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  • IBGE analisa dados sobre a biodiversidade brasileira

    IBGE analisa dados sobre a biodiversidade brasileira

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibiliza – a partir desta quinta-feira (23) – uma avaliação de dados sobre a biodiversidade no Brasil em 2022. Inédito, o estudo mapeou registros de ocorrência da fauna e da flora oriundos de diferentes fontes e inseridos no Sistema de Informação da Biodiversidade Brasileira (SiBBr).

    Foram analisados mais de 22,5 milhões de registros de ocorrência da fauna e da flora, provenientes de diversas fontes. Os grupos taxonômicos observados foram anfíbios, artrópodes, aves, fungos, mamíferos, moluscos, peixes ósseos, plantas vasculares e répteis. O Brasil está entre os 17 países que abrigam mais de 70% das espécies conhecidas no planeta, mas, segundo o IBGE, ainda há muito a descobrir e catalogar.

    Por se tratar de uma investigação experimental, aperfeiçoamentos serão feitos a partir da recepção dos usuários. Leitores interessados na temática podem escrever ao IBGE suas percepções, críticas e sugestões que podem ser realizadas através do canal de atendimento oficial do instituto.

    Ecossistemas brasileiros

    O SiBBr – plataforma do governo federal gerenciada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – foi criada em 2014 com a função de armazenar e disponibilizar informações sobre a biodiversidade e os ecossistemas brasileiros.

    A ferramenta fornece subsídios aos órgãos públicos para a conservação e sustentabilidade. Instituições nacionais de ensino e pesquisa, públicas ou privadas, projetos e programas de pesquisas e redes temáticas são os principais provedores de dados para o SiBBr.

    O sistema faz parte da Global Biodiversity Information Facility, iniciativa multilateral com aproximadamente 60 países.

    “Há uma demanda muito grande, dentro e fora do Brasil, por informações sobre a biodiversidade nacional. O objetivo do estudo foi avaliar o conjunto de informações disponíveis no SiBBr, identificando lacunas e limitações dos dados. O IBGE tem a missão de retratar o Brasil e a biodiversidade é uma peça fundamental desse retrato. Além de contribuir com SiBBr através de coleções biológicas mantidas pelo IBGE, também temos procurado avançar na produção de estatísticas”, explicou, em nota, Leonardo Bergamini, analista de biodiversidade do IBGE.

    Os publicadores dos dados foram divididos em quatro categorias: Ciência Cidadã (registros publicados por uma comunidade de usuários), Coleções Biológicas (repositórios de organismos ou amostras organizadas para fins científicos), Projetos ou Programas de Pesquisa (resultados de pesquisas científicas) e Outros (não se enquadram em nenhuma das categorias supracitadas).

    Aves e plantas

    Nos grupos analisados, à exceção de aves, o número de registros com informações completas não chega a 30% do total de dados disponíveis. Aves e plantas, grupos mais facilmente detectados e coletados, apresentaram maior número e melhor distribuição dos registros, enquanto artrópodes, moluscos e fungos tiveram uma amostragem menos representativa.

    Clara Fonseca, analista de Negócios do SiBBr, reforça a relevância de parcerias como a do IBGE com o sistema na difusão do conhecimento sobre biodiversidade no país.

    “Precisamos que mais pessoas conheçam o SiBBr, de modo que os dados possam ser utilizados pela sociedade em políticas públicas de preservação do meio ambiente. Quanto mais visibilidade o sistema tiver, maior será o número de pesquisadores estimulados a divulgar suas descobertas”, explicou.

    “Existem muitos trabalhos que fazem avaliação de bancos de dados, mas a maioria deles analisa grupos específicos. Um dos diferenciais desta pesquisa é o fato de estarmos trabalhando com o país inteiro, abrangendo nove grupos taxonômicos, informações espaciais e temporais. Nossa intenção é identificar os problemas, entender o que temos e o que pode ser melhorado”, argumentou Mariza Pinheiro, analista de Biodiversidade do IBGE.

    Edição: Kleber Sampaio
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  • Projeto educativo apresenta biodiversidade do Cerrado

    Projeto educativo apresenta biodiversidade do Cerrado

    Seis crianças e adolescentes de diferentes regiões brasileiras conheceram, nesta sexta-feira (27), um pouco da biodiversidade do Cerrado fora dos livros, em uma experiência imersiva no Jardim Botânico de Brasília (JBB). Na trilha ecológica, um guia profissional apresentou a fauna e a flora do bioma em sementes, nascentes e curso d’água, pequenos animais, como um tatu, e árvores típicas aos jovens e a seus professores. Todos viajaram a Brasília a convite da Embaixada da França no Brasil, por serem vencedores do programa FrancEcolab Brasil 2023.

    O objetivo do programa é despertar jovens e educadores brasileiros para a importância da preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável do planeta. Os ganhadores da terceira edição do projeto foram apelidados de ecocidadãos pelos organizadores da iniciativa por contribuírem para a melhoria e conservação do planeta para as gerações futuras.

    Durante a caminhada de 1,8 quilômetro (km) pela Trilha Krahô do JBB (nome que homenageia o povo indígena de Tocantins), estudantes e professores revelaram que a educação ambiental, aos poucos, tem promovido mudanças na vida de deles, como a redução de consumo, o reúso de alguns recursos, a reciclagem de produtos e o combate ao desperdício. Com isso, muitos dizem que se tornaram mais conscientes do papel individual que têm.

    Maria Clara Soares, aluna do 5º ano da Escola Municipal Anísio Teixeira de Niterói, no Rio de Janeiro, descobriu-se como multiplicadora de conhecimentos. “Minha visão mudou, e sei que a gente tem que reciclar mais e tentar economizar recursos para preservar espécies de plantas e animais. Agora, tenho repassado esse projeto para as outras turmas da minha escola.”

    Brasília (DF), 27/10/2023 - A estudante Andrya Pietra Sousa, que participa de programa educativo desenvolvido pela da Embaixada da França, durante visita guiada ao Jardim Botânico de Brasília para conhecer a fauna e a flora do Cerrado. Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilBrasília (DF), 27/10/2023 – A estudante Andrya Pietra Sousa, que participa de programa educativo desenvolvido pela da Embaixada da França, durante visita guiada ao Jardim Botânico de Brasília para conhecer a fauna e a flora do Cerrado. Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilA estudante amazonense Andrya destaca importância da preservação das florestas – Marcelo Camargo/Agência Brasil

    Andrya Pietra Sousa de Jesus, que está no primeiro ano do ensino médio de uma escola pública de Manaus e é uma das ganhadoras do FrancEcolab Brasil, lembrou que, neste ano, presenciou por alguns dias o céu manauara tomado pela fumaça de queimadas na Floresta Amazônica. Ao participar do programa, Andrya disse que passou a valorizar mais a natureza que cerca a cidade onde vive. “Aprendi a importância de preservarmos nossas florestas, a importância de ter um convívio melhor com o meio ambiente. A gente precisa da floresta, precisa da Mata Atlântica, da Amazônia, do Cerrado, do Pampa, para viver. Mas as pessoas não estão dando tanta importância a isso e consideram a cidade como mais importante, como se isso fosse a solução de tudo.”

    Sua professora na Escola José Carlos Mestrinho, a francesa Kadidiatou Sow, que vive há um ano no Brasil, disse que já tinha consciência ambiental ao reciclar o lixo doméstico, mas ficou surpresa com pessoas jogando lixo no chão, com o uso abusivo de plástico e com a falta de educação ambiental mesmo para quem vive a Amazônia brasileira. A professora de língua estrangeira destacou, porém, que oficinas, visitas de especialistas e material de apoio oferecido pelo programa já contribuem para mudar a realidade de docentes e de alunos. “Percebi que eles saíram desse projeto com mais conhecimento. E acho que o mais importante é educar nossas crianças, porque eles são o futuro, e são eles que irão incentivar e ser parte dessa mudança de que precisamos tanto.”

    Vinda de Macapá, a professora Flávia de Jesus dos Santos Pontes informou que a Escola Estadual Professora Marly Maria e Souza Silva foi premiada nas duas primeiras edições do programa. Em 2023, o projeto vencedor, o livro A Onça-Pintada Jussara e Seus Amigos contra O Terror das Matas, foi confeccionado com material reciclável, sementes de fruta e de legumes, como abóboras. Flávia percebeu uma mudança de consciência dos alunos a partir dessa experiência. “Fizemos a reciclagem de materiais para elaborar o livrinho do projeto e, então, eles aprenderam questões de preservação e de reciclagem para que não joguem lixo no chão, separem o lixo, como papel, plástico e vidros. Vamos trabalhando tudo isso com eles em sala de aula.”

    Na visita à capital federal, o estudante do primeiro ano do ensino médio do Colégio Liceu Franco-Brasileiro do Rio de Janeiro João Vitor Lopes ajudou a plantar mudas de ipê amarelo no Jardim Botânico. Para João Vitor, o planeta ainda tem jeito, mas o FrancEcolab Brasil despertou nele um senso de urgência para reverter processos de degradação ambiental. “Entendi que a situação precisa ser mudada agora, porque pode ser que não tenhamos tempo para isso. Então, nós, os adolescentes e as crianças, somos responsáveis por essa mudança. Sem nós, realmente não vai ter como efetivamente salvar as florestas do Brasil. Procuro sempre desenvolver práticas sabidamente boas para o meio ambiente, como a reciclagem, no colégio, em casa e no meu prédio.”

    Brasília (DF), 27/10/2023 - A estudante Sofia Diniz, que participa de programa educativo desenvolvido pela da Embaixada da França, durante visita guiada ao Jardim Botânico de Brasília para conhecer a fauna e a flora do Cerrado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
    A mineira Sofia fez pequenas mudanças, como fechar a torneira ao escovar os dentes – Marcelo Camargo/Agência Brasil

     

    Pequenas mudanças de hábitos, como fechar a torneira ao lavar os cabelos compridos e escovar os dentes, foram adotadas pela Sofia Diniz, estudante do 8º ano do ensino fundamental de Contagem, em Minas Gerais, desde que começou a participar do projeto francês. Agora, Sofia tenta influenciar os familiares para ter rotinas mais ecológicas e sustentáveis.

    “Se continuarmos no estágio em que estamos, teremos a ebulição global e não vai haver mais espécies de plantas, não vai ter mais oxigênio necessário para a gente sobreviver ou conseguir ter uma vida estável e boa também”, teme Sofia.

    O professor Brian Diniz Amorim disse que aprecia o protagonismo jovem na busca de soluções para problemas que impactam a humanidade. “Como professor, vejo que conseguimos propiciar aos alunos a oportunidade de pensar a nível científico em problemas muito complexos e buscar uma solução própria deles para esses problemas, em que eles são os protagonistas para a solução.”

    “Volta e meia, nos deparamos com desafios muito imponentes, e os alunos, por meio da mobilização de todos os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos de escolarização, têm possibilidade de pensar em uma solução para um problema muito complexo”, acrescenta Brian Amorim, professor na escola de Sofia.

    O FrancEcolab Brasil é interdisciplinar e, por isso, puderam participar do programa, professores de diversas disciplinas, além do francês. No Liceu Franco-Brasileiro, do Rio, a professora Heloísa Helena Leal Azevedo revelou que esse envolvimento maior contagiou toda a escola e acirrou a disputa interna para participar do programa. “É uma guerra. E a gente tem que educar os alunos para que eles possam saber preservar o que nós temos. E os professores também passam por essa educação. Depois que participam, acho que o conhecimento deles cresce muito.”

    O diretor de Biodiversidade do Jardim Botânico de Brasília, Estevão do Nascimento Fernandes de Souza, que guiou os visitantes pela Trilha Krahô, quis tornar a experiência transformadora ao mostrar detalhes que costumam passar despercebidos no bioma do Cerrado. Souza aposta no potencial das crianças para proteger e respeitar o meio ambiente. “Fornecemos a educação de base e, assim, elas conseguem multiplicar esse conhecimento quando chegam em casa. E a gente vê que as crianças estão mais interessadas em entender. Elas perguntam mais e interagem mais com a gente.”

    FrancEcolab

    Brasília (DF), 27/10/2023 - Crianças e professores que participam de programa educativo desenvolvido pela da Embaixada da França fazem visita guiada ao Jardim Botânico de Brasília para conhecer a fauna e a flora do Cerrado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
    Brasília (DF), 27/10/2023 – Crianças e professores que participam de programa educativo desenvolvido pela da Embaixada da França fazem visita guiada ao Jardim Botânico de Brasília para conhecer a fauna e a flora do Cerrado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

    Criado em 2021 pela Embaixada da França no Brasil, o FrancEcolab é um programa educativo destinado a estudantes de escolas brasileiras públicas e privadas bilingues, com ensino de francês e português.

    Nos dois anos anteriores foram abordados temas que envolviam a proteção dos oceanos e rios e o combate aos microplásticos. A terceira edição teve como tema As Florestas do Brasil: Preservar a Biodiversidade. De acordo com a Embaixada da França, em 2023, a iniciativa reuniu mais de mil estudantes, de 7 a 18 anos, dos ensinos fundamental e médio, de 57 escolas públicas e privadas de todo o Brasil, que participaram de oficinas, passeios, visitas a laboratórios, palestras e formação online e concursos ao longo deste ano.

    A assessora de Cooperação Educacional da Embaixada francesa, Laura Le Mounier, explicou porque o foco do projeto está no público infantojuvenil. “O programa permite formar uma geração de ecocidadãos. Eles estão muito animados com esse tema. E é gratificante ver que estão modificando essas mentes, essas mentalidades para um olhar mais ambiental.”

    “O futuro do planeta depende das gerações futuras, também porque eles são o público alvo, porque são muito mais abertos, muito mais facilmente conscientizados e logo vão conscientizar os pais e os adultos do entorno deles. Então, para mim, é uma ferramenta essencial para contribuir para evolução e conscientizar a população sobre as temáticas em favor da preservação do meio ambiente”, declarou Hélène Ducret, adida de Cooperação Educativa da Embaixada da França.

    Nos três dias que marcam o encerramento desta edição, Hélène Ducret fez um balanço dos trabalhos realizados. “Percebemos o interesse de meninas e meninos, das famílias, das equipes pedagógicas e também dos responsáveis pelas escolas e secretarias de Educação. Para todos eles, agora, a educação em favor do meio ambiente se tornou uma necessidade. Então, o programa corresponde muito bem às necessidades que eles idealizaram para fomentar transformações dentro da escola. Há ainda efeito sobre a didática e a pedagogia. Os professores que participam dos projetos, agora, passaram a ter o costume de trabalhar juntos e gostam muito disso.”

    Todos os projetos ganhadores do FrancEcolab 2023 serão conhecidos neste sábado (28), em uma cerimônia em Brasília, no Liceu francês François Mitterrand, às 11h.

    Edição: Nádia Franco
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  • Ecóloga paraense defende fortalecimento de comunidades da Amazônia

    Ecóloga paraense defende fortalecimento de comunidades da Amazônia

    A ecóloga paraense Ima Vieira, que participará de plenária no Diálogos Amazônicos, no próximo domingo (6), em Belém, no Pará, defende a necessidade de políticas públicas para zerar o desmatamento e fortalecer bioeconomias. 

    “[Os desafios] exigem uma revolução de infraestrutura científica e o reconhecimento do papel das comunidades locais em um projeto para a região”, afirmou a ecóloga em entrevista à Agência Brasil. Ela é pesquisadora do Museu Emílio Goeldi (https://www.gov.br/museugoeldi/pt-br), referência da ciência, sediado na capital paraense.

    Ima sustentou que as comunidades tradicionais amazônicas ocupam e são responsáveis pelo manejo de 45% do território. “A Amazônia é relevante para o Brasil e o mundo. É a maior floresta tropical e abriga a mais ampla sociobiodiversidade do planeta”, frisou.

    Diversidades

    Para a pesquisadora, a Cúpula Amazônica – nos dias 8 e 9 – e o evento prévio Diálogos Amazônicos (de 4 a 6 deste mês), no Hangar Centro de Convenções, oferecem uma excelente oportunidade para o desenvolvimento de uma agenda para a região com o princípio de reconhecimento da diversidade biológica, cultural, étnica e estrutural.

    Confira programação dos eventos.

    Ela considerou como necessário o fortalecimento de uma agenda integrada inovadora, com suporte às instituições científicas estabelecidas na região.

    “A minha expectativa é a de que, a partir desse importante evento, as instituições e o capital humano da região saiam mais fortalecidos e suas propostas sejam consideradas pelos presidentes dos países pan-amazônicos”, destacou.


    Brasília (DF) - A ecóloga paraense Ima Vieira que participará de plenária no Diálogos Amazônicos, no próximo domingo (6), em Belém (PA), defende necessidades de políticas públicas para zerar desmatamento e fortalecer bioeconomias. Foto: Museu Emílio Goeldi/Divulgação
    Brasília (DF) - A ecóloga paraense Ima Vieira que participará de plenária no Diálogos Amazônicos, no próximo domingo (6), em Belém (PA), defende necessidades de políticas públicas para zerar desmatamento e fortalecer bioeconomias. Foto: Museu Emílio Goeldi/Divulgação

    Ima Vieira participará de plenária no Diálogos Amazônicos, no próximo domingo, em Belém. Foto –  Museu Emílio Goeldi/

    Pesquisa na Amazônia

    A cientista Ima Vieira está confirmada para o próximo domingo, de 9h às 12h, na plenária com o tema “Mudança do clima, agroecologia e as sociobioeconomias da Amazônia: manejo sustentável e os novos modelos de produção para o desenvolvimento regional”.

    A ecóloga é referência internacional na pesquisa em biodiversidade amazônica, com tese de doutorado em ecologia pela Universidade de Stirling, no Reino Unido.

    Ela estuda as mudanças nas florestas amazônicas, o que inclui o ponto de vista de povos indígenas e de populações tradicionais.

    Ima disse, ainda, que o Museu Emílio Goeldi tem uma história de 157 anos com a coleta de elementos da história natural e humana. “A instituição faz parte da história nacional de ciência e tecnologia, e se tornou um dos mais importantes museus brasileiros”, sintetizou.

    Os trabalhos de campo da instituição, conforme explica a professora, absorvem as demandas de povos indígenas e comunidades e, por isso, o museu é instrumento de diálogo e transformação social. “Eu olho para o Museu Goeldi e vejo uma potência singular de capacidade de produção e comunicação do conhecimento científico já enraizada na região”, finalizou.

    Edição: Kleber Sampaio

  • Pesquisa mostra que alimentos na mesa não refletem biodiversidade

    Pesquisa mostra que alimentos na mesa não refletem biodiversidade

    O Brasil tem 20% da biodiversidade do mundo. No entanto, isso não se reflete nos alimentos que estão na mesa da população. De acordo com estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Universidade de São Paulo (USP), a quantidade de alimentos com origem na biodiversidade local adquirida pelos brasileiros foi considerada baixa. 

    A valorização e a expansão da monocultura em detrimento de pequenos agricultores é um dos elementos que explicam esse resultado. O artigo que traz os resultados aponta que eles “são insatisfatórios e abaixo do que se espera de um território biodiverso e de um sistema alimentar que é destaque mundial. É necessário um maior comprometimento para a promoção de ações que fortaleçam o consumo desses alimentos entre brasileiros”.

    “O estudo tem como objetivo descrever a disponibilidade de alimentos nativos de cada estado do Brasil [para a população]. Consideramos frutas, legumes e verduras da biodiversidade. E o que a gente observou é que a disponibilidade desses alimentos é bem baixa”, disse Anderson Lucas, um dos autores do artigo.

    Baixo consumo

    Para ele, o consumo de frutas, legumes e verduras no Brasil já é baixo, mas, observando pela alimentação com itens da biodiversidade local, identificou-se uma quantidade menor ainda. “Isso se dá principalmente pela mudança do sistema alimentar global que favorece o cultivo de commodities, como milho e soja, que são base de alimentos ultraprocessados,” salientou.

    Lucas afirmou que sempre houve uma baixa aquisição de alimentos nativos no Brasil, mas, com a expansão da monocultura nos últimos anos, essa disponibilidade de alimentos da biodiversidade está caindo ainda mais.

    A disponibilidade total (gramas/per capita/dia) de alimentos correspondeu a uma média de 1.092 gramas. A média da disponibilidade de frutas, legumes e verduras no país é de 108,67g/per capita/dia, sendo que apenas 7,09g corresponde à parcela de alimentos de origem da biodiversidade local.

    Como biodiversidade local, os pesquisadores consideraram alimentos nativos do estado em que vive aquela pessoa. Os dados se referem a 38 alimentos nativos. Foi utilizada uma amostra com dados de aquisição de alimentos de 57.920 domicílios, coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017 a 2018.

    Separadamente, o grupo das frutas corresponde a 56,7gramas/per capita/dia, sendo que apenas 5,89g é a parcela de itens da biodiversidade local. No caso das verduras e legumes, são 51,97gramas/per capita/dia, sendo que 1,20g são alimentos nativos.

    Por biomas, a caatinga apresentou a maior disponibilidade de frutas nativas na aquisição pela população (4,20g/per capita/dia), enquanto para legumes e verduras, a Amazônia se destacou (1,52g/per capita/dia).

    “Isso faz mal não só para a saúde do planeta como também da população, através de impactos ambientais, além de não valorizar a agricultura sustentável, só valorizar agricultura por meio monótono, que é utilizando muitos agrotóxicos e venenos. E também como isso prejudica as culturas tradicionais no Brasil, porque esse tipo de alimento que estamos destacando faz parte de algumas comunidades de povos indígenas, além de agregarem também para agricultura familiar”, explicou.

    O pesquisador sustentou que, sobre o consumo de frutas, legumes e verduras, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda  quatrocentas gramas diárias desses alimentos em cinco ou mais dias da semana.

    Soluções

    Para o pesquisador, o primeiro ponto para uma mudança nessa realidade seria considerar a sazonalidade dos alimentos, valorizando aqueles cultivados em ambientes naturais e não em ambientes controlados, com uso de agrotóxico e fertilizantes, que, artificialmente, levam ao maior rendimento daquela cultura. Ele acrescentou que é preciso repassar tais alimentos com preço justo para a população.

    “Para isso, a gente tem que incentivar o cultivo desses alimentos, então é preciso criar feiras, espaço de troca de conhecimentos e dar apoio técnico aos agricultores e às comunidades que plantam e colhem alimentos da biodiversidade. A gente observou que alguns alimentos precisam de um trabalho muito manual para extração, por exemplo, o coco babaçu, que necessita ser quebrado para tirar a castanha que tem dentro dele para fazer leite da castanha de babaçu, além de farinhas e outras coisas”, disse.

    Em relação a introduzir os alimentos nativos na dieta da população, ele citou a possibilidade de inclusão na alimentação escolar, principalmente por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar, que adquire alimentos da agricultura familiar.

    “Colocar esses alimentos na alimentação escolar e [introduzir] o debate sobre alimentação nas escolas para ensinar as crianças desde cedo a escolher e consumir os alimentos nativos, além de identificar quais alimentos são nativos de cada região e começar um questionamento sobre a origem dos alimentos”, sugeriu.

    Origem esquecida

    Ele acrescentou que, por conta dos alimentos ultraprocessados, as pessoas acabam esquecendo a origem dos alimentos e que muitos não conhecem como é o alimento in natura, só sabem como é o pacote após ser processado. Nas cidades, há ainda maior distanciamento entre produção e população.

    “[É preciso] reaproximar a população através da produção dos alimentos, então a gente observa que a população agora vive em grande maioria na área urbana, então incentivar por meio de hortas comunitárias seria um bom exemplo para aumentar a disponibilidade desses alimentos nas áreas urbanas”, finalizou.

    Edição: Kleber Sampaio

  • Iniciativas da sociedade civil ajudam a preservar Mata Atlântica

    Iniciativas da sociedade civil ajudam a preservar Mata Atlântica

    A preservação da Mata Atlântica levou uma comunidade em Barra do Turvo, interior paulista, ao saneamento básico, à autonomia financeira e ao protagonismo comunitário para as mulheres. A Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras (Rama), na região do Vale do Ribeira, é uma das iniciativas que contribuem para a defesa e restauração do bioma, que é o mais devastado do país.

    A Mata Atlântica, cujo dia é comemorado neste sábado, 27 de maio, tem apenas 24% de cobertura vegetal original conservada, e metade disso é de florestas maduras e bem preservadas. Os dados são da Fundação SOS Mata Atlântica, que revelou nesta semana o desmatamento de mais de 20 mil hectares no período de um ano, o que equivale a 20 mil campos de futebol.

    Cerca de 70 mulheres e suas famílias produzem alimentos no modelo de agrofloresta, sem necessidade de desmatar os terrenos e sem usar agrotóxicos e preservando as águas do entorno. Todo esse trabalho gerou benefícios para a comunidade, para além de manter a floresta em pé.

    “Na floresta, a gente tem o cambuci, tem a erva-mate e o pomar, que é misturado com as árvores nativas. E lá nos quilombos também: eles têm agrofloresta e as plantações deles são na floresta. Tem banana, pupunha, palmito, horta, tudo rodeado de árvores. Tudo que a gente planta, nos grupos e no quilombo, é agrofloresta. O que é mais aberto é onde se planta verdura, mesmo assim é nos cantinhos e com árvore perto”, disse Maria Izaldite Dias, de 70 anos, integrante da rede desde sua formação em 2015.

    Izaldite lembrou o tempo em que os esgotos escorriam pelos quintais das casas. Com a implantação do projeto de agricultura de mulheres da região, foi possível instalar fossas onde antes o esgoto escorria pelos terrenos. “Eu me sinto muito feliz de hoje, passando na casa das companheiras, ver que os esgotos não estão escorrendo no terreno e de saber que isso melhorou a vida das pessoas e que muitas delas tiveram consciência de não limpar mais seu quintal com veneno”, disse.

    “As pessoas andavam doentes, as crianças com diarreia, e a gente não sabia o que era, estavam sempre nos postos de saúde tratando e nada adiantava. Melhorou a saúde das crianças, das famílias”, disse a agricultora. As primeiras fossas instaladas foram fruto de investimento da própria comunidade, o que chamou a atenção para receber apoio do município para as seguintes.

    Segundo Izaldite, as mulheres tinham vontade de fazer algo por elas mesmas, mas isso parecia “tão longe da realidade que a gente nem tentava nada.” A organização da rede contou com o apoio da Sempreviva Organização Feminista (SOF). “Muito importante também foi o despertar das mulheres, que aprenderam que tinha coisa que elas podiam fazer, que elas podiam sair, que elas podiam ter o dinheirinho delas. Então, foi uma libertação. Muitas mulheres saíram da depressão, porque viviam fechadas, sem ter o que fazer só dentro de casa e, às vezes, sob os olhos do marido. Era uma coisa muito triste”, lembrou.

    Outra iniciativa é a Rede de Sementes do Vale do Ribeira, com a proposta de restauração florestal desde 2017 por meio da coleta de sementes pelas comunidades quilombolas da região. Atualmente, são aproximadamente 60 coletores de cinco dessas comunidades: André Lopes, Bombas, Maria Rosa, Nhunguara e São Pedro.

    Profissionalização

    A venda das espécies coletadas é feita para viveiros e iniciativas de restauração que plantam as sementes e fazem com que mais florestas cresçam em áreas antes degradadas. O coordenador da Rede, Juliano Codorna, disse que, no ano passado, foi formalizada uma cooperativa desses coletores como forma de valorização do conhecimento das comunidades, para além da geração de renda.

    “A ideia é começar realmente a profissionalizar isso, pensar estruturalmente como um negócio, mas também valorizar o conhecimento das comunidades, valorizar esses territórios. Porque a coleta de sementes, a comercialização, só é possível porque existem esses territórios e porque as comunidades vivem lá há mais de 300 anos, e fazem o manejo da floresta”, disse.

    Codoma ressaltou que a preservação das florestas dentro desses territórios faz parte do manejo e do modo de vida das comunidades, ou seja, é manejar fazendo roça e deixando reflorestamento. Outro resultado do projeto é o despertar das comunidades para espécies que passavam despercebidas porque não são usadas no dia a dia.

    “Hoje, com a coleta de sementes, você vê vários relatos assim ‘eu ia para fazer roça, pegava e botava a enxada nas costas e ia andando com a cabeça lá até chegar, trabalhar e voltar. Hoje, eu já vou pelo caminho olhando a semente, olhando se tem uma árvore com flor, se tem uma semente, se tem algum fruto. Esse trabalho com a semente desenvolveu também um olhar dessas comunidades para a vegetação”, afirmou o coordenador da Rede.

    Biodiversidade

    Para que iniciativas de restauração tenham mais chance de sucesso, a plataforma Plangea Web, do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), oferece a visualização de áreas prioritárias para ações de restauração e conservação de ecossistemas. O diretor executivo do IIS, Rafael Loyola, explicou que a lógica da plataforma se dá diante do fato de a biodiversidade não ser distribuída de forma homogênea.

    “Tem lugares com muito mais biodiversidade do que outros. Por exemplo, a biodiversidade do sul da Bahia, na Mata Atlântica, é muito maior tanto de flora quanto de fauna do que a biodiversidade da Mata Atlântica do interior de São Paulo ou do interior de Minas. A biodiversidade nas áreas montanhosas, como a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira, é muito maior do que em áreas planas, como o Vale do Paraíba”, exemplificou.

    Diante dessa realidade, Loyola acrescenta que, só por isso, tem lugares que, se forem restaurados, a possibilidade de voltar a ter a fauna e a flora que originalmente estavam ali é muito maior do que outros. Ele aponta três elementos principais que a plataforma identifica: onde a biodiversidade se concentra, onde o carbono pode ser melhor sequestrado, ou absorvido, e onde é mais barata a restauração.

    “Por isso que faz tanta diferença ter um mapa de áreas prioritárias, porque, no fundo, você quer ter o maior benefício possível com o menor recurso. Se você fizer aleatoriamente, vai ter benefícios, óbvio. Mas não é a maneira mais inteligente de fazer. Por isso que a gente chama essa abordagem de inteligência espacial. Como é que você usa o espaço, o território, de uma maneira mais inteligente, para ter mais benefícios com o mesmo esforço”, explicou.

    Edição: Nádia Franco

  • Lula assina decreto para impulsionar bionegócios na Amazônia

    Lula assina decreto para impulsionar bionegócios na Amazônia

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta quarta-feira (3), o decreto de qualificação da organização social que vai gerir o Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA). O objetivo da medida é agregar valor e impulsionar novos negócios baseados nos recursos naturais da região.

    Para o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, a atuação mais ampla do CBA resultará em investimentos, produtos, empregos, renda e desenvolvimento local e regional. Durante a cerimônia de assinatura do decreto no Palácio do Planalto, Alckmin destacou o potencial da biodiversidade da Amazônia em áreas como farmacêutica, química, cosmética e alimentícia.

    “Vamos trabalhar juntos com os ministérios de ciência e tecnologia, do meio ambiente, governos estaduais, governos municipais, universidades e, principalmente, a iniciativa privada para criar emprego, criar empresa, agregar valor, transformar a grande farmácia que é a biodiversidade amazônica em produtos, serviços, empregos e investimentos. É impressionante, na área de alimentos, por exemplo, 1 quilo de cacau de amêndoa custa R$ 10 e 1 quilo de chocolate, R$ 200. Nós temos muito potencial”, afirmou.

    Com o decreto, o CBA, antes chamado Centro de Biotecnologia da Amazônia, deixa de ser vinculado à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e passa a ser gerido pela organização social Fundação Universitas de Estudos Amazônicos (FUEA), selecionada por meio de concorrência pública. Com personalidade jurídica própria, o centro terá mais autonomia para captar recursos públicos e privados e ampliar suas atividades.

    De acordo com a Presidência da República, os recursos públicos previstos para o CBA nos próximos quatro anos chegam a R$ 47,6 milhões. Agora, também será possível ter acesso a recursos disponíveis na iniciativa privada para pesquisa, desenvolvimento e inovação.

    “Ele [CBA] terá um centro de inteligência para novos negócios, que vai prospectar novos investimentos, trazer o setor privado e transformar pesquisa em patente e em negócios para o desenvolvimento da região”, ressaltou Alckmin.

    Nos próximos dias, a FUEA assinará contrato com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que transferirá a gestão do CBA para a organização social, que atuará em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, a Fundação de Apoio ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas e a Universidade do Estado do Amazonas.

    Atuação

    O CBA passará a ter um núcleo de negócios com atuação em duas frentes. A primeira será na busca por pesquisas fora de seus próprios laboratórios, que resultem em produtos de “prateleira” que integrem o portfólio do centro e serão oferecidos a potenciais investidores.

    Na segunda frente, em parcerias com a iniciativa privada, o centro garantirá o fornecimento de matéria-prima com regularidade e a preços competitivos, dando condições mínimas para que a indústria se estabeleça e haja sustentabilidade no trabalho das comunidades diretamente envolvidas, como ribeirinhos e povos originários.

    O CBA foi criado em 2003, dentro da Suframa. De acordo com a Presidência da República, ao longo dos últimos anos, o centro tem trabalhado em projetos que buscam desenvolver novos produtos e processos usando insumos da biodiversidade amazônica em diversas áreas, como alimentos e bebidas, fitoterápicos, cosméticos, farmacêuticos, química, bioplásticos, agrícolas, têxtil, saúde, diagnóstica e de papéis.

    O centro também atua na capacitação de recursos humanos para o desenvolvimento de atividades de base sustentável, por meio de apoio técnico às comunidades tradicionais, unidades de manejo, empreendedores agroflorestais; e para transformação de rejeitos orgânicos e inorgânicos em produtos economicamente viáveis.

    Entre os exemplos práticos da atuação do CBA estão o desenvolvimento de catalisadores a partir do lodo para produção de biocombustíveis; o uso de insumos locais e resíduos fabris para obtenção de bioplásticos, celulose e membranas bacterianas que podem, inclusive, ser transformadas em bebidas probióticas, como o kombucha; processos avançados para obtenção de açaí liofilizado, manteiga de cupuaçu e óleos essenciais com a casca da laranja; e produção de corantes naturais a partir de mais de 2,6 mil espécies de microorganismos da região.

    Edição: Nádia Franco

  • Biodiversidade de insetos no Brasil está em queda, mostra estudo

    Biodiversidade de insetos no Brasil está em queda, mostra estudo

    A biodiversidade de insetos terrestres no Brasil, que inclui animais como borboletas, abelhas e besouros, está em tendência de queda. Esse é um dos resultado de um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e das universidades federais de São Carlos e do Rio Grande do Sul. As informações foram reunidas a partir de 45 pesquisas científicas sobre o tema, além de questionários enviados a pesquisadores que já estudam insetos ao longo dos anos. 

    “Se você acaba com os insetos, você quebra todas as cadeias alimentares da natureza na base. Se você não tem lagartas para os passarinhos comerem, as aves vão diminuir. Se você não tem insetos para vespas se alimentarem, elas vão cair e, uma vez que caiam, elas começam a causar um desequilíbrio que pode levar, por exemplo, ao aumento de pragas, tanto nas cidades quanto na agricultura”, alerta André Freitas, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e um dos pesquisadores do projeto.

    O estudo apresenta 75 tendências – a maioria delas de queda – ao longo de 22 anos para insetos terrestres. Para os insetos aquáticos, o estudo apresenta 75 tendências ao longo de 11 anos, em média. A maior parte indica redução no número de animais. O trabalho teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O texto foi publicado hoje (23) no periódico internacional Biology Letters.

    Entre os insetos terrestres, por exemplo, os estudos apontaram tendência de declínio populacional ou perda de diversidade de espécies. A situação é diferente nos grupos aquáticos, nos quais o número de indivíduos ou de espécies permaneceu estável ou, em alguns casos, aumentou. Os pesquisadores, no entanto, chamam a atenção de que essa diferença deve ser reavaliada futuramente.

    Tendência mundial

    Freitas destaca que outros estudos, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, já vinham demonstrando o declínio de insetos nessas regiões, mas havia poucas informações sobre a situação nos países de clima tropical.

    “Lá, eles têm dados de décadas levantados, mostrando que existe declínio de todos os tipos, não apenas polinizadores”, aponta. Ele lembra que a diversidade de insetos é muito maior por aqui, com uma variedade de espécies de 10 a 20 para um em relação aos países de clima temperado.

    O pesquisador explica que, para entender a situação dos insetos, é fundamental a existência de estudos a longo prazo, pois esses animais apresentam ciclos de vida curtos. “[A análise do] inseto é quase igual a um eletrocardiograma, cheio de picos e vales. Assim, para você conseguir saber, vai ser sempre uma linha zig zag com grandes amplitudes, mas você pode ver se está subindo ou descendo. Para ter isso, você precisa de séries temporais muito longas, e a gente tinha muito pouco [no Brasil]”, explica.

    Nesse sentido, foram considerados estudos com pelo menos cinco anos de análises. “O que a gente percebeu é que a maior parte dos trabalhos indica que está havendo, sim, declínio de insetos no Brasil. Tem vários trabalhos que indicam estabilidade, até alguns que mostram aumento. Mas o que é preocupante, se a gente pegar só pelo número de trabalho que tem aumento, estabilidade ou declínio, os que mostram declínio são mais comuns”, aponta Freitas.

    Os motivos que explicam o declínio não fazem parte do levantamento, mas o pesquisador apresenta algumas hipóteses para esse quadro, considerando dados já encontrados em outras partes do mundo. Ele cita: “o uso indiscriminado de pesticida; o aumento das cidades e de áreas agrícolas e agropecuárias, que diminuem a área de habitat nativo; e, perto de grandes cidades, a iluminação urbana, porque os insetos tendem a ser atraídos pelas lâmpadas, ficam girando e morrem”.

    Insetos e meio ambiente

    O pesquisador reconhece que, muitas vezes, os insetos são associados a coisas negativas, como transmissão de doenças, mas é fundamental lembrar da importância desses animais para o equilíbrio do meio ambiente.

    “O declínio dos insetos, de modo geral, vai favorecer poucas espécies-praga. Essas, sim, vão ter um impacto muito maior na nossa vida”, alerta. Ele lembra que grandes desequilíbrios podem fazer com que apenas pragas associadas ao ser humano, como baratas, mosquitos e determinadas formigas, permaneçam, tendo em vista que terão comida e ambiente disponíveis.

    A polinização feita pelas abelhas é o exemplo mais conhecido do papel de insetos na manutenção da biodiversidade. Mas há outros benefícios dos insetos para o meio ambiente, como o fato de que eles são o primeiro passo para a decomposição de matéria orgânica.

    “Sejam folhas que caem no solo ou animais mortos. Vários besouros, formigas e cupins fazem a primeira degradação desse material. Sem insetos, por exemplo, as florestas seriam cada vez mais troncos e folhas acumulados em cima do outro, porque as bactérias que fazem a decomposição final dependem de uma primeira fragmentação”, explica Freitas.

    Edição: Lílian Beraldo

  • Parceria entre ministério e Unesco premiará projetos de biodiversidade

    Parceria entre ministério e Unesco premiará projetos de biodiversidade

    O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações anunciou nesta semana o lançamento de uma competição para estimular o uso sustentável da biodiversidade no Brasil. Chamada de Prêmio MCTI/Finep de Biodiversidade, a iniciativa conta com a parceria da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Rede de Ensino e Pesquisa (RNP).

    Segundo comunicado da pasta, a premiação terá duas categorias: produção acadêmica e  desenvolvimento tecnológico e inovação. A primeira será destinada a estudantes e pesquisadores de todos os níveis que produzam pesquisas científicas envolvendo a exploração econômica sustentável da biodiversidade. A segunda é voltada para a sociedade civil em geral e premiará cidadãos da sociedade civil em geral, mesmo fora do ambiente universitário e de pesquisa, que apresentem ações práticas e projetos com foco no mesmo tema, a exploração econômica sustentável.

    A premiação é a mesma para ambas as categorias. O primeiro lugar em cada uma receberá R$ 15 mil; o segundo lugar receberá R$ 7 mil e o terceiro lugar será premiado com R$ 3 mil.

    “Para nós é uma grande satisfação participar desta premiação. A Unesco tem tradicionalmente apoiado diversas iniciativas que reconheçam boas práticas ligadas à ciência, tecnologia, biodiversidade no país”, disse o coordenador de Ciências Humanas e Sociais e Ciências Naturais da Unesco, Fábio Leon, durante o evento de lançamento do prêmio.

    As inscrições para ambas as categorias do Prêmio MCTI/Finep de Biodiversidade já estão abertas, e receberão cadastros de interessados até 4 de março de 2022. O resultado final do concurso será publicado em 19 de abril de 2022. As inscrições podem ser feitas aqui.

    Biodiversidade

    Classificado como mega-diverso, o Brasil é o habitat natural de cerca de 46 mil espécies de plantas, mais de mil variedades de anfíbios e cerca de 750 mamíferos – números que representam algo em torno de 10 a 20% da biodiversidade mundial. Todas as espécies brasileiras, tanto da fauna quanto da flora, são catalogadas no Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBR) – plataforma digital gerida pelo MCTI que organiza e armazena espécies brasileiras e que serve de base para pesquisadores e entidades.

  • Plano ABC+ tem metas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa na agropecuária

    Plano ABC+ tem metas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa na agropecuária

    Com tecnologias de produção sustentável, o Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária, chamado de ABC+, tem a meta de reduzir a emissão de carbono equivalente em 1,1 bilhão de toneladas no setor agropecuário até 2030. O valor é sete vezes maior do que o plano definiu em sua primeira etapa.

    As metas e tecnologias do Plano ABC+ 2020-2030 foram divulgadas nesta segunda-feira (18), em evento virtual, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

    “A meta é expandir a área com tecnologias ABC para 72 milhões de hectares até 2030. Um incremento de 103% em relação à década anterior. Estabelecemos assim as bases para que, a longo prazo, a totalidade da área de produção agropecuária brasileira adote sistemas de produção sustentáveis e resilientes”, disse a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina.

    “Trata-se de uma das mais ambiciosas políticas da agropecuária do mundo que traça metas ousadas para aprimorar a sustentabilidade da produção brasileira ao longo da próxima década e manter o agro na vanguarda dos esforços de enfrentamento da mudança do clima”, acrescentou Tereza Cristina sobre o ABC+.

    O Plano

    O plano ABC+ é a segunda etapa do Plano ABC que foi realizado entre 2010 e 2020 e superou as expectativas mitigando cerca de 170 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em uma área de 52 milhões de hectares, superada em 46,5% em relação à meta estabelecida.

    “Ao longo da última década, o governo colocou em marcha o Plano ABC que atingiu grande sucesso na redução das emissões de gases de efeito estufa no agro brasileiro”, afirmou a ministra Tereza Cristina.

    A nova versão, o ABC+, incrementou as metas a serem atingidas para a mitigação de gases de feito estufa. Além de estimular a regularização ambiental e o cumprimento do Código Florestal, o plano promove o ordenamento territorial e a preservação da biodiversidade na propriedade, na região e nas bacias hidrográficas.

    Foram incluídas novas tecnologias como bioinsumos, sistemas irrigados e a terminação intensiva de bovinos que vão oferecer mais opções para o produtor aumentar sua resiliência, eficiência produtiva e ganhos econômicos, ambientais e sociais.

    A tecnologia de terminação intensiva, por exemplo, busca atingir 5 milhões de bovinos, a partir de técnica de confinamento ou semiconfinamento, característica da agropecuária tropical.

    O avanço na alimentação bovina agrega ingredientes que resultam em uma emissão menor de gases de efeito estufa.

    Outra tecnologia proposta pelo ABC+ é a plantação de florestas numa expansão de 4 milhões de hectares para a recuperação de áreas ambientais e produção comercial de madeira, fibras, alimentos, bioenergia e produtos florestais não madeireiros tais como látex e resinas.

     

  • Identificados 26 produtos da biodiversidade com potencial de mercado

    Identificados 26 produtos da biodiversidade com potencial de mercado

    Uma iniciativa conjunta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou 26 produtos nos biomas Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado com potencial de serem inseridos no mercado. Os produtos envolvem plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. A conclusão é do projeto ArticulaFito – Cadeias de Valor em Plantas Medicinais.

    De acordo com a coordenadora técnica e executiva do ArticulaFito, Joseane Carvalho Costa, são chás, colírios, repelentes, hidratantes, azeites para uso na gastronomia, que têm como matéria-prima espécies vegetais da flora brasileira.

    “Agora, para inserir esses produtos no mercado, é necessário superar desafios identificados pelo ArticulaFito, que desde 2015 vem trabalhando para promover essas cadeias de valor, prestando capacitações e outros serviços para adequar os produtos aos diferentes mercados, em âmbito local, nacional e internacional”, explicou Joseane.

    O secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, Fernando Schwanke, destaca que o projeto contribui com a geração de renda e agregação de valor aos produtos da sociobiodiversidade, base do programa Bioeconomia Brasil. “São inúmeras ações em várias partes do Brasil e acreditamos no potencial da nossa biodiversidade.”

    Mapeamento

    O mapeamento das 26 cadeias de valor em plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias envolveu agricultores familiares, extrativistas, representantes da indústria, do comércio e de instituições públicas, além da equipe técnica do ArticulaFito.

    Entre 2015 e 2018, foram promovidas oito oficinas de mapeamento em Foz do Iguaçu (PR), Petrópolis (RJ), Natal (RN), Montes Claros (MG), Palmas (TO), Macapá (AP), Marabá (PA) e Belém (PA). Nesses encontros, foram identificados, coletivamente, os problemas e as oportunidades.

    “As informações são decisivas para a proposição de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável, à promoção da saúde e ao fortalecimento da base produtiva nacional”, destacou a coordenadora técnica e executiva do projeto.

    A ArticulaFito vem desenvolvendo estratégias de governança para propiciar um ambiente de equilíbrio e diálogo constante entre os diferentes atores ligados ao desenvolvimento de uma cadeia de valor.

    Programa Bioeconomia Brasil

    Bioeconomia é um conceito difundido atualmente em vários países e geralmente se refere às atividades econômicas que envolvem o uso dos recursos naturais de forma sustentável e inovadora que possibilite promover o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da população, com geração de renda.

    O Bioeconomia Brasil – Sociobiodiversidade é um programa do Mapa, executado pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF), que busca ampliar a participação dos pequenos agricultores, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais nos arranjos produtivos e econômicos que envolvam o conceito da bioeconomia.

    A iniciativa promove a articulação de parcerias entre o Poder Público e o setor empresarial, visando a promoção e estruturação de sistemas produtivos baseados no uso sustentável dos recursos da sociobiodiversidade e do extrativismo, além da produção e utilização de energia a partir de fontes renováveis, sempre com o foco na geração de renda e melhoria da qualidade de vida do público envolvido.

    O programa é estruturado em cinco eixos temáticos: Estruturação Produtiva das Cadeias do Extrativismo (Pró-Extrativismo); Ervas Medicinais, Aromáticas, Condimentares, Azeites e Chás Especiais do Brasil; Roteiros da Sociobiodiversidade, valorizando a diversidade biológica, social e cultural brasileira e apoiando a estruturação de arranjos produtivos e roteiros de integração em torno de produtos e atividades da sociobiodiversidade, de forma a contribuir para a geração de renda e inclusão produtiva; Potencialidades da Agrobiodiversidade Brasileira; e Energias Renováveis para a Agricultura Familiar.

    ArticulaFito

    O ArticulaFito é um projeto voltado à articulação de atores do setor de plantas medicinais, com vistas ao fortalecimento da base produtiva. O ArticulaFito atua em consonância com a Política e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

    Com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento