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  • Novo sorgo forrageiro alia alta produtividade e qualidade nutricional

    Novo sorgo forrageiro alia alta produtividade e qualidade nutricional

    A Embrapa lança a cultivar de sorgo forrageiro BRS 661. Desenvolvido para atender à demanda por cultivares mais produtivas, esse sorgo reúne atributos fundamentais para o alcance de alta produtividade de massa verde com excelente qualidade nutricional. É a escolha ideal para aumentar a eficiência e a sustentabilidade dos cultivos, uma vez que alia produtividade, adaptabilidade e resistência a doenças.

    A nova cultivar foi criada especialmente para sistemas de produção de silagem com baixo custo e tem potencial para atingir produtividade de massa verde superior a 70 toneladas por hectare. Sua adaptabilidade a diversos sistemas de produção de forragem a tornam uma escolha versátil e estratégica para pecuaristas e agricultores. Isso chama a atenção e torna esse sorgo uma escolha eficaz para o Sudeste, o Centro-Oeste e o Nordeste, regiões para as quais ele é indicado.

    “A cultivar BRS 661 também se sobressai pela capacidade de rebrota, tolerância ao alumínio no solo, estresse hídrico e acamamento, e pela sanidade foliar”, comenta o engenheiro-agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo Frederico Botelho.

    Para Reginaldo Coelho, também engenheiro-agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo, em relação à sanidade do material, a BRS 661 demonstrou ser mais tolerante às piores doenças que incidem na cultura do sorgo, principalmente a antracnose.

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    Foto: Gran Safra

    A cultivar é recomendada para a safra de verão e segunda safra. “Há uma demanda dos pecuaristas por cultivares com melhor desempenho nas condições de segunda safra. Isso porque a maior parte dos materiais de sorgo existentes no mercado, que são cultivares híbridas, tem seu rendimento reduzido nessa fase, por serem sensíveis ao fotoperiodismo (reação da planta à disponibilidade de luz)”, explica o agrônomo.

    “Nesse contexto, a BRS 661, por ser uma cultivar insensível ao fotoperiodismo, se torna uma excelente opção pela ampla adaptabilidade em diversos ambientes, inclusive no período da segunda safra”, complementa Coelho.

    Botelho enfatiza que o novo sorgo é a escolha ideal para quem busca maximizar a produção de forragem com qualidade. “A produtividade, adaptabilidade e a sanidade a tornam uma opção indispensável para sistemas de produção eficientes e sustentáveis”, acrescenta.

    Expectativa é triplicar a produção de sementes na próxima safra

    Na safra 2023/2024, empresas licenciadas integrantes da Gransafra produziram cerca de 90 toneladas de sementes da cultivar BRS 661. Essa produção foi distribuída para várias regiões do Brasil, sendo a maior parte para o Ceará.

    De acordo com o sócio-proprietário da Gransafra, Francisco Moreira, “para a próxima safra, a perspectiva é triplicar a produção, chegando a pelo menos 300 toneladas”.  Essa quantidade é suficiente para uma área de 75 mil hectares. Ele ressalta as características relevantes da cultivar, sendo uma das principais, o baixo consumo de sementes por hectare.

    “Outra característica que estamos observando é a tolerância à antracnose, uma doença fúngica que ocorre em períodos chuvosos e de alta temperatura. Nas lavouras que acompanhamos, a cultura está se mostrando bem sadia”, pontua o empresário.

    Ponto de colheita da silagem

    De acordo com Moreira, o sorgo BRS 661 apresenta uma boa uniformidade no desenvolvimento das panículas, o que favorece a determinação do ponto da ensilagem, contribuindo para a qualidade da silagem.

    Segundo ele, a qualidade da silagem é um dos diferenciais que a BRS 661 traz. “E não só a panícula é uniforme, mas apresenta também folhas largas e um maior número de folhas por plantas. É bastante promissor e estamos animados”, comemora.

    As empresas parceiras para a cultivar BRS 661 estão localizadas no Ceará, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo.

    Lançamento da nova cultivar será na AgroBrasília 2024

    A Embrapa apresenta o sorgo BRS 661 com seus parceiros produtores de sementes, em 23 de maio de 2024, às 10 horas, na feira AgroBrasília 2024. Com o tema “O ecossistema mais fértil do agro”, a 15ª edição do evento será realizada de 21 a 25 de maio, na rodovia BR 251, km 5, Rodovia Júlio-Paranoá, em Brasília, DF.

    A chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo, Sara Rios, destaca que “a cultivar de sorgo BRS 661 traz uma oportunidade concreta e moderna de diversificação e agregação de valor para o mercado de silagem de sorgo, pelos seus atributos competitivos agronômicos e de qualidade bromatológica para alta adoção e impacto”.

    “Além disso, gera novos ciclos de vida e sustentabilidade nessa rota tecnológica de cultivares. Os resultados dos ensaios a campo coordenados pela Embrapa demonstram ganhos de produtividade para as indústrias de sementes e produtores rurais”, comenta Rios.

    O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Rafael Parrela ressalta que “o programa de melhoramento de sorgo visa selecionar plantas adaptadas ás diferentes regiões produtivas, com maior resistência a pragas e doenças, e a atender a demandas de mercado”. Nesse contexto, a cultivar BRS 661 foi desenvolvida durante anos de pesquisa. “Buscamos principalmente incremento de produtividade e qualidade”, completa.

    A AgroBrasília é uma vitrine de novas tecnologias para o agronegócio. A realização é da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), com apoio de seus parceiros. De acordo com os organizadores do evento, a feira é voltada para empreendedores rurais de diversos portes e segmentos e tem um cenário de referência em debates, palestras e cursos sobre diversos temas relacionados ao próprio setor produtivo. A programação pode ser acompanhada no site do evento.

  • Embrapa traça plano emergencial para apoiar o Rio Grande do Sul

    Embrapa traça plano emergencial para apoiar o Rio Grande do Sul

    A Embrapa dá início a um plano emergencial para apoiar o estado do Rio Grande do Sul, no qual mantém quatro Unidades de pesquisa – Clima Temperado (Pelotas), Pecuária Sul (Bagé), Trigo (Passo Fundo) e Uva e Vinho (Bento Gonçalves). ). As ações estão sendo desenvolvidas a partir de uma plataforma regional, que tem como objetivo mitigar os efeitos dos eventos climáticos adversos na agropecuária da Região Sul do Brasil. De imediato, iniciativas de pesquisa e transferência de tecnologia têm como foco alimentação, água, saneamento, saúde e informações que podem contribuir para a recuperação das atividades agropecuárias nas áreas afetadas pelas fortes chuvas nos meses de abril e maio, em parceria com os Ministérios da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), além da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

    Segundo a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, no momento, a prioridade é salvar vidas e auxiliar a população gaúcha em suas necessidades básicas. Para isso, a Empresa está com uma campanha interna de arrecadação de dinheiro, roupas, roupas, alimentos, produtos de higiene e limpeza e outros itens necessários, em colaboração com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf) e Associação de Empregados da Embrapa (AEE). “Já chegamos a mais de 70 mil em dinheiro na Unidade da região mais prejudicada, que é Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, mas esperamos a 100 mil em breve”, diz. Saiba como colaborar em quadro nesta matéria.

    A chefe-geral da Embrapa Agrobiologia (RJ), Cristhiane Amâncio, sugeriu a possibilidade de uso do crédito do vale-alimentação para adquirir a produção agrícola dos agricultores mais impactados, um exemplo do que foi realizado em 2011 para apoiar as vítimas das enchentes da região serrana do Rio de Janeiro. Nesse sentido, será necessário definir estratégias de apoio à reorganização das redes de produção, circulação e consumo pelas Unidades do RS, com o apoio do Comitê Permanente de Inclusão Socioprodutiva da Embrapa.

    Um ponto muito importante, como explica a pesquisadora Mariane Vidal, da Diretoria de Pesquisa e Inovação, é a parceria com a Fiocruz a partir do Comitê Permanente de Saúde Única. A Fundação disponibilizou um assento para a Embrapa na sala de situação, que mantém em Brasília, para reunir informações e painéis relacionados às fragilidades dos territórios afetados. “Estamos estabelecendo nessa sala de situação a coordenação dos representantes dos atingidos pela desterritorialização, agricultores, fornecedores, entidades de classe, entidades de assistência técnica e extensão rural, organizações públicas do executivo municipal e estadual”, pontua.

    Além disso, a Embrapa vai lançar em breve uma página em seu portal com um repositório de informações técnicas relacionadas aos sistemas de recuperação de áreas agrícolas e de produção animal.

    “As equipes de pesquisa também trabalham no desenvolvimento de estudos para avaliar a grande extensão agrícola pós-tragédia, considerando que possivelmente nem todas as terras serão reocupadas ou mesmo consideradas agrícolas em curto prazo”, observam Amâncio e Vidal.

    Zarc e monitoramento por satélite guiarão as ações de médio prazo

    RS satelite

    A médio prazo, as equipes de cientistas da Embrapa utilizarão as informações oferecidas pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático ( Zarc ) para auxiliar os produtores rurais na recuperação de suas atividades agropecuárias Esse instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura, desenvolvido pela Empresa e usado oficialmente pelo governo federal, tem como objetivo minimizar os riscos relacionados às previsões climáticas adversas e permite que cada município identifique a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. A técnica é de fácil compreensão e adoção por produtores rurais, agentes financeiros e demais usuários.

    Outro foco de atuação será a formação de uma “Caravana Embrapa” para facilitar a transferência de tecnologias para produtores gaúchos no escopo da Plataforma de Inovação com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). O modelo de caravana, que reúne cientistas e técnicos, vem sendo inovador com sucesso pela Empresa há alguns anos, especialmente em emergências, como combate a política e uso racional de fertilizantes, levando tecnologias e conhecimentos às regiões agrícolas do País.

    O conhecimento de várias Unidades de Pesquisa – Trigo, Soja, Territorial, Cerrados, Solos, Tabuleiros Costeiros e Agropecuária Oeste – será reunido em plano de ação preventiva com foco em enchentes, energia elétrica e manejo de solos, envolvendo ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e de transferência de tecnologia. Uma das iniciativas nesse sentido será o uso de imagens geradas por satélites para monitorar possíveis intempéries, além de traçar um painel geográfico com identificação das fragilidades nos territórios.

    A Embrapa está fortalecendo também estudos em agrometeorologia em parceria com instituições de pesquisa e ensino do Brasil e do exterior.

    Plataforma de carbono vai contribuir com análises e previsões de riscos

    A recém-lançada plataforma de carbono, criada para adaptar as métricas de mensuração da emissão de GEE às condições tropicais, terá um papel importante nas ações futuras para prever e evitar riscos climáticos. As ações de monitoramento, adaptação e sustentabilidade vão priorizar as áreas mais afetadas da Região Sul, considerando o impacto nas cadeias produtivas por municípios, além de soluções tecnológicas e dinâmicas com potencial de adaptação regional. Essas iniciativas vão embasar um plano de ação de transferência de tecnologias a ser realizado por governos e instituições locais.

    Outras atividades previstas a longo prazo preveem o desenvolvimento de pesquisa em metodologias e modelagens de riscos climáticos e o levantamento geoespacial das bacias dos rios da região para construção de subsídios para proposição de políticas públicas.

    Mapa divulga medidas de apoio ao agro no Rio Grande do Sul

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    O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, anunciou medidas para apoiar uma agropecuária no Rio Grande do Sul. Entre elas, destaca-se a suspensão dos pagamentos das dívidas dos produtores rurais gaúchos por 90 dias, com possibilidade de prorrogação.

    Além disso, o governo federal está elaborando uma Medida Provisória (MP) para liberar a importação de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O objetivo é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país.

    O ministro anunciou ainda uma união de cooperativas do agro do estado para estruturar medidas precisas de apoio ao setor do agronegócio.

  • Plantio Direto e sucessão de culturas selecionadas para mitigar emissões de óxido nitroso no Cerrado

    Plantio Direto e sucessão de culturas selecionadas para mitigar emissões de óxido nitroso no Cerrado

    Pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF) e da Universidade de Brasília ( UnB ) avaliaram possíveis efeitos de diferentes manejos do solo, rotações e sequências de culturas, além de fatores climáticos e solos que propiciam emissões de óxido nitroso (N2O) de solos no bioma Cerrado e constataram que o Sistema Plantio Direto (SPD) apresentou, em relação ao planejamento convencional, menores emissões cumulativas desse que é um dos principais gases de efeito estufa (GEE), com longo tempo de permanência na atmosfera e contribuição significativa para o aquecimento global . Os resultados do estudo indicaram, ainda, que o manejo convencional com soja ou milho na safra principal, sem uma sucessão cultural, e a fertilização nitrogenada intensificando as emissões de N2O do solo no Cerrado.

    No Cerrado, poucos estudos de longo prazo abordam a influência do manejo de culturas e dos sistemas de rotação nas emissões de N2O do solo. “Os efeitos dos sistemas de uso da terra nas emissões desse gás são o resultado de múltiplas variações cujas interações precisam ser melhores descobertas”, justifica a pesquisadora Alexsandra de Oliveira , um dos autores do artigo Efeitos do manejo do solo, rotação e sequência de culturas em emissões de óxido nitroso do solo no Cerrado: Uma avaliação multifatorial , publicado no Journal of Environmental Management .

    Como foi feita a pesquisa

    O estudo foi realizado numa área da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), durante 25 meses, em um experimento de longa duração instalado em 1996. Foram avaliados três sistemas de uso da terra: planejamento direto com rotações e sequências bienais de sorgo após a soja nos dois primeiros anos e feijão-guandu após o milho nos dois anos seguintes (sistema de planejamento direto soja-sorgo/milho-feijão-guandu); plantio direto com rotações e sequências bienais de milho-feijão guandu nos dois primeiros anos e sorgo após a soja nos dois anos seguintes (sistema plantio direto milho-feijão-guandu/soja-sorgo); plantio convencional com grau de discos e rotação bienal soja-milho (plantio convencional soja/milho); além do Cerrado nativo sem uso agrícola. Os dados foram encontrados entre outubro de 2013 e outubro de 2015.

    Com o uso de câmaras estáticas fechadas instaladas nos tratamentos, os fluxos de gases do solo foram amostrados 230 vezes ao longo do período da avaliação dos sistemas, com intervalos definidos por eventos como aplicação de insumos, preparação do solo (sob manejo convencional), chuvas , dados de plantio, reumedecimento do solo após veranicos, dados de colheita, senescência (envelhecimento das plantas), pousio, entre outros fatores que podem influenciar os picos de N2O. A concentração de N2O das amostras foi determinada em laboratório por cromatografia gasosa.

    Resultados

    Os autores observaram que as emissões acumuladas de N2O foram influenciadas pelo tipo de manejo do solo e da cultura. Os fluxos cumulativos tanto no primeiro como no segundo ano foram maiores no preparo convencional, sendo que para todo o período analisado (2013-2015), as emissões acumuladas no plantio convencional de soja/milho foram de 4,87 kg por hectare (ha), seguidas pelo plantio direto (SPD), sendo 3,47 kg/ha em sistema de plantio direto soja-sorgo/milho-feijão-gundu e 2,29 kg/ha em plantio direto milho-feijão-guandu/ soja-sorgo; além de 0,26 kg/ha na área com vegetação natural do Cerrado. Na comparação anual, os valores no segundo ano foram maiores para todas as áreas avaliadas, exceto no Cerrado.

    Foram avaliadas, conforme cada tratamento, as emissões da primeira safra (soja ou milho) e da segunda safra (sorgo ou feijão-guandu). Para a cultura principal (primeira safra), a única diferença significativa foi observada no segundo ano (2014-2015), com as maiores emissões observadas no plantio convencional (2,29 kg/ha), seguidas pelos tratamentos com planejamento direto soja-sorgo /milho-feijão-guandu e milho-feijão-guandu/soja-sorgo e, por último, pelo Cerrado.

    Mas as diferenças foram marcantes na segunda safra em ambos os anos. Embora não tenha sido plantada uma segunda safra no plantio convencional – para esse sistema, foi analisado o mesmo período em que os demais sistemas são com culturas, com plantio convencional soja/milho tendo emissões estatisticamente semelhantes ao sistema de plantio direto soja-sorgo/milho -feijão-guandu, e ambas superiores ao sistema de plantio direto milho-feijão-guandu/soja-sorgo e ao Cerrado. No segundo ano, o plantio soja convencional/milho, o plantio direto soja-sorgo/milho-feijão-guandu e o plantio direto milho-feijão-guandu/soja-sorgo apresentaram emissões estatisticamente semelhantes entre si e superiores às do Cerrado.

    O período de pousio também foi monitorado, considerando o momento em que nenhuma cultura estava sendo cultivada em nenhum dos sistemas agrícolas. As emissões foram maiores no plantio convencional no primeiro e no segundo ano (1,40 kg/ha e 0,89 kg/ha, respectivamente) que nos sistemas de plantio direto, o que, segundo os pesquisadores, sugere que a sucessão de culturas no ano agrícola é uma prática importante para promover ganhos do ponto de vista ambiental, além de outros benefícios agrícolas.

    Quanto à produtividade de grãos (soja e milho) e às emissões de N2O em escala de produtividade (miligrama de gás emitido por kg de grão) para as safras 2013/2014 e 2014/2015, foi observado que os sistemas com cultura principal de milho (plantio direto milho-feijão-guandu/soja-sorgo no primeiro ano; planejamento direto soja-sorgo/milho-feijão-guandu e plantio convencional no segundo ano) produziram rendimentos mais elevados (ver tabela 2 ).

    Na estação de cultivo de 2014-2015, as emissões de N2O na escala de rendimento dos sistemas avaliados foram estatisticamente semelhantes e mais elevadas que na estação 2013-2014. No entanto, na safra 2014-2015, o plantio direto milho-feijão-guandu/soja-sorgo foi mais eficiente que o plantio convencional soja/milho, ou seja, emitiu menos N 2 O por kg de grãos.

    As emissões acumuladas de N2O foram maiores na primeira safra (milho) no sistema de plantio direto soja-sorgo;milho-feijão-guandu entre 2014 e 2015 (254,88 mg N2O/kg grão). Nesse caso, a adubação nitrogenada e a mineralização de resíduos não só podem ter sido responsáveis ​​por aumentar a concentração de nitrogênio mineral, principalmente na estação chuvosa e em temperaturas mais altas no verão.

    Para a segunda safra, foram observadas diferenças entre 2013 e 2014 para o sorgo, que, assim como o milho, foi fertilizado com nitrogênio, enquanto entre 2014 e 2015 não foram observadas diferenças na segunda safra sob o sistema de plantio direto. Segundo os autores do estudo, a explicação pode estar na variabilidade de variações climáticas como chuvas e temperatura. Já o milho em plantio convencional, apesar do elevado rendimento de grãos, apresentou as maiores emissões de N2O, sendo, portanto, o sistema menos eficiente.

    Os pesquisadores acreditam que as diferenças nas emissões de N2O entre os anos podem ser atribuídas justamente à sequência de culturas utilizadas no período avaliado. O estudo do sorgo, por exemplo, apesar de estar sob SPD e de ter recebido uma única fertilização com nitrogênio, emitiu emissões semelhantes ao sistema convencional. Além disso, no primeiro ano (2013-2014), as emissões das segundas culturas sob SPD foram mais baixas no caso da cultura de cobertura não fertilizada (feijão-guandu) comparada com a fertilizada (sorgo). “Portanto, a escolha da segunda safra pode alterar completamente o padrão de emissões”, observa Alexsandra de Oliveira.

    Outro fator que justifica as variações anuais nas emissões de N2O é a sazonalidade das chuvas nas condições tropicais do Cerrado, onde o período de desenvolvimento das plantas é regulado pelo volume e regularidade das chuvas, que podem ser interrompidos por períodos de seca com diferentes durações. “Vários estudos descobriram que as variações das emissões de N2O são controladas pela umidade do solo. As chuvas estimulam a atividade microbiana no solo e podem induzir picos nos fluxos diários de N2O. Esse efeito pode ser prolongado ou potencializado se a disponibilidade de substratos de nitrogênio não for alta”, explica a pesquisadora.

    “Esses resultados demonstram que as emissões de N2O na região do Cerrado devem a interações que envolvem manejo do solo com ou sem o seu preparo, gerenciamento e sequência de culturas e variações de solo e clima”, afirma a pesquisadora Arminda de Carvalho , também da Embrapa Cerrados, acrescentando que as emissões cumulativas de N2O no período 2013-2015 mostraram uma clara distinção entre os usos do solo avaliados.

    Os autores do artigo lembram que, como já demonstrado por estudos anteriores sobre o bioma, o preparo convencional é o sistema de cultivo que mais promove aumento nas emissões de N2O e se diferencia das áreas sob florestas nativas. “Por outro lado, o acúmulo de diferentes frações da matéria orgânica no sistema de plantio direto é um fator-chave para a redução das emissões de N2O do solo no Cerrado”, ressalta o professor Cícero Figueiredo, da UnB.

    Oliveira acrescenta que o comportamento intermediário do sistema de planejamento direto (SPD) no estudo indica que o sistema é uma alternativa aos sistemas convencionais. “Porém, a sequência da cultura deve ser escolhida com cuidado, uma vez que foram observadas emissões diferentes entre os tipos de plantio direto”, recomenda.

    Além de Oliveira, Figueiredo e Carvalho, são autores do estudo Artur Muller ,  Juaci Malaquias , Marcos Carolino de Sá ,  João Paulo Soares e Marcos Vinícius dos Santos (bolsista), da Embrapa Cerrados, e Fabiana Piontekowski Ribeiro e Isis Lima dos Santos, da UnB.

    O papel do N2O nas mudanças no clima

    Observações de longo prazo apontam que, entre os períodos 2011–2020 e 1850–1900, a temperatura média global aumentou 1,09 °C, acompanhada pelo aumento dos gases de efeito de estufa (GEE). A tendência crescente da concentração de N2O observada desde 1980 é, em grande parte, impulsionada pela expansão e intensificação da agricultura global. Estudos apontam que cerca de 77% do N2O derivado da atividade humana é emitido por solos agrícolas. Entre as opções de manejo do solo que promovem a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas, o Sistema Plantio Direto (SPD) tem sido amplamente ampliado como uma promessa de manejo de conservação do solo para reduzir os efeitos os efeitos ambientais como destruição e eliminação do solo, garantindo ao mesmo tempo a produtividade agrícola a longo prazo.

    No entanto, estudos recentes afirmam que os efeitos dos sistemas de plantio direto no rendimento das culturas e  nas emissões de GEE  variação de acordo com a idade, a sequência e a rotação da cultura do SPD. Os sistemas agrícolas de alto rendimento são frequentemente caracterizados por altas taxas de consumo de energia de combustíveis fósseis, uso excessivo de nutrientes, manipulação do solo e  poluição da água . SPD e o preparo convencional (PC) causam emissões de N2O de maneira diferente, devido a alterações na estrutura do solo, nas taxas de aplicação de nitrogênio e no acúmulo e estabilização  de matéria orgânica do solo . Todos esses fatores também são fortemente influenciados pela sequência da cultura. “Por isso, práticas agrícolas sólidas, que contribuem para tornar a ciclagem de nutrientes, principalmente de nitrogênio, mais eficiente, e para reduzir os GEE, especialmente o N2O, devem ser previstas em nível nacional e regional”, afirma Alexsandra de Oliveira, acrescentando que  a diversificação agrícola  favorece a ciclagem de nutrientes e o fornecimento de matéria orgânica, enquanto  a monocultura  pode contribuir para maiores emissões de N2O devido à intensa degradação do solo e ao uso excessivo de fontes de nitrogênio.

  • Pesquisa identifica os melhores clones de café para produção em Mato Grosso

    Pesquisa identifica os melhores clones de café para produção em Mato Grosso

    Pesquisadores da Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT) e da Embrapa Rondônia estão desenvolvendo o projeto “Validação de clones de Coffea canephora para o Estado de Mato Grosso”, com o objetivo de identificar os melhores clones para cultivo de café no Estado. O trabalho é desenvolvido no âmbito do Programa MT Produtivo Café, da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf). Estão sendo avaliados os desempenhos agronômico e sensorial de 50 genótipos de cafeeiros robustas amazônicos desde janeiro de 2021, em duas unidades de pesquisa da Empaer-MT: no Campo Experimental e de Produção em Tangará da Serra e no Centro Regional de Pesquisa e Transferência de Tecnologia de Sinop.

    Na primeira colheita comercial, ocorrida na última safra 22/23, foram avaliadas diversas variáveis como produtividade, uniformidade de maturação, ciclo e qualidade de bebida. A análise de qualidade de bebida foi realizada em um laboratório especializado em cafés especiais, composto por uma rede estruturada de avaliadores credenciados na avaliação de cafés Coffea canephora. Para essa finalidade foi firmada parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER) do Espírito Santo, que realizou as análises sensoriais dos cafés colhidos em Mato Grosso.

    Em fevereiro deste ano, no Centro de Cafés Especiais (CECAFES), localizado na Fazenda Experimental do INCAPER de Venda Nova do Imigrante, no Espirito Santo, as amostras foram submetidas a avaliação de qualidade de bebida por quatro profissionais Q-Grader (avaliadores credenciados pelo Coffee Quality Institute), os quais fizeram a descrição sensorial da bebida dos 50 genótipos em avaliação.

    O pesquisador Marcelo Curitiba Espíndola, da Embrapa Café, membro da equipe executora do projeto, destacou ter ficado surpreso: “No momento da avaliação foi muito interessante observar que a equipe ficou deslumbrada com a diversidade de sabores que tinham as amostras. Isso mostra que esses clones têm potencial para qualidade de bebida e que o clima de Mato Grosso pode ser favorável para a produção de cafés especiais”, contou.

    Douglas Gonzaga de Sousa, coordenador do CECAFES/INCAPER, frisou que provar cafés de diferentes terroirs é uma experiência gratificante e enriquecedora para o profissional. “Durante a análise sensorial podemos perceber toda a exuberância dos canéforas brasileiros, a diversidade de aromas e sabores à xícara e a familiaridade e singularidade dos perfis encontrados em cada café. Por se tratar de cafés oriundos de clones cultivados em condições de solo e clima diferentes dos cafés do Espírito Santo, possibilitou aos provadores do CECAFES explorarem novas experiências e origens com toda sua complexidade, se tornando uma experiência enriquecedora para nossos profissionais”, disse.

    O pesquisador da Embrapa lembrou que o café é uma cultura relacionada à agricultura familiar. “Então, quando nós falamos em plantio de cafés da espécie Coffea canephora no Estado de Mato Grosso, nós estamos trabalhando com pequenos agricultores localizados nas regiões norte e noroeste, onde se encontra a Floresta Amazônica”, explicou.

    Segundo Marcelo, “com o trabalho vai ser possível identificar aqueles clones cafeeiros com melhor potencial para a qualidade de bebida e vamos poder recomendar para os cafeicultores quais os cafés que apresentam essa característica, especialmente pensando em Mato Grosso se tornar não necessariamente um grande produtor de café, mas talvez um grande produtor de cafés especiais. Ou seja, produzir um café com qualidade diferenciada para atingir mercados diferenciados e agregar valor para essa commodity”.

    A pesquisadora Danielle Helena Müller, da Empaer-MT e membro da equipe executora do projeto,  teve a oportunidade de participar presencialmente das análises sensoriais dos canéforas mato-grossenses. “Foi muito interessante a experiência no CECAFES por ser um centro organizado e bem coordenado, com uma equipe de trabalho técnica e competente. Em Mato Grosso ainda estamos desenvolvendo a expertise na produção de cafés especiais. Então é um privilégio contar com o apoio de técnicos e provadores qualificados do Espírito Santo, que se destaca como estado produtor de cafés”, revelou.

    Segundo Danielle, a equipe de pesquisa da Empaer-MT, que desenvolve o projeto, está na expectativa da possibilidade de expansão da produção de cafés especiais e espera que os bons resultados obtidos sejam motivadores para os produtores já atuantes na cadeia cafeeira em Mato Grosso. “Que eles possam se beneficiar com a seleção de clones tecnicamente recomendados para as condições do estado, abrindo caminhos para que se engajem ainda mais em melhorar a qualidade do café produzido”,disse.

  • Robô gera economia de 37 toneladas de ração por ano na suinocultura brasileira

    Robô gera economia de 37 toneladas de ração por ano na suinocultura brasileira

    Um robô que faz a distribuição de ração é um dos benefícios da automação na suinocultura brasileira, cujos resultados positivos já podem ser fortemente sentidos na realidade atual das propriedades rurais. Além de possibilitar uma economia superior a 37 toneladas de ração por ano, a novidade digital economiza tempo e esforço físico dos criadores, possibilitando que se dediquem à gestão das granjas. O robô é um dos resultados da parceria entre a Embrapa Suínos e Aves (SC) e a empresa Roboagro e comprova que a digitalização no campo não tira o lugar de pessoas, mas, pelo contrário, agrega conhecimento intelectual às suas rotinas, permitindo que se dediquem mais ritmo ao desenvolvimento da produção animal.

    O robô é responsável pela distribuição de ração em instalações de suínos em terminação, tarefa que se repete de três a cinco vezes ao dia. Ele não substitui as pessoas que trabalham na criação, uma vez que o olhar humano é fundamental no acompanhamento do funcionamento da máquina. “A diferença é que agora temos tempo para observar, analisar e agir, quando é necessário. Sem o trabalho de colocar a ração nos comedouros, sobra tempo para ver o que está acontecendo em cada baia”, conta Bruna Brandão, que trabalha em uma granja de suínos em Missal, região oeste do Paraná.

    Ela e o esposo, Carlos, começaram a operar o robô em 2023. O casal é responsável por gerenciar mais de 3 mil suínos em terminação, distribuídos por três galpões diferentes, em uma granja integrada da Frivatti (frigorífico de suínos). As mudanças provocaram a novidade de Bruna e Carlos e desenvolveram uma série de adaptações. “Tivemos que aprender a programar o robô, o que não foi difícil. O que mais mudou, eu acredito, é a atenção que temos que ter na observação dos suínos e no funcionamento da máquina. Tudo tem que estar bem ajustado para que o robô faça aquilo que está planejado e nós podemos alcançar os resultados esperados”, afirma Bruna Brandão.

    Integração entre homem e máquina aumenta a precisão

    240430 RoboSuinocultura Osmar Dalla Costa equipe da Embrapa

    Essa observação pode ser sintetizada na palavra “precisão”. O robô distribuidor de ração aumenta a eficácia de um dos pontos mais críticos da criação de suínos, permitindo que possa ser controlado e medido diariamente. “Nós sabemos que perder ou ganhar dinheiro com suínos está muito vinculado à forma como o produtor maneja a ração. O robô garante que essa tarefa seja feita da forma mais eficiente possível dia após dia, sem oscilações de manejo, já que o produtor percebe que precisa trabalhar de forma complementar à máquina”, enfatizam o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Osmar Dalla Costa .

    Trabalhar complementarmente à máquina significa, com justiça, observar o que está acontecendo nas instalações, analisar se algo não está dentro do esperado e agir para corrigir o que está fora do padrão aplicado. É assim que produtor e máquina podem alcançar precisão. “Nós temos em torno de mil robôs já atuando no campo. A partir dessa experiência, posso afirmar que estamos ajudando o produtor a alcançar um nível de precisão na gestão da granja que antes não era possível”, conta Giovani Molin, da Roboagro. Segundo ele, o robô faz com que o produtor deixe de ser um “tratador de animais” e se transforme em um verdadeiro gestor de granjas de porcos.

    Estudos de inovação recentes da Embrapa Suínos e Aves sobre a introdução de robôs na produção de suínos apontam uma janela interessante para vislumbrar como a automação ajuda a construir um novo mundo rural. “A lógica que sustenta essa mudança é que já estamos vendendo os robôs em. Eles evitam a carga de esforço físico dos produtores e permitem que as pessoas envolvidas com a produção animal observem e pensem mais sobre o que está acontecendo nas instalações”, acrescenta Dalla Costa.

    Economia de ração pode chegar a 37 toneladas

    Os estudos mostram também que os robôs ajustados para servirem a ração em comedouros lineares com trato na parte inferior das baias podem economizar até 37,6 toneladas de ração por ano em três lotes de mil suínos em terminação. “Apuramos que cada animal consome 12,5 kg a menos de ração para atingir o mesmo peso de abate quando o robô é ligado para servir a ração de forma controlada em comedouros lineares com trato na parte inferior, quando comparado com o sistema de alimentação à vontade nos comedouros tulha”, revela o pesquisador.

    A economia, de acordo com Dalla Costa, está relacionada, principalmente, à redução do desperdício e à melhoria na conversão alimentar dos suínos. “Comparamos o sistema de ração fornecido com robô e comedouros lineares com trato na parte inferior e ração controlada com outros quatro sistemas de distribuição”, explica. Os outros quatro tipos de ração adequada foram: sistema linear automatizado com comedouro tipo gota e ração controlada; tratamento com sistema linear tipo manual e ração controlada; comedouros lineares com trato na parte superior alimentados com robô e ração controlada; e sistema automatizado com comedouro tipo tulha e ração à vontade. “O robô distribui a proporção por peso, diferentemente de outros sistemas automatizados, que fazem a distribuição por quantidade. Além disso, em comparação com o manual, o robô alcança maior homogeneidade na distribuição. Com isso, os suínos recebem apenas a ração necessária em cada baía, o que reduz o desperdício e melhora a conversão alimentar”, pontua o pesquisador.

    Os robôs também otimizam o uso da ração por mais dois motivos. Primeiro, eles facilitam a distribuição controlada da ração durante o dia. Tratar os animais na hora certa e nos descontos recomendados aumenta a conversão alimentar (calculada a partir da quantidade de ração consumida para cada quilo de carne adquirido pelo animal), fator decisivo para alcançar bons resultados na suinocultura. “Em média, a distribuição controlada pelo robô reduz em 5% o consumo de ração na comparação com a distribuição à vontade”, observa Molin. Além disso, a distribuição controlada pelo robô permite diferenciar, sem dificuldades, o peso de ração levado para cada baia. Ou ainda oferecer porções específicas para os animais dependendo do horário (em períodos mais quentes, os animais, geralmente, comem menos).

    Segundo, os robôs se registram e disponibilizam todas as informações necessárias para gerenciar a ração servida aos animais. A emissão de relatórios diários do consumo de ração ajuda ainda a adotar uma postura preventiva no gerenciamento dos lotes de suínos. “O consumo de ração revela se o lote está evoluindo como o esperado. Qualquer anomalia apontada nos relatórios diários pode ser resolvida antecipadamente”, complementa Dalla Costa. Para Bruna Brandão, os relatórios diários fornecidos pelo robô também servem para confirmar se o trabalho está sendo bem feito dentro da granja. “Depois que entendemos como interagir com o robô, ficou melhor pra todo mundo”, comemora.

    Um robô sobre trilhos

    240430 RoboSuinocultura Osmar Dalla Costa robo corre no trilho
    Foto: Osmar Dalla Costa

    O robô distribuidor de ração, continuamente aprimorado pela Embrapa e a Roboagro, funciona, na prática, como um “vagão com baterias sobre trilhos”. Os trilhos são colocados nos corredores dos galpões onde estão os suínos e permitem que o robô entre e saia das instalações sem dificuldades. Um único equipamento pode tratar até quatro galpões, com um ou mais pontos de abastecimento de ração. “Mesmo instalações já existentes podem receber o robô. Claro que serão necessárias adaptações, de acordo com a realidade de cada uma, mas o equipamento não serve somente para galpões novos”, complementa Molin.

    “No caso da Embrapa, onde temos um robô em nossas fazendas experimentais, foram feitas obras de adaptação. Mas o importante é que o uso de um equipamento inteligente para distribuição de ração esteja ao alcance de praticamente todo o mundo do ponto de vista estrutural”, defende Dalla Costa. Para quem vai construir um novo galpão, há um manual de construção indicado pela Roboagro, que permite que o robô trabalhe melhor e alcance maior durabilidade. Em média, um único equipamento pode alimentar até 3 mil animais diariamente. Mesmo que haja certa flexibilidade de adaptação do robô às necessidades de cada fazenda, a indicação é que as plantas maiores recebam mais de um equipamento.

    Apesar da facilidade de instalação que o robô apresenta, há um aspecto ainda mais importante para determinar se vale a pena adotar essa solução. A própria Roboagro recomenda que somente propriedades com, no mínimo, 400 animais recebam o robô distribuidor de ração. “Segundo nossos estudos, essa é a quantidade ideal de animais para que o produtor alcance, em médio prazo, retorno financeiro esmagador em relação ao investimento”, destacou o representante da empresa.

    A Roboagro oferece duas opções para quem quer adquirir os robôs. Uma das possibilidades é a compra, na qual o preço inicial parte de aproximadamente R$ 70 mil por robô e aumenta de acordo com a quantidade de animais e acessórios. A outra é a locação, na qual o produtor não precisa fazer investimentos e pagar um valor por animal alojado na granja mensalmente. Do ponto vista do seu uso no dia a dia, a experiência da Embrapa Suínos e Aves com o robô distribuidor de ração é positiva. Como o robô possui baterias, ele não é suscetível à falta de energia elétrica no momento em que os animais precisam receber a ração. Além disso, há um modelo já implantado de treinamento para uso do robô e para assistência técnica em caso de falhas de operação.

    Nova rotina de trabalho

    240430 RoboSuinocultura Osmar Dalla Costa produtor comanda o robo
    Foto: Osmar Dalla Costa

    O uso de robôs institui uma nova rotina de trabalho dentro das granjas especializadas na criação de porcos. Por um lado, tarefas que antes duravam várias horas deixavam de ocupar tão significativamente o dia do produtor. Por outro lado, novas ações passam a compor a lista de ações do dia a dia. Um exemplo de rotina trazida pelos robôs é o cumprimento do planejamento detalhado da distribuição de ração. Para que o robô traga os resultados esperados, é preciso reprogramá-lo constantemente, adequando a distribuição de ração à curva de crescimento dos animais. Essa nova rotina exige que os produtores associem conhecimentos de informática (para calibrar o robô) com padrões de manejo (para entender as necessidades dos animais de acordo com pesos e idades).

    Na prática, as horas de trabalho economizadas pelo robô precisam ser direcionadas para outros esforços, como o da aprendizagem constante. Em média, os robôs distribuidores de ração economizaram duas horas de trabalho braçal por dia dos produtores. Tempo que passa a ser dedicado ao seu aprimoramento. “Temos acompanhado, nos campos experimentais da Embrapa, as novas rotinas que o robô traz para a suinocultura. A maior parte das mudanças é positiva. Além disso, o uso de robôs na produção de suínos abre uma perspectiva de atração de um novo tipo de mão de obra para atividade, o que é fundamental pensar no futuro”, completa Dalla Costa.

  • Embrapa propõe políticas para reaproveitamento de pastagens degradadas

    Embrapa propõe políticas para reaproveitamento de pastagens degradadas

    O Brasil tem pelo menos 28 milhões de hectares (ha) de áreas de pastagens em degradação com potencial para conversão em agricultura, reflorestamento, aumento da produção pecuária ou até para produção de energia. O volume de hectares equivale ao tamanho do estado do Rio Grande do Sul.

    O cerrado é o bioma com o maior número de áreas em degradação. Os estados com as maiores áreas são o Mato Grosso (5,1 milhões de ha), Goiás (4,7 milhões de ha), Mato Grosso do Sul (4,3 milhões de ha), Minas Gerais (4,0 milhões de ha) e o Pará (2,1 milhões de ha).

    Para ter uma ideia das possibilidades de reaproveitamento, se toda essas áreas fossem usadas para o cultivo de grãos (arros, feijão, milho, trigo, soja e algodão) haveria uma aumento de 35% a área total plantada no Brasil (comparação com a safra 2002/2023).

    A extensão do problema e as diferentes possibilidades de reaproveitamento econômico dessas áreas fizeram o governo federal a criar no final do ano passado o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (Decreto nº 11.815/2023).

    Para implantar o programa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa, publicou em um livro mais de 30 sugestões de políticas públicas, que o país tem experiência e tecnologia desenvolvida para implantação.

    Planejamento

    Apesar da expertise acumulada, a efetivação é um desafio. Cada área a ser recuperada exige estudo local. O planejamento das ações “deve levar em consideração informações sobre o ambiente biofísico, a infraestrutura, o meio ambiente e questões socioeconômicas. Além disso, é preciso avaliar o histórico de evolução pecuária no local e entender quais fatores condicionam a adoção dos sistemas vigentes”, descreve o livro publicado pela estatal.

    A partir do planejamento, é necessário criar condições para o reaproveitamento das áreas: crédito, capacitação dos produtores e assistência. “É preciso integrar políticas públicas, fazer com que os produtores rurais tenham acesso ao crédito, ampliar o serviço de educação no campo, e dar assistência técnica e extensão rural para a estruturação de projetos e para haja um trabalho contínuo e não uma coisa pontual”, assinala o engenheiro agrônomo Eduardo Matos, superintendente de Estratégia da Embrapa.

    Nesta sexta-feira (26), a empresa faz 51 anos de funcionamento. A cerimônia de comemoração, nesta quinta-feira (25), contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um exemplar do livro foi entregue à comitiva presidencial.

    No total, as áreas de pastagem ocupam 160 milhões de hectares, sendo aproximadamente 50 milhões de hectares formados por pasto natural e o restante pasto plantado. A área de produção de grãos totaliza 78,5 milhões de hectares, e as florestas plantadas para uso econômico ocupam uma área aproximada de 10 milhões de hectares.

    De acordo com o IBGE, a atividade agropecuária ocupa mais de 15 milhões de pessoas no Brasil. Um terço desses empregos são na pecuária bovina (4,7 milhões). O país é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador (11 milhões de toneladas).

    Edição: Sabrina Craide

    — news —

  • Nova tecnologia produtiva melhora desempenho da pecuária de criação

    Nova tecnologia produtiva melhora desempenho da pecuária de criação

    Pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) reuniram resultados de mais de dez anos de estudos com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) em uma recomendação de manejo específica para a pecuária de criação. O Sistema PPS, inicial de precocidade, produtividade e sustentabilidade, é voltado para fazendas que trabalham com a raça Nelore no Brasil Central. A proposta é aproveitar os benefícios da integração laboral-pecuária (ILP) e dos sistemas silvipastoris conforme a fase de vida do animal.

    O novo sistema preconiza a rotação dos rebanhos em diferentes sistemas produtivos, de forma a obter maior ganho de peso na ILP e a ter maior produção hormonal e de anticorpos no sistema com árvores, resultando em precocidade sexual e melhor resposta do sistema imunológico. Ao mesmo tempo, ao adotar sistemas com baixa emissão de carbono ou que neutralizem as emissões, tem-se uma produção peculiar mais sustentável.

    De acordo com o pesquisador Luciano Lopes, a definição da estratégia de manejo do Sistema PPS se baseia em diferentes resultados de pesquisas obtidas nos experimentos da ILPF da Embrapa Agrossilvipastoril. “Esses resultados envolvem comportamento e saúde animal, produtividade e alguns indicadores de precocidade sexual. A partir de então, pudemos perceber que alguns sistemas produtivos são melhores para cada categoria, de acordo com suas necessidades e com o objetivo do produtor”, explica o pesquisador.

    Lopes destaca que o Sistema PPS tem como característica o uso de mais de um sistema produtivo na fazenda. O planejamento deve ser feito de modo a ter áreas com integração laboral-pecuária e também áreas com ILPF ou silvipastoril (integração pecuária-floresta: IPF). “Apesar de ser um pouco mais complexo do ponto de vista operacional, esse manejo traz ganhos além do componente animal. A parte ambiental também é beneficiada em termos de dinâmica de carbono, por exemplo”, detalha.

    Estratégia de rotação

    Quando as matrizes entram na estação de montagem, são necessários níveis hormonais mais elevados para que possam ciclar. Ao reduzir o estresse calórico, por meio do acesso à sombra das árvores, tem-se um melhor balanço hormonal. Desta forma, recomenda-se que esta categoria animal seja levada para áreas com integração pecuária-floresta até que sejam emprenhadas.

    Na etapa seguinte, quando o ganho de peso passa a ser importante para o desenvolvimento e o crescimento do feto e para melhoria da pontuação corporal da vaca, o lote de matrizes é demorado para a ILP.

    Próximo ao parto, as vacas retornam ao pasto sombreado, onde poderá reforçar seu sistema imunológico, passando anticorpos para os bezerros. As partes ocorrem no sistema silvipastoril, proporcionando melhor conforto térmico para os recém-nascidos.

    O Sistema PPS traz recomendações de manejo e rotação dos lotes na fazenda, conforme exemplificados para cada categoria animal. Além das matrizes, há recomendações para férias de primeira criação, bezerras desmamadas, novidades em crescimento e animais de criação, engorda e descarte. Todas essas instruções estão em uma publicação da Série Sistemas de Produção lançada pela Embrapa Agrossilvipastoril. A publicação também traz orientações sobre o calendário de controle parasitário dos rebanhos, conforme a categoria e calendário sanitário e sobre a infraestrutura necessária para adaptação do Sistema PPS.

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    Foto: Mylene Dias

    “O Sistema PPS se baseia nas vantagens que cada modalidade de consórcio oferece. As condições microclimáticas do IPF e os benefícios do ILP para o solo são aqui explorados em sua plenitude, podendo trazer vários outros benefícios além do ganho de peso para fazendas que trabalham com criação e recria e terminação de novilhas a pasto”, relata o pesquisador.

    As pesquisas usadas para validar esta recomendação de manejo foram mínimas em experimentos com uso de rebanhos Nelore, nas condições climáticas de Mato Grosso; por isso, a restrição a esta raça. Novos trabalhos precisam ser feitos para que o manejo seja válido para outras raças.

    A Embrapa Agrossilvipastoril está trabalhando também em uma versão do Sistema PPS com foco no ganho de peso de machos.

  • Pesquisa desenvolve primeiro bioinsumo com dupla função para a cultura da soja

    Pesquisa desenvolve primeiro bioinsumo com dupla função para a cultura da soja

    Resultado de uma parceria da Embrapa com a empresa privada Innova Agrotecnologia, o Combio é o primeiro bioinsumo para a soja brasileira com duas funções: estimulação de crescimento e proteção contra fungos. O produto é uma combinação de três estirpes bacterianas que atuam na fixação biológica de nitrogênio e na promoção de crescimento de plantas: BR 29 (Bradyrhizobium elkanii), BR 10788 (Bacillus subtilis) e BR 10141 (Paraburkholderia nodosa). “O diferencial desse inoculante é que colocamos bactérias que desempenham vários mecanismos estimuladores e que também protegem as sementes na fase de emergência do solo, evitando ataque de fungos oportunistas”, detalha o pesquisador Jerri Zilli, da Embrapa Agrobiologia (RJ), um dos responsáveis pela pesquisa.

    Testes de campo desenvolvidos pela Innova Agrotecnologia revelaram aumento de 10% no rendimento de grãos. Nem mesmo a forte estiagem ocorrida na safra 2020/2021, a exemplo do que ocorreu no estado de Mato Grosso, impediu o efeito satisfatório do bioinsumo. No Paraná, uma lavoura sem qualquer inoculante apresentou rendimento de 61 sacas por hectare, outra com coinoculação tradicional rendeu 63 sacas e a área com o Combio teve rendimento de 66 sacas. “Nossa intenção não é confrontar os inoculantes que estão no mercado. O objetivo é incentivar um manejo que evite fungicidas químicos, considerados agressivos à bactéria rizóbio”, pontua Zilli.

    O produto surgiu a partir de uma prospecção de centenas de bactérias com o objetivo de encontrar microrganismos antagônicos a fungos que interferem na germinação e emergência das plântulas de soja na lavoura. Atualmente, para garantir o bom stand de plantas, praticamente 100% das lavouras de soja no Brasil recebem tratamento de sementes com fungicidas químicos, que, na maioria das vezes, são prejudiciais ao Bradyrhizobium. “Durante o estudo, verificamos que Bacillus subtilis Paraburkholderia nodosa apresentavam grande potencial antagônico a fungos e, além disso, estimulavam as plantas por meio de diversos mecanismos, culminando em plântulas mais uniformes e com maior vigor”, explica Zilli.

    Constatada a característica de proporcionar o crescimento das plantas de soja, as bactérias foram consorciadas ao Bradyrhizobium, imprescindível para o aporte de nitrogênio à cultura. Após os testes em casa de vegetação e em campo, constatou-se que as plantas inoculadas com o Combio desenvolveram-se de forma superior comparativamente à inoculação padrão com Bradyrhizobium, e apresentaram ampla nodulação e sanidade.

    O pesquisador da Embrapa Luís Henrique Soares de Barros acredita que o Combio possa substituir com vantagens o inoculante tradicional na cultura da soja, que contém apenas o microrganismo específico destinado à fixação biológica de nitrogênio. “O Combio tem, além do microrganismo simbionte, duas outras estirpes, que valorizam a promoção do crescimento e conferem maior vigor para a cultura, por meio de atuação bioquímica complementar à planta”, revela.

    Os testes para validação do efeito de antagonismo a fungos para fins de registro como fungicida biológico estão em andamento e seguindo a legislação vigente. A expectativa dos pesquisadores envolvidos é que esse diferencial seja totalmente comprovado e que, em breve, o produto possa ser oferecido como o primeiro bioinsumo multifuncional para a soja. “Agregamos duas funções em um único produto, o que confere maior praticidade. Com menos uma etapa no campo, o agricultor tem menos trabalho”, frisa Barros.

    Atualmente, o produto tem um registro especial temporário e está sendo ofertado como inoculante com ação na fixação biológica de nitrogênio e na promoção de crescimento de plantas de soja. Para ser comercializado como biofungicida, precisa ainda cumprir algumas exigências da atual legislação brasileira. A expectativa é que essa nova tecnologia esteja disponível nas próximas safras.

    Prospecção de bactérias

    As pesquisas para o desenvolvimento do Combio tiveram início em 2020 e utilizaram a coleção de microrganismos mantida no Centro de Recursos Biológicos Johanna Döbereiner (CRB-JD), situado na Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ). Para a formulação do produto, mais de 700 bactérias foram prospectadas dentro da coleção do CRB-JD. Inicialmente, as combinações de microrganismos estavam sendo testadas para associar fixação biológica de nitrogênio e promoção de crescimento. A partir da avaliação das estirpes, também passou a ser considerado seu potencial no combate a fungos prejudiciais à cultura da soja – o que implicaria o desenvolvimento de um produto ainda mais completo e inovador.

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    Foto: Innova Agrotecnologia

    Com cerca de 7 mil microrganismos, entre bactérias e fungos, a coleção do CRB-JD foi formada ao longo de anos de pesquisas, a partir da coleta na natureza, em diferentes regiões do País. Cada uma das bactérias ali depositadas foi estudada e passou por avaliação quanto ao seu potencial de uso como insumo biológico na agricultura brasileira.

    O início desse trabalho foi ainda nos anos 1950, quando a pesquisadora Johanna Döbereiner isolou as primeiras bactérias fixadoras de nitrogênio. Desde então, a coleção se multiplicou e mais de 50 estirpes já foram autorizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para o uso em inoculantes comerciais.

    Até 2012, conhecia-se apenas as características fenotípicas e morfológicas (aparência e forma) dos microrganismos depositados no CRB-JD, e isso limitava o desenvolvimento das pesquisas. Mas, nos últimos anos, com o uso de ferramentas moleculares, foi possível conhecer melhor a taxonomia (classificação) dos microrganismos e, além disso, estruturou-se um banco de DNA que está disponível para os pesquisadores.

    Atualmente, cerca de 80% dos microrganismos da coleção estão caracterizados por meio do sequenciamento de DNA. Isso significa que se alguém necessitar fazer novos estudos para trabalhos biotecnológicos não precisa cultivar a bactéria, podendo apenas utilizar os DNAs armazenados. Além disso, a partir do DNA, é possível fazer o sequenciamento genômico da bactéria e identificar genes com potencial agrobiotecnológico.

  • Cientistas usam sinais de vibração para controlar percevejos-praga nas plantações

    Cientistas usam sinais de vibração para controlar percevejos-praga nas plantações

    O uso de sinais vibratórios é a nova arma da ciência para ajudar no controle de pragas agrícolas como os percevejos da família Pentatomidae, que podem ser agrupados em aproximadamente 900 gêneros e 5.000 espécies. A tecnologia digitalizou esses sinais que os insetos usam para se comunicar e os reproduz artificialmente para atraí-los ou afastá-los. Para alcançar esse resultado, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia  – em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso ( Unemat ), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso ( Fapemat ) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal ( FAPDF ) – desenvolveu um dispositivo e método para armazenar, gerar e reproduzir esses sinais de vibração.

    Este é um dos primeiros estudos no mundo que visa aplicar o conhecimento da comunicação vibracional ao manejo de percevejos na agricultura. A patente da tecnologia foi depositada em dezembro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial ( INPI ), sob o nº. BR102023026187-6.

    Como funciona

    “O método consiste em digitalizar os sinais vibratórios emitidos pelos insetos e reproduzi-los contínua e repetidamente para interferir no seu comportamento, para, por exemplo, atraí-los ou afastá-los”, diz o pesquisador Raúl Alberto Laumann, membro do Centro de Semioquímica. Equipe de laboratório. Assim, é possível realizar a manipulação comportamental e o controle de insetos-praga nas áreas de cultivo, reduzindo a densidade populacional.

    Além disso, a tecnologia permite que os sinais sejam reproduzidos em diferentes superfícies, como caules e folhas de plantas, ou outros substratos sólidos, o que permite sua aplicação em diversas condições, considerando diferentes particularidades no controle.

    “Embora a invenção do dispositivo e do método tenha sido motivada pela necessidade de manejo do percevejo, a tecnologia pode ser aplicada a uma grande variedade de insetos”, afirma o pesquisador.

    Comunicação entre percevejos

    Nos percevejos, os sinais vibratórios trocam informações entre os indivíduos quando estes estão em distâncias moderadas (1 a 2 metros) ou curtas (alguns centímetros ou contatos físicos). “Por meio desses sinais vibratórios, eles recebem e enviam informações sobre o sexo do inseto que está ‘cantando’, a receptividade à cópula e a distribuição espacial”, afirma o cientista.

    Estudos sobre o processo de comunicação dos percevejos indicam que sua comunicação ocorre por meio de vibrações entre 60 e 130 hertz (Hz), produzidas pelo abdômen do inseto, que são transferidas para os tecidos vegetais por meio de suas patas, onde também se encontram os receptores sensoriais dos sinais vibratórios.

    Assim, a utilização das vibrações identificadas na família Pentatomidae pode ser uma alternativa ou complemento ao uso de feromônios para serem incorporados em armadilhas de monitoramento. Os feromônios são sinais químicos que também fazem parte do sistema de comunicação dos insetos. “Além disso, sinais vibratórios com efeito repelente ou que interfiram na comunicação têm potencial para o manejo dessas pragas agrícolas, em um sistema semelhante ao da confusão sexual com acasalamento interrompido, dispensando o uso de substâncias químicas”, ele adiciona.

    240206 SinaisVibratoriosInsetos Cecilia Rodrigues Vieira percevejo

    Alternativa ao uso de produtos químicos

    Atualmente os percevejos são pragas primárias às principais culturas de grãos no Brasil, e nos últimos anos sua incidência se estendeu a outras culturas, com relatos de ataques severos ao algodão, hortaliças e mamona, entre outros. Os métodos de controle mais comuns baseiam-se no uso de inseticidas sintéticos, que envolvem riscos e efeitos negativos ao meio ambiente e à saúde humana.

    “O uso excessivo de agrotóxicos torna os sistemas agrícolas instáveis ​​em decorrência da eliminação conjunta dos inimigos naturais e da indução do aumento da resistência dos insetos-praga. Isso gera condições que favorecem a ação dos insetos herbívoros e posterior ocorrência de ataques mais severos e com maior danos às colheitas”, alerta Laumann.

    Assim, a possibilidade de interferir na comunicação e no comportamento sexual dos insetos e, consequentemente, no seu sucesso reprodutivo, é uma das estratégias com grande potencial para o manejo eficiente de suas populações, sem o uso de agrotóxicos.

    “Vários estágios do comportamento reprodutivo dos percevejos envolvem troca de informações. Os tipos de sinais mais conhecidos e estudados nesse grupo de insetos são os feromônios, mas os percevejos também trocam informações por meio de sinais vibratórios”, ressalta Laumann.

    Para o pesquisador, já existe uma demanda crescente por soluções que nas próximas décadas produzam alimentos, fibras e outros materiais provenientes da agricultura com baixos níveis de impacto ao meio ambiente, especialmente em áreas de conservação e nascentes.

    A aplicação de práticas sustentáveis ​​na agricultura é uma prioridade para atingir tal meta. É neste contexto que o controle biológico e a manipulação comportamental de insetos apresentam grande potencial para utilização no manejo de pragas, pois minimizam o uso de agroquímicos.

    “Embora já existam práticas de controle biológico, ainda não existem tecnologias de manipulação comportamental de insetos voltadas às principais pragas agrícolas que não apenas mantenham indicadores de qualidade de vida e de conservação ambiental, mas também mantenham os principais grãos livres de resíduos químicos”, disse Laumann. afirma.

    Associação com feromônios

    “Um dos objetivos iniciais do desenvolvimento deste sistema foi a possibilidade de utilizá-lo para reproduzir sinais vibratórios de percevejos em armadilhas de monitoramento populacional contendo o feromônio sexual, com o objetivo de aumentar a eficiência de captura e a precisão das estimativas de densidade populacional. a ferramenta se tornaria mais precisa e útil para os agricultores”, ressalta Laumann.

  • Antecipação de dessecação da soja reduz massa e quantidade de óleo no grão

    Antecipação de dessecação da soja reduz massa e quantidade de óleo no grão

    A antecipação da dessecação das lavouras de soja é uma prática usada por produtores para homogeneizar as plantas, para fugir de períodos chuvosos na colheita ou mesmo para antecipar a semeadura da segunda safra. Uma pesquisa realizada pela Embrapa em Mato Grosso avaliou a dessecação em diferentes momentos da cultura e mostrou que a operação fora do período recomendado reduz a massa dos grãos e a quantidade de óleo.

    De acordo com a pesquisa realizada no campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), a dessecação no início da formação e enchimento dos grãos representou uma massa de mil grãos entre 26% e 19% menor do que a massa de mil grãos de uma lavoura dessecada no início da maturação (R7.1 e R7.3) nas duas cultivares avaliadas. Extrapolando os dados para uma lavoura com produtividade média de 60 sacas por hectare (ha), essa diferença representa redução de produção entre 15 e 11 sacas por hectare.

    As perdas de massa podem ocorrer também com a dessecação feita após o estádio R7 ou com a colheita sem dessecação, em R9. Nesses casos os valores são menores, com 4% a 6% de redução, o que representaria duas a três sacas a menos por hectare em um cenário de produtividade média de 60 sacas/ha. A pesquisa encontrou, no entanto, uma situação de colheita em R9 cuja massa de mil grãos foi estatisticamente igual ao resultado da lavoura dessecada em R7.

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    Foto: Embrapa

    Antecipação reduziu teor de óleo

    Outra característica avaliada foi o teor dos constituintes dos grãos. A diferença mais significativa se deu na quantidade de óleo, com relação direta entre a antecipação da dessecação e o menor teor de óleo.

    “Uma inferência que fizemos desse trabalho é que o óleo parece ser o último constituinte a ser sintetizado na soja. Nas parcelas dessecadas nos primeiros estádios estudados, a quantidade de óleo foi mais baixa, devido à interrupção do processo fotossintético pela planta. Parece não ter havido tempo para a planta sintetizar todo o óleo”, sugere a pesquisadora da Embrapa Sílvia Campos.

    Os dados mostraram que a amostra dessecada em R5.5 teve teores de óleo de 21,86% em uma cultivar IPRO analisada e de 22,24% em uma cultivar convencional. Nos estádios R7, o teor de óleo ficou entre 25,67% e 24,26%, na cultivar convencional, e entre 23,62% e 23,94%, na cultivar transgênica.

    A pesquisa também avaliou as avarias nos grãos colhidos nas lavouras com diferentes pontos de dessecação. Os dados demonstraram menor presença de grãos verdes conforme o avanço nos estádios de maturação. As amostras analisadas tiveram baixo índice de grãos ardidos ou mofados. Já a quantidade de quebrados teve aumento não linear, mas que pôde ser verificado conforme o avanço no tempo de dessecação.

    A pesquisadora ressalta, no entanto, que esses critérios podem estar associados às condições climáticas no período entre dessecação e colheita e também à regulagem de máquinas.

    “A antecipação da dessecação pode aumentar o teor de grãos verdes. Eles por si só podem não ser um problema, mas, se somados aos ardidos, quebrados e mofados, podem levar a descontos na hora da entrega no armazém”, alerta Campos.

    Outra análise feita para avaliar a qualidade dos grãos foi a condutividade elétrica da solução de exsudatos. O teste é feito mergulhando amostras de soja por 24 horas na água, tempo em que são liberadas substâncias conhecidas como exsudatos. Maior presença de exsudatos na solução é confirmada pela maior condutividade elétrica e indica redução na qualidade dos grãos. Nesse teste, a soja dessecada entre R6 e R7.3 obteve os melhores desempenhos.

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    Foto: Gabriel Faria/Embrapa

    Dessecação como estratégia

    A dessecação da lavoura de soja não é uma operação obrigatória, mas é adotada por quase todos os agricultores de Mato Grosso. De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja Edison Ramos Jr., o tamanho das áreas colhidas e a estratégia de produção das fazendas justificam o uso da dessecação.

    Um dos fatores relevantes, explica, é evitar problemas com plantas daninhas na colheita. Com a queda das folhas da soja no fim do ciclo, aumenta a incidência de luz no solo, possibilitando o crescimento de plantas que podem atrapalhar a colheita.

    Outro ponto é a homogeneização da lavoura, para que a colheita seja feita. “Nem sempre a cultura chega à maturidade de colheita no mesmo período. Tem sempre plantas mais verdes e com folhas. Isso ocorre por diversos motivos. Germinação não homogênea, problema de semente, cultivar, diferença de fertilidade do solo”, observa.

    O escalonamento da colheita é outro fato de grande relevância, sobretudo considerando que o uso de cultivares mais precoces resulta na colheita no período de maior concentração de chuvas em Mato Grosso, que são os meses de janeiro e fevereiro.

    “A dessecação permite o escalonamento para colheita da área toda. O produtor verifica a previsão do tempo e a disponibilidade de maquinário e planeja a dessecação. Dessecando você tem a certeza de que dali a cinco, sete dias você pode entrar com máquina para colher”, comenta Ramos Jr.

    Há ainda o uso da dessecação como forma de reduzir o ciclo da soja, possibilitando antecipar a colheita e, consequentemente, antecipar a semeadura da cultura de segunda safra.

    O pesquisador lembra que, embora a pesquisa tenha indicado uma redução pequena na produtividade nas condições avaliadas, quando a dessecação é feita com a planta muito verde, o tempo para que a lavoura esteja pronta para ser colhida é maior do que quando a operação é feita no momento recomendado.

    “Dessecando na época correta, em cinco dias já se pode colher. Com a planta verde demora mais de dez dias, a não ser que se use uma dose maior do herbicida. Se seguir as recomendações, dessecar com a soja madurando, é mais prático e resolve o problema do produtor”, avalia o pesquisador.