Tag: Cerrado

  • Estudo mapeia impactos de mudanças climáticas no Cerrado

    Estudo mapeia impactos de mudanças climáticas no Cerrado

    O bioma Cerrado é o foco de estudos para abordar a sazonalidade climática no Brasil. Abordando insetos aquáticos, os estudiosos abordaram a relação entre sazonalidade climática e diversidade de insetos aquáticos. Pela Universidade Federal de Mato Grosso participaram do estudo os professores Leandro Schlemmer Brasil, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) e Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Aquáticos (Lacea). Pelo mesmo laboratório está no artigo Dilmermando Pereira Lima-Junior.

    O estudo “Climatic seasonality of the Cerrado and aquatic insect communities: a systematic review with meta-analysis” analisa aspectos da variação entre estações chuvosas e secas no que se trata da diversidade e abundância de organismos como a influência da sazonalidade climática no Cerrado nas comunidades de insetos aquáticos. A base para o artigo está em artigos das bases Scopus e Web of Science que tratam da  distribuição espacial dos associados à variação sazonal das comunidades de insetos aquáticos. A importância do estudo está no preenchimento de lacunas científicas no que diz respeito a falta de estudos abrangentes sobre a sazonalidade dos insetos aquáticos no Cerrado.

    De acordo com o professor Leandro Schlemmer Brasil, o primeiro desafio do estudo é a necessidade de estudos de longa duração. “Para compreender como a sazonalidade climática influencia os insetos aquáticos, é fundamental realizar coletas em ambas as estações – seca e chuvosa – ao longo de vários anos. No mínimo, seriam necessários três anos de monitoramento, mas o ideal seriam estudos que se estendessem por décadas. Isso ocorre porque as condições climáticas variam de um ano para o outro, e apenas com múltiplas repetições ao longo do tempo é possível identificar padrões robustos e confiáveis”, destaca o professor apontando que outro desafio é a limitação de financiamento para pesquisas de longa duração, principalmente por agências estaduais.

    Pesquisa mostra insetos indicam dificuldades no fluxo de água

    O professor Leandro Schlemmer Brasil explica que o principal desdobramento prático deste estudo é a geração de um produto técnico voltado para órgãos ambientais estaduais e federais, assim como o Ministério Público. “Com base nos resultados, esses órgãos terão uma base científica mais sólida para orientar estudos de impacto ambiental (EIA) e relatórios de impacto ambiental (RIMA), utilizando insetos aquáticos como bioindicadores. Isso é fundamental, pois qualquer empreendimento com potencial de causar danos ambientais precisa dessas análises, e nosso estudo aponta com precisão qual a melhor época para realizá-las no Cerrado, garantindo avaliações mais eficazes e representativas”, explica o docente.

    Os principais resultados estão em demonstrar que a riqueza e abundância de insetos aquáticos foram significativamente maiores durante a estação seca, pela maior estabilidade das condições ambientais, menor fluxo de água e maior disponibilidade de folhas nos riachos. Além da forte influência da estação seca, o estudo também tem como resultado o aumento da seca extrema pode transformar riachos perenes em intermitentes, levando à homogeneização das comunidades de insetos aquáticos e reduzindo sua capacidade de prestar serviços ecossistêmicos, como o controle biológico e a decomposição da matéria orgânica.

    “Com o aumento das ondas de calor e a intensificação das secas, muitos riachos do Cerrado, antes perenes, estão se tornando temporários, ou seja, deixam de ter água corrente o ano todo. Essa mudança compromete serviços ecossistêmicos essenciais, como a decomposição da matéria orgânica e o controle de insetos transmissores de doenças – ambos desempenhados por insetos aquáticos. Além disso, essa transformação aumenta as incertezas sobre a segurança hídrica na região, o que pode afetar diretamente o desenvolvimento sustentável do bioma, analisa o professor.

    O estudo é importante para mostrar a importância dos insetos aquáticos como bioindicadores da qualidade da água e da integridade ecológica dos riachos. Além do monitoramento ambiental é um estudo importante para abordar os impactos das mudanças climáticas pelo aumento de eventos climáticos extremos pode afetar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos dos riachos do Cerrado. A expectativa do Lacea é que os achados possam orientar políticas públicas e estratégias de conservação para proteger os ecossistemas aquáticos do Cerrado diante das ameaças climáticas e do uso da terra.

  • Anta Albina é flagada em plantação de Soja em Nova Mutum

    Anta Albina é flagada em plantação de Soja em Nova Mutum

    Uma cena digna de um documentário sobre vida selvagem aconteceu em Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá. O fazendeiro Walter Becker Júnior, enquanto se preparava para a colheita ao lado do filho, flagrou uma anta albina atravessando a estrada ao lado de outra anta de coloração normal. O registro, feito no último domingo (16), é inédito em Mato Grosso e um dos raros no Brasil.

    “De momento, achei que fosse um cachorro ou um porco. Mas quando chegamos perto, percebi que era uma anta branca! Nunca tinha visto nada igual. É um bichinho bonitinho demais”, contou Becker.

    Anta Albina é Registrada em Mato Grosso

    Raridade na natureza: anta albina é flagrada em fazenda no cerrado

    Segundo a bióloga Ravena Mendonça, registros de antas albinas são extremamente raros, com apenas dois casos documentados no Brasil – ambos em regiões da Mata Atlântica. O albinismo, explicou ela, é uma condição genética causada pela ausência de melanina, substância responsável pela pigmentação da pele e pelos dos animais.

    “Essa anomalia já foi registrada em outros mamíferos, como macacos, morcegos, cervos e roedores. Mas, em antas, é algo extraordinário”, ressaltou a especialista.

    Anta escorrega em barranco e viraliza nas redes; deslize selvagem

    Por Que a Anta Albina Estava na Plantação? 

    A presença da anta na lavoura de soja não é tão incomum quanto pode parecer. De acordo com Ravena, áreas de monocultura acabam atraindo esses animais devido à disponibilidade de alimentos. Além disso, a anta-brasileira desempenha um papel essencial na natureza:

    “Elas são fundamentais para a dispersão de sementes em florestas tropicais, ajudando na regeneração de áreas degradadas”, destacou a bióloga.

    Existem relatos de antas que vivem próximas a áreas habitadas por humanos.
    Existem relatos de antas que vivem próximas a áreas habitadas por humanos. Foto: Canva.com/photo.

    A Gigante Gentil da América do Sul

    A anta-brasileira (Tapirus terrestris) é o maior mamífero terrestre da América do Sul, podendo pesar até 300 kg e medir mais de 2 metros. De hábitos solitários, elas são herbívoras e se alimentam de frutas, folhas, cascas e até pequenos galhos.

    No mundo, existem quatro espécies de anta:

    – Anta-brasileira (Tapirus terrestris) – encontrada na América do Sul.

    – Anta-da-montanha (Tapirus pinchaque) – vive em áreas de altitude na Colômbia, Equador e Peru.

    – Anta-centro-americana (Tapirus bairdii) – habita a América Central e partes da América do Sul.

    – Anta-asiática (Tapirus indicus) – maior de todas as espécies, podendo chegar a 500 kg.

    Apesar de seu tamanho imponente, a anta é um animal pacífico e essencial para o equilíbrio dos ecossistemas. O registro da anta albina em Nova Mutum não só surpreendeu os moradores, como também chamou a atenção de especialistas para a biodiversidade única do Cerrado e da Amazônia.

  • Pesquisa aponta que a maioria dos produtores rurais adota plantas de cobertura

    Pesquisa aponta que a maioria dos produtores rurais adota plantas de cobertura

    Uma pesquisa de opinião realizada pela Embrapa Cerrados mostrou que 74% dos produtores rurais que responderam ao questionário utilizam plantas de cobertura em suas propriedades. No entanto, entre os 26% que não adotaram a tecnologia, praticamente todos estão interessados ​​em considerar o seu uso.

    Dos 709 questionários respondidos, 38% são produtores rurais e 4% são gerentes agrícolas, perfis que foram o foco do trabalho. Sobre as respostas dadas por esses participantes, num total de 300 pessoas, foi feita a análise do questionário. Os demais participantes foram identificados como representantes de universidades e ensino, consultores técnicos, representantes de sistema público de assistência técnica e extensão rural e técnicos de empresas privadas relacionadas ao setor agropecuário.

    grafico

    Para o pesquisador Marcelo Ayres, coordenador da pesquisa, esse foi um bom resultado, tratando-se da primeira experiência com esse tipo de sondagem feita diretamente com os públicos-alvo da tecnologia. “Nosso objetivo é entender os critérios que levam os produtores rurais a adotar ou não as plantas de cobertura em suas propriedades e o nível de conhecimento sobre seus benefícios, além de identificar as dificuldades que eles têm em relação à tecnologia. Para uma primeira aproximação, obtivemos informações importantes, que nos ajudarão a direcionar nossas ações”, explica.

    O pesquisador informa que a ideia é repetir a pesquisa, para acompanhar a situação da adoção das plantas de cobertura no país, como é feito nos Estados Unidos: “Temos uma parceria com o USDA [ Serviço de Pesquisa Agrícola ] e a Universidade da Flórida. Lá eles realizarão pesquisa semelhante há mais de dez anos, com atualizações anuais. Aqui, também comentamos realizar essa sondagem periodicamente”.

    Informações sobre a tecnologia

    Entre os produtores rurais que utilizam plantas de cobertura em seus sistemas agrícolas, aproximadamente 50% adotam essa prática há mais de cinco anos. Outros 30% o fazem há mais de dez anos. Metade dos entrevistados utiliza plantas de cobertura em uma área equivalente a 40% da área agrícola da propriedade.

    Entre as espécies mais usadas, foram citadas a braquiária ruziziensis (57%) e o milheto (54%), seguidas pelo nabo-forrageiro com 37%. Já as culturas comerciais mais plantadas nas propriedades dos entrevistados são o milho e a soja.

    Como fatores mais importantes para ampliar a área com plantas de cobertura na propriedade, os entrevistados apontaram a disponibilidade de sementes comerciais em quantidade, qualidade e procedimento conhecido e informações sobre quais espécies utilizar.

    Em geral, os produtores rurais e gerentes agrícolas percebem diversos benefícios com o uso de plantas de cobertura, dentre os quais se destacam a melhoria do solo – estrutura física, retenção de umidade, redução da compactação, além do aumento da matéria orgânica.

    Com relação à utilização das áreas semeadas com plantas de cobertura para pastejo, 40% responderam que fazem esse tipo de manejo. Outros 7% fazem silagem e 2% produzem feno.

    Quase 70% dos produtores adquiriram sementes para plantio. Enquanto 34% produz sua própria semente. “Essa informação sugere um grande mercado para sementes das espécies de plantas de cobertura”, analisa Ayres.

    Outras questões do questionário abordaram o uso de mistura de coberturas, como formas de cultivo e o manejo das plantas de cobertura e o custo dos preços das sementes.

    Perfil das propriedades

    Considerando as propriedades dos entrevistados, Minas Gerais foi o estado mais representado, seguido do Paraná, São Paulo e Goiás. “Esse dado foi uma surpresa para mim. Pensei que receberíamos mais participação dos estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, destaca o pesquisador da Embrapa Cerrados.

    Quanto à assistência técnica, foi apontada uma diversidade de opções entre consultores particulares, consultores técnicos vinculados a empresas de insumos e equipe técnica própria, enquanto 21% disseram não receber nenhum tipo de assistência.

    A pesquisa

    A pesquisa de opinião foi desenvolvida no âmbito do projeto “ Fertilize 4 Life – Redução da dependência de fertilizantes por meio do uso de leguminosas como plantas de cobertura em sistemas de integração laboral e pecuária” e foi realizada entre novembro e dezembro, por agora on-line.

    O objetivo foi avaliar o nível de adoção de plantas de cobertura em sistemas agrícolas e em pastagens formadas com integração laboral-pecuária (ILP). A divulgação do questionário foi feita por reportagem divulgada na imprensa, cooperação com instituições que atuam com o setor agropecuário, apoio de diversos centros de pesquisa da Embrapa e contato por WhatsApp.

    Marcelo Ayres completa: “O relatório com a análise de todos os dados e informações está sendo elaborado para divulgação completa dos resultados. Temos em mãos um riquíssimo conjunto de informações que ajudam a orientar políticas públicas, novas pesquisas e ações de comunicação e transferência de tecnologia, além de subsidiar o desenvolvimento de práticas agrícolas para reduzir as dificuldades de manejo nos sistemas de produção em todo o país”.

  • Brasil registra em 2024 aumento de 79% de áreas queimadas

    Brasil registra em 2024 aumento de 79% de áreas queimadas

    O Brasil registrou aumento de 79% nas áreas queimadas de seu território, entre janeiro e dezembro de 2024, na comparação com o mesmo período do ano anterior. De acordo com dados do Monitor do Fogo do MapBiomas, divulgados nesta quarta-feira (22), 30,8 milhões de hectares foram afetados pelo fogo nesse período.

    A extensão da área queimada é superior à do território da Itália e a maior registrada desde 2019. O aumento representa crescimento de 13,6 milhões de hectares do que o fogo alcançou em 2023. A maior parte do território brasileiro consumido pelo fogo, 73%, foi de vegetação nativa, principalmente formações florestais.

    Segundo os pesquisadores, o aumento das áreas queimadas está relacionado a um longo período seco enfrentado pelo país em decorrência do fenômeno El Niño – aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico –, que ocorreu entre 2023 e 2024. “’Os impactos dessa devastação expõem a urgência de ações coordenadas e engajamento em todos os níveis para conter uma crise ambiental exacerbada por condições climáticas extremas, mas desencadeada pela ação humana como foi a do ano passado”, explicou a coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar.

    O estado mais atingido pelo fogo no ano passado foi o Pará, seguido de Mato Grosso e do Tocantins, com 7,3 milhões, 6,8 milhões e 2,7 milhões de hectares de área queimada, respectivamente. Somente em dezembro, o país teve área equivalente a território um pouco menor que o Líbano consumida pelo fogo. O período concentrou 3,6% de toda a área queimada no país, com 1,1 milhão de hectares.

    Biomas

    Somente na Amazônia, queimaram-se 17,9 milhões de hectares, o que corresponde a mais da metade, 58%, da área afetada no país. No bioma, cerca de 6,8 milhões de hectares atingidos eram de formação florestal, superando a queima de pastagens, que ficou em torno de 5,8 milhões de hectares. “A mudança no padrão de queimadas é alarmante, pois as áreas de floresta atingidas pelo fogo tornam-se mais suscetíveis a novos incêndios. Vale destacar que o fogo na Amazônia não é um fenômeno natural, nem faz parte de sua dinâmica ecológica, sendo um elemento introduzido por ações humanas”, destaca o pesquisador do MapBiomas Fogo Felipe Martenexen,

    Em dezembro, o bioma Amazônia respondeu por 88% do que se queimou no país, sendo 37,5% de área florestal. Foram 964 mil hectares de Amazônia, das quais 361 mil hectares eram de floresta.

    No Cerrado, queimaram-se 9,7 milhões de hectares, dos quais 85% de vegetação nativa, principalmente formações savânicas. Comparado a 2023, houve aumento de 91% da área queimada, sendo a maior atingida desde 2019. “Historicamente, o Cerrado é um bioma que evoluiu com a presença do fogo, mas o fogo de forma natural, que ocorreria, por exemplo, ocasionado por raios, durante a transição entre a estação seca e a chuvosa. O que se observa é que tem aumentado muito a área queimada, principalmente na época da seca, impulsionada principalmente, por atividades humanas e pelas mudanças climáticas”, afirma Vera Arruda, pesquisadora do Mapbiomas.

    No ano passado, o Pantanal teve 1,9 milhão de hectares atingidos pelo fogo; a Mata Atlântica, 1 milhão hectares; o Pampa, 3,4 mil hectares; e a Caatinga, 330 mil hectares.

    De acordo com o pesquisador do Mapbiomas Eduardo Vélez, desde o início da série histórica, em 2019, esta foi a menor área queimada no Pampa. “Esse padrão está associado aos fortes efeitos do fenômeno El Niño, que, no sul do Brasil, se manifesta de modo inverso Houve grandes acumulados de chuva no primeiro semestre de 2024, quando notavelmente ocorreram as enchentes de maio de 2024”, lembrou Vélez.

  • IPAM vê retrocesso em lei que “converte” Amazônia em Cerrado em Mato Grosso

    IPAM vê retrocesso em lei que “converte” Amazônia em Cerrado em Mato Grosso

    Há um retrocesso na lei aprovada pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso, que converte, no Estado, áreas com cobertura vegetal do bioma Amazônia em Cerrado, na avaliação do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

    Com a mudança, a reserva legal – área que precisa ser mantida com vegetação nativa dentro de uma propriedade – cai de 80%, que é o exigido pelo Código Florestal para a Amazônia, para 35%, limite fixado na transição com o bioma amazônico.

    A nova legislação poderá provocar um aumento no desmatamento estimado em 5,2 milhões de hectares, segundo dado do Observatório de MT, uma área do tamanho da Costa Rica.

    A perda de florestas acentua os impactos das mudanças climáticas, o que por sua vez prejudica a agricultura, que no Brasil, depende em mais de 90% das chuvas. Além disso, há riscos de impacto para a biodiversidade e perdas na captura de carbono.

    “Se o propósito é aumentar a produção, a lei é equivocada e prejudica, numa canetada, Amazônia e Cerrado”, afirma André Guimarães, diretor executivo do IPAM. “Estudos científicos já demonstraram que não é mais necessário derrubar nenhuma árvore para ter mais produtividade no campo. Em muitos casos, os ganhos podem dobrar ou até triplicar apenas restaurando áreas degradadas ou reutilizando pastos abandonados”, acrescenta.

    O Estado abriga, por exemplo, áreas protegidas pelo projeto Conserv, do IPAM, que remunera produtores rurais para manter a vegetação nativa além da reserva legal. Foram, ao todo, 31 contratos assinados com produtores no Pará e em Mato Grosso, somando 24 mil hectares protegidos.

    A proposta de redução da Reserva legal do bioma Amazônia carece de fundamentos técnicos e de uma visão integrada ao planejamento territorial. Há um desafio de monitoramento, tendo sua definição de limites baseada em critérios de altura, dificultando a delimitação. A consolidação dessa decisão pode levar a um desequilíbrio entre a garantia da produção econômica e conservação dos recursos naturais.

    A lei aprovada menciona mapas de vegetação e critérios técnicos, mas não articula com uma política pública integrada de uso do solo. Portanto, há risco de promoção ao uso desordenado do território, conflitos socioambientais, além de comprometer a preservação de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.

    “A lei por si só, isolada de uma estratégia de planejamento territorial embasada em zoneamento ecológico econômico e outros instrumentos de políticas públicas, passa uma mensagem de leniência ao uso descontrolado dos recursos naturais. É um passo na direção contrária que devemos seguir, dada a emergência climática em que vivemos”, avalia Gabriela Savian, diretora adjunta de Políticas Públicas do IPAM.

    O desmatamento precisa ficar no passado. É possível produzir mais e melhor, sem desmatar. Leis que promovem desmatamento deveriam ser rechaçadas pela sociedade.

  • Nova lei em Mato Grosso ameaça a Amazônia e o Cerrado: entenda os impactos

    Nova lei em Mato Grosso ameaça a Amazônia e o Cerrado: entenda os impactos

    Em uma decisão que gerou grande polêmica, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) aprovou na quarta-feira (8) um projeto de lei que altera os critérios de identificação de biomas para fins de uso da terra.

    A nova legislação, que flexibiliza as regras de proteção ambiental, permite que áreas antes classificadas como Amazônia sejam reclassificadas como Cerrado, abrindo caminho para um aumento significativo do desmatamento no estado.

    Segundo o Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT), a mudança pode liberar mais de 9,6 milhões de hectares para exploração, o equivalente a quase 10% do território estadual. A decisão contraria os esforços globais para combater o desmatamento e as mudanças climáticas, e coloca em risco a rica biodiversidade da Amazônia e do Cerrado.

    O que muda com a nova lei em Mato Grosso?

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    O que muda com a nova lei em Mato Grosso? Foto: © Toninho Tavares/Agência Brasília

    A principal alteração diz respeito à classificação da vegetação.

    A nova lei adota o mapa de vegetação do IBGE, com uma escala menor, o que pode levar à reclassificação de áreas de floresta como Cerrado, onde as exigências de preservação ambiental são menores.

    Além disso, a lei permite que produtores rurais reduzam a área de reserva legal em suas propriedades, o que pode incentivar o desmatamento.

    Impactos para o meio ambiente

    Manaus, AM 06/07/2024 Cenas da Amazônia. Floresta margeada pelo Rio Negro Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom Por: Agência Brasil
    Impactos para o meio ambiente Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom Por: Agência Brasil

    A flexibilização das regras ambientais em Mato Grosso tem o potencial de causar graves danos ao meio ambiente.

    O desmatamento desencadeia uma série de problemas, como a perda de biodiversidade, a alteração do clima local, a intensificação de eventos extremos como secas e enchentes, e a emissão de gases de efeito estufa.

    Além disso, a fragmentação dos habitats naturais pode levar ao isolamento de populações de animais e plantas, aumentando o risco de extinção.

    A Amazônia e o Cerrado são dois dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta, e a perda de suas florestas representa uma ameaça para a sobrevivência de milhares de espécies.

  • Mato Grosso lidera desmatamento ilegal na Amazônia e no Cerrado, revela estudo

    Mato Grosso lidera desmatamento ilegal na Amazônia e no Cerrado, revela estudo

    Um recente levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo Instituto Centro de Vida (ICV) revelou dados alarmantes sobre o desmatamento em Mato Grosso. Entre agosto de 2023 e julho de 2024, o estado desmatou cerca de 170 mil hectares de forma ilegal, tanto na Amazônia quanto no Cerrado.

    No Brasil, o Cerrado foi o bioma mais atingido, com um total de 817 mil hectares desmatados. A Amazônia, por sua vez, perdeu 680 mil hectares de floresta.

    Uma das principais formas de desmatamento identificadas no estudo foi a degradação progressiva do fogo. Essa prática causa a perda gradual da vegetação e da biodiversidade, transformando áreas de floresta em pastagens e áreas agrícolas.

    Áreas protegidas não estão seguras em Mato Grosso

    O levantamento mostrou que 78,7% do desmatamento ocorreu em imóveis rurais cadastrados, o que indica que a atividade é legalizada em alguns casos, mas com práticas ilegais. Além disso, 2% do desmatamento aconteceu em Unidades de Conservação (UC), como as Cabeceiras do Rio Cuiabá, que perderam 500 hectares de vegetação nativa.

    Projetos de lei ameaçam a proteção ambiental

    A situação se agrava com a aprovação de projetos de lei que podem legalizar o desmatamento em áreas de preservação ambiental. O substitutivo 3 do PL 18/2024, por exemplo, busca recategorizar áreas da Floresta Amazônica como Cerrado, o que facilitaria o desmatamento nessas regiões.

    Outro projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso permite o desmatamento de até 65% da área do Cerrado e 20% das áreas de floresta na Amazônia Legal.

    O desmatamento em larga escala tem graves consequências para o meio ambiente e para a sociedade. A perda da biodiversidade, a alteração do clima e a intensificação de eventos extremos como secas e enchentes são apenas algumas das consequências desse problema.

  • Área queimada no Brasil até novembro quase dobra em relação a 2023

    Área queimada no Brasil até novembro quase dobra em relação a 2023

    A área queimada no Brasil de janeiro a novembro de 2024 quase dobrou em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados divulgados hoje (15) são do Monitor do Fogo, elaborado pelo MapBiomas, rede colaborativa de universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil.

    Segundo o levantamento, ao todo, foram queimados no período 29,7 milhões de hectares, um aumento de 90% em relação ao mesmo período de 2023 e a maior extensão dos últimos seis anos. A diferença em relação ao ano passado é 14 milhões de hectares a mais, uma área equivalente ao estado do Amapá.

    Para a coordenadora do Monitor do Fogo do MapBiomas Ane Alencar, o aumento desproporcional da área queimada em 2024, principalmente a área de floresta, acende um alerta sobre a necessidade de controlar o uso do fogo, além de reduzir o desmatamento.

    “Precisamos reduzir e controlar o uso do fogo, principalmente em anos onde as condições climáticas são extremas e podem fazer o que seria uma pequena queimada virar um grande incêndio”, explicou Ane.

    Os dados mostram que 57% da área queimada entre janeiro e novembro no Brasil fica na Amazônia. Na região, 16,9 milhões de hectares foram afetados pelo fogo, com 7,6 milhões de hectares de florestas, incluindo florestas alagáveis. A área ficou à frente da extensão das áreas de pastagem queimadas na Amazônia, que totalizaram 5,59 milhões de hectares.

    O Cerrado foi o segundo segmento mais afetado pelas queimadas. No total foram 9,6 milhões de hectares consumidos pelo fogo. Desse montante, 85%, cerca de 8,2 milhões de hectares, em áreas de vegetação nativa. De acordo com os dados, esse número representa um aumento de 47% em relação à média dos últimos 5 anos.

    O Monitor do Fogo mostra que também houve aumento também no Pantanal, onde a área queimada de janeiro a novembro foi 1,9 milhão de hectares e representou um crescimento de 68% em relação à média dos últimos 5 anos.

    “A área queimada nos demais biomas entre janeiro e novembro deste ano foi: 1 milhão hectares na Mata Atlântica, sendo que 71% da área afetada estava em áreas agropecuárias; 3,3 mil hectares no Pampa; e 297 mil hectares na Caatinga – uma diminuição de 49% em relação ao mesmo período de 2023, com 82% das queimadas concentradas em formações savânicas”, informou o MapBiomas.

    Estados

    O Pará foi o estado que mais queimou nos 11 primeiros meses deste ano, com 6,97 milhões de hectares. Esse total equivale a 23% de toda a área queimada no Brasil e a 41% do que foi queimado na Amazônia entre janeiro e novembro. Na sequência vem Mato Grosso, com 6,8 milhões de hectares. Em terceiro lugar está o Tocantins, onde 2,7 milhões de hectares foram atingidos por queimadas. Juntos, esses três estados totalizaram 56% da área queimada no período no país.

    Entre os municípios São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) foram registradas as maiores áreas queimadas entre janeiro e novembro de 2024, com 1,47 milhão de hectares e 837 mil hectares, respectivamente.

    “Em todo o país, o fogo atingiu prioritariamente áreas de vegetação nativa, que representam 73% do total. Um quarto (25%) da área queimada no Brasil foi em florestas. Entre as áreas de uso agropecuário, as pastagens se destacaram, com 6,4 milhões de hectares entre janeiro e novembro de 2024, representando 21% do total nacional”, disse o MapBiomas.

    Os dados sobre queimadas registrados no mês de novembro, apontam que 2,2 milhões de hectares foram queimados no mês passado, uma área equivalente ao estado de Sergipe. O volume corresponde a 7,4% de toda a área queimada no Brasil de janeiro a novembro de 2024.

    A maior concentração foi na Amazônia, com 1,8 milhão de hectares, representando 81% do total queimado no mês. Quase metade (48%) da área queimada em novembro fica no Pará, onde 870 mil hectares foram afetados pelo fogo. O Maranhão, com 477 mil hectares e o Mato Grosso, com 180 mil hectares, são o segundo e o terceiro estados com maior área queimada em novembro.

    “Os três municípios que mais queimaram no Brasil em novembro ficam no Pará: Oriximiná (81 mil hectares), Moju (54 mil hectares) e Nova Esperança do Piriá (50 mil hectares). Em Santarém, foram queimados 10,7 mil hectares em novembro – mais de 277% em relação a outubro deste ano, atingindo 2,8 mil hectares no município. Apesar desse grande crescimento de um mês para o outro, a área queimada em novembro de 2024 está abaixo do mesmo período no ano passado, quando 54,7 mil hectares foram atingidos pelo fogo em Santarém”, aponta o MapBiomas.

    Em relação aos outros biomas, o Cerrado foi o segundo mais atingido, onde 237 mil hectares foram queimados em novembro. Áreas de vegetação nativa representaram 74% desse total, ou 175 mil hectares, principalmente formações savânicas, com 96 mil hectares e formações florestais, com 63 mil hectares.

    No Pantanal, a área atingida pelo fogo em novembro foi 98 mil hectares, 87% em áreas de formação campestre. Na Mata Atlântica, 12,5 mil hectares foram queimados em novembro, principalmente em áreas de várzea (35% ou 4,4 mil hectares).

  • Diferentes cenários mostram como o trigo avança no Cerrado Brasileiro

    Diferentes cenários mostram como o trigo avança no Cerrado Brasileiro

    Com uma área próxima a 450 mil hectares na safra 2024, o trigo tropical vem ganhando espaço no Cerrado nos últimos anos. O cultivo está crescendo em diferentes ambientes, onde cada região tem particularidades que orientam o avanço da triticultura tropical no Brasil. Veja na reportagem como evolui a produção e a comercialização de trigo nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.

    Na produção agrícola do Brasil Central, o trigo tem sido utilizado como alternativa na rotação de culturas com grãos e hortaliças para quebra do ciclo de previsões e doenças. A geração de tecnologias e a transferência de conhecimentos garantiram o crescimento de 119% na área e de 95% na produção de trigo tropical nos últimos sete anos (Conab 2018-2024). O crescimento é resultado da oferta de cultivares e conhecimentos em manejo, desenvolvidos por diferentes empresas que atuam na pesquisa e na assistência técnica em trigo tropical.

     Plante trigo para colher feijão

    Para produzir feijão na região de Goiás, foi preciso encontrar uma cultura capaz de interromper o ciclo de doenças como antracnose, fusariose, mofo branco ou, ainda, nematoides no solo, além de fazer a recuperação do solo. “O cultivo de feijão estava se tornando inviável no começo dos anos 1990. Apesar do bom preço, as produtividades vinham diminuindo nas áreas com monocultivo de feijão. Precisávamos aprimorar o sistema de rotação de culturas e o trigo surgiu como a melhor alternativa”, conta o engenheiro agrônomo da Coopa-DF, Cláudio Malinski. Além da disponibilidade de sementes e da garantia de compra do trigo produzido, a cooperativa iniciou uma campanha com o slogan “Plante trigo para colher feijão”, explicando técnicos a importância de inserir o cereal de inverno no sistema de produção. “Mais tarde, o trigo benéfico também para a soja, ajudando no controle de plantas específicas como buva e capim amargoso. Temos resultados de até seis sacos a mais de soja após o cultivo do trigo”, conta Cláudio.

    A entrada do trigo na Coopa-DF ocorreu à construção do moinho, em 1994, que passou a agregar ainda mais valor à produção. Hoje o trigo representa 9% do volume de grãos que a cooperativa recebe e 33% no faturamento geral. “Sem o trigo, seria impossível manter o sistema produtivo com grãos na região”, conclui Cláudio Malinski.

    Trigo como protagonista

    Entre os cooperados da Coopa-DF estão os produtores Paulo Bonato e o filho Luis Felipe Bonato, com fazendas de grãos em Cristalina/GO e Planaltina/DF. Na rotação, são culturas como soja, milho, feijão e trigo (sequeiro e irrigado). “Meu pai e meu avô trabalharam com hortaliças também. Financeiramente, produzir hortaliças é mais vantajoso, mas agronomicamente não é sustentável no longo prazo”, explica Paulo Bonato.

    O trigo irrigado chegou ao sistema de produção da família Bonato há 30 anos, com evolução gradual na área destinada ao cultivo. Nos anos 1990, eram 50 hectares (ha), passando para 100 ha nos anos 2000, chegando a 200 ha em 2024. “O tamanho da área pode aumentar ou diminuir, mudando em função da rotação dos pivôs”, conta Paulo Bonato, lembrando que “à medida que a área aumenta, também aumenta os problemas, já que a pressão no ambiente revelada na maior incidência de doenças, como a brusone”. A estratégia do produtor para escapar da brusone (principal doença do trigo tropical) foi ajustar os dados de semeadura, semeando o trigo de sequeiro após 10 de março e o trigo irrigado após 10 de maio A colheita em 2023 chegou a 27 sacos por hectare (sc/ha) de média no trigo. de sequeiro e um 138 sc/ha no trigo irrigado “O rendimento mais baixo no trigo de sequeiro é compensado pela qualidade e o menor custo, além da palhada que o trigo deixa para próxima cultura, ajudando a reduzir plantas que são de difícil controle em outras culturas”, afirma o produtor, lembrando que o custo de produção no trigo irrigado pode chegar a 100 sc/ha, contabilizando até seis aplicações de fungicidas, enquanto no sequeiro, algumas vezes, o custo empata com os ganhos, mas o trigo acaba trazendo benefícios para o sistema de produção.

    Em função do trigo, a família Bonato fez ajustes no sistema de segurança para suprir a demanda que atinge cerca de 500 mm de água por hectare no trigo irrigado. “Investimos em sensores que monitoram a umidade do solo para acionar os pivôs. Um sistema que reduz o consumo de água e de luz, além de suprir o trigo no momento de maior demanda das plantas”, explica Luis Felipe Bonato.

    Rotação com hortaliças

    Em diversas regiões do Cerrado, o trigo irrigado é utilizado na rotação com culturas como feijão e hortaliças, como batata, cenoura, cebola e alho. “O trigo é candidato preferido na rotação porque reduz os principais problemas no cultivo, já que consegue quebrar o ciclo de doenças de solo, como o podridão de esclerotínia ou mofo branco e a fusariose, além de inibir a multiplicação de determinados nematoides”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Chagas.

    A sede da cooperativa Coopadap está localizada em São Gotardo, MG. A cidade é conhecida como “capital nacional da cenoura” e responde por aproximadamente 70% da produção nacional de cenoura. Em 2023, os cooperados da Coopadap cultivaram 1.300 hectares de cenoura e 1.600 hectares de alho, culturas de alto valor agregado que movimentam a economia da região, cuja produção é voltada ao mercado nacional e internacional. O trigo irrigado foi utilizado em 3.800 hectares, principalmente em áreas para rotação de culturas.

    De acordo com o gerente de pesquisa da Coopadap, Luciel Dezordi, a rotação beneficia tanto o trigo quanto as hortaliças. “O trigo consegue aproveitar o resíduo de adubo deixado pela cenoura, formando um trabalho de menor custo com alto potencial de rendimento. Por outro lado, as raízes do trigo podem chegar a quase um metro de profundidade, melhorando o solo para o cultivo das hortaliças”, diz Luciel.

    Seca ainda é o maior adversário

    A região do Cerrado é marcada por duas estações: a estação das águas (primavera/verão) e a estação seca (outono/inverno). A semeadura do trigo começa no final das chuvas, nos meses de março e abril no cultivo de sequeiro, e de abril a junho no cultivo irrigado. “Antecipar esta semelhança, aumenta os riscos para a incidência de brusone, mas se protelar muito, falta água para implantar a lavoura e pode comprometer o desenvolvimento das plantas”, explica o pesquisador Vanoli Fronza, da Embrapa Trigo. Segundo ele, o clima quente e seco dos últimos anos tem desafiado o manejo do produtor: “A chuva cessou mais cedo neste ano, prejudicando o desenvolvimento das plantas e causando queda no peso do hectolitro (PH), resultando em grãos pequenos e leves no trigo de sequeiro. O calor também acelerou o ciclo das plantas, antecipando a colheita”.

    Na Fazenda Jaguarandi, em Ponta Porã, MS, foram cultivados 1.890 ha com trigo de sequeiro nesta safra mas, com apenas 70mm de chuvas, muitas áreas precisaram ser replantadas. “No ano passado, a média de produtividade ficou em 50 sc/ha e neste ano fechou em 15 sc/ha”, lamenta o responsável técnico da fazenda, Rodrigo do Amaral. Apesar da frustração, o trigo deve seguir dividindo espaço com o milho na rotação de culturas no inverno: “Sabemos a importância da grama no inverno para manter os rendimentos da soja no verão e não podemos apostar somente no milho. É preciso diversificar para diluir os riscos”, diz Rodrigo.

    Na Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) da Coopadap, o responsável Marcelo Guerra também sente os impactos do clima seco e quente que está afetando o trigo no Cerrado: “Historicamente, o trigo chegava na UBS nos meses de julho e agosto. Nas últimas safras, recebemos trigo a partir de junho, prolongando o tempo que as sementes ficarão guardadas. As temperaturas mais altas no inverno também favoreceram os carunchos, exigindo, pela primeira vez, investimento em expurgo para controle de legislações nos orgânicos”.

    Em 2023, a média de rendimento do trigo de sequeiro em MS era de 46 sc/ha, enquanto em 2024 ficou em 18 sc/ha. O calor também aumentou a evaporação da água no cultivo irrigado, aumentando os custos de produção. Em geral, a produtividade média nas lavouras de GO, MG e DF deverá oscilar entre 30 sc/ha nos cultivos de sequeiro e 115 sc/ha no trigo irrigado.

    O desenvolvimento de cultivares mais adaptadas à seca e ao calor é imperativo em programas de melhoramento genético para trigo tropical. O crescimento na oferta de cultivares passou de 17 na década de 1990 para 33 cultivares em 2023. Para o pesquisador Joaquim Soares Sobrinho, a cultivar de trigo de sequeiro BRS 404, lançada em 2015, é uma prova deste esforço: “A BRS 404 tem mostraram um desempenho superior em condições de déficit hídrico, com rendimentos até 12% superiores quando comparados às demais cultivares utilizadas na região”, conta Joaquim. Outro destaque da pesquisa é a cultivar de trigo irrigado BRS 264, lançada ainda em 2005, que possibilitou a colheita sete dias antes do que as demais cultivares disponíveis no mercado na época, permitindo economia de água. “Trabalhamos hoje, além do melhoramento genético, com novas tecnologias em marcadores moleculares e transgenia. Acredito que logo o trigo tropical vai passar por uma revolução através das cultivares que estão em processo final de seleção”, conclui o pesquisador.

    Do produtor direto para a indústria

    O clima quente e seco que afeta o trigo na lavoura, pode favorecer as operações na indústria moageira. “O trigo sai da lavoura com menos de 12% de umidade e elimina a etapa de secagem quando chega na indústria. Vai do caminhão direto para o silo e parte para a moagem”, conta a diretora da Talita Alimentos, Maiko Priamo. A indústria, com base no sudoeste do Paraná, chegou a Dourados, MS, em 2021, instalando uma planta para mais de 90 toneladas de trigo/dia. “Utilizamos 95% de trigo nacional, mas queremos ampliar ainda mais a compra do trigo tropical produzido na região para suprir parte da demanda do nosso outro moinho instalado no Paraná”, informa Maiko. A próxima meta da Talita Alimentos é construir uma unidade cerealista para fazer a logística dos grãos.

    No Moinho Sete Irmãos, com sede em Uberlândia, MG, o contato direto com os produtores garante a uniformidade do produto final. A expectativa é que a entrada de novos operadores na triticultura tropical aumente a oferta de trigo de qualidade na região: “Há dez anos, falávamos em 80 mil toneladas de trigo produzido no Cerrado. Agora falamos das 450 mil toneladas. O crescimento tem garantido o fornecimento de 95% do moinho com trigo produzido no triângulo mineiro, facilitando a logística e gerando renda na região”, avalia o gerente comercial Max Mahlow. A seca nesta safra preocupa o gestor, por isso ele justifica a necessidade de ampliar a produção em todo o Cerrado.

    De olho neste mercado, a cooperativa Cooperalfa, com sede em Chapecó, SC, chegou ao Mato Grosso do Sul em 2014. O objetivo inicial era fomentar milho para abastecer a indústria de suínos e aves em Santa Catarina, mas a cooperativa passou a contar com uma fábrica de rações instaladas em Dourados, MS, suprindo os cooperados no modelo de integração e também para as matrizes em Sidrolândia, MS. Agora o trigo é alvo, inicialmente para ser destinado ao moinho da Cooperalfa em Santa Catarina: “O trigo produzido em MS pode suprir parte das necessidades do moinho, principalmente em anos de frustração climática com o trigo no Sul”, informa o engenheiro agrônomo da Cooperalfa, Luan Pivato, destacando também as características de qualidade do trigo produzido em MS. Avaliando o aspecto econômico do negócio de moagem, ele destaca que é mais barato importar trigo, mas o cultivo do cereal na região é necessário para a sustentabilidade da produção de grãos: “O produtor de MS trabalha somente com soja e milho há muitos anos no sistema de produção. Quando colocamos o trigo no sistema, temos vários benefícios agronômicos como ciclagem de nutrientes e manejo de plantas específicas. Os resultados do trigo refletem na produtividade da soja e do milho a longo prazo”.

    Conforme estimativa do pesquisador Cláudio Lazzarotto, da Embrapa Agropecuária Oeste, se utilizado apenas 1% da área de milho safrinha para cultivo do trigo em sucessão à soja, o estado de Mato Grosso do Sul teria cerca de 210 mil ha com trigo/ano, considerando apenas os dez municípios com melhores condições de altitude, solo e temperatura desenvolvidos ao trigo. “O objetivo não é substituir toda a produção de milho, mas fazer rotações de gramíneas para o maior sucesso no sistema produtivo com diferentes alternativas de mercado ao produtor”, argumenta Lazzarotto.

    Crescimento em todos os elos

    Na Sementes Jotabasso, o trigo entrou para complementar o portfólio e oferecer uma alternativa adicional na safra de inverno aos produtores. Voltada à comercialização de sementes de soja e de sorgo, a empresa começou a produzir sementes de trigo há cerca de três anos e mantém uma área expressiva de sua produção dedicada à cultura. De acordo com o gerente de produção da unidade Jotabasso em Ponta Porã, MS, Guilherme de Souza, as sementes de trigo são destinadas principalmente aos mercados de SP, PR e MS. “Vimos a demanda de trigo em MS crescer 50% em relação ao ano passado, isso mostra o interesse do produtor em investir na cultura”, observa Guilherme.

    Na Sementes Aurora, de Cristalina, DF, o trigo começou para o negócio há 15 anos, com 80 hectares. Na safra 2023, a produção de sementes chegou a 800 hectares com trigo de sequeiro e 700 hectares com trigo irrigado. Mesmo com o aumento na demanda, a taxa de uso de semente certificada no trigo tropical está estimada em 50% na região. “O custo alto da semente resulta, principalmente, da necessidade de fazer um bom investimento em fertilizantes para produzir semente de qualidade. O preço e a dificuldade de obter algumas cultivares levam o produtor a salvar grãos para usar como semente na próxima safra. Mas acredito que o produtor está ficando mais consciente, não apenas do valor de investir em semente de qualidade, mas também de investir na labora. O trigo tropical tem retorno financeiro na maioria dos anos”, avalia o engenheiro agrônomo Moacir Messias.

  • Tamanduá-bandeira albino se camufla na paisagem seca do Cerrado!

    Tamanduá-bandeira albino se camufla na paisagem seca do Cerrado!

    Prepare-se para se encantar com um tamanduá-bandeira albino! Um vídeo que está comovendo as redes sociais mostra um dos animais mais raros do Brasil em um momento único. Alvinho, foi flagrado em meio à paisagem seca do Cerrado, em um momento de perfeita harmonia entre o animal e seu habitat.

    As imagens, capturadas pela bióloga Alessandra Bertassoni, mostram o tamanduá caminhando tranquilamente, quase se confundindo com a vegetação ao seu redor.

    A albinismo de Alvinho, uma condição genética que reduz a produção de melanina, o torna extremamente raro. No entanto, essa característica, que o torna mais sensível ao sol, também o torna um mestre da camuflagem em determinados ambientes.

    As imagens capturadas pela bióloga Alessandra Bertassoni demonstram como a pelagem branca de Alvinho se funde perfeitamente com a vegetação seca do Cerrado, criando um efeito visual impressionante.

    A albinismo de Alvinho, uma condição genética que reduz a produção de melanina, o torna extremamente raro
    A albinismo de Alvinho, uma condição genética que reduz a produção de melanina, o torna extremamente raro

    Conheça o tamanduá-bandeira albino

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    Um tesouro da natureza

    A descoberta de Alvinho trouxe uma nova dimensão para esse trabalho, permitindo aos pesquisadores aprofundar seus conhecimentos sobre a espécie e suas adaptações ao ambiente.
    A descoberta de Alvinho trouxe uma nova dimensão para esse trabalho
    (Foto: Alessandra Bertassoni)

    O monitoramento de Alvinho é de extrema importância para os pesquisadores do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS). Ao estudar o comportamento e as necessidades desse animal único, os cientistas podem obter informações valiosas sobre a biologia dos tamanduás-bandeira e contribuir para a conservação da espécie.

    Além disso, o caso de Alvinho tem despertado o interesse do público para a importância da preservação do Cerrado, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta.

    O projeto Bandeiras e Rodovias, responsável pelo monitoramento de Alvinho, tem como objetivo estudar a população de tamanduás-bandeira no Cerrado e desenvolver estratégias para reduzir o número de atropelamentos desses animais.