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  • Emergência climática exigirá cerca de US$ 6 trilhões até 2030

    Emergência climática exigirá cerca de US$ 6 trilhões até 2030

    A mobilização necessária para enfrentar a emergência climática e ecológica exigirá cerca de US$ 6 trilhões em investimentos até 2030, segundo a Comissão Global sobre Economia e Clima.

    O tema estará em debate no 2º Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza (FFCN) que será realizado no Rio de Janeiro no fim deste mês. O encontro vai discutir também, entre outras estratégias, modelos financeiros e políticas públicas que conciliem desenvolvimento socioeconômico e sustentabilidade.

    A mobilização será organizada por sete instituições da sociedade civil:  Instituto Arapyaú, Instituto AYA, Instituto Clima e Sociedade (ICS), Instituto Igarapé, Instituto Itaúsa, Open Society Foundations e Uma Concertação pela Amazônia, uma rede de mais de 600 integrantes, representantes dos setores público e privado, academia e sociedade civil.

    Com a participação de líderes nacionais e internacionais, o fórum tem ainda por finalidade consolidar o protagonismo do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono, socialmente justa e positiva para a natureza.

    O encontro nos dias 26 e 27 é parte da preparação para a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025; o fim da presidência brasileira no G20 e a transição para a liderança sul-africana; além da presidência do Brasil no Brics.

    A 2º edição do Fórum quer aprofundar também a discussão sobre como países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, podem criar ambientes institucionais e regulatórios propícios ao investimento em tecnologias e práticas sustentáveis, observando a vocação de cada país no processo de elaboração.

  • COP30: população da Amazônia espera por água potável e saneamento

    COP30: população da Amazônia espera por água potável e saneamento

    A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro, na cidade de Belém, reunirá líderes mundiais com o objetivo de pensar e agir pelo futuro dos territórios urbanos e florestais do planeta diante dos desafios impostos pelo aquecimento global. Pela primeira vez, o principal palco das negociações mundiais sobre o tema será na Amazônia, um dos biomas mais estratégicos para esse debate, tanto pela riqueza de recursos naturais quando pela vulnerabilidade.

    Distante apenas 1,5 quilômetro do centro histórico de Belém, a Ilha do Combu é parte integrante da área insular da cidade, que representa 65% do território da capital, com 39 ilhas catalogadas pela Companhia de Desenvolvimento de Belém. Para acessar o local a partir da área continental, é necessário cruzar o Rio Guamá, em uma travessia que dura em média 15 minutos.

    Esse caminho é percorrido com frequência pelo comerciante Rosivaldo de Oliveira Quaresma, 49 anos, em busca de água mineral. Morador nascido e criado na ilha e proprietário de um restaurante, o comerciante diz que os maiores desafios de quem vive nesse lado da cidade são água potável e esgoto.

    “Alguns turistas acham que a gente usa água do rio para fazer suco, para bater açaí. Aí a gente fala que a nossa água é desses tambores de 20 litros, e que é caro para a gente, mas não tem outra opção. Então, o consumo geralmente é água mineral”, explica.

    De acordo com o comerciante, a água do Rio Guamá é utilizada apenas nos banheiros e para lavagem de roupa e de louça, após ser bombeada para uma pequena caixa d´água e passar por um tratamento caseiro. “O certo era mesmo fazer o puxado da água do rio, fazer um tratamento mais forte e botar numa caixa para 20 famílias. Lá na outra comunidade, botar para mais 20. Mas o problema é o valor que é caro para um ribeirinho fazer.”

    Diferentemente da área continental da cidade, que na sua maioria é abastecida pela rede de distribuição ligada aos mananciais da Área de Proteção Ambiental (APA) da Região Metropolitana de Belém, como os lagos Água Preta e Bolonha, grande parte da região insular depende de sistemas de distribuição independentes. A criação de infraestrutura também depende de um planejamento ambiental.

    As ilhas não foram incluídas nas obras para a COP30, mas os comitês brasileiros co-organizadores apontam a realização de 30 obras na parte continental da cidade, entre as quais o serviço de macrodrenagem de 13 canais.

    A Ilha do Combu é uma área de proteção ambiental (APA) criada há 28 anos pela Lei Estadual 6.083/1997 e gerida pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-bio). Em março, a instituição publicou uma nota informando que o plano de manejo para orientar o uso sustentável dos recursos naturais da ilha e definir o ordenamento territorial só começou a ser elaborado no último ano e está prestes a ser concluído, no entanto, não foi informado quando o documento estará disponível.

    Belém (PA), 30/04/2025 - Ilha do Combu faz parte da área insular de Belém, representa 65% do território da capital paraense. Foto: Márcio Ferreira/Ag. Pará

    Ilha do Combu faz parte da área insular de Belém, que representa 65% do território da capital paraense – Foto: Márcio Ferreira/Agência Pará

    Saneamento

    O mesmo problema ocorre com o sistema de saneamento. A maior parte das 596 famílias que vivem na ilha possui fossa séptica, mas, com o turismo crescente no local, as estruturas existentes acabam não sendo adequadas para atender também os visitantes. “A gente não joga o esgoto no rio ou na mata. Mas, quando enche, a gente tem que tirar e jogar na mata, sempre. E a gente não tem um apoio até o momento para resolver isso”, explica.

    As exceções são casos como o da professora aposentada Ana Maria de Souza, 61 anos, que, antes mesmo de empreender na ilha, decidiu adequar a própria moradia para hospedar turistas e oferecer refeições caseiras. Junto com a ampliação do local, a moradora da ilha decidiu construir uma fossa ecológica.

    O modelo levado à região por pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) faz uso de tanques de evapotranspiração de baixo custo por usar entulhos e pneus como matéria-prima. Também usa plantas da região amazônica, como  bananeiras e helicônias, que possuem alto potencial de evapotranspiração (soma da evaporação da água pela superfície de solo mais a transpiração de plantas).

    De forma prática, os dejetos percorrem diferentes materiais colonizados por bactérias que promovem uma digestão do esgoto sem a necessidade de oxigênio e, ao final, as plantas absorvem os líquidos devolvendo a água limpa à atmosfera pela evapotranspiração. “Eu posso dizer que eu estou muito feliz, porque eu também tenho a fossa ecológica na minha casa”, comemora.

    De acordo com a presidente do comitê da COP30 no estado do Pará, Hana Ghassan, as obras estão dentro do cronograma e, até novembro, estarão concluídas. Até o momento, dois rios já foram canalizados. Os serviços incluem, além de canalização de rios, instalação de água esgoto e drenagem, além da pavimentação asfáltica nas ruas no entorno.

    O técnico em eletrônica Glaybson Ribeiro, 46 anos, vive há 25 anos em uma casa às margens do canal da Rua Timbó, um dos dois locais onde as obras já foram concluídas. Ele considera que o investimento no saneamento da região trouxe uma mudança significativa.

    “Antes era um sofrimento para a gente. Era uma chuva atrás da outra e todo tempo as casas ficavam cheias de água, e a gente colocava tijolo, madeira para levantar a geladeira, o fogão. A gente saia para trabalhar e tinha que deixar tudo suspenso”, lembra Ribeiro.

    O vendedor de peixe Raimundo da Costa Nunes, 63 anos, mora há 40 anos na região e diz que precisou ao longo dos anos subir a estrutura da casa três vezes para não ser afetado pelas águas. Agora não precisa mais se preocupar com o problema. “Tem morador que fica xingando e perguntando “cadê as árvores?’ Melhor quente, sem a sombra, que cheio de água”, diz.

    De acordo com Hana, a nova infraestrutura de saneamento já estava prevista na ação do governo estadual, por isso foi uma das primeiras a ficarem prontas. Com a conclusão das demais, o impacto positivo alcançará cerca de 900 mil pessoas, afirma a presidente do comitê.
    A reportagem da Agência Brasil entrou em contato com o Ideflor-bio em busca de mais informações sobre o Plano de Manejo da Ilha do Combu, mas até a publicação da matéria não houve resposta.

    *A repórter viajou a convite do governo do Pará.

  • Governo anuncia R$ 90 milhões para preservação da Caatinga

    Governo anuncia R$ 90 milhões para preservação da Caatinga

    O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) anunciou nesta segunda-feira (28) uma série de iniciativas voltadas para a Caatinga. Juntas, elas representam um investimento de aproximadamente R$ 90 milhões. Os anúncios foram feitos em evento em Brasília, que marcou o Dia Nacional da Caatinga.

    A Caatinga é um bioma que existe apenas no Brasil e ocupa cerca de 10% do território nacional, em uma área de 862.818 quilômetros quadrados (km²). Engloba os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais, onde vivem cerca de 27 milhões de pessoas.

    O bioma é caracterizado por uma vegetação adaptada a pouca água, como cactos e suculentas, e possui uma diversidade de animais, que incluem os répteis teiú e calangos; aves, como a asa-branca e a arara-maracanã-verdadeira; e mamíferos, como morcegos e roedores.

    Na cerimônia, a ministra do MMA, Marina Silva, ressaltou os impactos que a caatinga tem sofrido, tanto com mudanças climáticas como com ações humanas, e reforçou a importância de iniciativas voltadas para o bioma.

    “É muito legítima a demanda de que a Caatinga tenha um olhar especial, porque ela está dentro do nosso país e é nossa responsabilidade manter esse espaço tão necessário para a nossa biodiversidade”, disse.

    “Nós sabemos que ela vem sendo afetada pelas mudanças climáticas, pela ação humana e pelos projetos de desenvolvimento que acontecem. Inclusive por aqueles que são importantes, estratégicos e fundamentais, como é o caso de geração de energia limpa, renovável e segura. Mesmo essas atividades têm um impacto. Portanto, é preciso que a gente tenha processos de regulamentação, para que esses impactos não venham a afetar a biodiversidade e as comunidades locais”, acrescentou.

    Investimentos

    As iniciativas anunciadas incluem o Conecta Caatinga e o Áreas Protegidas da Caatinga (Arca). Este último tem como foco a conservação de espécies ameaçadas de extinção, o engajamento de povos e comunidades tradicionais e a gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) no bioma. O Arca será executado em nove unidades de conservação, entre federais e estaduais. Serão disponibilizados US$ 9,8 milhões, o equivalente a cerca de R$ 55,7 milhões, do Fundo do Marco Global para a Biodiversidade.

    Já o Conecta Caatinga tem como prioridade promover a conservação da biodiversidade e contribuir para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas, além de combater à desertificação por meio da conectividade entre vegetação, pessoas e águas entre áreas protegidas do bioma. O projeto deverá começar no segundo semestre deste ano e deverá durar cinco anos. Para ele, estão previstos os aportes de US$ 6 milhões, aproximadamente R$ 34,1 milhões, do Fundo Global para o Meio Ambiente.

    “Quanto mais desmatamento, quanto mais pressão ─ seja para extração de madeira ou de lenha para geração de energia, seja para as famílias, seja para as indústrias que usam lenha ─ é importante que a gente tenha políticas voltadas para a proteção da Caatinga. Restaurar as áreas degradadas, prevenir e reverter processos de desertificação e fortalecer a agricultura de base ecológica a partir de novas práticas e principalmente de boas práticas que sejam capazes de ser resilientes”.

    Além dos anúncios dos projetos, foi realizada a posse dos membros da Comissão Nacional de Combate à Desertificação, que, pela primeira vez, conta com a participação de representes dos povos indígenas e comunidades tradicionais. O colegiado é um órgão de natureza deliberativa e consultiva que faz parte do MMA.

    COP30

    Diante da proximidade da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém, a ministra reafirmou o compromisso brasileiro zerar o desmatamento e de reduzir as emissões de gases poluentes em 67% até 2035.

    “Nós vamos sediar a COP30 e, com certeza, queremos liderar pelo exemplo. A COP 30 é a grande oportunidade de a gente ir à raiz dos problemas da mudança do clima”, disse.

    “A humanidade deve buscar as alternativas, mas alternativas que não sejam apenas para mudar nossa maneira de fazer, que sejam também para mudar a nossa maneira de ser, para não manter o mesmo padrão de produção e consumo, para não ter essa visão linear de desenvolvimento e para sermos capazes de criar um novo ciclo de prosperidade que proteja as comunidades locais, que proteja os nossos ecossistemas e os serviços ecossistêmicos que são prestados por eles” reforçou.

  • CNA, Embrapa e FGV debatem transição energética com foco no biodiesel

    CNA, Embrapa e FGV debatem transição energética com foco no biodiesel

    Na perspectiva da transição energética, os biocombustíveis já têm papel de destaque na agenda global. O Brasil se destaca há décadas na produção de fontes alternativas ao combustível fóssil com base em matérias-primas geradas pela agricultura. Os desafios e oportunidades na produção e adoção de biocombustível no cenário nacional form debatidos no Seminário AGROENERGIA Transição Energética – edição Biodiesel, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), com apoio da Embrapa Agroenergia e do Observatório de Bioeconomia da FGV, dia 24 de abril, em Brasília-DF.

    São 21 anos desde a criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), em 2004, que teve como marco inicial a Lei 11.097 de 13/01/2005 (Lei do Biodiesel). Em duas décadas de políticas públicas aliadas à ciência e tecnologia no campo, o País alcançou um patamar de destaque como produtor de biocombustível. Com uma produção consolidada de matéria-prima, hoje, 74% do biodiesel vem do óleo de soja, mas com uma crescente diversificação dessas matérias a partir de  grãos, canola e óleo de dendê, óleo de milho, de algodão, para citar alguns.

    Segundo destacou Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, em sua fala de abertura no evento, a discussão e ações em relação ao biodiesel já vem de longa data no Brasil, mas, com a conexão direta que o tema dos biocombustíveis com a transição energética e, consequentemente, às questões climáticas, o assunto ganha novo destaque no cenário mundial. “Sem agricultura, não há biocombustível, e nós temos ciência e tecnologia para essa agricultura. O que pode levar o Brasil a uma posição de destaque no mundo”.

    Hoje, 45% da matriz energética do Brasil vem de fontes renováveis, é o que apresentou o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, na palestra de abertura do Seminário. “O Brasil já está no processo de transição energética há algum tempo. É importante que o mundo reconheça o País como um dos maiores produtores de biocombustíveis sustentáveis”, destacou. Em 2024, o País bateu recorde na produção de biodiesel, alcançando 9 bilhões de litros. Segundo dados da UFOP, o Brasil ocupa hoje a 3ª posição global em produção de biodiesel. Se considerado o contexto unitário, visto que a União Européia, que está em segundo lugar, é uma agrupamento de países, já somos o 2º maior produtor.

    Atualmente, a produção nacional de biodiesel se concentra nas regiões Centro-Oeste (MT) e Sul (RS), por serem os locais com maior escala de produção da soja, principal matéria-prima. Para Bruno Laviola, a perspectiva de levar essas produções também para as regiões Norte e Nordeste é ampliar a geração de emprego e renda e melhorar a logística nesses locais, ou seja, conectando cada vez mais todas as regiões do País às 58 usinas que hoje produzem biodiesel (dados ANP).

    Ainda na perspectiva de aumento de produção, pensar em tecnologias que tornem possível aproveitar a 2ª safra (safrinha) para o cultivo de oleaginosas é também uma oportunidade a ser explorada. Segundo Laviola, o aproveitamento da safrinha é uma alternativa para ampliar a escala de produção de óleo sem aumentar um hectare e agregando a isso o fator desenvolvimento regional que o aumento de produção de matérias-primas pode gerar. Ou seja, o Brasil está apto a produzir matérias-primas para geração de biodiesel, trazendo junto geração de renda, emprego e produtividade sem aumento de área plantada.

    A Embrapa Agroenergia desenvolve projetos de pesquisa voltados ao desenvolvimento de matérias-primas, produção de biodiesel e aproveitamento de resíduos e coprodutos da cadeia de produção. Em destaque, pode-se citar os projetos envolvendo estudos para domesticação da macaúba, espécie nativa, tropicalização da canola e agregação de valor a glicerina.

    COP 30

    No ano que teremos a COP 30 realizada no Brasil, é premente destacar e debater o impacto desse produto na agenda das questões climáticas. Falar de biocombustível, é falar de descarbonização. O uso de biocombustível diminuiu em até 80% a emissão de CO2 em relação ao combustível fóssil.

    Seminário na íntegra

    O Seminário AGROENERGIA Transição Energética – edição Biodiesel teve a participação de entidades do setor, produtores rurais, especialistas, diretores do Sistema CNA/Senar e presidentes de Federações de agricultura e pecuária dos Estados. A mesa de abertura contou com  o presidente da CNA, João Martins, o deputado federal Arnaldo Jardim, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, e o coordenador do Centro de Estudos em Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Bastos.

    O evento também recebeu como palestrantes no Painel 1: Do Campo à transformação: Explorando as matérias-primas do biodiesel, Alexandre Pereira, diretor comercial da Biopower; Fábio Júnior Benin, coordenador de PD&I da Be8; e Dioger Teruel, gerente de Pesquisa e Inovação da Acelen Renováveis e no Painel 2: Energia limpa em movimento: O papel do biodiesel na transição energética, Lucas Boacnin, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Argus Media, e André Lavor, CEO e cofundador da Binatural.

    Assista no canal do Sistema CNA/Senar no Youtube e baixe também a publicação “Biodiesel – A força da agricultura brasileira na transição energética”, que reúne informações e números de destaque relacionados ao biodiesel no Brasil, elaborada pela Embrapa Agroenergia e o Observatório de Bioeconomia da FGV.

    Políticas públicas

    A transição energética a partir da agricultura no Brasil não é recente — ela começou a se desenhar já na década de 1970, com um movimento estruturado de transformação da agropecuária nacional, que coincide com a criação da Embrapa em 1973. Desde então, o País passou a investir de forma estratégica em pesquisa agropecuária, desenvolvendo soluções inovadoras baseadas em recursos renováveis.

    Esse processo foi amplificado por políticas públicas federais que, ao longo das décadas, promoveram o uso de matérias-primas sustentáveis, com destaque para o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), lançado em 1975, que consolidou o etanol como alternativa à gasolina.

    Já nos anos 2000, a criação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), em 2004. Mais recentemente, com o lançamento da Política Nacional de Combustível do Futuro (Lei 14.993 de 8 de outubro de 2024), o Brasil reafirmou seu compromisso com a descarbonização da matriz de transportes, integrando iniciativas como o RenovaBio, o Programa Rota 2030 e o incentivo ao uso de combustíveis sustentáveis da aviação (SAF) e do diesel verde. A Embrapa Agroenergia teve participação direta na formulação da Lei do Combustível do Futuro, integrando o grupo de trabalho de pesquisa, desenvolvimento e inovação, contribuindo por meio de notas técnicas e participação em audiências públicas sobre o tema.

    Em todas essas políticas públicas, a Embrapa tem exercido papel estratégico como geradora de conhecimento, tecnologia e inovação para o uso sustentável da biomassa — uma atuação que ganha ainda mais relevância nesta semana em que a Empresa completa 52 anos de contribuição contínua ao desenvolvimento do Brasil.

  • Termina etapa municipal para Conferência Nacional do Meio Ambiente

    Termina etapa municipal para Conferência Nacional do Meio Ambiente

    A etapa municipal da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (5ª CNMA) acabou na última semana com a realização de consultas presenciais à população em todo o território nacional. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima foram mobilizados 2.570 municípios nos 26 estados e no Distrito Federal.

    Segundo a integrante da coordenação executiva da CNMA, Luciana Holanda, a retomada desse espaço de diálogo com a sociedade após quase 12 anos da realização da última conferência tem um maior significado em um ano de realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) no Brasil e sob o tema Emergência Climática e Desafio da Transformação Ecológica. “A gente não tem mais tempo. Nós precisamos olhar para as mudanças climáticas agora”.

    Foram realizadas 448 conferências municipais e outras 171 conferências intermunicipais, com a participação de grupos de municípios. Mais 279 conferências livres complementaram as preparatórias para a etapa nacional, que ocorrerá de 6 a 9 de maio, em Brasília.

    O objetivo de todas as fases é promover a participação popular na formulação e implementação de políticas públicas para o enfrentamento das consequências das mudanças climáticas e o desafio da transformação ecológica. Nos diálogos foram entregues ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima 540 propostas que serão organizadas em um caderno com 100 prioridades a serem apresentadas em maio. “O processo de construção das propostas tem sido democrático, participativo e descentralizado, com espaço para diferentes formas de participação, reafirmando a importância das conferências livres”, diz Luciana.

    De acordo com Luciana, durante todo o processo de encontros regionais foram eleitos 1.100 delegados que atuarão como representantes de seus territórios na etapa nacional. “A gente também tem uma movimentação muito grande com as atividades autogestionadas, organizadas pela sociedade até a etapa nacional. Temos estimulado muito que essas atividades e que as representações eleitas nas etapas municipais sigam dialogando, mesmo com quem não foi eleito, para que se preparem da melhor forma possível para a etapa nacional”, explica.

    Entre as políticas que têm sido debatidas durante as conferências está o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, o Plano Clima, que orientará o país até 2035 para uma economia de baixo carbono e mais sustentável. Também está em processo de consulta a atualização da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), que estabelece as diretrizes para o plano.

    “O mais importante é que o resultado da etapa nacional vai refletir proposições reais de quem vive as consequências da emergência climática na pele. A gente acha isso muito potente, legítimo e significativo. Sãos as pessoas que mais precisam da política discutindo e trazendo suas propostas”, conclui Luciana.

  • Presidente da COP 30 defende novas formas de financiamento climático

    Presidente da COP 30 defende novas formas de financiamento climático

    O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro deste ano em Belém, defendeu nesta segunda-feira (31) que é preciso pensar em novas formas para se financiar a agenda ambiental.

    “O Brasil está dando uma ajuda imensa para encontrar caminhos para outras formas de financiar. Existem discussões sobre taxação para transporte marítimo, petróleo, classe executiva de avião. A gente vai olhar para tudo para chegar a US$ 1,3 trilhão em 2035. Precisamos ampliar a discussão sobre financiamento climático e pensar além dos mecanismos tradicionais”, disse ele durante o evento Soluções Baseadas na Natureza: Oportunidades de Escala e Perspectivas de Financiamento, promovido pelo Nature Investment Lab (NIL).

    O encontro, realizado hoje, na capital paulista, reuniu líderes do setor financeiro, de instituições públicas e multilaterais e organizações do ecossistema de impacto para discutir os avanços do Nature Investment Lab, iniciativa liderada pelo setor privado e que foi lançada em setembro do ano passado para superar desafios legais e financeiros, desenvolver modelos de negócios replicáveis e criar estruturas financeiras inovadoras para projetos sustentáveis no Brasil.

    De acordo com o embaixador, o financiamento da “agenda de ação” é uma das prioridades do governo brasileiro, além do fortalecimento do multilateralismo e da criação de oportunidades de negócio, buscando tornar viáveis os projetos voltados ao combate à mudança climática.

    “Não podemos achar que apenas a negociação de mudança climática e o Acordo de Paris vão resolver a questão climática. O Acordo e a Convenção do Clima são ambientes bons para negociar soluções, mas a implementação depende mais de bancos de desenvolvimento, do FMI [Fundo Monetário Internacional], para que o que está sendo discutido se torne uma realidade no campo. O financiamento depende de outros órgãos”, comentou o embaixador.

    “A COP tem uma dimensão muito formal, das negociações, e delas só podem participar os 196 países do Acordo de Paris. Quem vai levar isso adiante são instituições desses países, mas também governos subnacionais, setor privado, academia, que não participam das negociações. O que vocês estão fazendo pode servir como base para outros países, onde é muito mais difícil. O mundo em desenvolvimento tem grande esperança de que venham do Brasil ideias como as que vocês estão desenvolvendo”, acrescentou.

  • Pesquisador da Amazônia, brasileiro conquista Nobel do meio ambiente

    Pesquisador da Amazônia, brasileiro conquista Nobel do meio ambiente

    O  antropólogo e professor Eduardo Brondízio, que leciona a disciplina de antropologia ambiental na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e é associado no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade da  Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),  receberá o Prêmio Tyler 2025, um mais importantes na área ambiental, em nível mundial, conhecido como o Nobel do meio ambiente. A honraria será compartilhada com a ecologista argentina Sandra Díaz.

    Brondízio realiza pesquisas sobre a Amazônia há 35 anos e atua como uma voz internacional sobre a importância da valorização das comunidades ribeirinhas e dos povos tradicionais na conservação ambiental e nas políticas de sustentabilidade. Díaz e Brondízio são reconhecidos ainda pela sua atuação na promoção de políticas e ações que integrem a justiça socioambiental.

    A cerimônia de premiação está marcada para o dia 10 de abril de 2025, em Los Angeles. O brasileiro e a argentina são os primeiros sul-americanos reconhecidos com o prêmio.

    Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Eduardo Brondízio destaca a importância da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) para a definição de ações concretas para a redução de emissões de gases de efeito estufa. O encontro será realizado em novembro, em Belém.

    “As últimas duas COPs não deram o avanço esperado, e os impactos climáticos estão ficando mais aparentes e inegáveis. Internacionalmente, há uma expectativa muito grande nessa COP em poder gerar um acordo mais efetivo para mudar o cenário atual de emissões de gases de efeito estufa, mas, também, de constituir um plano mais amplo para investimentos em adaptações às mudanças climáticas, priorizando as populações mais afetadas”, disse.

    Leia a seguir a íntegra da entrevista:

    Agência Brasil: Professor, quais os aspectos de sua pesquisa que têm maior relação com a premiação recente no Prêmio Tyler?
    Eduardo Brondízio: Por um lado, a interação entre desenvolvimento regional, mercados e mudanças ambientais e comunidades rurais na Amazônia, focado em respostas das ações coletivas e locais e como elas influenciam a realidade regional, incluindo a urbanização regional, e, por outro lado, abordo esses temas em nível global – como as mudanças globais afetam a qualidade de vida de sociedades humanas, a contribuição de populações indígenas e rurais para produção de alimentos e a conservação da biodiversidade a urbanização no sul global.

    Agência Brasil: Quais os aspectos mais importantes, hoje, desta relação entre comunidades e a Amazônia?
    Brondízio: Por exemplo, como as comunidades rurais e indígenas trazem soluções para conciliar conservação e desenvolvimento econômico. Também procuro entender como as pressões de expansão agrícola, urbanização e mudanças ambientais afetam essas populações, e como influenciam as migrações dessas populações rural e indígena para as cidades,  como isso transforma as cidades, e a relação entre cidade, pessoas e ambiente.

    Agência Brasil: Este ano é importante para essa temática, com discussões como as da COP30, não?
    Brondízio: Este ano, a COP30 é um tema catalisador a dois níveis. Global, no sentido de que as últimas duas COPs não deram o avanço esperado, e os impactos climáticos estão ficando mais aparentes e inegáveis. Internacionalmente, há uma expectativa muito grande nessa COP em poder gerar um acordo mais efetivo para mudar o cenário atual de emissões de gases de efeito estufa, mas, também, de constituir um plano mais amplo para investimentos em adaptações às mudanças climáticas, priorizando as populações mais afetadas.

    Também é um momento de fragmentação na cooperação internacional, então há expectativa de oferecer um espaço para buscar convergências entre vários setores da sociedade em torno de ações mais concretas. Há um outro nível onde a COP30 já vem tendo um papel catalisador, o da Amazônia e do Brasil. Existe esperança de mobilizar energia, colaborações e financiamento para reverter o quadro de deterioração social e ambiental da região. Os problemas ambientais e sociais da Amazônia oferecem um espelho da situação global onde mudanças climáticas, degradação da biodiversidade e desigualdades sociais se autorreforçam.

    Agência Brasil: Por que esse momento é importante para a Amazônia?
    Brondízio: A Amazônia, o Brasil e países vizinhos foram palco de avanços importantes nos últimos 30 anos, como a criação de áreas protegidas, demarcação de terras indígenas e criação de áreas de uso sustentável, que englobam, no Brasil, cerca de 45% da região. Esse avanço conseguiu garantir direitos para as comunidades e tem sido fundamental em bloquear, pelo menos parcialmente, a expansão do desmatamento e das queimadas. Um outro avanço importante nesse período foi o da expansão e as inovações da sociobioeconomia, que vêm garantindo ganhos ambientais e a valorização do conhecimento local e da biodiversidade. Essa é uma economia gigante, apesar de invisível, que vem das populações, das florestas e rios da região.

    Agência Brasil: E qual o contexto em que esses avanços ocorrem?
    Brondízio: Esses grandes avanços vêm acontecendo lado a lado com a transformação da região pela expansão do desmatamento, mineração, infraestrutura e urbanização. Progressivamente, essas transformações estão criando uma sinuca para áreas indígenas e protegidas. Hoje, a expansão desordenada dessas atividades, além da expansão do crime organizado, representa uma ameaça à sustentabilidade desses territórios. As áreas que são protegidas estão sitiadas e viraram “ilhas”. São efetivos para garantir governança ambiental dentro dos seus limites, mas não para impedir os impactos do que vem de fora. É uma prioridade hoje salvaguardar esses territórios e dar condições às comunidades de avançar nos ganhos da sociobioeconomia.

    Outro elemento é a urbanização da região, só na Amazônia legal são 770 cidades. Anteriormente desarticuladas e pouco conectadas fisicamente, hoje as conexões interurbanas estão criando uma grade que irá definir a governança ambiental do território pelas próximas décadas. Hoje, as realidades urbana, rural e indígena se entrelaçam na região. Boa parte das áreas urbanas da Amazônia é das mais precárias do Brasil e também está sofrendo com as questões climáticas como seca, inundação e temperaturas extremas com muita intensidade, além de altos níveis de poluição de mercúrio, pesticidas e poluição do ar.

    Agência Brasil: Quais as condições destas cidades hoje, principalmente das capitais?
    Brondízio: Os dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], de 2022, mostram, por exemplo, que as ocupações subnormais dominam nas principais capitais da Amazônia, chegando a mais de 55% das ocupações em Belém e Manaus. Isso não pode ser esquecido, pois a maior parte da população da Amazônia Brasileira, quase 80%, vive nessas áreas. Além disso, as áreas urbanas têm influência direta nas áreas rurais e indígenas e na saúde da floresta e dos rios da região. A precariedade das áreas urbanas e rurais vem levando a um crescimento acelerado das economias ilegais e do crime organizado na região. Alem da violência urbana na região, alta em relação ao resto do Brasil, cenário que tem colocado uma pressão enorme nas comunidades indígenas e rurais, além de estar aliciando jovens para a economia ilegal e para o crime organizado, ambos cada vez mais próximos do tráfico internacional de drogas.

    Agência Brasil: Nesse contexto, qual a importância do surgimento de lideranças jovens na região?
    Brondízio: É muito grande. Os avanços na proteção e sociobioeconomia na Amazônia vêm da luta de uma geração de líderes que enfrentou esses desafios dos anos 1970 a 1990, conseguindo oferecer um modelo de governança territorial e alternativas econômicas baseadas na biodiversidade regional. A geração nova precisa carregar essas vitórias para a frente. É muito gratificante ver uma nova geração de jovens indígenas e rurais continuando esses avanços e buscando novas alternativas e narrativas para o futuro da região compatíveis com seus valores culturais, mas também integradas e tendo acesso a serviços e oportunidades para melhorar as condições de vida onde vivem.

    A tendência global e nacional nos últimos 50 anos vem sendo de uma diminuição da população rural e indígena muito forte, e isso é resultado de uma série de pressões sociais, econômicas e ambientais. A falta de priorização de investimentos nessas áreas, falta de opções econômicas e de acesso a serviços e oportunidades de educação desincentivam a vitalidade de comunidades rurais e indígenas. Essas condições também levam muitos jovens a serem empregados nas economias ilegais e no crime organizado. Em áreas onde oportunidades estão presentes, a gente vê essas lideranças se engajando nas discussões nacionais e internacionais, tendo protagonismo em acordos nacionais e internacionais de biodiversidade e clima e também trazendo novas visões e resposta para demandas atuais.

    Temos visto a constituição de redes de jovens da região. Porém, para manter os jovens em suas comunidades é fundamental assegurar a viabilidade econômica da sociobioeconomia, dar acesso à educação compatível às realidades locais e também acesso às tecnologias de comunicação. Por fim, essa questão passa pela valorização social e cultural do papel dessas comunidades na economia, conservação e enfrentamento dos problemas sociais da região. Aquele jovem que vê a sociedade valorizar as populações da Amazônia e seus papéis no desenvolvimento sustentável regional fica orgulhoso das suas contribuições e digno do seu papel no futuro da região. Precisamos valorizá-los, eles são o futuro da Amazônia.

  • A moderna agricultura brasileira precisa conectar segmentos

    A moderna agricultura brasileira precisa conectar segmentos

    Um questionamento constante quando se aborda as mudanças climáticas é o papel real da agricultura nesse contexto. Conectar desenvolvimento, produção e meio ambiente, sob uma ótica global, sem disputas entre os segmentos, mas parceria e amplo entendimento do assunto, é um dos caminhos para se encontrar possíveis respostas.

    “É uma narrativa que precisamos construir dentro de casa. O elo mais fraco é a agricultura. Ela vai sempre pagar a conta seja por ação ou por omissão. Que seja por ação! Pois já fizemos um grande exercício de adaptação, com base em Ciência, nos últimos 50 anos, agora o tempo está curtíssimo para dar outro salto de adaptação, mas é possível”, afirma o pesquisador Marcos Morandi, membro da delegação brasileira nas negociações sobre clima da UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas).

    Para ele, a construção da resiliência é fundamental neste processo, que é lento pela natureza e complexidade do tema. Entretanto, o Brasil é um dos poucos países com essa habilidade ao relacionar clima, biodiversidade, desenvolvimento sustentável e Ciência.

    Um dos exemplos palpáveis é o robusto corpo de políticas públicas em andamento no País, como o Código Florestal, o Programa ABC, o Renovabio e a Agricultura Regenerativa. No caso de Mato Grosso do Sul, há o Precoce MS, o Estado Carbono Neutro até 2030, dentre outras.

    “Temos aqui no Estado uma rede de Ciência e Tecnologia na produção, que nos dá tranquilidade para seguir com sistemas cada vez mais eficientes. Nossa agenda é contemporânea, inclusive com a otimização do balanço de carbono dentro dos nossos sistemas produtivos”, confirma Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul.

    “Temos muito a fazer também”, complementa o cientista da Embrapa. Nessa jornada de sustentabilidade, definida assim por Morandi, rastrebilidade, zerar o desmatamento ilegal, adaptação climática e inclusão socio-produtiva, todos costurados pela transversalidade da comunicação, são horizontes idealizados.

    Para o pesquisador são essas oportunidades que devem estar à mesa do Brasil durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém. Ele ressalta que o País estará no centro das discussões e a agropecuaria é um pilar de transformação, capaz de digladiar com “os quatro modernos cavaleiros do apocalipse: mudanças climáticas, insegurança alimentar, transição energética e desigualdade social”.

    Nessa jornada, Jaime Verruck, secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) lembra que é necessário reconhecer o trabalho do produtor rural que se propõe a investir no avanço tecnológico, e isso deve acontecer por meio de programas de remuneração,  e estará em debate na COP 30.

    Com três Unidades da Embrapa em MS, Selma Beltrão, diretora-executiva de administração da Empresa, afirma que a pecuária tropical pode e já está atuando de forma cada vez mais sustentável, a partir de métricas científicas. “Assim em novembro, em Belém, vamos mostrar ao mundo os avanços da pesquisa agropecuária brasileira em relação às mudanças climáticas”, destaca.

    Fórum Pré-COP 30

    Marcos Morandi falou sobre o assunto durante a abertura do Fórum Pré-COP 30, que acontece em Campo Grande (MS). Em palestra magna, “De Baku a Belém: agropecuária brasileira na COP 30”, ele falou para um auditório lotado no Centro de Convenções da Capital, que contou com a presença de autoridades, representantes de órgãos públicos e privados, pesquisadores e técnicos.

    Entre elas, o governador de MS, Eduardo Riedel e o secretário de Estado da Semadesc, Jaime Verruck; o senador por MS, Nelsinho Trad; a diretora-executiva, Selma Beltrão; o superintendente federal de Agricultura (SFA/MS), José Roldão; o presidente do Sistema Famasul, Marcelo Bertoni; o secretário de Agricultura do Acre, Edevan Azevedo; o diretor-presidente da IAGRO, Daniel Ingold; o diretor da Agraer, Washington Willeman; o diretor da Fundect, Márcio Fernandes; o secretário municipal de Inovação e Desenvolvimento Econômico, Ademar Silva Júnior; a reitora da UFMS, Camila Ítavo; o reitor da UEMS, Laercio Carvalho; o diretor-superintendente do Sebrae-MS, Claudio Mendonça, dentre outras.

    Segundo Antonio Rosa, chefe-geral da Embrapa Gado de Corte, Centro de Pesquisa que coordena o Fórum Pré-COP 30, reunir todo esse staff é mais uma evidência da transformação experimentada pelo País nos últimos 50 anos, “ao sair de uma condição de insegurança alimentar para a posição de um dos maiores produtores mundiais de alimento, energia e fibras”.

    Assinaturas e lançamentos

    Ainda na abertura, Embrapa, Governo de MS, Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (IAGRO), Semadesc, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Universidade Estadual de MS (UEMS) assinaram uma declaração de interesses em prol do desenvolvimento e da inovação do setor agropecuário.

    Os pesquisadores Juliana Correa e André Novo lançaram o aplicativo Andro Lógico e a cultivar BRS Guatã, respectivamente. O feijão-guandu, BRS Guatã, é uma revolução no controle de nematóides, com potencial de mais uma opção para o produtor; já o app é o primeiro para exame andrológico, gratuito, trazendo rentabilidade e produtividade para o rebanho.

    O Fórum Pré-COP 30 íntegra a Dinapec 2025 e as inscrições são gratuitas e estão abertas, diretamente pelo site do evento.

    Sobre a Dinapec

    A Dinâmica Agropecuária – Dinapec é uma realização da Embrapa, do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), e do Sistema Famasul, com patrocínio da Unipasto, Timac Agro, Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil (PronaSolos), Sicoob e Marfrig Global Foods.

  • Lula entrega conjunto residencial com mais de mil moradias em Belém

    Lula entrega conjunto residencial com mais de mil moradias em Belém

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quinta-feira (13) da entrega de 1.008 habitações do Minha Casa, Minha Vida no Residencial Viver Outeiro, em Belém. O empreendimento integra a Faixa 1 do programa habitacional e teve investimento de R$ 97,2 milhões.

    As moradias têm 43,85 metros quadrados, com sala, dois quartos, banheiro, cozinha e área de serviço, e são destinadas a famílias com renda bruta de até R$ 2.850. Lula também assinou o ato de contratação de 900 unidades habitacionais no âmbito do Minha Casa, Minha Vida Rural.

    Ao entregar a chave das casas para novos moradores, Lula disse que conhece a felicidade de finalmente ter uma casa própria. “Eu sei o que é a emoção de entrar em uma casinha da gente, de saber que nossos filhos vão ter um ninho, vão poder estudar e não vão precisar mudar de bairro a cada ano.”

    Lula lembrou que a obra havia sido abandonada em governos anteriores e foi retomada no governo atual. “Eu já sou o presidente que mais construí casas para o povo brasileiro”, destacou o presidente.

    Educação

    Durante o evento, o presidente Lula descerrou a placa de inauguração do bloco didático-pedagógico J do Campus Belém do Instituto Federal do Pará (IFPA). Também foi assinada a ordem de serviço para a construção de novos campi do IFPA e o pacto pela retomada de obras na área da educação básica do estado.

    Lula destacou a importância dos investimentos na educação e das políticas de acesso ao ensino superior. “Eu quero garantir oportunidade a todos, não quero prejudicar ninguém. Mas eu quero o filho da empregada doméstica fazendo curso com o filho do patrão dela, e só vai passar quem tiver mais qualidade. Eu quero que as pessoas disputem em igualdade de condições.”

    COP30

    Nesta sexta-feira (14), também em Belém, Lula irá visitar as obras do Parque da Cidade, espaço que sediará a COP30 em novembro deste ano,. Também serão anunciados os investimentos do governo federal para o evento.

    No evento de hoje, Lula disse que, apesar das dificuldades de infraestrutura, ele decidiu escolher Belém para ser a sede da COP30 porque o mundo tem que entender a realidade da Amazônia.

    “Eles têm que saber que, embaixo de cada copa de árvore tem um trabalhador, tem um índio, um quilombola, um pescador, um seringueiro, um extrativista que tem que viver. Então, eles têm que pagar”, disse Lula, lembrando que o Brasil tem o compromisso de até 2030 promover o desmatamento zero no país.

    O governador do Pará, Helder Barbalho, elogiou a coragem do governo em fazer a COP30 em Belém. “O que se quer é mandar uma mensagem para o mundo de que a Amazônia brasileira e de toda a nossa região latino-americana deve ser preservada, mas deve ser apoiada na construção de desenvolvimento sustentável para ajudar as pessoas que vivem aqui.”

  • Apenas dez países entregaram metas climáticas; prazo termina segunda

    Apenas dez países entregaram metas climáticas; prazo termina segunda

    A nove meses da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, o prazo estabelecido no Acordo de Paris para entrega da terceira geração de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) terminará na segunda-feira (10). Dos 197 países que fazem parte do tratado, apenas dez atualizaram suas ambições para redução de gases do efeito estufa.

    Este ano, o Acordo de Paris, o maior tratado global firmado por líderes para evitar a piora dos impactos climáticos e limitar o aquecimento global em 1,5 grau Celsius (ºC), completa dez anos, mas as nações têm falhado nessa ambição. Até 2035, para estabilizar os termômetros nesse nível, acima da temperatura pré-industrial, será necessário reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 57%, aponta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

    Em janeiro, ao apresentar as prioridades das Nações Unidas para o ano de 2025, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os países devem centrar esforços para criar planos capazes de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 60% até 2035, com claras metas de diminuição da produção e consumo de combustíveis fósseis. Ele destacou ainda o trabalho para impulsionar as ações, “em estreita colaboração com o anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, o presidente Lula do Brasil.”

    Compromissos

    O Brasil responde atualmente por 2,45% das emissões globais, de acordo com o relatório de 2024 do Banco de Dados de Emissões para Pesquisa Atmosférica Global (Edgar, na sigla em inglês) e foi o segundo país a atualizar a NDC, depois apenas dos Emirados Árabes Unidos.

    Na nova ambição, estabeleceu uma faixa de redução das emissões entre 59% a 67%, para 2035, na comparação com 2005. O corte levará o país a uma emissão líquida anual de 850 milhões de toneladas a 1,05 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e), unidade utilizada para medir as emissões de gases do efeito estufa em relação ao seu potencial de aquecimento do planeta.

    No caso dos Emirados Árabes Unidos, que representam atualmente 0,51% (Edgar) das emissões globais, a redução foi menos ambiciosa, com uma meta de corte em 47% para 2035, em comparação com 2019, o que levaria o país a um volume anual de o 103,5 milhões de toneladas de CO2e.

    O terceiro país a entregar a NDC foi os Estados Unidos, ainda em 2024, antes mesmo de anunciar a saída do Acordo de Paris. A contribuição apresentada foi coerente com o segundo maior emissor de gases do efeito estufa do planeta, que hoje representa 11,25% (Edgar) das emissões globais. A ambição é pela redução na faixa de 61% a 66% para 2035, em comparação com as medições de 2005.

    O Uruguai, que representa apenas 0,08% das emissões globais, encerrou as entregas de NDCs no ano de 2024, com o compromisso de limitar as emissões de gases do efeito estufa a partir de medição dos níveis absolutos de dióxido carbônico (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que representam 99,3% das emissões no país. Para 2035, o país estabeleceu os limites de emissões de CO2 em até 9,6 milhões de toneladas, de CH4 em 818 mil toneladas e de N2O em até 32 mil toneladas; além de limitar em 30% o consumo de hidrofluorcarbonetos – gases sintéticos presentes em aerossóis e usados em sistemas de refrigeração, na comparação com níveis de 2022.

    O país também apontou o avanço adicional que é possível ser alcançado com a disponibilidade de condições que vão além do que o Uruguai dispõe, como financiamento internacional. Nesse caso, as metas condicionadas acresceriam aos limites reduções de CO2 em mais 960 mil toneladas, de CH4 em mais 61 mil toneladas e de N2O em mais 2 mil toneladas; a limitação do consumo de hidrofluorcarbonetos chegaria a 35%.

    2025

    Nos dois primeiros meses deste ano, mais seis países apresentaram suas metas: Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Equador e Santa Lúcia , que respondem juntos por apenas 1,1% das emissões globais. Enquanto a Suíça, com 0,08% das emissões globais, apontou para uma redução de 65%, o Reino Unido – que responde por 0,72% – foi além e assumiu o compromisso de mitigar 81% das emissões, até 2035. Ambos usam como parâmetro comparativo as emissões em 1990.

    A Nova Zelândia, responsável por 0,16% dos gases na atmosfera, apontou para uma faixa entre 51% e 55% de redução das emissões, para 2035, na comparação com 2005. Diferente dos demais países que já chegaram à terceira geração de NDC, essa foi a segunda atualização de ambição tanto para o país da Oceania, quanto para a Suíça, que haviam apresentado suas primeiras versões respectivamente em 2021 e 2017.

    Andorra entregou a terceira geração da NDC também dentro do prazo e, apesar de ser um local com baixíssimas emissões que nem chegam a representar um percentual (370 mil toneladas de CO2e em 2005), pretende reduzir suas emissões a 137 mil toneladas de CO2e, em 2035, o que representa um compromisso de mitigar 63%.

    Assim como em Andorra, os gases de efeito estufa gerados em Santa Lúcia não chegam a representar um percentual nas emissões globais, mas o país insular também atualizou a NDC em sua terceira versão ampliando a ambição de 14,7% para 22% para os setores energético e de transporte, até 2035, tendo como base as medições de 2010.O país também estabeleceu uma meta condicionada que poderia elevar esse percentual a 32%, caso haja disponibilidade de recursos para geração de energia geotérmica.

    O país qualificou ainda sua NDC com a ampliação de sua capacidade de captação dos gases do efeito estufa, que deverá atingir 251 mil toneladas de CO2e por ano, até 2035, permitindo a retirada de mais 10% dos gases já emitidos para a atmosfera.

    O Equador usou o ano de 2010 como referência para apontar uma redução de 7% para as emissões em 2035, o que equivale a 8,8 milhões de toneladas de CO2e. O país, que atualmente representa 0,14% das emissões globais, adicionou ainda uma meta condicionada de alcançar até 8%, o que equivaleria a 10,6 milhões de toneladas de CO2e.

    Os dez países, que juntos representam 15,3% das emissões globais, reafirmaram o compromisso net zero para 2050, o que significaria alcançar a neutralidade entre as emissões e a remoção de gases da atmosfera, por meio de medidas de compensação como restauração de vegetação nativa e o próprio mercado de carbono.