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  • Cuiabá e Santo Antônio de Leverger entre as cidades mais quentes do Brasil em 2024

    Cuiabá e Santo Antônio de Leverger entre as cidades mais quentes do Brasil em 2024

    Dois municípios de Mato Grosso, Cuiabá e Santo Antônio de Leverger, estão entre as cidades mais quentes do Brasil em 2024, segundo levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Cuiabá ficou em segundo lugar, com uma temperatura de 44,1ºC, enquanto Santo Antônio de Leverger ocupou a décima posição, com 43ºC. A cidade mais quente do país foi Goiânia, que registrou 44,5ºC. As temperaturas recordes foram observadas no dia 6 de outubro.

    O levantamento revela que 2024 foi o ano mais quente no Brasil desde 1961, com uma temperatura média de 25,02°C, o que representa um aumento de 0,79°C em relação à média histórica de 1991-2020, que era de 24,23°C. O Inmet atribui essas altas temperaturas ao fenômeno El Niño e às mudanças climáticas.

    Além das temperaturas extremas, Mato Grosso também se destacou no ranking das cidades com maior volume de chuvas. Água Boa registrou 717,4 mm de chuva em novembro, ficando em nono lugar no ranking nacional liderado por Caxias do Sul (RS), que teve 845,3 mm em maio.

    O Inmet destaca a influência das mudanças climáticas e do El Niño no aumento das temperaturas e nas chuvas extremas, reforçando a necessidade de atenção às questões ambientais e climáticas.

  • Livro mostra a relação entre El Niño e agricultura

    Livro mostra a relação entre El Niño e agricultura

    A publicação “El Niño Oscilação Sul – Clima – Vegetação – Agricultura” traz o resgate histórico, explicando como ocorrem as ocorrências climáticas El Niño e La Niña, relacionadas com os impactos no clima do mundo e na agricultura brasileira. Os autores são os professores da UFRGS Moacir Berlato e Denise Fontana, e o pesquisador Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo. O livro está disponível para download no site da Embrapa Trigo .

    A aparência El Niño – Oscilação Sul (ENOS) possui duas fases: uma quente (El Niño) e outra fria (La Niña). O comportamento da temperatura das águas do Oceano Pacífico tropical associado aos campos de pressão altera o padrão de circulação geral da atmosfera. Com isso, acaba influenciando no clima de diferentes regiões do mundo, sendo o responsável pelas chamadas anomalias climáticas persistentes, que duram de 6 a 18 meses. Admite-se que há cerca de 20 regiões no mundo cujo clima é afetado pelas fases do ENOS.

    Nos últimos 40 anos, ocorreram quatro eventos extremos de El Niño no mundo (1982-1983, 1997-1998, 2015-2016 e 2013-2024), o que não aconteceu no período completo dos últimos 150 anos de registro. Contudo, um estudo que envolveu doze investigadores de seis países (Austrália, França, Índia, Reino Unido, Coreia do Sul e Estados Unidos) concluiu, que ainda não é possível associar a variabilidade do El Niño às mudanças climáticas, ou seja, não é possível dizer se a atividade do El Niño será maior ou menor ou se sua frequência mudará num cenário de aumento da temperatura global.

    O ENOS é caracterizado pela recorrência (aperiódica, alternando fases quentes/El ​​Niño e fria/La Niña, em ciclos que podem variar de 2 a 7 anos) e pelo elevado nível de incerteza dos impactos que, ambientalmente, podem causar. As anomalias climáticas mais conhecidas e de maior impacto estão relacionadas com o regime de chuvas, embora o regime térmico também possa ser alterado.

    No Brasil, os grandes efeitos dos fenômenos ENOS acontecem em três regiões: no Norte, particularmente na Amazônia, no Nordeste e no Sul. E, nessas regiões, o El Niño geralmente está associado a secas na Amazônia e no Nordeste e precipitações abundantes no Sul. Ao contrário, La Niña determina precipitações pluviais elevadas, enchentes e altas vazões de rios nas regiões do norte e secas no sul.

    Impactos climáticos das características ENOS

    No Sul do Brasil, geralmente ocorre excesso de chuvas nos anos de El Niño e estiagem em anos de La Niña. Apesar da influência do ENOS ocorrer durante todo o período de atuação desses eventos, há duas épocas do ano que são mais afetadas pelas fases do ENOS. São elas: primavera e começo de verão (outubro, novembro e dezembro), no ano inicial do evento, e final de outono e começo de inverno (abril, maio e junho), no ano seguinte ao início do evento. Assim, nessas épocas, as chances de chuvas acima do normal são maiores, em anos de El Niño (como ocorreram em 1997/1998 e 20023/2024), e chuvas abaixo do normal, em anos de La Niña (exemplo, evento 1998/ 1999).

    Para o agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo, a ocorrência de previsões climáticas extremos é inesperada, mas o conhecimento e a previsibilidade dos eventos o melhor enfrentamento das anomalias: “Saber lidar com as fases extremas do fenômeno ENOS, no caso da agricultura, envolve tanto estar preparado para a mitigação de efeitos adversos pelo clima, quanto saber aproveitar as condições ambientais específicas para os cultivos”, afirma Cunha.

    Segundo Gilberto Cunha, os eventos relacionados à ENOS nem sempre estão associados a prejuízos na agricultura. Os efeitos da La Niña, na maioria das vezes, favorecem os cereais de inverno, enquanto prejudicam os cultivos de verão na Região Sul; Ao contrário, as chuvas do El Niño geralmente prejudicam os cultivos de inverno e ajudam as lavouras no verão.

    Origem do El Niño

    A origem do nome El Niño se deve aos pescadores das regiões costeiras do Peru e do Equador, que, anualmente, notavam uma corrente de águas relativamente quentes, vinda do norte, invadia a região costeira, trazida a ressurgência (afloramento de águas profundas, frias e ricos em nutrientes), quando os peixes sumiam e as aves migravam ou morriam em grande quantidade. Como essa corrente de águas quentes aparecia próximo do Natal, os pescadores a chamavam de “corriente de El Niño”, em referência ao Menino Jesus (Niño, em espanhol).

    Os pescadores também notaram que, em outros anos, as águas costeiras daquela região ficaram mais frias do que o normal, a ressurgência aumentou e a cadeia alimentar enriquecia, com abundância de pesca. Essa situação, em meados de 1980, acabou batizada como La Niña.

    O El Niño tem suas raízes históricas na costa do Peru e Equador, e, por muitos anos, foi conhecido como um fenômeno local. Em 2017, o El Niño provocou um dos maiores desastres naturais na costa norte do Peru e na costa sul do Equador, espalhando destruição, fome e morte. Durante três meses (fevereiro-março-abril), os impactos do El Niño atingiram 1,1 milhão de pessoas, com o total de 162 mortes, quase 5 mil quilômetros de rodovias danificadas, 489 pontes destruídas, 400 mil casas danificadas, com um prejuízo econômico de 3,9 bilhões de dólares.

    Orientações para a produção de grãos

    Chuva acima do normal

    ■ começar a semeadura no início do período recomendado pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), particularmente no caso do cultivo de grandes áreas;

    ■ preparar antecipadamente a estrutura para a semadura, realizar limpeza, regulação e reparos em máquinas e deixar os insumos disponíveis para, quando o tempo permitir, desencadear a operação;

    ■ não parecer com o solo excessivamente úmido, evitando o risco de compactação e manipulação da estrutura do solo;

    ■ priorizar esquemas de rotação de culturas, pois, em ano de alta umidade, o ambiente costuma favorecer o desenvolvimento de doenças;

    ■ escolher cultivares resistentes às principais doenças que ocorrem na região;

    ■ dar atenção especial à sanidade e ao tratamento de sementes;

    ■ eleger cultivares não suscetíveis ao acamamento;

    ■ cuidar a adubação nitrogenada em cobertura. Em anos de muita chuva, a lixiviação de nitrogênio (N) pode ser grande e os sintomas de deficiência de N ficarão evidenciados;

    ■ evitar o uso de áreas sujeitas a inundações prolongadas;

    ■ realizar a colheita tão logo as grãos tenham umidade adequada para a operação, evitando a ocorrência, devido às chuvas frequentes, de perdas quantitativas e qualitativas em pré-colheita; e

    ■ adotar o Sistema Plantio Direto, em função da conservação do solo e da praticidade para realizar a semeadura.

    Chuva abaixo do normal

    ■ manter o solo descompactado ou evitar o adensamento excessivo;

    ■ mobilizar apenas o mínimo possível, por ocasião das operações de manejo;

    ■ dar preferência ao Sistema Plantio Direto;

    ■ observar o ZARC (começar a semeadura no início do período indicado, escalonar épocas de semeadura e priorizar o uso de cultivares de ciclos diferentes);

    ■ não utilizar população de plantas superior à indicada para a cultura;

    ■ implantar culturas sob condições adequadas de umidade e temperatura do solo;

    ■ regular a profundidade de semeadura um pouco maior do que a usual, e usar sulcadores para auxiliar as culturas a aprofundarem o sistema radicular para acessar a água armazenada no solo. Essa tática pode ser importante quando o intuito é superar períodos curtos de estiagem;

    ■ evitar o esvaziamento de barragens/açudes;

    ■ racionalizar o uso da água e irrigar quando necessário, dando preferência, em casos extremos, para os períodos críticos de cada cultura;

    ■ utilizar cultivares que possuam maior capacidade de aprofundar o sistema radicular, característica relacionada com a tolerância à presença de alumínio no solo.

  • El Niño afeta a produção de sementes no Sul

    El Niño afeta a produção de sementes no Sul

    O excesso de chuvas, induzido pelo El Niño na última safra, ocasionou perdas na produção de grãos e forragens na Região Sul. Além das perdas quantitativas, o setor sementeiro está agora disponível como perdas qualitativas, já que muitas áreas de multiplicação não atingiram os parâmetros específicos para a movimentação de sementes.

    “O ambiente quente e úmido do inverno e primavera de 2023 afetou tanto a qualidade fisiológica das sensações, quanto a qualidade sanitária. As condições ambientais favoreceram as doenças na espiga e, ao mesmo tempo, dificultaram o seu controle, já que em muitos casos o excesso de chuvas impediu a entrada de máquinas nas máquinas para aplicação de fungicidas. Além disso, o excesso de chuvas na época de colheita acelerou a variação das sementes”, conta Vladirene Vieira do setor de produção de sementes Embrapa Trigo.

    No trigo, a quebra na produção de sementes chegou a 50% no Rio Grande do Sul. Segundo a Apassul , para a safra 2024, estarão disponíveis 138 milhões de toneladas de sementes certificadas de trigo, volume suficiente para abastecer uma área de cultivo próxima a um milhão de hectares no RS. A taxa de uso de semente certificada nesta safra está estimada em 78%, a maior da história já registrada pela Apassul, indicando que o uso de semente salva não será significativo, justamente pelo risco de investir em semente de baixa qualidade.

    “No ano passado, a taxa de uso de semente certificada foi de 58% no RS. A supersafra de 2022, tanto em produtividade quanto em qualidade, foi um estímulo ao agricultor para economizar sementes para 2023. Na contramão, no ano de 2023 houve uma das perdas de safras de trigo, considerando que o agricultor não possui equipamentos específicos para produção de sementes , teremos redução significativa de grãos salvos”, explica o diretor executivo da Apassul, Jean Cirino.

    Para estimar os impactos de um possível aumento no preço das sementes nesta safra, em função da oferta menor do que a demanda, a equipe de transferência de tecnologias da Embrapa Trigo consultou algumas cooperativas gaúchas e avaliou que, dentro das planilhas de custos de produção, o preço do saco de sementes de trigo 40kg está variando de R$ 130 a R$ 150, um pouco acima dos R$ 120/sc praticados na safra passada. “Na safra 2023, houve uma grande oferta de sementes no mercado que provocou a queda nos preços. Neste ano, a oferta de sementes é mais restrita, a relação oferta-demanda está bem ajustada”, observa Jean Cirino.

    No Paraná, a quebra está estimada em 20%, contabilizando que deixarão de entrar no mercado cerca de 30 mil toneladas de sementes de trigo por falta de qualidade. A previsão da Apasem é que o setor sementeiro vai garantir a produção para cobrir 1,1 milhão de hectares com trigo no Paraná. “Acreditamos que a redução na oferta de sementes vai acompanhar a menor intenção de cultivo do trigo por parte do produtor paranaense. A redução na cotação do trigo e as incertezas com o clima para o próximo inverno, deixaram o produtor mais cauteloso com a safra de inverno”, avalia o diretor executivo da Apasem, Jhony Moller.

    O milho de segunda safra, tradicional concorrente do trigo na metade norte do Paraná, não deve avançar novamente, repetindo uma área de 2,4 milhões de hectares em 2024, não impactando no cultivo do trigo na região. Porém, está previsto um aumento de 33% na área de feijão na segunda safra, ocupando o espaço que no ano anterior foi utilizado pelos cereais de inverno. A previsão do Deral é uma redução de 17% na área com trigo no Paraná.

    Falta de sentimentos de forrageiras

    O mercado enfrenta também a falta de sementes para a implantação de pastagens. A estimativa da Sulpasto é que a oferta de sementes de aveia preta seja reduzida em 40% e no azevém a oferta é até 80% menor em relação ao ano passado. “A maioria dos produtores de sementes forrageiras também são produtores de grãos, então com a janela curta para fazer o manejo nos cereais de inverno, o produtor teve que optar pelo maior potencial de retorno e escolheu ‘salvar’ os grãos”, disse o presidente da Sulpasto, Cláudio Lopes. Segundo ele, os produtores que obtiveram colheres mais cedo, até tiveram resultados esmagadores, mas as forragens mais tardias, como o azevém colhido em novembro/dezembro, sofreram perdas generalizadas no Rio Grande do Sul.

    Os gaúchos até investigaram às estrangeiras, comprando sementes forrageiras do Uruguai e da Argentina, mas também nos países vizinhos houve frustração de safra, implicando em escassez de sementes, além de problemas internos no Brasil, como a greve dos fiscais agropecuários, o que está atrasando a liberação dos lotes. “Acreditamos que apenas 30% do volume importado vai chegar ao tempo para implantação das forrageiras na época indicada”, avalia Lopes.

    Com a procura aquecida, os preços de sementes forrageiras seguem em alta. Enquanto na safra passada era possível adquirir aveia preta a R$ 0,88/kg, hoje o valor chega a R$ 4,00/kg (base Passo Fundo, RS). Como alternativa à escassez de aveia preta e azevém, Cláudio Lopes recomenda ao produtor investir em aveia branca e outros cereais de inverno que podem ser usados ​​como forragem. “O impacto na oferta de forragens não deve ser maior em função da queda no preço do gado, o que reflete na diminuição dos rebanhos”, lembra Lopes, ressaltando que “ainda é cedo para definir cenários, mas certamente haverá uma entrega no setor para minimizar os efeitos de longo prazo causados ​​pelo clima”.

    Também no Paraná, a falta de sementes forrageiras deve variar entre os rebanhos, aumentando os custos de produção especialmente na região Sudoeste, onde está a principal bacia leiteira do Estado, e na atividade peculiar dos Campos Gerais. “O déficit nas sementes forrageiras vai afetar a produção de feno e silagem para a alimentação animal, bem como a cobertura de solo em muitas propriedades que costumam consumir aveia preta. Existem alternativas para não deixar o solo descoberto, como a braquiária e o nabo, mas o custo acaba sendo maior”, esclarece Jhony Moller, da Apasem.

    Cuidados para reduzir problemas de trabalho

    O uso de sementes de qualidade é fundamental para garantir o potencial de produção, garantindo o estabelecimento adequado da laboração de grãos ou forragens. Um trabalho de produção de sementes deve seguir uma série de normas e regras condicionais pela legislação própria do MAPA, as quais atestam a qualidade das sementes, formada por atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários. Essas características vão garantir que o agricultor adquira sementes puras, sem misturas varietais ou com qualquer outro material inerte, sadias e com bom potencial de estabelecimento das plântulas na lavoura.

    Contudo, assim como a produção de grãos, a produção de sementes também sofreu com os impactos do clima em 2023. Entre os principais problemas que podem estar relacionados ao El Niño estão a menor qualidade fisiológica e a incidência de doenças.  

    Em função do clima adverso, as sementes podem estar infectadas com microrganismos que causam doenças nos cereais de inverno. Para evitar prejuízos, é indicado o tratamento de sementes com fungicidas que protegem a planta da ação de agentes patogênicos, como fungos alojados no solo ou na própria semente. Dependendo do produto e a relação com a praga e doença visados, o tratamento de sementes nos cereais de inverno garante proteção das plantas contra fungos e indiretamente de solo por até 60 dias após a semeadura, favorecendo o desenvolvimento inicial da lavoura.

    “O tratamento de sementes vai viabilizar a qualidade sanitária do trabalho no início do ciclo da cultura, evitando o surgimento de focos iniciais de doenças e sua distribuição pela trabalho” avalia o pesquisador João Leodato Nunes Maciel, lembrando que o tratamento de sementes também deve significar redução nas aplicações aéreas de fungicidas nas plantas em fases mais adiantadas de desenvolvimento, impactando nos custos da lavoura. Em comparação, o custo de tratamento de sementes com fungicidas representa 30% menos do que o custo de uma aplicação aérea.

    Além da qualidade, a quantidade de sementes é um prêmio que merece atenção na semeadura. É preciso evitar o uso de detalhes muito abaixo do ideal ou excessos que impliquem em aumento de custos e possam resultar em acamamento. A orientação da Embrapa Trigo é verificar sempre as informações fornecidas pela empresa que desenvolveu a cultivar (o obtentor), empregando a quantidade de sementes indicada, considerando variações de acordo com a região, a época de semeadura e o histórico da área.

    “Estamos enfrentando um ano atípico, com muitos desafios ao produtor, que vai precisar mostrar profissionalismo para alcançar resultados positivos até o final da safra”, conclui o executivo da Apasem, Jhony Moller.

  • Cuidados no cultivo da soja em anos de El Niño

    Cuidados no cultivo da soja em anos de El Niño

    A incidência de chuvas está atrasando a semeadura da soja na região fria do Brasil, nos estados do RS, SC e sul do PR. A melhor época vai até o final de novembro, quando é possível alcançar as maiores produtividades com a cultura, mas a previsão é que o El Niño comece a perder força somente a partir de dezembro, ainda assim com bom volume de chuvas até o final do verão. A previsão do tempo exige planejamento do produtor para reduzir perdas por doenças na soja.

    O próximo verão deverá ser marcado por volume de chuvas de normal a acima da média histórica na Região Sul. “O fenômeno El Niño deverá continuar atuando até o outono, trazendo um verão mais chuvoso, com curtos períodos de sol”, alerta o analista do laboratório de meteorologia da Embrapa Trigo, Aldemir Pasinato. Segundo ele, o destaque ficará por conta da oscilação das temperaturas, alternando entre dias de muito calor e períodos de temperaturas mais amenas.

    O cenário indica um ambiente propício à incidência de doenças na soja, especialmente podridão radicular de fitóftora, mofo branco e ferrugem asiática.

    A pesquisadora Trigo Leila Costamilan, da Embrapa, explica que o primeiro problema que poderá aparecer nas lavouras é a podridão radicular de fitóftora. Recorrente em áreas compactadas, com solos mal drenados e acúmulo de água, a fitóftora pode ocasionar apodrecimento de sementes, morte de plântulas em pré e pós-emergência e, em plantas adultas, apodrecimento de raízes, levando à murcha e morte. A doença causa maiores perdas durante a emergência das plantas, levando à ressemeadura de soja em muitas lavouras. A orientação é utilizar cultivares resistentes à doença e fazer o tratamento de sementes com fungicida específico para fitóftora, evitando a implantação da lavoura em solo encharcado ou com previsão de grande volume de chuva após a emergência das plantas.

    soja com sintomas ferrugem Leila Costamilan
    Foto: Leila Costamilan

    Verão com temperaturas mais amenas, umidade e dias nublados, podem favorecer também o aparecimento de mofo-branco, a partir do florescimento da soja. O controle é realizado com manejo integrado durante todo o ano, incluindo o controle biológico, o controle químico, o plantio direto e menor densidade de plantas.

    Em anos chuvosos, a principal doença a ser controlada é a ferrugem asiática. Nas semeaduras tardias, a doença tenderá a ser mais severa pelo aumento da presença do fungo no ar. Nas últimas safras, mutações do fungo causador da ferrugem asiática têm resultado na menor sensibilidade aos principais fungicidas utilizados no controle. “Os fungicidas não apresentam a mesma eficiência de quando a doença foi introduzida no Brasil, mas ainda continuam sendo uma ferramenta importante no manejo da doença. Novas mutações podem ser selecionadas ao longo do tempo”, alerta a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy. Confira abaixo no gráfico elaborado pela Rede de Ensaios Cooperativos – Consórcio Antiferrugem – o desempenho dos produtos para controle da ferrugem-asiática ao longo das safras.

    grafico fungicidas

  • El Niño afeta a produtividade da soja na região do Cerrado

    El Niño afeta a produtividade da soja na região do Cerrado

    Pesquisadores da Embrapa analisaram a influência do El Niño sobre a soja semeada em Planaltina (DF), região de Cerrado, e detectaram que há efeitos do fenômeno na produtividade da cultura, em datas específicas do ano. Estudos anteriores já indicavam impactos na maior ou menor ocorrência de chuvas nas Regiões Sul e Norte do País, mas os efeitos sobre o Brasil Central ainda eram desconhecidos ou considerados ausentes ou mínimos.

    No estudo, os anos analisados, segundo a presença ou não do fenômeno, foram agrupados em cinco tipos: El Niño; Fim de El Niño; Neutro; Início de La Niña; e La Niña. Alfredo Luiz, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e um dos autores do trabalho, aponta que foi possível observar que nos anos de El Niño a produtividade média da soja semeada nos meses de setembro e outubro ficam muito aquém do seu potencial e do patamar alcançado, nessas mesmas datas de semeadura, nos anos em que o fenômeno não está presente.

    O El Niño é o que se chama de um fenômeno climático de larga escala, ou seja, é uma ocorrência que se estende por grande parte do planeta e que permanece por longo período. Embora seja determinado principalmente pela diferença de temperatura em certas regiões do Oceano Pacífico, sua influência é sentida em várias partes do globo.

    “Existem diversos índices criados pelos pesquisadores para o monitoramento desse fenômeno. Como o efeito não é o mesmo sobre as várias regiões afetadas, é preciso que se estude com detalhe como e quando o El Niño age sobre as variáveis climáticas de cada local e como isso pode afetar as atividades agrícolas”, enfatiza Luiz.

    Por ser uma atividade conduzida a céu aberto, em sua maioria, a agropecuária sempre estará sujeita, ainda de acordo com o pesquisador,  aos caprichos meteorológicos, mas o conhecimento científico pode ajudar, por meio de previsões cada vez mais acuradas, na diminuição dos prejuízos causados por acontecimentos extraordinários do clima.

    Para Alfredo Luiz,  pesquisas complementares são necessárias para investigar quais as variáveis climáticas foram afetadas nos anos de El Niño e no período de crescimento da soja que tanto influenciaram na queda da produtividade da cultura. E será investigada a relação entre essas variáveis e os indicadores de El Niño.

    O ideal é que se consiga prever com boa antecedência, por meio do uso desses índices, quais as alterações estarão presentes durante o ciclo da cultura, de maneira que o produtor tenha tempo de adequar a data de plantio e o tipo de cultivar que ele adotará a cada safra.

    “Em especial, destaca o pesquisador, as atividades agrícolas enfrentam enormes desafios diante dos eventos climáticos adversos. Atualmente, no Brasil, estamos presenciando, ao mesmo tempo, regiões assoladas pela seca enquanto outras sofrem com o excesso de chuvas”, alerta

    O trabalho Efeito de El Niño na produtividade da soja em Planaltina, DF, teve coautoria do pesquisador Fernando Macena, da Embrapa Cerrados, e foi apresentado na 22 edição do Congresso Brasileiro de Agrometeorologia (XXII CBAGRO), de 3 e 6 de outubro, em Natal (RN). O tema foi A Agrometeorologia e a Agropecuária: Adaptação às Mudanças Climáticas.

  • Produtores de soja devem estar atentos a nova onda de calor

    Produtores de soja devem estar atentos a nova onda de calor

    Os produtores de soja devem estar atentos a uma possível nova onda de calor neste mês de outubro. É possível que ela possa ser ainda mais quente do que o normal, devido à presença do fenômeno El Niño. Essa situação pode prejudicar o desenvolvimento das sementes de soja recém-semeadas, afetando significativamente a produtividade e a saúde das plantações. Por isso, é recomendável adiar a semeadura para o final da onda de calor ou reduzir a área de semeadura e planejar o processo de forma escalonada, visando minimizar os impactos do calor intenso no desenvolvimento das plantas.

    O estado do Paraná lidera o ritmo do plantio de soja no Brasil, mas pode enfrentar desafios climáticos neste mês, já que as previsões meteorológicas apontam para uma elevação significativa das temperaturas, atingindo níveis “extremamente altos”. Isso ocorrerá em diversas regiões, abrangendo desde o Paraguai até o oeste do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Vale ressaltar que a maior preocupação recai sobre os estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, onde os termômetros podem facilmente ultrapassar os 45º a 46º.

    Além disso, a previsão indica que a semana será marcada por uma quase ausência de chuvas na região central do Brasil. Essa condição climática contribuirá para elevar a temperatura do solo a valores extremamente elevados, podendo superar os 60º.

    Essa combinação de altas temperaturas e escassez de chuvas representa um desafio adicional para os agricultores, podendo afetar o desenvolvimento das lavouras de soja e exigindo medidas preventivas para proteger as plantações. É essencial enfatizar a importância da precaução e do cuidado com as lavouras neste momento, já que as condições climáticas adversas podem afetar significativamente a produtividade e a saúde das plantações, com consequências diretas para a agricultura brasileira.