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  • Estresse hídrico: Inteligência artificial analisa temperatura das folhas para identificar necessidades de água

    Estresse hídrico: Inteligência artificial analisa temperatura das folhas para identificar necessidades de água

    Um dispositivo autônomo de baixo custo para detecção de estresse hídrico em plantas foi desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Tropical . A tecnologia se baseia no balanço energético foliar e pode contribuir para a tomada de decisões mais precisas e assertivas no manejo da irrigação. Uma parceria entre a Embrapa, a Universidade Federal do Ceará (UFC), o Laboratório de Inovação Tecnológica e Exploração Científica (LITEC) do Instituto Atlântico e a empresa cearense 3V3 Tecnologia desenvolverá uma versão comercial nos próximos anos.

    O pesquisador da Embrapa Cláudio Carvalho diz que a tecnologia utiliza ferramentas de inteligência artificial (IA) para controlar as informações coletadas por sensoriamento. Embora os efeitos da deficiência hídrica no balanço energético dos tecidos foliares sejam conhecidos, Carvalho afirma que o uso de IA para identificar padrões e controlar a irrigação é inédito.

    Para Otto Sousa, engenheiro de computação e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Teleinformática da UFC, responsável por monitorar e desenvolver as capacidades computacionais da tecnologia, o dispositivo oferece a oportunidade de criar equipamentos para manejo de irrigação de lavouras a custos mais acessíveis para médios e pequenos produtores rurais.

    Os aparelhos existentes são muito caros, já que a indústria brasileira importa quase tudo que envolve equipamentos eletrônicos. Daí podemos estabelecer a máxima de que, se tivermos que importar algo, construiremos algo eficiente, mas com os componentes eletrônicos mais baratos possíveis”, completa Sousa.

    A água é um recurso fundamental

    Na agricultura, a água é um recurso crucial que influencia significativamente a saúde e o rendimento das plantas. Condições como falta de água no solo, condições climáticas desfavoráveis ​​ou mesmo práticas agrícolas inadequadas podem gerar estresse hídrico.

    O investimento em tecnologias de sensoriamento proporciona uma solução automatizada para a gestão de recursos hídricos, reduzindo custos e impactos ambientais associados ao desperdício de água e, mais importante, evitando danos decorrentes do déficit hídrico.

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    Foto: Otto Sousa

    O sistema de detecção

    O sistema de detecção consiste em três dispositivos: sensor de temperatura foliar, psicrômetro de aspiração e piranômetro. O sensor de temperatura foliar é composto por termistores encapsulados em vidro que são fixados na superfície das folhas e conectados a um sistema de coleta de dados. O sistema coletor usa a equação de Steinhart-Hart para calcular a temperatura foliar em relação à temperatura e umidade do ar. Nesses dispositivos, as leituras de temperatura são feitas a cada minuto e os dados são enviados imediatamente após a coleta para o servidor de dados usado. A transmissão é feita via LoRa, um protocolo de radiofrequência de baixa potência.

    O psicrômetro de aspiração, por sua vez, coleta dados de temperatura e umidade do ar, adiciona um registro de data e hora a cada leitura e envia esse conjunto de informações também para o servidor de dados. Por fim, o piranômetro verifica o nível de radiação solar sobre as plantas. Por ser um sensor que fornece informações como sinais analógicos, os pesquisadores desenvolveram um circuito de conversão analógico-digital que recebe as informações do piranômetro e as digitaliza. Os sinais convertidos são enviados via Wi-Fi para o servidor.

    Com as informações de temperatura, umidade do ar e incidência de radiação solar, o sistema avalia e determina as necessidades hídricas das plantas. Se as necessidades hídricas forem identificadas, o sistema aciona automaticamente os dispositivos de irrigação.

    O experimento

    Para validar a tecnologia em campo, o estudo conduziu o cultivo experimental de  plantas de milho BRS Gorutuba  cedidas pela  Embrapa Milho e Sorgo  e  Embrapa Tabuleiros Costeiros .

    Quarenta mudas de milho foram cultivadas em vasos contendo solo peneirado retirado da Estação Experimental de Pacajus, no interior do estado do Ceará, e cascas de coco. A irrigação automática por gotejamento forneceu 100mL de água por minuto.

    O arranjo foi instalado dentro de uma estufa aberta na lateral e coberta por um filme plástico transparente comercial que impediu 100% da incidência de chuva, mas reduziu a radiação solar incidente em cerca de 5% a 10%, o que foi monitorado a cada minuto pelo piranômetro.

    O experimento iniciou com a semeadura de quatro sementes de milho por vaso. Durante o período de germinação, todos os vasos foram hidratados diariamente sem atingir o ponto de saturação de água do solo, e fertilizante líquido foi aplicado. Após a germinação, as plantas mais robustas foram selecionadas.

    O próximo passo foi a colocação dos sensores de temperatura, psicrômetros e piranômetros; e os dados começaram a ser monitorados. Os resultados obtidos no experimento demonstraram que o dispositivo construído para monitorar as temperaturas foliares permitiu a inferência dos estados da cultura entre boa hidratação e déficit hídrico.

    Próximo passo: chegar ao mercado

    Segundo o professor Atslands Rego da Rocha, do Departamento de Engenharia de Teleinformática (DETI) da Universidade Federal do Ceará (UFC), as perspectivas são de que o dispositivo e sua base de IA cheguem ao campo em até dois anos. “Estamos construindo a versão 2.0 do hardware e aumentando o banco de dados para modelagem usando ferramentas de IA. As perspectivas apontam para uma solução interessante em alguns meses. No entanto, a comercialização completa levará algum tempo”, explica.

    Há uma parceria, ainda informal, mas já em andamento, entre a Embrapa Agroindústria Tropical, a UFC, o Laboratório de Inovação Tecnológica e Exploração Científica ( LITEC ) do Instituto Atlântico e a empresa local 3V3 Tecnologia, especializada no desenvolvimento de soluções tecnológicas para agricultura irrigada.

    Estudo premiado

    Durante o 44º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, realizado em julho em Brasília, DF, o estudo foi apresentado no Workshop on Applied Computing for Environment and Natural Resource Management (WCAMA). A apresentação rendeu um prêmio na categoria “Best Paper”.

    O estudo foi realizado por Otto Sousa, Guilherme Alves e Atslands Rocha, do Departamento de Engenharia de Teleinformática da Universidade Federal do Ceará, e coorientado pelo pesquisador Cláudio Carvalho, da Embrapa Agroindústria Tropical.

    Para mais informações, acesse o estudo “ Aplicação de sensores de baixo custo no suporte a tomada de decisão em precisão de precisão”.

  • UFMT e Embrapa realizam em Sinop o 2º Workshop sobre Microrganismos na Agricultura Sustentável

    UFMT e Embrapa realizam em Sinop o 2º Workshop sobre Microrganismos na Agricultura Sustentável

    A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a Embrapa promovem, entre os dias 12 e 14 de setembro, o II Workshop Microrganismos para uma Agricultura Sustentável. O evento, que será realizado na Embrapa Agrossilvipastoril e na UFMT, tem como objetivo discutir os sistemas agrícolas e os desafios na produção de bioinsumos de base microbiana, com foco em práticas que visam a sustentabilidade no campo.

    As inscrições para o workshop já estão abertas. O custo para estudantes é de R$ 100, enquanto produtores rurais, consultores, professores, agentes de assistência técnica e demais profissionais pagam R$ 700. Os participantes também terão a oportunidade de se inscrever em minicursos, que custam R$ 150 e acontecem no dia 14 de setembro. Entre os temas dos minicursos estão métodos de avaliação da atividade microbiológica do solo, controle de qualidade de bioinsumos, e aplicações e multiplicação de fungos micorrízicos na agricultura.

    A programação do workshop inclui quatro painéis temáticos, cada um com três palestras, seguidos de mesas redondas para discussão. O primeiro painel, focado em sistemas de produção, contará com especialistas como o pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Guilherme Chaer, e as professoras da UFMT, Rafaella Felipe e Daniele Sabino. Eles abordarão temas como a qualidade microbiológica do solo em sistemas integrados e práticas integrativas de agricultura regenerativa.

    O segundo painel explorará os bioinsumos, com apresentações de profissionais como Dáfila Faggoti, da Syngenta, e Sávio dos Santos, gerente de bioindústria do Grupo Bom Futuro. Eles discutirão os novos bioinsumos na indústria e os desafios na produção e aplicação desses insumos no campo.

    No segundo dia do evento, o foco será a pesquisa em bioinsumos, com palestras sobre biotecnologia microbiana e nanotecnologia verde para indução de tolerância a estresses abióticos, apresentadas por professores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da UFMT. O último painel tratará da produção de bioinsumos, abordando temas como bioengenharia e controle de qualidade em biofábricas.

    O II Workshop Microrganismos para uma Agricultura Sustentável é uma realização conjunta da UFMT e da Embrapa Agrossilvipastoril, com o apoio de patrocinadores como a Aprosoja-MT, o Sindicato Rural de Sinop e a Hectar. Este evento se consolida como um espaço vital para a troca de conhecimentos e o avanço das práticas sustentáveis na agricultura, promovendo um diálogo essencial entre academia, indústria e produtores rurais.

  • Alemães procuram na pesquisa brasileira soluções sustentáveis ​​para o setor agropecuário

    Alemães procuram na pesquisa brasileira soluções sustentáveis ​​para o setor agropecuário

    Na última semana, representantes do Diálogo Agropolítico Brasil-Alemanha (APD) visitaram os dois centros de pesquisa da Embrapa, em São Carlos (SP). O APD é um instrumento bilateral de intercâmbio técnico e político para transformação do sistema agroalimentar. O objetivo é intensificar o diálogo e a cooperação entre os dois países para enfrentar os desafios da sustentabilidade e das mudanças climáticas do setor agropecuário.

    Durante uma visita à Embrapa Pecuária Sudeste, o diretor Alexander Borges Rose, o gerente de projeto Carlos Alberto Santos e o consultor Ralph Guenther Hammer conheceram o projeto brasileiro que está sendo construído para recuperação de pastagens degradadas. A pesquisadora Patrícia Menezes Santos, representante da Embrapa no Comitê Gestor Interministerial do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis ​​(PNCPD), mostrou dados de pastagens brasileiras, tecnologias e desafios do programa.

    Dados de 2022 do MapBiomas indicam que as pastagens no Brasil ocupam cerca de 164 milhões de hectares e uma parte significativa dessa área apresenta algum processo de manipulação. Para Patrícia Santos, mudar esse cenário exige investir em tecnologias, extensão rural, políticas públicas e linhas de crédito.

    O chefe-geral, Alexandre Berndt, e os pesquisadores Ladislau Martin Neto (Embrapa Instrumentação) e Emerson Borghi também acompanharam a visita.

    A comitiva também visitou a área de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), um sistema sustentável de produção e que contribui significativamente para a mitigação de gases de efeito estufa (GEE) e que pode ser uma das estratégias de recuperação de áreas degradadas, assim como o uso de leguminosas e técnicas de intensificação (manejo de pastagens, correção e adubação do solo, nutrição, sanidade e genética animal, etc).

    Segundo o diretor Alexander Rose, que atua nas relações bilaterais há mais de 20 anos, o Brasil é um país estratégico e o único da América Latina que possui uma parceria dessa relevância com a Alemanha para estimular a produção sustentável. De acordo com ele, a Alemanha acompanha e participa conjuntamente na iniciativa do programa de recuperação de pastagens empreendedoras no Brasil.

    Na Embrapa Instrumentação, o grupo conheceu trabalhos ligados ao mercado de carbono e à nanotecnologia.

    Cooperação

    Em dezembro de 2023, os Ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e da Agricultura e Pecuária (Mapa) renovaram o Memorando de Entendimento (MoU) com o Ministério Federal da Alimentação e Agricultura da Alemanha (Bmel). O novo memorando, formalizado no âmbito do Diálogo Agropolítico Brasil-Alemanha, é válido por três anos e visa intensificar a cooperação bilateral entre os dois países no setor agroalimentar.

    Nos próximos anos, as parcerias e atividades de substituição serão orientadas por quatro linhas de ação: Programa de Reabilitação de Pastagens Degradadas (PNCPD); Direito à alimentação, agricultura familiar e sistemas alimentares sustentáveis; Agricultura orgânica e bioeconomia; e Cadeias produtivas livres de desmatamento e sistemas de rastreabilidade.

    ODS

    O esforço da Embrapa para contribuir com dados e soluções tecnológicas para recuperação de áreas degradadas no país e melhorar a sustentabilidade dos sistemas de produção agropecuários está alinhado com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, principalmente com a meta 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável – e com a meta 13 – de combate às mudanças climáticas.

  • Soja brasileira será testada na Coreia do Sul para fabricação de produtos alimentícios

    Soja brasileira será testada na Coreia do Sul para fabricação de produtos alimentícios

    Embrapa Cerrados e Korea Agro-Trade Center São Paulo, empresa da Coreia do Sul, reuniram-se na última sexta-feira (19) memorando de acordo para estabelecer uma parceria entre as empresas. O objetivo da empresa coreana é buscar no Brasil cultivares de soja não-transgênica com bom desempenho para fabricação de produtos alimentícios, bastante consumidos na Ásia. O principal produto é o tofu, um queijo vegetal feito a partir de leite de soja. Outros produtos de grande consumo naquele país é o missô, uma massa fermentada de grãos, e bebidas que têm como base a oleaginosa.

    “Neste primeiro momento, enviamos grãos de soja de cinco cultivares desenvolvidas pela Embrapa Cerrados para serem testados na Coreia do Sul. São materiais ricos em proteínas, o que é importante para essas indústrias alimentícias. A partir de testes de processamento dos alimentos, podemos melhorar esses materiais até conseguirmos uma cultivar que atenda a essa demanda”, explica Sebastião Pedro, chefe-geral da Embrapa Cerrados.

    Ele completo: “Essa parceria visa identificar cultivares de soja convencionais com genética da Embrapa desenvolvidas para cultivo no Cerrado que atendem aos padrões de consumo da população sul-coreana”. A parceira também compartilha informações sobre as características que atendem o mercado sul-coreano. A partir disso, vamos organizar uma cadeia produtiva para viabilizar o conjunto desses grãos para o mercado da Coreia do Sul. Ele completou: “Testar nossos materiais nesse mercado é o primeiro passo para esta intenção”.

    Young Jung, diretor do Korea Agro-Trade Center São Paulo, conta que, em seu país, a soja é a segunda cultura alimentar mais importante, atrás apenas do arroz. Mais de 80% da soja que consumimos é proveniente dos Estados Unidos. Atualmente, a Coreia do Sul importa 180 mil toneladas de soja convencional, sendo 60% usada para produção de tofu. A empresa de Jung atua em diversos países do mundo com exportação de alimentos para a Coreia do Sul. O objetivo, com essa parceria, é diversificar os fornecedores de soja para produção de tofu, visando a segurança alimentar de seu país.

    O acordo tem o apoio da Embaixada da República da Coreia no Brasil. Ao saber da composição dos materiais selecionados pela Embrapa Cerrados, que contém 42% de proteína, o adido comercial da Embaixada, Kong Sung Ho, demonstrou grande satisfação pela boa proporção de proteína, principalmente para a produção de tofu. Sung Ho ressalta: “Com o estabelecimento desse acordo, esperamos continuar aprofundando as relações entre os dois países, tanto no setor público quanto no privado, especialmente na agricultura”.

    Apesar disso, Sebastião Pedro, também pesquisador que atua no melhoramento genético da soja, explica que a quantidade de proteína pode ser alterada de acordo com o local onde a soja é produzida e ainda pelas condições climáticas. Ele ressalta que a Coreia do Sul é um cliente importante para o Brasil. “Essa aproximação, por meio do memorando de entendimento, permitirá que possamos entender qual é a real necessidade quanto ao tipo de qualidade de soja que o país precisa e vamos atender à medida em que entendermos essa necessidade”, garante.

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    Nicho de mercado especial

    Sebastião Pedro lembra que, no início da produção de soja no Cerrado, o objetivo era produzir soja ordinária, para fabricação de farelo para alimentação animal e óleo. “O Brasil é um líder na produção de alimentos no mundo e o Cerrado hoje é responsável por 60% da produção agrícola do País. A pesquisa agora está buscando fortalecer a produção de soja para o consumo humano, com proteína e óleo de alta qualidade”, informa.

    Na maioria das propriedades agrícolas, a soja é uma commodity, negociada por peso, e não por sua qualidade. Dentro dessa realidade, a soja para o consumo humano é um nicho de mercado. Por se tratar de cultivares intencionalmente, elas são produzidas em áreas separadas dos cultivos transgênicos, para não haver contaminação. Após a colheita, os grãos precisam ser armazenados e transportados separadamente. “É muito trabalhosa a logística da soja convencional. O cuidado já começa com a semente, que tem ser pura, não contaminada. Dentro do mercado de soja não-transgênica, a soja especial para produção de tofu é outro nicho, ainda mais específico. O grão tem que ser produzido para atender essa destinação, que tem como clientes de países asiáticos, como Coréia e Japão, que desejam pagar o custo adicional por essa logística diferenciada”, detalha o chefe-geral.

    Jung alerta ainda que, ao se tratar de uma soja convencional, os materiais da Embrapa passarão por inspeções de segurança, para aferir se as amostras não contêm grãos transgênicos, e só depois seguirão para os testes de processamento.

    Sebastião Pedro reforça que, para se tratar de um nicho de mercado especial, é importante que seja feito o acompanhamento da cadeia, garantindo que sejam aplicadas boas práticas agrícolas, envolvendo a sustentabilidade da produção e a segurança para o consumo humano: “Primeiro, vamos identifique uma soja que seja ideal para o mercado sul-coreano e depois vamos organizar a produção no Brasil com certificação de origem para garantir a qualidade do nosso produto”.

  • Protocolo permite estimar produtividade e melhorar desempenho de pastagens

    Protocolo permite estimar produtividade e melhorar desempenho de pastagens

    A Embrapa desenvolveu um protocolo que contribui para avaliar as oportunidades de intensificação dos sistemas de pecuária de corte a pasto, um dos principais desafios do setor para reduzir os impactos ambientais negativos. A análise de “yield gap” (lacuna de produtividade) permite estimar a diferença entre a produtividade atual e a potencial de uma determinada cultura, e identificar oportunidades para atender ao aumento projetado na demanda por produtos agrícolas e apoiar a tomada de decisões em pesquisa, políticas públicas, desenvolvimento e investimento.

    O protocolo para análise desses gaps foi aplicado para estimar o aumento de produtividade. O método, apresentado por pesquisadores da Embrapa na revista internacional Field Crops Research, determina as diferenças de produtividade de sistemas de produção de bovinos de corte em cenários variados de manejo no Brasil Central. “O protocolo permite avaliar a capacidade de suporte das pastagens por meio de dois indicadores: a taxa de lotação máxima e a taxa de lotação crítica. A taxa de lotação máxima é alcançada em uma condição na qual toda a forragem produzida é colhida com a máxima eficiência possível, o que ocorre quando o sistema tem total flexibilidade para ajuste da taxa de lotação. Já a taxa de lotação crítica expressa a maior taxa de lotação constante que não implica falta de alimentos em algum período do ano e representa a capacidade de suporte das pastagens manejadas, limitada pelas variações sazonais e interanuais da produção de forragem”, explica a coordenadora do trabalho, Patrícia Menezes Santos, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste (SP).

    Esse protocolo permite a simulação da produção do pasto e das taxas de lotação animal, além de estimar o risco climático associado à disponibilidade de alimentos para o gado. “A maioria dos protocolos tende a superestimar a capacidade de suporte por não considerar adequadamente as variações dentro do ano e entre anos na produção de forragem. Além disso, os modelos não permitem avaliar o efeito de tecnologias específicas, como a adubação”, destaca a pesquisadora.

    Segundo Santos, existem gaps (lacunas) na capacidade de suporte do pasto devido à interação entre clima, solo, componentes vegetais e animais do sistema. “O método que desenvolvemos permitiu a identificação dos principais fatores que limitam a produção de forragem e a capacidade de suporte do pasto sob diversas condições ambientais e de nível tecnológico, podendo ser aplicado para apoiar políticas e decisões de investimento”, informa.

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    Foto: Gisele Rosso

    Resultados

    O protocolo foi aplicado no Centro-Oeste e Sudeste, abrangendo partes dos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Ele combina métodos para a definição de zonas climáticas homogêneas, a sistematização de dados primários de clima e solo, a definição de cenários de produção, a simulação de crescimento de plantas forrageiras a longo prazo, a estimativa de capacidade de suporte das pastagens e o cálculo da produtividade atual a partir de dados censitários.

    No estudo, de acordo com Santos, simulações de produção de forragem de longo prazo permitiram a análise do risco climático associado à produção de pastagens nas diferentes condições de clima e solo observadas no Centro-Oeste e Sudeste. Além disso, foi possível simular diferentes cenários, com níveis variados de adubação nitrogenada e disponibilidade hídrica, o que é útil para a identificação de tecnologias promissoras para preencher os gaps de produtividade.

    O potencial de intensificação das pastagens no Brasil Central foi estimado com base nos indicadores de taxa de lotação máxima e taxa de lotação crítica. O gap médio na taxa de lotação máxima variou de 5,81 a 5,12 unidade-animal por hectare (UA/ha) no cenário potencial (sem restrição hídrica ou de nitrogênio), de 4,18 a 2,9 UA/ha no cenário irrigado e sem restrição de nitrogênio, e de 2,73 a 1,43 UA/ha no cenário de sequeiro e apenas com adubação nitrogenada de manutenção. Já a taxa de lotação crítica variou de 5,44 a 2,91 UA/ha no cenário potencial (sem restrição hídrica ou de nitrogênio), de 1,21 a 0 UA/ha no cenário irrigado e sem restrição de nitrogênio, e de 1,04 a 0 UA/ha no cenário de sequeiro e apenas com adubação nitrogenada de manutenção.

    Planejamento

    A produção sazonal de forragem impõe desafios aos sistemas de produção a pasto, porque as demandas nutricionais dos animais devem ser atendidas durante todo o ano. Essa variação na produção de alimento aumenta o risco de escassez de forragem e limita a capacidade de suporte do pasto.

    “A alta produtividade em uma determinada época não pode ser transferida para alimentar os animais em um período de seca, por exemplo, em que a produtividade cai. A menos que se adote algum tipo de prática de conservação de forragem, como fenação e ensilagem”, explica Luís Gustavo Barioni, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital (SP), que também é autor do artigo. Essa variação da produtividade das pastagens, influenciada pelo clima ao longo do tempo e combinada com a demanda alimentar, é que vai determinar a avaliação da capacidade de suporte do pasto. Os valores de déficit acumulado de forragem, utilizados para identificar as lacunas de produtividade, são calculados a partir de um modelo matemático desenvolvido por Barioni.

    Os resultados do trabalho indicaram lacunas de produtividade e oportunidades para a intensificação da produção de gado de corte a pasto, informações que podem ajudar a orientar políticas públicas e o planejamento da atividade. “Em áreas de alto risco climático, é importante evitar taxas de lotação de pastagens que resultem em diferenças estreitas entre o acúmulo de forragem e a demanda dos animais. Na pesquisa, os maiores riscos relativos à produção foram observados em locais com baixa capacidade de retenção de água no solo, baixa temperatura mínima e baixo índice pluviométrico ou má distribuição das chuvas”, ressalta Patrícia Santos.

    O protocolo desenvolvido permite sinalizar, por exemplo, onde os investimentos em recuperação de pastagens degradadas e intensificação da pecuária a pasto seriam mais promissores, além de indicar a necessidade das políticas de financiamento considerarem o acesso a tecnologias complementares para alimentação dos animais no período desfavorável. “Para aumentar as taxas de lotação onde se apresenta déficit de forragem é necessário elevar a produtividade da pastagem nas épocas de seca ou frio ou optar por suplementar a alimentação do rebanho, medidas que têm impacto econômico”, lembra Barioni.

    Ele complementa que a integração lavoura-pecuária é alternativa interessante para acompanhar a sazonalidade da oferta de forragem e o método desenvolvido pode ser utilizado pelo produtor rural para melhor planejar a implantação desses sistemas de produção, considerando os períodos em que haveria excedente de forragem e as épocas de escassez.

    Outro benefício direto é a possibilidade de utilizar o protocolo para orientar o seguro rural associado à produção pecuária em pastagens. O déficit acumulado de forragem já foi aplicado, por exemplo, no estudo do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a pecuária de corte aprovado pelo Ministério da Agricultura (Mapa). Em vigor desde abril deste ano, o Zarc Pecuária visa identificar as áreas de menor risco climático e definir as melhores regiões para produção de bovinos pastejando Capim-marandu, no Distrito Federal e mais 17 estados. Com isso, é possível verificar a taxa de lotação crítica das pastagens em cada município e os meses com maior risco de faltar alimentos em função da taxa de lotação animal utilizada. As informações servem para embasar a oferta de crédito e de seguro rural no País.

    Os dados do Zarc Forrageira podem ser consultados no site do Mapa ou pelo aplicativo Zarc Plantio Certo.

  • Brasil estabelece política pública para a conservação e o uso de recursos genéticos

    Brasil estabelece política pública para a conservação e o uso de recursos genéticos

    Foi publicado no dia 4 de julho, no Diário Oficial da União, Decreto presidencial que instituiu a Política Nacional de Conservação e Uso de Recursos Genéticos para a Alimentação, Agricultura e Pecuária ( Decreto Nº 12.097 ). O documento é um reconhecimento do Estado brasileiro à importância estratégica dessa atividade científica para a soberania alimentar do País. A experiência adquirida pela Embrapa nessa área de pesquisa ao longo de mais de cinco décadas com vegetais, animais e microrganismos influenciou fortemente a iniciativa, cuja discussão começou no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em 2019. A partir de 2022, o debate foi estendido também para os Ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).

    A Política Nacional de Conservação e Uso Sustentável dos Recursos Genéticos para a Alimentação, a Agricultura e a Pecuária será adotada em regime de cooperação entre os estados, o Distrito Federal, os municípios, organizações da sociedade civil e entidades privadas.

    Segundo o coordenador técnico do Sistema de Curadoria de Germoplasma da Embrapa e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Samuel Paiva, a publicação da Política é uma vitória para a Embrapa e outras instituições que compõem o Sistema Nacional Pesquisa Agropecuária (SNPA), pois consolida a relevância do tema para o governo federal, a exemplo do que já acontece em outros países, como os Estados Unidos, por exemplo. “Nesse caso (EUA), por ser uma política de estado, há uma linha direta de recursos para as ações de conservação dos recursos genéticos, garantida pelo governo. Temos um longo caminho pela frente, mas essa é a meta que queremos alcançar”, explica Paiva, lembrando que a aprovação da Política não é um fim, mas um passo muito importante no fortalecimento dessas pesquisas no Brasil, com foco na definição de estratégias de curto, médio e longo prazo para as ações voltadas à promoção da conservação, da valorização e do uso sustentável, inovador e competitivo da agrobiodiversidade brasileira.

    BBGA

    Para o diretor de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Clenio Pillon, isso ainda era um vazio de oferta de política pública no Brasil. “Ampliar investimentos em C&T para a coleta, caracterização, conservação e usos sustentáveis ​​dos recursos genéticos é fundamental para a nossa segurança e soberania alimentar”, enfatiza.

    O documento é o resultado de um engajamento iniciado por equipes que atuam na conservação de recursos genéticos de plantas, animais e microrganismos em 2019, em conjunto com a Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo (SDI) do Mapa. Nessa época, como explica o pesquisador, foi criado um grupo de trabalho para discussão do tema, que levou ao rascunho da primeira versão da Política.

    Em 2020, o então documento foi debatido em consulta pública. Em 2021, evoluiu para uma iniciativa em rede nacional com a participação da sociedade civil, incluindo criadores, agricultores, ONGs, representantes de comunidades tradicionais e indígenas, sociedades e universidades, entre outros segmentos que participam da conservação e uso sustentável de recursos genéticos no País. . No final de 2021, o documento foi finalizado, e em 2022, encaminhado à Casa Civil. Em 2024, surgiu na publicação da Política Nacional.

    O principal desdobramento, como observa Paiva, é a criação de um comitê gestor com a participação de três Ministérios: o Mapa, responsável pela conservação ex situ (fora do local de origem das espécies, com forte participação da Embrapa); o MMA, encarregado da conservação in situ; e o MDA, encarregado da conservação on farm (conservação de plantas sob cultivo, ou criação de animais em seus locais de produção, incluindo o componente sociocultural).

    O pesquisador ressalta ainda a importância da inserção das ações de conservação de recursos genéticos para alimentação e agricultura como uma das entregas específicas do Programa de Pesquisa e Inovação Agropecuária do Plano Plurianual (PPA) do governo federal. “Essa é a primeira vez em que uma ação específica voltada à conservação de recursos genéticos faz parte do PPA. Somada à nova Política, é uma forte contribuição para a definição de uma linha orçamentária para pesquisas nessa área”, acrescenta.

    O diretor de P&I acrescenta que identificar novas formas e mecanismos de financiamento da pesquisa agropecuária é uma das prioridades da Diretoria-Executiva da Embrapa neste momento, e isso inclui a busca de recursos para as ações de conservação dos recursos genéticos, que são do Brasil e não somente da Embrapa.

    Conexão com os desafios globais de conservação

    Para a supervisora ​​de políticas públicas e analista da Gerência-Geral de Inteligência e Planejamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Embrapa, Adriana Bueno, a publicação da nova Política reforça os compromissos do País com os acordos globais de conservação e uso de recursos genéticos, como a Convenção sobre Diversidade Biológica ( CDB ) e o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura ( Tirfaa ).

    Segundo Bueno, o novo documento ilustra um exemplo de sucesso na conexão entre as políticas internacionais e nacionais em prol da conservação de recursos genéticos no Brasil. “A soberania alimentar é um dos principais objetivos da atual gestão da Embrapa. A aprovação dessa Política, associada às estratégias para ampliação da base de recursos genéticos a ser conservada, é um passo determinante para a democratização genética e para a melhor implementação de programas, planos e políticas relacionadas ao tema”, complementa.

    A analista reforça ainda a importância da nova Política, como mais uma iniciativa da contribuição da Embrapa para a formulação de políticas públicas no País.

    Para o diretor Pillon, “a Embrapa é uma empresa de Estado, na qual os processos de PD&I estão a serviço do desenvolvimento e da inclusão socioprodutiva. Além do pilar tecnológico, o desenvolvimento passa também pelos processos de articulação e governança junto aos públicos, setores e territórios estratégicos onde atuamos, e ainda, por políticas públicas. Aqui temos mais um belo exemplo de contribuição da Embrapa e da pesquisa agropecuária para o desenvolvimento do País”.

    Objetivos da nova política

    1) Conservação, uso sustentável, proteção e valorização dos recursos genéticos para alimentação, agricultura e pecuária.

    2) Soberania, segurança alimentar e nutricional.

    3) Alimentação adequada e saudável.

    4) Ampliação do conhecimento e a valorização dos recursos genéticos para a

    alimentação, agricultura e pecuária.

    5) Ampliação da base genética dos programas de melhoria genética realizado por instituições de pesquisa.

    Conheça as diretrizes

    1) Conservação dos recursos genéticos para a alimentação, agricultura e pecuária, com foco na repartição justa e equitativa dos benefícios resultantes do seu uso.

    2) Divulgação da importância estratégica do uso sustentável desses recursos.

    3) Fomento à pesquisa, desenvolvimento e adoção de novas tecnologias.

    4) Documentação, informatização e disponibilização de acervo de dados e informações científicas sobre recursos genéticos conservados em coleções, bancos genéticos e bancos de dados de material genético no País.

    5) Capacitação de recursos humanos em documentação para os sistemas de informação selecionados e demais áreas de conhecimento nos temas dessa Política.

    6) Estruturação, manutenção e facilitação do acesso público à informação aprimorada sobre o uso sustentável dos recursos genéticos para a alimentação, agricultura e pecuária.

    7) Articulação entre as redes de informação nacionais e internacionais e entre as ações de fomento junto a atores públicos e privados.

    9) Intercâmbio de recursos genéticos, incluindo variedades tradicionais, locais ou crioulas e raças localmente adaptadas ou crioulas.

    10) Manutenção da integridade genética e prevenção da contaminação das variedades tradicionais, locais ou crioulas e das raças localmente adaptadas ou crioulas.

    11) Participação e controle social, incluindo povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, no desenvolvimento, implementação, monitoramento e avaliação da Política.

    12) Valorização dos conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético de povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, considerando a justa repartição de benefícios.

    13) Facilitação do acesso de povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares aos bancos genéticos mantidos por instituições públicas de pesquisa.

    14) Autonomia e manutenção dos modos de vida dos povos indígenas, dos povos e das comunidades tradicionais e dos agricultores familiares.

    Importância da conservação de recursos genéticos para a sociedade

    Colecao plantas in vitro scaled
    Foto: Divulgação

    Os recursos genéticos são espécies animais, vegetais e microbianas de valor econômico, científico, social ou ambiental, atuais ou potenciais para o ser humano. Essas espécies são de grande importância, pois constituem a base biológica da segurança alimentar mundial e, direta ou indiretamente, apoiam a vida e os meios de subsistência dos seres humanos. Os recursos genéticos detêm a variabilidade genética necessária para evitar a fome e as perdas econômicas em decorrência de intempéries climáticas, doenças e pragas que se apresentam como desafios para a humanidade. Muito em razão de serem a matéria-prima para programas de melhoria genética, que visam ao aumento da produtividade e da qualidade na agricultura, pecuária, silvicultura e pesca, e à produção de novas cultivares, raças, medicamentos e outros bens de consumo.

    A Embrapa investe na conservação de recursos genéticos desde sua criação, em 1973. O tema está presente em 32 das 43 Unidades Descentralizadas da Embrapa e distribuído em 24 das 27 Unidades Federativas. Há um total de 241 coleções biológicas, totalizando quase 3.000 espécies conservadas, sendo 32.500 animais, 55.331 linhagens de microrganismos e 256.058 acessos de vegetais. Dentro do programa, a Embrapa mantém hoje um dos maiores bancos genéticos do mundo, com cerca de 123 mil amostras de sementes de aproximadamente 1.100 espécies de plantas.

    Conserva também animais e microrganismos de interesse agropecuário, assegurando diversidade genética aos cientistas para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias com características de interesse da sociedade, como resistência à poluição e doenças, tolerância a estresses climáticos e maior teor nutricional, entre outras aplicações.

  • Aplicativo para exame andrológico de bovinos é o novo aliado da pecuária de corte no Brasil

    Aplicativo para exame andrológico de bovinos é o novo aliado da pecuária de corte no Brasil

    A Embrapa apresenta ao mercado o primeiro aplicativo de exame andrológico do País. Em desenvolvimento desde 2022, a nova ferramenta tem potencial para incrementar a pecuária de corte no Brasil, uma vez que auxilia médicos-veterinários na seleção de reprodutores bovinos com melhor desempenho genético. Construída por equipes da Embrapa Pantanal (MS) e Embrapa Gado de Corte (MS), a plataforma é gratuita e pode ser utilizada em dispositivos móveis e computadores, em todo o território nacional. O aplicativo já está à disposição de parceiros para ampla adoção, em programas de melhoria genética e por empresas de equipamentos veterinários.

    “O aplicativo contém um conjunto de informações, organizadas e padronizadas, que auxiliam o médico-veterinário na realização de exames clínicos, físicos e morfológicos. Além disso, esses dados agilizam a emissão de laudos e o diagnóstico final para os pacientes, com base nos seguintes critérios: apto, apto para montagem natural, inapto temporário ou inapto”, descreve a médico-veterinária Juliana Correa , coordenadora da iniciativa.

    Um dos maiores ganhos de inovação, propiciado pelo app, é a padronização da qualidade. Aliado a isso, é capaz de gerar um banco de dados com informações relevantes para o setor, como quantidade de exames andrológicos realizados por ano, idade dos touros, quantidade de patologias, regiões que apresentam mais problemas relacionados a enfermidades espermáticas, entre outras. Os dados técnicos do animal serão disponibilizados pela Embrapa, a fim de contribuir com futuras demandas de pesquisa.

    Segundo Correa, para garantir a precisão dos dados de entrada na plataforma, é fundamental que a coleta no campo seja feita por um médico-veterinário capacitado. Por isso, logo na tela de entrada, é preciso que o profissional insira seu registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV).

    Foto: Raquel Brunelli

    Vale ressaltar que o aplicativo foi elaborado para a espécie bovina, mas pode ser adequado às demais espécies, o que torna uma contribuição singular para a pecuária nacional.

    A importância da andrologia

    O exame andrológico é tão importante para os bovinos quanto os cuidados com a alimentação e a saúde. Um animal com problemas reprodutivos pode acarretar perdas de produção, além de transmitir essas características aos seus descendentes, comprometendo todo o rebanho.

    Para se ter uma ideia, “um touro infértil pode representar uma perda de 25 a 50 bezerros, enquanto uma vaca infértil representa uma perda de apenas um bezerro”, enfatiza a pesquisadora e especialista em reprodução animal  Alessandra Nicacio . Ela lembra ainda que cerca de 5% dos touros em serviço são inferiores e, aproximadamente, 20% a 40% são inferiores, ou seja, Produza menos filhos do que deveriam.

    O exame é realizado nos bovinos machos que estão iniciando ou nos que já estão em idade reprodutiva. Ele consiste na avaliação clínica geral e da qualidade do sêmen para certificar o potencial reprodutivo do animal.

    Os exames clínicos devem ser efetuados uma vez ao ano ou 60 dias antes da estação de montanha – outubro a fevereiro. Um check-up completo pode detectar a causa da diminuição do potencial reprodutivo. Se o problema for confirmado, o animal pode ser descartado a qualquer momento.

    Os pesquisadores reforçam que o exame é altamente específico e capaz de identificar o nível de fertilidade dos animais, mas também as demais condições clínicas. Para o alcance dos resultados esperados, o produtor deve ter em mente que a seleção e a qualidade da reprodução são essenciais para a tomada de decisão.

    Por dentro do aplicativo

    A ferramenta conta também com a participação do supervisor de Desenvolvimento de Ativos Digitais, Camilo Carromeu , do analista da Diretoria de Negócios (DENE) Luiz Leal , e dos pesquisadores da Embrapa Gado de Corte Ériklis Nogueira e Alessandra Nicacio, além de especialistas em andrologia que passaram na etapa de teste do instrumento.

    Carromeu pontua que o aplicativo “foi desenvolvido utilizando o arcabouço tecnológico já adotado para a construção de outros aplicativos, como o Pasto Certo e o Cria Certo ”. Todo criado em Progressive Web Application (PWA), ele possui os recursos de dispositivos móveis: responsividade (funciona perfeitamente em diversos tamanhos de tela, de celulares, tablets e computadores), atuação off-line e usabilidade de gestos.

    “A grande vantagem do PWA é que, com um único código-fonte, é possível desenvolver um software compatível com todo tipo de dispositivo móvel, navegadores web e até mesmo software desktop”, destaca o cientista da computação.

    Ele lembra que, antes da aplicação web PWA, era desenvolvido um software para cada sistema operacional, “uma linguagem de programação para cada e, na prática, eram softwares totalmente distintos. O ônus para desenvolvimento e manutenção era imensamente maior”, complementa.

    O uso da tecnologia não exige conexão com a internet no momento do uso. Os dados cadastrados são salvos nos dispositivos e sobem para a nuvem quando houver conexão.

    Passo a passo no app

    Primeiramente, o usuário cadastra as informações da propriedade rural onde o animal está. O aplicativo permite a inserção de mais de uma fazenda por login, com exame feito unitariamente. O animal tem seu nome, raça, data de nascimento e número de registros inseridos, antes de iniciar a avaliação.

    Com base nos registros de aspectos clínicos, físicos e morfológicos, a próxima etapa avalia a escore de condição corporal (escala de 1 a 6), pênis escrotal, consistência testicular, epidídimo, vesícula, pênis, comportamento sexual, aprumos, método de coleta do sêmen (eletroejaculador, massagem ou vagina artificial) e características físicas (volume, turbilhonamento, motilidade, vigor, concentração espermática e aspecto do material).

    A seguir, parte-se para a morfologia, com contagem de células do material e detalhes sobre deficiências maiores e menores. De acordo com o Colégio Brasileiro de Reprodução Animal ( CBRA ), os defeitos maiores devem representar 10% do total, e os menores, 20%, não podendo ultrapassar 30% na contagem final.

    Há ainda espaço para informações complementares como contagem de hemácias, leucócitos e espermocultura, por exemplo.

    Apresentação da tecnologia

    A ferramenta foi apresentada no  Pantanal Tech MS , no dia 29 de junho, em Aquidauana, dentro do painel “Melhoramento genético e reprodução animal para o Pantanal”. O evento conta com as participações do governador do estado de Mato Grosso do Sul (MS), Eduardo Riedel; do diretor de Pesquisa e Inovação da Embrapa,  Clenio Pillon ; do chefe-geral da Embrapa Gado de Corte,  Antonio Rosa ; da chefe-geral da Embrapa Pantanal,  Suzana Salis ; e do chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Harley Nonato .

    A inovação é um dos resultados do projeto Otimização do fluxo genético em rebanhos sob seleção, de características econômicas relacionadas à eficiência alimentar, carcaça e reprodução, compondo índices de seleção e ferramental, visando ao aprimoramento e uso da raça Nelore, conhecida como BRBIFE, sob a liderança do melhorista  Gilberto Menezes.

  • Avanços tecnológicos na produção de trigo tropical e milho na segunda safra no Cerrado são discutidos com o setor produtivo

    Avanços tecnológicos na produção de trigo tropical e milho na segunda safra no Cerrado são discutidos com o setor produtivo

    Equipes de pesquisa e transferência de tecnologia da Embrapa visitaram no último dia 26 fazendas parceiras da Embrapa Cerrados localizadas nos municípios de Água Fria de Goiás (GO) e São João D’Aliança (GO) a fim de avaliar os resultados dos plantios de trigo tropical e de milho na segunda safra na região do Cerrado do Planalto Central. As propriedades visitadas participam do projeto estruturante LabCerrado (Aceleradora de Agroinovação dos Cerrados – Desenvolvimento Sustentável Agroterritorial) e possuem unidades de experimentação e de avaliação de valor de cultivo e uso de cultivares desenvolvidas pela Embrapa. Os produtores rurais Luis Fiorese, do grupo Quati, e Edson Tanabe, do Grupo Tanabe, participaram das discussões.

    As propriedades visitadas (fazendas Primavera e Veneza do Grupo Quati) também possuem unidades de avaliação de valor e cultivo e uso do programa de melhoramento de soja da Embrapa; além de unidades de manejo de solos e de cultivos que fazem parte do sistema de produção agrícola do Cerrado. O chefe geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, explica que o projeto LabCerrado tem como objetivo promover intervenções junto ao ambiente produtivo do agronegócio em regiões de interesse, notadamente situadas no bioma Cerrado, de modo a acelerar seus respectivos processos de desenvolvimento social e econômico, mas dentro de premissas sustentáveis, com ganhos ambientais.

    As fazendas visitadas também possuem unidades de referência tecnológica utilizadas para diferentes ações de transferência de tecnologia. O chefe adjunto de Transferência de Tecnologia, Fábio Faleiro, defendeu que a Embrapa deve estar sempre próxima do setor produtivo levantando as demandas reais para retroalimentar as ações de pesquisa e desenvolvimento e também para direcionar as ações de transferência de tecnologia. “Com o uso da ciência e da tecnologia, é possível economizar os ganhos econômicos e ambientais no cultivo do trigo tropical e do milho na segunda safra na região do Cerrado. As parcerias com o setor produtivo são estratégicas para ações de pesquisa e transferência de tecnologia no sentido de aumentar os impactos positivos da adoção das tecnologias desenvolvidas”, afirmou.

    De acordo com o produtor Luiz Fiorese, do grupo Quati, há 10 anos atrás havia um trigo safrinha plantar. “A grande vantagem aqui é que economizamos no herbicida na próxima cultura que é a soja, e tenho notado que por conta dessa palhada tenho colhido cinco sacas a mais de soja por hectare, onde fiz trigo”, conta. Um dos ajustes que serão feitos para a próxima safra e que foi discutido durante a visita técnica foi a quantidade de plantas que ele colocou por hectare. “Pelo que discutimos aqui, acho que usei muita planta. Como faltou água, isso acabou impactando no enchimento de grãos. Essa conversa foi ótima, pois ainda estamos ajustando essa cultura por aqui”, explicou.

    Segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Chagas, durante a visita foram repassadas aos produtores de informações sobre práticas de manejo, como melhor época de semeadura, densidade de semeadura dos materiais, ou seja, a quantidade indicada de sementes por área, manejo da brusone, dentre outros assuntos. De acordo com ele, nesta safra o clima realmente não ajudou. “Mas, é importante que o produtor esteja convencido de que a cultura melhora seu sistema de produção. É fundamental que eles busquem conhecimento para cada vez mais expandir o cultivo do trigo em suas propriedades. O uso de cultivares mais adaptadas às condições climáticas e de manejo fitotécnico adequado são muito importantes para potencializar o desempenho produtivo do trigo no Cerrado do Brasil Central”, afirmou. Também participaram da visita técnica e das discussões dos pesquisadores da Embrapa Cerrados, Ângelo Sussel e Rui Veloso.

    Durante a visita técnica foram discutidas ainda estratégias de manejo fitossanitário e nutricional do milho, em especial as estratégias de manejo das cigarrinhas que transmitem os patógenos causadores dos enfezamentos na cultura do milho . Segundo João Dalla Corte, supervisor do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Embrapa Cerrados, um trabalho mais detalhado será realizado para verificar as percepções de produtores de milho, em relação à adoção de estratégias de manejo e seus impactos, em trabalhos com problemas de enfezamentos nas regiões do DF, Goiás, Tocantins e Minas Gerais.

  • Embrapa e Acelen Renováveis ​​iniciam domesticação de macaúba para combustível de aviação e bioprodutos

    Embrapa e Acelen Renováveis ​​iniciam domesticação de macaúba para combustível de aviação e bioprodutos

    Uma reunião técnica, envolvendo lideranças científicas da Acelen Renováveis , da Embrapii e da Embrapa, deu início ao projeto de desenvolvimento tecnológico das espécies de palmeira macaúba para produção de combustível renovável de aviação (SAF, na sigla em inglês), diesel verde (HVO), energia térmica e outros produtos de alto valor agregado.

    A parceria de inovação aberta visa contribuir para a domesticação da macaúba e a decorrente implantação de máquinas comerciais e o melhor aproveitamento dos frutos (casca, polpa, endocarpo e amêndoa) através de processos mais eficazes para a extração de óleos de alta qualidade e geração de bioprodutos.

    O projeto, que terá duração de cinco anos, está amparado em dois acordos de cooperação técnica firmados entre a Acelen Renováveis ​​e a Embrapa Agroenergia, cujos investimentos somam R$ 13,7 milhões, com o apoio financeiro da Embrapii e do BNDES, e envolve o apoio científico de outros quatro centros de pesquisa, como Embrapas Algodão, Florestas, Meio Norte e Recursos Genéticos e Biotecnologia.

    O empreendimento da Acelen Renováveis ​​é desenhado para atender o processo de transição energética, oferecendo combustíveis renováveis ​​em larga escala, e tem claras orientações ambientais e sociais, na medida em que visa criar sistemas de produção descarbonizados em áreas de semiárida, criando novas opções econômicas para comunidades carentes, e o reaproveitamento de efluentes industriais. Espera-se a criação de 90 mil empregos diretos e a geração anual de R$ 7,4 bilhões de renda para as populações envolvidas.

    Segundo Alexandre Alonso, chefe geral da Embrapa Agroenergia, a iniciativa da Acelen Renováveis ​​é extremamente importante porque a demanda por biocombustíveis avançados crescerá exponencialmente nos próximos anos à medida que crescerem também assumido por descarbonização.

    “O país tem a oportunidade de se tornar produtor e fornecedor de combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel verde (HVO) globalmente. Para isso são necessários investimentos em P&D tanto em matéria-prima (como o caso da macaúba), quanto em novos bioprocessos, além de modelagem”, analisa.

    Victor Barra, diretor de Agronegócios da Acelen Renováveis, afirma que esse projeto de domesticação da macaúba poderá transformar a Acelen Renováveis, que tem a visão de se tornar “a maior e mais competitiva produtora de combustíveis renováveis, num modelo integrado que vai da semente da macaúba ao combustível”, na líder brasileira no mercado global de transição energética.

    Sobre a Acelen Renováveis

    A Acelen Renováveis ​​foi criada para acelerar a transição energética em escala global com combustíveis renováveis, produzidos a partir de matéria-prima renovável com 100% do cultivo feito em pastagens degradadas no Brasil e, assim, oferecer uma resposta inovadora e sustentável às mudanças climáticas e ao futuro do planeta.

    A empresa vai investir inicialmente mais de US$ 3 bilhões, nos próximos anos, no primeiro modelo de projeto no Brasil, com objetivo de atingir a capacidade anual de 1 bilhão de litros de SAF (combustível ecológico de aviação) e HVO (diesel ecológico), criando um modelo inovador, competitivo e totalmente integrado, “desde a germinação da semente até a distribuição dos combustíveis, nos tornando um vetor de desenvolvimento sustentável”.

    O objetivo da Acelen Renováveis ​​é desenvolver o projeto em áreas semiáridas e viabilizar um cultivo agrícola extremamente eficiente na produção de óleo, “para não se tomar áreas de produção de alimentos”. Victor Barra ressalta que o processo agroindustrial tem que ser altamente competitivo, tanto em termos de custos quanto em pegada de carbono.

    A escolha da macaúba, uma planta de alta densidade energética e grande capacidade de sequestrar carbono, atende a essa perspectiva. Estima-se que a cada ano 60 milhões de toneladas de CO2 sejam afetadas pela atmosfera e que se reduza em 80% as emissões do gás, além da recuperação de áreas degradadas.

    Por isso, ele insiste que a questão crucial, para o sucesso da empreitada, é obter sistemas de produção que resultem em altos rendimentos de óleo por hectare e processos industriais eficazes para a extração destes óleos.

    “O que observamos na natureza é que a planta possui um primórdio floral para cada folha que ela emite e, em média, lança 15 folhas por ano. Ao menos doze delas devem virar cachos de frutas para serem colhidas. Mas o normal é vermos palmeiras com apenas 3 ou 4 cachos. Temos que entender muito bem a fisiologia da macaúba, para destravar esses bloqueios e viabilizar a alta produção de frutos e, consequentemente, de óleo por hectare que o projeto requer”, orienta.

    Apesar disso, ele entende que domesticar a planta não é o maior desafio do projeto: “Resolver os problemas agronômicos da planta, para nós, é apenas uma questão de tempo, dada a competência nesse quesito já demonstrada pela pesquisa agropecuária pública, da qual a Embrapa é um dos expoentes, acrescida da expertise da equipe Agro da Acelen Renováveis”, afirma.

    Para ele, o maior desafio será o processamento do fruto para a coleta do óleo e aproveitamento total das demais biomassas, para que não haja geração de resíduos, mas sim agregação de valor. Isso é primordial para que toda a cadeia produtiva obtenha as certificações necessárias para o mercado externo e torne os produtos altamente competitivos.

    Assim, na sua opinião, o alcance do projeto transcende as expectativas e os benefícios locais: “A domesticação da macaúba não é um projeto de uma empresa, ou nem mesmo de um país, mas um projeto para o mundo”, conclui.

    Desafios

    A pesquisadora Simone Favaro, da Embrapa Agroenergia, que coordenará este projeto, lembra que, no Brasil, ocorrem naturalmente três espécies de palmeira: a Acrocomia aculeata , predominante nos cerrados do Brasil Central, a Acrocomia intumescens , que ocorre em áreas do Nordeste, e a Acrocomia totai , que aparece em áreas do Paraná, de São Paulo, do Mato Grosso do Sul e no Pantanal. O projeto vai se dedicar às duas primeiras, já adaptadas às áreas de interesse da Acelen Renováveis, que sedia seus negócios entre Bahia e Norte de Minas Gerais.

    A macaúba já vem sendo objeto de estudos, há algum tempo, pela Embrapa e outras organizações públicas de pesquisa, como a Universidade Federal de Viçosa, e alguns avanços importantes já foram obstáculos.

    Segundo a pesquisadora, uma barreira importante, quando se pensa em plantios comerciais, era a produção de mudas, já que a taxa de germinação natural das sementes era baixíssima: apenas 5% das sementes. “Um protocolo da UFV resolveu isto e hoje se consegue germinar até 95% das sementes”, comemora Favaro.

    Ela cita ainda os avanços na elaboração e aprovação do Zoneamento Agrícola de Risco Climático ( ZARC ) para a cultura, que indica áreas com menor risco climatológico para exploração da macaúba no sistema de sequeiro e dá acesso ao Proagro e à subvenção ao Seguro Rural, dando maior segurança ao negócio.

    Há também avaliações da diversidade de plantas nas populações nativas para implantação de um banco ativo de germoplasma, com mais de 100 acessos diferentes para viabilizar programas de melhoramento genético.
    Mas, alerta Favaro, há outros grandes desafios.

    Ela sinaliza que a segunda grande barreira para a implantação de máquinas comerciais é a disponibilização de materiais de mistura de alta produtividade, obtida por melhoria genética convencional, já que polinizações cruzadas, entre flores de uma mesma palmeira, podem gerar enorme variabilidade de plantas quanto à produtividade de frutos, algumas com rendimentos inferiores ao desejado.

    Por isso, confessa a universidade de, no futuro, desenvolver protocolos para viabilizar a obtenção de clones das melhores palmeiras para garantir que as lavouras sejam formadas apenas com plantas de alto rendimento, assim como vem ocorrendo com a palmeira do dendê.

    Em ambos os casos será preciso desenvolver e ajustar ferramentas analíticas e usar tanto nos maciços nativos quanto nos plantios comerciais já existentes, para selecionar as plantas de alto rendimento que serão matrizes para plantas melhoradas.

    Uma vez obtidas plantas de alto rendimento, para se implantar lavouras economicamente viáveis ​​será preciso delinear sistemas de produção para a macaúba, definindo espaçamentos entre plantas, adubação, manejo de água e outros tratos culturais.

    Como é do interesse da Acelen utilizar áreas semiáridas degradadas, o projeto pretende investigar também a possibilidade de implantação de sistemas de integração macaúba-lavores e macaúba-pecuária.

    Simone Favaro observa também que os frutos recolhidos diretamente do chão, quando demoram muito tempo no solo antes de serem recolhidos, tendem a sofrer um processo de fermentação e eliminação da polpa e da amêndoa, o que prejudica a qualidade dos óleos. O projeto deve investir em logística de colheita e pós-colheita para evitar esse dano.

    Segundo ela, o desenvolvimento tecnológico do segmento industrial do projeto também apresenta grandes desafios, sendo o mais determinante deles a criação de processos mais inovadores para a extração do óleo de polpa e de amêndoa, visando aumentar a taxa de extração dos óleos, mas também a sua qualidade.

    “Mas, o óleo representa apenas de 10% a 20% do que a macaúba nos oferece. Os 80% restantes podem ser numerosos coprodutos de alto valor agregado, como tortas de polpa e de amêndoa para produtos de alimentação e o endocarpo para geração de energia e biocarvões.

    Os óleos de polpa e de amêndoa, com propriedades distintas, além de combustíveis, podem ter inúmeras aplicações no segmento de alimentos, tanto como óleo de mesa, como na manteiga de chocolate, sorvetes, recheios e margarinas”, aponta.

    No mercado de produtos químicos de limpeza, podem ser usados ​​na produção de xampus, hidratantes, sabonetes e maquiagens. E podem ser usados ​​na produção de tintas, vernizes e lubrificantes. A polpa e a amêndoa ainda podem ser usadas em rações animais e farinhas para alimentação humana.

    A casca pode gerar energia térmica, o endocarpo (o coquinho) pode ser transformado em carvão ativado para filtros e biochar (uso em melhoria dos solos e captura de carbono) e os efluentes industriais podem produzir biogás e fertilizantes.

    O projeto também apresenta estudos transversais como a viabilidade econômica da exploração da macaúba, inventários de carbono nos maciços e nas plantações e análises do ciclo de vida da oleaginosa. “Há um longo caminho pela frente”, sinaliza Favaro. “O desenvolvimento agroindustrial da macaúba está apenas no seu início”, finaliza.

  • Desinformação sobre quebramento da pressa da soja e de podridão de grãos foi desafio da última safra de soja

    Desinformação sobre quebramento da pressa da soja e de podridão de grãos foi desafio da última safra de soja

    Em decorrência de uma indefinição sobre as causas dos problemas de quebra da pressa da soja e de podridão de grãos, na safra 2023/2024, houve muita desinformação circulando nas redes, afirma o professor Sérgio Brommonschenkel (UFV), que participou do painel sobre o tema na Reunião de Pesquisa de Soja, promovida pela Embrapa Soja, de 26 a 27 de junho, em Londrina (PR). “Minha questão principal foi mostrar os diferentes sintomas que são relatados e apontados os causados ​​por fungos e aqueles causados ​​por outros fatores (não biológicos)”, esclarece o professor.

    As ocorrências de quebra de haste e podridão de grãos na cultura da soja têm sido cultivadas com maior frequência nos últimos anos, sendo a podridão de grãos, desde a safra 2018/2019 na região médio-norte de Mato Grosso e em Rondônia, enquanto o quebra de haste desde 2020/2021, também nessa região mato-grossense, assim como nos estados do Paraná e de Santa Catarina na safra 2023/2024.

    Brommonschenkel afirma que os fungos que predominam, no caso do podridão de grãos e vagens são espécies de Diaporthe, Fusarium, Colletotrichum. “Esses fungos podem ser encontrados de forma latente nas plantas e causam sintomas na fase final do abastecimento de grãos, em determinadas condições climáticas, explica.
    Segundo ele, o problema do podridão ocorre em Mato Grosso, especialmente na BR 163, por conta da proximidade com o bioma amazônico que proporciona maior frequência de chuvas, ocasionando em maiores períodos de acúmulo de umidade no enchimento final de vagens. “Quando esses fatores coincidem, temos maior incidência do podridão de grãos e vagens”, diz.

    Apesar dos desafios que envolvem a podridão de grãos e vagens, na safra 2023/2024, houve menor incidência do problema pela conta da menor pluviosidade, em decorrência do fenômeno El Niño. “Desde que se tente identificar as causas e as estratégias de manejo para esses problemas, o clima tem como fator determinante. A presença de molhamento na finalização do enchimento de grãos e na maturação é preponderante para se observar os sintomas”, explica a fitopatologista Karla Kudlawiec, da SLC Agrícola.

    Tanto em Mato Grosso quanto no Paraná, dois importantes estados produtores de soja, na safra 2023/2024, os levantamentos mostraram que a área de ocorrência de quebra da haste foi pouco expressiva. No Paraná, o quebra-vento foi constatado com certa intensidade na região do Vale do Ivaí, em áreas de baixa altitude, inferiores a 500 m, onde via de regra as temperaturas são mais elevadas.

    Quanto à podridão de grãos, Karla explica que não foi possível avaliar se a estratégia de manejo definida seria eficiente. “Não pudemos avaliar se os manejos estabelecidos, com a rotação de diferentes princípios ativos dos fungicidas, foi eficiente porque houve baixa incidência do problema”, ressalta.

    Para abordar a seleção de cultivares para quebramento da pressa e podridão de grãos, o painel conto com a participação de Neucimara Ribeiro, da GDM Genética. “Já fizemos vários testes para identificar a causa e tentativas de seleção de genótipos para o problema. Mas, como ainda não há certeza das causas, ainda precisamos aguardar para avançar”, explica.