabe esclarecer que o Valor Bruto da Produção – VBP dos Cafés do Brasil é calculado e divulgado mensalmente no âmbito da Secretaria de Política Agrícola – SPA, do Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA. Tal estudo do setor cafeeiro também está disponível na íntegra, assim como todas as demais edições anteriores, no Observatório do Café do Consórcio Pesquisa Café, rede integrada de pesquisa coordenada pela Embrapa Café.

    Referida análise tem como referência dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, e, no caso em tela dos Cafés do Brasil, para fins de cálculos e estimativas, teve como base os preços médios recebidos pelos produtores, de janeiro a março de 2025, do café arábica tipo 6, bebida dura para melhor, e do café robusta tipo 6, peneira 13 acima, com 86 defeitos.

    Complementando esta análise, vale também destacar o ranking em ordem decrescente do faturamento bruto da produção dos Cafés do Brasil das cinco geográficas brasileiras. Assim, verifica-se que a Região Sudeste se desponta em primeiríssimo lugar com a receita bruta estima em R$ 106,90 bilhões, a qual equivale a 85,04% do total nacional.

    Na segunda posição, vem a Região Nordeste, cujo VBP foi calculado em R$ 9,85 bilhões, cifra que corresponde a 7,83%. E, na terceira posição, figura a Região Norte, com faturamento de R$ 6,13 bilhões (4,88%), seguida da Região Sul, na quarta colocação, com R$ 1,78 bilhão (1,42%), e, por fim, vem a Região Centro-Oeste que teve seu faturamento bruto calculado em R$ 1,03 bilhão, valor que representa menos de 1% do total estimado em nível nacional para o ano-cafeeiro de 2025.

  • Embrapa e setor privado se juntam para consolidar agro sustentável no Brasil

    Embrapa e setor privado se juntam para consolidar agro sustentável no Brasil

    Lançada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a plataforma Agro Brasil + Sustentável (AB+S) tem despertado atenção do setor privado e da comunidade científica como uma ferramenta promissora para consolidar o Brasil como vitrine global da produção agropecuária sustentável. Para Paula Packer, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, a plataforma tem o potencial de aproximar o que é feito nas fazendas do conhecimento gerado na academia — um elo ainda frágil, mas essencial para enfrentar os desafios climáticos globais.

    “O Brasil precisa ajustar a conexão entre a fazenda e o que é feito na academia. A plataforma pode ser uma forma disso ser feito”, afirmou Packer durante o evento “Futuro Regenerativo: O Agro como Solução Climática”, promovido pelo Reset em 10 de abril. “É o momento de sentarmos, olharmos tudo que está sendo feito no país, dos cálculos às métricas. Elas não são jabuticabas, são aceitas internacionalmente, e servem para que o produtor quebre barreiras impostas ao Brasil.”

    Sobre o futuro regenerativo, houve várias discussões sobre as soluções desenhadas, explica a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente. “A Plataforma Agro Brasil mais Sustentável surge como uma iniciativa estratégica para integrar e dar visibilidade às ações sustentáveis do agronegócio brasileiro, conectando produtores, empresas, instituições de pesquisa e políticas públicas”, acredita Packer.

    “Nesse contexto”, disse ela, “o Plano ABC+ (2020-2030) se destaca como um dos pilares centrais da plataforma, ao promover tecnologias e práticas de baixa emissão de carbono na agricultura. Com foco em mitigação e adaptação às mudanças do clima, o plano fortalece a resiliência dos sistemas produtivos e a recuperação de áreas degradadas, contribuindo para a segurança alimentar, a conservação ambiental e o cumprimento dos compromissos climáticos do Brasil”.

    Criada com o objetivo de consolidar e dar visibilidade a boas práticas ambientais já adotadas por muitos produtores rurais, a AB+S começa a ser vista como uma ponte entre o campo e os mercados mais exigentes — inclusive no acesso a crédito com juros reduzidos. Propriedades que demonstram práticas sustentáveis, como o uso de fixação biológica do nitrogênio e manejo de gado com menor pegada de carbono, já podem, por exemplo, pleitear redução de 0,5% na taxa de juros no crédito de custeio do Plano Safra.

    Segundo Ketlin Sfair, gerente do Banco do Brasil, o maior financiador do setor, é fundamental que bancos tenham dados confiáveis para validar a adoção dessas práticas, o que só é possível com tecnologia e monitoramento eficiente — exatamente o que a AB+S propõe.

    A plataforma é gratuita, voluntária e voltada diretamente ao produtor rural, integrando dados de diversos órgãos públicos e também do setor privado. Atualmente, já reúne informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR), Ibama, ICMBio, Prodes, entre outros, formando um painel socioambiental do estabelecimento rural.

    De acordo com Lara Souza, coordenadora da iniciativa no Mapa, a proposta é evoluir para um repositório único de práticas sustentáveis, reconhecido também internacionalmente. “É uma grande vitrine da produção agropecuária nacional”, diz Souza. “Empresas de certificação, operadores e comercializadores podem ser leitores e também fornecedores de dados da plataforma. Assim, conseguimos alinhar os incentivos e dar segurança a quem financia ou consome o agro brasileiro”.

    Além de ajudar na capitalização de práticas sustentáveis no Brasil, a plataforma avança para atender exigências globais como a nova legislação da União Europeia para produtos livres de desmatamento, a EUDR. A expectativa é que ainda neste semestre a AB+S disponibilize funcionalidades para que produtores de soja, carne bovina, café e outras culturas reguladas pela EUDR consigam comprovar conformidade ambiental exigida pelo bloco europeu. Soluções similares para os mercados dos Estados Unidos e China também estão sendo desenvolvidas.

    No entanto, como destacou a pesquisadora Paula Packer, esse reconhecimento depende da harmonização de metodologias e métricas já existentes no país — muitas delas, validadas pela ciência brasileira, mas ainda pouco integradas às ferramentas de gestão da produção agropecuária. “Temos métodos aceitos lá fora. Falta consolidar isso num sistema que funcione para todos: do pequeno produtor ao exportador.”

    O avanço da plataforma também passa por desafios técnicos, como a adequação das medições de carbono ao clima tropical. Segundo Carlos Cerri, diretor da CCarbon da USP, os métodos atuais foram desenvolvidos para climas temperados e analisam apenas os 30 cm superiores do solo. No Brasil, para medir corretamente a quantidade de carbono estocado, seria necessário estender essa profundidade para até um metro.

    “Ainda não encontramos um meio termo entre simplificar as avaliações e manter a qualidade da informação”, afirmou Cerri. A busca por soluções mais acessíveis e precisas está no radar da equipe técnica da plataforma, que trabalha com apoio de diferentes ministérios e instituições de pesquisa.

    Apesar de ainda estar em fase inicial, a AB+S já representa um passo estratégico rumo a um agro mais transparente, rastreável e valorizado. Para Paula Packer, a iniciativa pode ajudar o Brasil a superar barreiras comerciais e reforçar sua posição como protagonista global na agenda climática e sustentável.

    “É hora de parar, olhar tudo que já temos feito e integrar esforços. O produtor rural brasileiro já contribui muito para a sustentabilidade – falta mostrar isso ao mundo, com base científica e reconhecimento justo”, destaca Paker.

  • Exportações da piscicultura brasileira batem novos recordes

    Exportações da piscicultura brasileira batem novos recordes

    As exportações brasileiras de peixe no primeiro trimestre de 2025 foram as maiores dos últimos anos. O volume exportado foi de mais de 3.900 toneladas, aumento de 89% com relação ao mesmo período do ano passado. Em faturamento, houve crescimento ainda maior: de 112%, chegando a mais de US$ 18,5 milhões. Esses são alguns dos dados do Informativo Comércio Exterior da Piscicultura, publicado a cada três meses pela Embrapa Pesca e Aquicultura em parceria com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).

    Como era de se esperar, a tilápia permanece a principal espécie exportada. Entre janeiro e março, foram praticamente US$ 17 milhões de faturamento, que significaram 92% do total. Na sequência, mas bem abaixo, estiveram curimatá e tambaqui (com 3% cada) e pacu (com 2% do faturamento total no período). Também como vem sendo nas últimas análises trimestrais, os Estados Unidos foram o principal importador da piscicultura nacional, responsáveis por mais de US$ 16,3 milhões ou 88% do total no primeiro trimestre deste ano. Com 7%, o Peru foi o segundo colocado.

    São cinco as categorias de produtos de tilápia exportados: o filé, tanto congelado como fresco ou refrigerado; o peixe inteiro, também tanto congelado como fresco ou refrigerado; e subprodutos impróprios para alimentação humana. À exceção da tilápia congelada, as demais categorias apresentaram queda de preço médio comparando-se os primeiros trimestres do ano passado com este ano. A principal categoria exportada pelo país, que é o filé de tilápia fresco ou refrigerado, teve 7% de queda, passando de US$ 7,57 para US$ 7,07 o kg.

    “É possível que essa queda nos preços dos produtos de tilápia no primeiro trimestre de 2025 seja reflexo de uma acomodação do mercado norte-americano, após sucessivas altas nos preços ao longo de 2024. Esse aumento dos preços no ano passado pode ter tido um impacto na redução na demanda junto aos consumidores, o que pode ter levado a essa queda nos preços”, explica Manoel Pedroza, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura na área de economia.

    Crescimento consistente

    As exportações brasileiras da piscicultura têm crescido de maneira consistente nos últimos anos. Fazendo o recorte apenas para a tilápia, os Estados Unidos, no primeiro trimestre de 2025, foram o principal destino, com 95% da movimentação, num total de mais de US$ 16,2 milhões. E, analisando-se as importações de tilápia pelos Estados Unidos, percebe-se que o Brasil foi o terceiro maior fornecedor nos dois primeiros meses deste ano; em janeiro e fevereiro de 2024, o país era o quinto maior fornecedor. Foram mais de 2.400 toneladas, ficando atrás apenas de Taiwan, com mais de 2.800 toneladas, e da China, com mais de 32.500 toneladas exportadas para os Estados Unidos em janeiro e fevereiro deste ano.

    Manoel contextualiza esse mercado: “o crescimento das exportações de tilápia brasileira para os Estados Unidos tem relação direta com o aumento da produção desta espécie no Brasil e a busca por novos mercados. O Brasil exportou apenas 3% das 662 mil toneladas de tilápia produzidas no país em 2024. Com o aumento da produção, o mercado local passou a apresentar sinais de saturação na demanda de tilápia, resultando numa queda nos preços no mercado interno em 2024, tornando a exportação mais atrativa”. Ele acrescenta que “o setor privado é o grande responsável pelo aumento das exportações de tilápia do Brasil, porém algumas instituições, como a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o Ministério da Agricultura e Pecuária e a Embrapa, têm colaborado com diversas ações de apoio”.

    A expectativa é de continuidade no crescimento das exportações brasileiras da piscicultura, sobretudo de tilápia. De acordo com o pesquisador da Embrapa, “o aumento das tarifas de importação que os Estados Unidos impuseram à tilápia vinda da China pode oferecer uma oportunidade para os exportadores brasileiros, porém ainda existem incertezas quanto à manutenção dessas tarifas no longo prazo e também é importante destacar que outros países exportadores (em particular da Ásia) são fortes concorrentes nesse mercado”. Manoel finaliza afirmando que “os produtores brasileiros têm buscado novos mercados além dos Estados Unidos (por exemplo, o Canadá e países da América do Sul) e também têm tentado diversificar as espécies a partir do embarque de peixes nativos, como tambaqui e curimatá”.

  • Inteligência artificial identifica mais de 600 castanheiras nativas em tempo recorde na Amazônia

    Inteligência artificial identifica mais de 600 castanheiras nativas em tempo recorde na Amazônia

    A combinação de drones e inteligência artificial (IA) inova a realização de inventários florestais na Amazônia. Em um sobrevoo de pouco mais de duas horas, a metodologia Netflora, desenvolvida pela Embrapa Acre (AC), identificou 604 castanheiras-da-amazônia (Bertholletia excelsa) e mais de 14 mil outras espécies arbóreas em uma área de 1150 hectares na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no Amazonas.

    O uso dessa tecnologia representa um avanço significativo em relação aos métodos tradicionais de inventário florestal, que demandam 73 dias de trabalho e uma equipe de cinco profissionais para mapear a mesma área. A inovação não apenas reduz o tempo necessário para a coleta de dados, mas também aumenta a precisão e eficiência do monitoramento ambiental.

    O mapeamento foi realizado em parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental (AM) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema/AM),  na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã. A atividade, conduzida em fevereiro, integra o Projeto Geoflora, financiado com recursos do Fundo JBS pela Amazônia.

    Segundo Evandro Orfanó, pesquisador da Embrapa Acre e um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Netflora, a integração da IA ao inventário florestal possibilita uma gestão mais sustentável dos castanhais nativos e de outras espécies florestais, além de conectar conhecimento científico aos sistemas tradicionais de uso da terra.

    Castanhal digital

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    Os benefícios dessa inovação vão chegar diretamente à comunidade da RDS do Uatumã, que terá acesso ao inventário digital dos castanhais por meio de um aplicativo de celular. A ferramenta disponibiliza planilhas e mapas dinâmicos, e permite que os extrativistas localizem com precisão as castanheiras e outras espécies de interesse dentro da floresta.

    “Por meio do aplicativo será possível visualizar a localização exata das árvores e se orientar na floresta da mesma forma que navegamos em uma cidade em busca de um endereço. Cada árvore mapeada passa a ter um endereço único, representado por coordenadas geográficas”, explica Orfanó.

    Além de facilitar a coleta, esse sistema de georreferenciamento otimiza rotas e reduz o esforço físico dos extrativistas com longas caminhadas. A digitalização das informações também contribui para um monitoramento mais preciso da comunidade das áreas de extração, aspecto que auxilia na preservação dos recursos naturais e possibilita que a exploração dos castanhais seja realizada de forma sustentável.

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    Mais de 70 mil hectares de floresta já foram mapeados na Amazônia

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    O inventário florestal tradicional exige um grande esforço humano, com uma equipe de cinco pessoas levando um dia inteiro para identificar e localizar as árvores em uma área de aproximadamente 20 hectares. De acordo com Orfanó, esse processo é demorado e oneroso, o que desestimula empreendedores e, principalmente, comunidades locais a adotarem ferramentas de planejamento florestal.

    No entanto, com a adoção do NetFlora, essa realidade mudou rapidamente. “Atualmente, é possível mapear até 3.500 hectares por dia e produzir informações detalhadas sobre o inventário florestal, como reconhecimento de espécies, localização geográfica, métricas e mapas, em uma velocidade de 2 hectares por segundo”, complementa.

    O impacto dessa inovação já pode ser visto na prática. Mais de 70 mil hectares de floresta na Amazônia já foram mapeados, resultando na coleta de um vasto banco de dados de imagens de espécies florestais, captadas por câmeras RGB a bordo de drones (ortofotos). “Além de aprimorar a precisão dos inventários, essa tecnologia reduz cerca de 90% dos custos”, enfatiza o pesquisador.

    Otimização do manejo

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    Foto: Mauricilia Silva

    Um dos principais produtos extraídos na região Amazônica é a castanha-da-amazônia (também conhecida como castanha-do-pará ou castanha-do-brasil), que desempenha um papel vital na bioeconomia local. A coleta e a comercialização desse recurso natural é o principal sustento de diversas famílias agroextrativistas, contribuindo para a melhoria da renda e fomentando práticas sustentáveis de uso dos recursos naturais.

    Além do valor econômico, a castanha-do-amazônia está profundamente ligada aos saberes tradicionais das comunidades locais, que se reflete na relação harmoniosa entre o homem e a floresta. Essa conexão é fundamental para a preservação cultural e a transmissão de conhecimentos entre gerações.

    A chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Amazônia Ocidental, Kátia Emídio da Silva, coordena o projeto “Otimização da Coleta Extrativista da Castanha-do-Brasil no Amazonas”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). O objetivo principal da iniciativa é validar o uso de cabos aéreos para o transporte das castanhas-da-amazônia em áreas de difícil acesso, a fim de minimizar o esforço físico dos agroextrativistas.

    De acordo com a pesquisadora, tradicionalmente, os trabalhadores carregam sacos ou paneiros de castanha, atividade que, ao longo do tempo, pode causar sérios problemas ergonômicos, como dores na coluna. “Nossa meta é reduzir esse impacto e tornar a atividade menos exaustiva. A parceria com a Embrapa Acre, além de facilitar a instalação dos cabos aéreos – semelhantes a tirolesas-, dentro da floresta, resultou no mapeamento preciso das castanheiras. Com essas informações, os extrativistas poderão ampliar as áreas de coleta em outras regiões da reserva ainda inexploradas”, destaca.

    Outro aspecto apontado pela pesquisadora é que novas tecnologias podem atrair jovens para o extrativismo, que hoje não querem mais continuar na atividade dos pais, especialmente pelo grande esforço físico  exigido na coleta e transporte primário da castanha-da amazônia, devido ao peso dos produtos e às longas distâncias.”, afirma.

    Silva pontua ainda que, com a varredura do Netflora, novas espécies florestais de interesse comercial foram identificadas, como breu, baru e copaíba, entre outras, e também poderão ser manejadas na Reserva do Uatumã. A expectativa é que o mapeamento mais amplo das espécies na reserva auxilie os extrativistas na estimativa de produção e coleta, e possa trazer benefícios significativos para a comunidade local.

    A identificação das castanheiras, no ambiente natural, não é uma tarefa fácil, devido à grande diversidade florística existente nas florestas tropicais que pode chegar a uma multiplicidade de até 300 espécies por hectare. “Essa configuração se torna um dos principais desafios durante a realização do inventário”, observa a pesquisadora.

    Integração entre ciência e saberes tradicionais

    A integração da inteligência artificial ao inventário florestal representa um avanço significativo para a gestão sustentável dos recursos naturais. Para Orfanó, essa tecnologia não apenas moderniza os métodos tradicionais de mapeamento, mas também fortalece as comunidades locais, oferecendo ferramentas que facilitam e aprimoram o seu trabalho diário.

    Com acesso a dados precisos sobre a localização e distribuição das castanheiras e de outras espécies de interesse, os extrativistas poderão ampliar suas áreas de coleta de maneira organizada e responsável. Essa iniciativa promove uma exploração mais eficiente e sustentável desses recursos naturais, além de reduzir impactos ambientais e assegurar a conservação da floresta a longo prazo.

    “Mais do que uma inovação tecnológica, esse projeto representa um avanço na integração do conhecimento científico com o saber tradicional, promovendo o uso da terra de forma equilibrada e sustentável”, destaca o pesquisador.

    IA amplia conhecimento sobre a diversidade da floresta amazônica

    A realização de novos voos em diferentes áreas de floresta tem sido fundamental para expandir o banco de dados do Netflora.  Os primeiros treinamentos dos algoritmos começaram com cerca de 30 mil imagens, mas, com os novos sobrevoos, esse número mais que dobrou. A meta dos pesquisadores é alcançar entre 100 mil e 150 mil imagens, número que permitirá treinar os algoritmos de forma mais robusta e ampliar a aplicação da ferramenta em diferentes biomas.

    Orfanó enfatiza que a IA já demonstrou uma capacidade avançada de identificar padrões regionais e realizar comparações entre espécies semelhantes. “Por exemplo, já é possível reconhecer a copa de uma palmeira da região Nordeste e classificá-la corretamente, mesmo em áreas nunca antes analisadas”, relata.

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    Imagem: Evandro Orfano

    O pesquisador ainda explica que o sistema foi treinado para identificar espécies com base em dados provenientes de diversas regiões, demonstrando um grande potencial para mapear e classificar automaticamente novas áreas. “A IA reconhece padrões específicos, aspecto que facilita a identificação de novas espécies e o enriquecimento contínuo do banco de dados do Netflora”, acrescenta.

    Outro avanço significativo foi a análise das imagens coletadas pelos drones, que, ao serem cruzadas com dados existentes, possibilitaram um enriquecimento substancial do banco de dados. Dessa forma, além das espécies já conhecidas, o algoritmo identificou muitas outras, incluindo diferentes tipos de palmeiras, clareiras e árvores mortas, ampliando o conhecimento sobre a diversidade da floresta amazônica.

    Como utilizar a metodologia

    De livre acesso, o Netflora está disponível no repositório do GitHub e pode ser facilmente executado por meio de um Notebook Colab simplificado (plataforma colaborativa aberta e gratuita, hospedada na nuvem do Google).

    O uso da metodologia não demanda conhecimentos especializados, o passo a passo para sua adoção poderá ser conferido no curso Detecção de espécies florestais com uso do Netflora, de acesso gratuito, na plataforma e-campo, ambiente de aprendizagem virtual da Embrapa. Para mais informações sobre como utilizar os algoritmos treinados, acesse a página do Netflora.

  • Webinar discute uso de plantas de cobertura no cultivo da soja com foco em sustentabilidade

    Webinar discute uso de plantas de cobertura no cultivo da soja com foco em sustentabilidade

    A Embrapa Soja realiza, nesta terça-feira, dia 22 de abril, a partir das 9h (horário de Brasília), um webinar gratuito sobre o uso de plantas de cobertura no sistema de produção de soja. O evento terá a participação do pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja, e do assessor técnico da Fazenda Anahi, Cleverson Pozzebon. As inscrições já estão abertas e são gratuitas — após o cadastro, o participante receberá o link de acesso à transmissão.

    Durante o evento, os especialistas vão abordar como as plantas de cobertura contribuem para a qualidade do solo e a sustentabilidade ambiental do sistema produtivo. Segundo Debiasi, o uso correto dessas plantas, aliado ao manejo adequado, pode colaborar significativamente para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa — um dos pilares do Programa Soja Baixo Carbono (PSBC).

    O PSBC é uma iniciativa da Embrapa em parceria com empresas apoiadoras como Bayer, Bunge, Cargill, Coamo, Cocamar, GDM e UPL. O programa tem como objetivo agregar valor à soja produzida com boas práticas agrícolas que reduzam o impacto ambiental, especialmente em relação ao aquecimento global.

    A proposta do webinar é oferecer subsídios técnicos a produtores, agrônomos, consultores e demais interessados que buscam aliar produtividade e preservação ambiental no agronegócio.

  • Preço do carbono na agropecuária brasileira é estimado em US$ 11,54 por tonelada

    Preço do carbono na agropecuária brasileira é estimado em US$ 11,54 por tonelada

    Um estudo realizado pela Embrapa Territorial, em São Paulo, estimou em US$ 11,54 o preço da tonelada de carbono equivalente (tCO2e) emitida pela agropecuária brasileira. O cálculo foi feito com base em uma revisão sistemática de estudos científicos publicados entre 2004 e 2024, abrangendo diferentes países e metodologias de precificação do carbono. Os resultados foram publicados na Revista de Economia e Sociologia Rural, da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (Sober), no primeiro número de 2025.

    De acordo com a economista Daniela Tatiane de Souza, analista da Embrapa, são raros os estudos que adotam critérios científicos e sistemáticos para estimar o custo das emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário. “Ter uma estimativa de valor é importante para que empresas e instituições possam desenvolver políticas e programas de incentivo a práticas sustentáveis, com preços de referência consistentes”, afirma.

    A equipe da Embrapa analisou 32 publicações, extraídas de bases como Science Direct, Web of Science, Springer, Wiley Online e Google Scholar. Os trabalhos foram desenvolvidos principalmente na China, Austrália e Reino Unido. Os valores encontrados variaram bastante – de US$ 2,60 a US$ 157,50 por tonelada de CO2 equivalente –, o que reflete diferenças nas metodologias e nos níveis tecnológicos das agriculturas avaliadas.

    O principal fator que influencia no custo das emissões, segundo a revisão, é o Produto Interno Bruto (PIB) dos países. “Economias maiores tendem a ter preços de carbono mais baixos. Além disso, em mercados menos regulamentados, o aumento das emissões nem sempre gera aumento no preço do carbono”, explica Daniela Souza. O modelo econométrico usado para a estimativa brasileira considerou também o uso de fertilizantes nitrogenados e a participação da agricultura no PIB nacional.

    Para Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial, é fundamental considerar o equilíbrio entre emissões e captura de carbono. “Em alguns casos, o aumento do nível tecnológico pode elevar as emissões, mas também amplia a produtividade e o sequestro de carbono, o que compensa esse impacto dentro de uma análise mais ampla de sustentabilidade”, observa. Segundo ele, a unidade da Embrapa já vem desenvolvendo pesquisas para mensurar o carbono capturado pelos sistemas agropecuários brasileiros.

    A precificação do carbono é uma ferramenta cada vez mais estratégica. Como explica o pesquisador Lauro Rodrigues Nogueira Júnior, ao se atribuir um valor à tonelada de CO2 equivalente evitada ou removida da atmosfera, cria-se um incentivo econômico para adoção de práticas sustentáveis, como a melhoria no uso de fertilizantes, redução do desmatamento e implementação de sistemas de produção mais eficientes. “O valor estimado serve como referência tanto para quem vai pagar quanto para quem vai receber por um projeto de redução de emissões”, pontua o pesquisador.

    Este é o segundo estudo publicado pela Embrapa Territorial sobre o tema. Em 2024, o mesmo grupo calculou o preço do carbono na cadeia da citricultura brasileira, chegando ao valor de US$ 7,72/tCO2e. Além disso, em parceria com o Fundecitrus e com financiamento do Fundo de Inovação para Agricultores da empresa britânica Innocent Drinks, a Embrapa também estimou o estoque de carbono nos pomares, solos e áreas de vegetação nativa do cinturão citrícola do país: 36 milhões de toneladas.

    A precificação do carbono ganha relevância à medida que o Brasil avança em programas de pagamento por serviços ambientais e de redução de emissões de gases de efeito estufa, tanto no mercado regulado quanto no voluntário. Com base científica, os valores calculados pela Embrapa podem ajudar a orientar políticas públicas e estratégias privadas voltadas à transição para uma agropecuária de baixa emissão.