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  • Sucessão familiar no agro: e se o herdeiro não for o sucessor ideal?

    Sucessão familiar no agro: e se o herdeiro não for o sucessor ideal?

    A sucessão no agronegócio não é exatamente um tema novo. Mas talvez seja hora de parar de repetir o que já sabemos e começar a agir de forma diferente, buscando soluções mais eficazes.

    Você já se perguntou se o seu filho quer — e está preparado para — assumir o seu legado?

    Existem muitas questões a serem analisadas:

    Conflitos familiares: é comum vermos dificuldades nas relações entre gerações dentro do negócio, com conflitos que transbordam para dentro de casa, afetando os relacionamentos e gerando incômodos pessoais.

    Falta de planejamento: muitos produtores cresceram e tiveram sucesso de forma empírica, com trabalho duro no campo. No entanto, muitas vezes pecam na organização e no planejamento da empresa. Quando percebem, o tempo passou e não houve preparação adequada para formar um sucessor.

    Resistência às mudanças: a tecnologia está cada vez mais presente no campo, trazendo novos processos e estratégias. Muitos sucessores têm ideias inovadoras, mas nem sempre são bem recebidos. A velha frase “Eu tive sucesso assim, sem essas tecnologias” ainda ecoa. É importante valorizar quem construiu a história, mas por que não aprimorar ainda mais?

    Desinteresse dos filhos em dar continuidade ao legado familiar: filhos que saem para estudar em grandes centros nem sempre retornam. E quando voltam, muitas vezes desejam seguir outra carreira e não se enxergam na rotina da fazenda.

    Outras situações também poderiam ser citadas, mas o ponto central é: a sucessão não se resume à transferência de patrimônio. Trata-se, acima de tudo, da continuidade de um propósito — o que exige preparo, diálogo e, principalmente, conhecimento sobre as pessoas envolvidas.

    A reflexão que trago aqui parte do momento em que a empresa já busca uma transição estruturada, com apoio profissional e um Planejamento de Sucessão bem desenhado.

    Esse planejamento costuma ser parte integrante da implementação da governança familiar. É um processo construído a várias mãos — consultores, diretores, conselheiros e, claro, os possíveis sucessores.

    Mas quem são, de fato, os seus possíveis sucessores? E o que você conhece sobre eles além do laço sanguíneo?

    Aqui entra um ponto frequentemente negligenciado: a análise de perfil comportamental. Poucos produtores consideram que aquele filho mais comunicativo talvez não tenha vocação para liderar a operação, enquanto o mais introspectivo pode ter a exatidão analítica necessária para a gestão estratégica.

    Você está preparado para encarar que nem sempre o herdeiro natural é o sucessor ideal?

    Entender o perfil de cada potencial sucessor é essencial para avaliar se os cargos planejados realmente fazem sentido para aquela pessoa. Doa o quanto doer, sucessão não pode ser baseada apenas na tradição familiar. Não se trata de “quem merece mais” ou “quem esteve mais presente”, mas de quem tem o perfil certo para os desafios que virão.

    Com ferramentas de análise comportamental e o suporte de profissionais especializados, o cenário começa a ganhar clareza. Identificam-se forças, lacunas e a aderência ao cargo. Com essas informações, é possível construir um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) baseado em dados, não em achismos.

    Quanto mais se entende sobre o comportamento dos envolvidos, mais assertiva será a alocação nos cargos futuros.

    Sim, uso o termo possíveis sucessores, porque estão sendo avaliados — não há garantias de que vão assumir.

    E se ninguém da família tiver o perfil ideal? Forçar a barra? Ou considerar alguém de fora?

    Essa pode ser a decisão mais difícil — mas também a mais estratégica. Insistir em um sucessor desalinhado pode gerar frustrações, romper relações familiares, comprometer os negócios e destruir um legado. Em alguns casos, olhar para o mercado pode ser a melhor saída.

    A sucessão familiar é um tema complexo, cheio de nuances. Não acontece da noite para o dia. Precisa ser estruturada com a mesma seriedade com que se conduz uma grande safra: planejamento, análise, cuidado e profissionalismo.

    Por isso, é fundamental contar com profissionais certificados e experientes para conduzir um processo tão decisivo. Assim, a colheita certamente será bem produtiva!

    Já pensou em realizar um processo de sucessão estruturado com base em dados e comportamento?

    Talvez esse seja o momento certo. Porque o tempo passa, os filhos crescem, os negócios evoluem — e o que será do futuro depende das decisões que tomamos agora.

    Izabela Sefrin é mentora de Gestão e Liderança, Coach e diretora executiva na Somoos Desenvolvimento Humano e Estratégico. 

    Contatos:@somoos.dhe @izabela_sefrin

  • Inteligência Artificial: ameaça ou oportunidade para o mercado de trabalho?

    Inteligência Artificial: ameaça ou oportunidade para o mercado de trabalho?

    A inteligência artificial generativa (IA) tem sido um dos tópicos mais discutidos nas últimas semanas com anúncios do governo Trump validando seu uso nas mais diversas atividades. Afinal a IA é uma ameaça ou uma oportunidade para o mercado de trabalho? Abaixo trago um mapa dos benefícios e desafios para os trabalhadores.

    Quanto aos benefícios, a IA apresenta inúmeras oportunidades que podem transformar positivamente o mercado de trabalho. Entre as mais significativas estão o aumento da eficiência, a criação de novos empregos e a melhoria das condições de trabalho.

    O uso de drones e robôs na indústria em trabalhos operacionais braçais gera valor para os trabalhadores, já que evita trabalhos de alto risco e que provocam doenças ocupacionais, muitas vezes, tirando-os da vida produtiva muito cedo. Em atividades de escritório mais repetitivas e corriqueiras como: digitar dados em planilhas e analisar grande volume de dados, por exemplo, o uso da IA Generativa permitirá ao trabalhador se ocupar de tarefas ligadas à inovação e melhoria de processos e produtos, atividades com escassez de profissionais.

    A IA também criará novas oportunidades de trabalho em áreas como desenvolvimento de software, análise de dados e cibersegurança. Além disso, novas indústrias podem surgir baseadas em tecnologias de IA. Áreas que hoje necessitam muito de pessoas, como na prestação de serviços ligados à saúde e bem-estar, fontes energéticas renováveis e práticas sustentáveis poderão ser ocupadas, além de criar outras possibilidades para carreiras que ainda não existem.

    Os desafios significativos que precisam ser abordados são: a perda de empregos, a desigualdade e a necessidade de qualificação e requalificação. Os projetos ligados à IA hoje tem seu foco principal no aumento da produtividade e redução de custos. Muitas pessoas que se ocupam de atividades operacionais perderão seus empregos.

    Outro desafio está ligado às desigualdades. Trabalhadores com habilidades altamente especializadas e em áreas tecnológicas podem se beneficiar da demanda crescente, enquanto aqueles com menos habilidades e ou em setores mais tradicionais podem enfrentar dificuldades, implicando no aumento das diferenças salariais.

    Para “surfar nessa onda” ou até mesmo, manter-se empregado será necessário um salto educacional no país. E nesse sentido os desafios são enormes. A ausência de políticas públicas que levem as pessoas a desenvolver sua autonomia e independência, aliado a uma cultura de muitas vezes “esperar o peixe ao invés de ir pescá-lo”, certamente é o maior desafio.

    Com base nos pontos, é possível concluir que a IA será uma oportunidade ou uma ameaça. Depende de como a encaramos e implantamos as mudanças.

    Olhar para ela como oportunidade sem a ilusão de que resolverá todos os problemas da humanidade, mas assumindo e encarando as mudanças que teremos que fazer em NÓS para que ela seja eficaz.

    O ponto crucial é aprimorar em nós mesmos comportamentos como FLEXIBILIDADE, DETERMINAÇÃO e ÉTICA. No final das contas, independente de qual seja a tecnologia proposta, tudo é sobre gente, e nessa seara só se avança através da educação. Muito do impacto que a IA terá em nossas vidas está em nossas mãos.

    Edilene Bocchi é administradora e CEO da Vesi Consulting, empresa que atua na gestão de pessoas, coaching para lideranças e equipes, sucessão familiar e carreira – siga @vesiconsulting.

  • Leucemia infantil, consciência também gera cura

    Leucemia infantil, consciência também gera cura

    Já fazia alguns dias, oscilava e o que parecia uma gripe: febre, dor de cabeça, dores nas pernas e algumas manchas surgiram onde eu me impactei. Senti no coração que ele precisava ser levado para fazer um exame de sangue, um hemograma e adiantar a consulta de rotina no pediatra.

    Era 10:30 da manhã, a médica telefonou, queria falar pessoalmente, o coração foi a 180, pedi que ela falasse: meu filho de 12 anos foi diagnosticado com leucemia, era uma quinta-feira, meu chão sumiu, a luz sumiu, o tempo parou, o tempo fugiu.
    Pensamos que nunca será com a gente, mas descobrimos, da forma mais avassaladora, que sempre estará muito próximo da gente e de gente com quem vivemos juntos.

    Minutos de razão se misturam a várias emoções. Deus sempre presente me sopra que preciso pensar na cura, com o melhor tratamento e com velocidade. Sexta-feira, amigos, contatos, família e fé, demos entrada na internação dele no Hospital Infantil Boldrini em Campinas, centro de referência no tratamento da leucemia na América Latina.

    Cada minuto faz a diferença, fé, amor e ciência são a tríade da cura. O coração aflito quer saber agora qual tipo, qual estratégia, qual tratamento, quanto tempo, o que fazer, como será a vida dele, quais efeitos, quais as chances, como faremos, o que podemos fazer e mais uma dezena de perguntas borbulham o tempo todo na mente. É importante frear, pois a saúde mental, especialmente a dele, vai gerar segurança, resiliência, convicção e a alta rede de amor vai iluminando a trilha nas mãos de Deus.

    Em 2024, 11.540 casos de leucemia infantil foram registrados no Brasil e, na maioria deles, a cura veio por um diagnóstico precoce, assertivo, somado ao tratamento correto. O hospital Boldrini, ligado à Unicamp, completou 47 anos de fundação e cura desta doença, sua semente foi plantada pela Dra. Silvia Brandalise, hoje com 81 anos, na ativa e que tivemos a honra de receber a visita, demonstra como um ideal, um propósito, somado ao pragmatismo técnico, pode salvar vidas.

    E quando se luta pela vida, hora, dia, semana ou mês, podem ter durações diferentes, conforme os exames e consultas chegam, temos um misto de sensações e projeções, entretanto, acima de tudo, sempre guiado pela luz divina, a estrada vai mostrando os desafios e as conquistas, passo a passo.

    Escolas, instituições, poder público e famílias, todos nós precisamos falar mais sobre leucemia, especialmente nas crianças. Sem alarde, porém com grande conscientização, este movimento de comunicar pode ser uma potente ferramenta de geração de cura para dezenas de casos por todo o Brasil.
    Fevereiro laranja, mês da conscientização da leucemia infantil, vamos trazer esse tema para perto, pois pode haver alguém próximo que precise de apoio.  Alguns dos sintomas são: Dor nos ossos e articulações, fadiga, febre, palidez, manchas roxas na pele, dor abdominal, perda de peso e equilíbrio, sangramentos espontâneos, dores de cabeça, inchaço no rosto e nos braços, problemas nas gengivas, são sinais que precisam ser analisados pelo médico e exames.

    Assim, seguimos convictos pela cura, gratos pela oportunidade da vida e da caminhada, pedindo que ajudem ainda mais lugares como o Hospital Boldrini que fazem um trabalho magnífico. Faça doações, acione parceiros, seja um parceiro oficial e ajude a divulgar a importância da conscientização e prevenção da leucemia.

    Fernando Assunção – Pai do Heitor, tratando de Leucemia LLA

  • Frente às oscilações pluviais o Sistema Plantio Direto requer tecnologias de cunho hidráulico

    Frente às oscilações pluviais o Sistema Plantio Direto requer tecnologias de cunho hidráulico

    A chuva apresenta três propriedades fundamentais: intensidade, duração e frequência ou período de retorno, com variações em sua distribuição espacial. A intensidade da chuva refere-se à quantidade de água precipitada por unidade de tempo, sendo expressa em mm/h. A duração da chuva refere-se ao tempo contado desde o início até o fim da chuva, sendo expressa em horas ou minutos. O período de retorno da chuva, refere-se ao tempo médio a ser transcorrido para que uma determinada chuva seja igualada ou superada, em pelo menos uma vez, sendo expressa em anos. E a distribuição espacial da chuva refere-se à variação das grandezas de suas propriedades de uma localidade para outra.

    A intensidade da chuva e a duração da chuva estão associadas à taxa de infiltração de água no solo e ao volume de água armazenável pelo solo estabelecem a produção ou não de enxurrada. Em ocorrência enxurrada, essa associação define, respectivamente, a taxa de enxurrada e o volume de enxurrada. Portanto, a frequência com que as chuvas produzidas enxurradas depende tanto da intensidade e da duração da chuva quanto da taxa de infiltração de água no solo e do volume de água armazenável pelo solo. De outro modo, enquanto a intensidade da chuva (mm/h) produz enxurrada ao superar a taxa de infiltração de água no solo (mm/h), a duração da chuva produz enxurrada ao precipitar volume de água superior ao volume de água armazenável pelo solo.

    Na região de clima subtropical do Brasil, chuvas intensas e de longa duração, embora mais frequentes nos anos de El Niño, podem ocorrer em qualquer dia do ano, inclusive no decorrer de dois anos de La Niña. De modo semelhante, períodos de estiagem, embora mais frequências nos anos de La Niña, podem ocorrer em anos de El Niño e também nos anos com ausência dessas ocorrências relacionadas à pluviosidade. Isso significa que a ocorrência de enxurrada e de estiagem são fatos rotineiros e sem interferências assertivas. Por esse motivo, tanto a erosão hídrica quanto a escassez de chuva são fatores de risco ao desempenho agrícola, ditados por probabilidades e incertezas que exigem medidas de prevenção. Porém, enfatiza-se que toda tecnologia promotora de prevenção ao risco de perda de água por enxurrada ou de ocorrência de erosão hídrica promove o armazenamento de água no solo, resultando, também, como promotora de prevenção ou amenizando o risco de perda de produtividade dos sistemas de produção por estimativa. Nesse contexto, diante das oscilações pluviais que caracterizam a região subtropical do Brasil, o desenvolvimento e a adoção de tecnologias de cunho conservacionista remetem à priorização daquelas promotoras de prevenção de risco à ocorrência de enxurrada e, por consequência, à estimativa.

    A erosão hídrica é resultante da interação dos seguintes fatores: propriedades da chuva; comprimento da vertente; declividade da vertente; suscetibilidade ao solo à erosão; manejo das culturas; e práticas mecânicas de cunho hidráulico. Na inter-relação desses fatores, enquanto as propriedades da chuva, o comprimento da vertente e a declividade da vertente são os componentes produtores da energia responsáveis ​​pelos processos erosivos, a suscetibilidade do solo à erosão, o manejo de culturas e as práticas mecânicas de cunho hidráulico são os componentes responsáveis ​​pela dissipação da energia ambientalmente produtora de processos erosivos. A erosão hídrica, assim interpretada, é, efetivamente, o trabalho mecânico resultante do incidente de energia sobre o solo que foi parcialmente dissipado.

    O potencial erosivo da chuva se expressa tanto pela energia cinética oriunda da ação de impacto das gotas de chuva que tocam a superfície do solo quanto pela energia cinética oriunda da água da chuva não infiltrada no solo e que fluí na superfície do solo com ação cisalhante ou de captura. Cada um desses agentes produtores de energia, potencialmente capazes de provocar erosão, requer medidas de prevenção específicas. A energia da ação de impacto das gotas de chuva, com poder de dispersar o solo e transportar partículas, é evitada pela tecnologia da cobertura do solo. A energia de ação cisalhante ou de tração da enxurrada, com poder de remover a cobertura do solo, dispersar o solo e transportar partículas, é prevenida pelas tecnologias que impõem barreira ao escoamento da enxurrada ao longo da lateral.

    Embora a cobertura do solo dissipe a energia erosiva do impacto das gotas de chuva, em um determinado trecho se torna insuficiente para prevenir a erosão. Isso ocorre porque a água não infiltrada no solo se transforma em enxurrada e passa a escoar sob a cobertura do solo, produzindo energia erosiva cisalhante ou de retenção, com potencial de superar a tensão de cisalhamento do solo e desencadear processos erosivos. Mantendo-se constantes todos os fatores relacionados à incidência e à dissipação da energia erosiva da chuva e aumentando-se apenas o comprimento da vertente, tanto a velocidade quanto o volume de enxurrada produzido por determinada chuva elevam o risco de ocorrência de erosão. Em outras palavras, a cobertura do solo é capaz de dissipar em até 100% a energia de ação do impacto das gotas de chuva, mas não revela essa mesma eficácia para dissipar a energia de ação cisalhante ou de atração produzida pela enxurrada que flui sob a vegetação que cobre o solo.

    Do exposto, é evidente que a enxurrada é o principal e o agente mais relevante responsável pelo processo erosivo que ocorre em talhões de trabalhos manejados sob o Sistema Plantio Direto. A partir dessa constatação, toda prática conservadora capaz de seccionar o comprimento das vertentes ou capaz de impor barreira ao escoamento da enxurrada, mantendo-o restrito a limites em que a tensão crítica de cisalhamento do solo não seja superada pela energia cisalhante ou de tração da enxurrada, contribuirá para prevenir ou minimizar os processos de erosão hídrica. Semeadura em contorno e terraço agrícola são exemplos de práticas conservacionistas de cunho hidráulicos eficazes para seccionar o comprimento de vertentes ou impor barreira ao escoamento da enxurrada, e, por esse motivo, requeridas como aliadas à cobertura do solo para o controle eficaz da erosão em talhões de trabalhos manejados sob Sistema Plantio Direto. Além disso, essas práticas conservacionistas, exigidas como tecnologias de cunho hidráulico associáveis ​​ao Sistema Plantio Direto, maximizam a retenção da água da chuva pelo solo, armazenando-a e disponibilizando-a para as plantas nos períodos de estiagem.

    A água retida no solo por essas tecnologias de cunho infiltração hidráulica no solo, irriga a área do talhão de trabalho à jusante e demora cerca de três ou mais meses para atingir o lençol freático e, em decorrência, alimentar os mananciais hídricos, inclusive aqueles de superfície. É água útil. De modo oposto, a água que escoa em sulcos ou em entre sulcos de modo imperceptível através da vegetação que cobre o solo em talhões de trabalho sem a adoção dessas tecnologias de cunho hidráulico, não é armazenada no solo, não serve às plantas, não abastece o lençol freático e, em poucos minutos, atinge os mananciais de superfície, poluindo, contaminando e causando danos econômicos, ambientais e sociais, que, na prática, são imensuráveis. É água perdida.

    A semelhança, com as linhas de plantio dispostas morro acima e morro abaixo, largamente e erroneamente impostas no Plantio Direto, em razão de conhecimentos exíguos e limitações referentes à funcionalidade das tecnologias de cunho hidráulico diante dos processos implicados na erosão hídrica, ao direcionar e dirigir o fluxo da enxurrada para o sulco de semadura, eleva sua energia de ação cisalhante ou de atração, tornando-se a principal causa da erosão hídrica que ocorre nessa modalidade de manejo. Ao contrário, a semeadura em contorno, com as linhas de planejamento dispostas transversalmente ao sentido do declive, criando barreiras ao livre escoamento da enxurrada, reduzindo sua velocidade e sua capacidade de remover a cobertura do solo, de dispersar o solo e de transportar partículas, oportunizando maior infiltração da água no solo e, por consequência, menor enxurrada e/ou enxurrada com menor energia erosiva.

    A eficácia da semeadura em contorno, no controle da erosão hídrica e na retenção da água da chuva onde ela cai, armazenando-a e disponibilizando-a para as plantas nos períodos de estiagem, pode ser maior que aquela fornecida pela cobertura do solo. E, quando comparado à semadura morro acima e morro abaixo, pode reduzir em mais de 50% as perdas de solo e água por erosão, ou seja, ser mais eficaz do que um baixo índice de cobertura de solo, e, em adição, contribuir para prevenir ou amenizar o déficit hídrico das plantas em períodos de estiagem.

    O terraço agrícola, até meados da década de 1990, foi dimensionado através de uma aplicação de método empírico, desenvolvido nos EUA, com base em dados genéricos de solo e chuva oriundos de região de clima temperado, concedendo suporte inadequado para sua implementação em regiões de clima temperado clima subtropical e tropical do Brasil. A partir de 1995, esse método foi aprimorado e informatizado aqui no Brasil, passando a empregar dados de solo, com especificidade para o talhão de trabalho que requer o terraço agrícola, e dados de intensidade, duração e período de retorno de chuvas específicas da região ou do município ou do próprio estabelecimento rural, quando detentores de série histórica de registros de chuva da ordem de 30 anos, tornando o terraço agrícola uma obra hidráulica precisa, segura e de contribuição inestimável para a conservação do solo e da água.

    Um título de ilustração, no Rio Grande do Sul, há trabalhos conduzidos sob Sistema Plantio Direto complementado pelas tecnologias da semeadura em contorno e do terraço agrícola projetado e construído através do emprego do método de dimensionamento aprimorado e informatizado no Brasil. Esses terraços, implantados há mais de 25 anos, promoveram, ao longo desses anos, a infiltração de, praticamente, 100% do volume total da água das chuvas que tocaram a superfície do solo dessas máquinas. Em decorrência, propiciaram ainda a adoção da adubação das culturas com base na reposição dos nutrientes exportados nos grãos, pois as perdas de fertilizantes e de nutrientes, provocadas pela erosão hídrica, cessaram. Essa modalidade de adubação tem propiciado, em média, mais de 30% de redução das doses de adubo por safra agrícola, sendo estimadas de modo proporcional à produtividade do cultivo antecedente, isto é, proporcional à quantidade de nutrientes exportados nos grãos colhidos. Além disso, a calagem, realizada por ocasião da construção dos terraços agrícolas, com incorporação do calcário, via aração na camada de 0 a 20 cm de profundidade, seguindo, com rigor, as restrições técnicas de calagem e adubação para os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, somente foi novamente exigida após cerca de 10 a 12 anos, em conformidade com a interpretação dos resultados das análises de solo realizado.

    Os métodos de dimensionamento do terraço agrícola ajustados e informatizados consideram: as propriedades fundamentais das chuvas estimadas para a região, ou para o município, ou para o próprio estabelecimento rural; uma taxa de infiltração de água no solo; a declividade da vertente do talhão de trabalho para receber os terraços agrícolas; e o volume de água armazenável pelo canal do terraço a ser construído. A taxa de infiltração de água no solo e o volume de água armazenável pelo canal do terraço destacam-se como os fatores responsáveis ​​pelo dimensionamento de maior ou menor espaçamento entre os terraços. Quanto maior a taxa de infiltração de água no solo e maior o volume de água armazenável pelo canal do terraço, maior será o espaçamento entre os terraços. Os espaçamentos entre terraços agrícolas, que sob o método de dimensionamento utilizado anteriormente ao ano de 1995 oscilavam entre 15 e 24 m, respectivamente, para as declividades de 20 e 5%, sob o método ajustado e informatizado e disponibilizado pela pesquisa brasileira, oscilaram, em média, entre 45 e 120 m, para essas mesmas declividades. O espaçamento entre terraços limitado a 120 m decorre da energia cisalhante ou de tração da enxurrada que, em termos gerais, a partir de 120 m, mesmo em vertentes com declividades inferiores a 5%, pode superar a tensão de cisalhamento do solo e desencadear, entre os terraços, processos erosivos tanto em entre sulcos como, até mesmo, em sulcos.

    É relevante ressaltar que elevadas taxas de infiltração de água no solo, indutoras do prazer maior espaçamento entre os terraços agrícolas, decoração da diversificação de culturas, obrigatoriamente, praticadas com a inclusão de plantas de serviço, com o objetivo de, não apenas cobrir o solo , mas também de introduzir no solo volumosas quantidades de raízes robustas e espessas, hábeis para criar e estabilizar a estrutura do solo e aumentar e manter a porosidade e a continuidade dos poros do solo. As plantas de serviço que apresentam essas habilidades são as gramíneas de verão, que podem ser cultivadas no período outonal, que transcorrem entre a colheita do cultivo de verão e a semeadura do cultivo de inverno. No Rio Grande do Sul, dentre essas gramíneas, destaca-se o milheto, o capim Sudão, o sorgo, o milho próprio e, até mesmo, a braquiária, que para prestar esses serviços serão semeadas em altíssima densidade e com o menor espaçamento possível entre as linhas de plantio, que comumente é de 17 cm. Esse cultivo de outono vem se consolidando como o cultivo da construção e da manutenção da fertilidade do solo, que, além dessas benesses apontadas, não limita a possibilidade da realização dos cultivos de verão e de inverno, com produção de receita direta ao produtor rural.

    A secção do canal do terraço agrícola, também responsável pelo maior ou menor espaçamento entre os terraços, em função da sua capacidade de armazenamento de água, é resultante da dimensão dos taludes do camalhão do terraço, que obrigatoriamente deve ser realizada a partir da bitola do terraço rodado e da largura da plataforma de corte da colhedora de grãos. Portanto, a seção do canal do terraço agrícola não obedece às tabelas pré-estabelecidas. É particularizado para cada estabelecimento rural, em função das dimensões da colhedora de grãos que utiliza. Exemplificando: no caso de uma colhedora de grãos equipada com plataforma de corte de 20 pés (6,1 m) e bitola do rodado de 2,8 m, os taludes do camalhão do terraço deverão medir 4,4 m; já no caso de uma colhedora de grãos equipada com plataforma de corte de 30 pés (9,1 m) e bitola do rodado de 3,12 m, os taludes do camalhão do terraço deverão medir 6,1 m.

    Por fim, ilustrando a influência da variação da distribuição espacial de chuvas, de uma localidade para outro, no dimensionamento de terraço agrícola, segue uma simulação dimensionando o espaçamento entre terraços projetados a partir de uma chuva com período de retorno de 20 anos, para os municípios de Cruz Alta e Passo Fundo, RS, qual seja: um terraço agrícola, projetado município em nível e para reter a enxurrada produzida por uma chuva com 20 anos de período de retorno na região de Cruz Alta, a ser implantado no Cruz Alta , em um talhão de trabalho caracterizado por uma vertente com 10% de declividade, taxa de infiltração de água no solo de 50 mm/h, profundidade do canal do terraço com 0,72 me taludes do camalhão do terraço com 6,1 m, requer 70 m de espaçamento entre os terraços; esse mesmo terraço agrícola, projetado em nível e para reter a enxurrada produzida por uma chuva com 20 anos de período de retorno na região de Passo Fundo, a ser implantado no município de Passo Fundo, em um talhão de trabalho com as mesmas características do talhão de lavoura de Cruz Alta, requer 120 m de espaçamento entre os terraços. Essa desigualdade do espaçamento entre terraços, exemplificada entre as localidades de Cruz Alta e Passo Fundo, demonstra a diferença entre os métodos anteriores e atuais utilizados para dimensionar terraços agrícolas, pois o método anterior se resume à aplicação de uma tabela de espaçamento vertical entre terraços, elaborado nos EUA, sem qualquer referência às variações das propriedades da chuva de uma localidade para outra. Terraço agrícola, dimensionado e implementado, seguindo uma metodologia aprimorada, informatizada e disponibilizada a partir de 1995, com acesso livre na internet, considera as propriedades da chuva e sua distribuição espacial, tendo, assim, probabilidade de segurança semelhante atribuída às hidroelétricas, por exemplo.

    Ante essa conjunção de fatores impostos pela oscilação pluvial recorrente na região subtropical do Brasil, o Sistema Plantio Direto, detentor de tecnologias, exclusivamente de cunho vegetativo, exige a adoção de tecnologias complementares de cunho hidráulico que promovam, ao máximo, a retenção da água da chuva onde ela cai, seja para prevenir ou amenizar a erosão hídrica, seja para armazená-la e disponibilizá-la às plantas nos períodos de estiagem. Do exposto, é notório que a eficácia atribuída ao Sistema Plantio Direto na promoção da conservação do solo e da água, em consonância com os preceitos ditados pelo conservacionismo, ainda está na dependência da adoção de tecnologias complementares de cunho hidráulico, com habilidades para operar a utilização, o uso e o manejo da água das chuvas que toca a superfície do solo.

    José Eloir Denardin é Pesquisador da Embrapa Trigo

  • Maternidade e importância do autocuidado

    Maternidade e importância do autocuidado

    Após o nascimento do filho, é natural que a atenção e a preocupação da família se voltem para o bebê, mas isso não deveria significar negligência com a saúde materna. Estudos demonstram que uma criança saudável precisa de uma mãe saudável. Além disso, alguns hábitos se tornam exemplo para os filhos desde cedo.

    Quais seriam, então, os cuidados com a saúde da mãe? Um dos pilares é justamente uma alimentação balanceada nas várias fases de vida dessa mulher, principalmente no período de puerpério e lactação, com os nutrientes necessários, porém, sem risco de sobrepeso ou obesidade.

    Nesse contexto, é importante haver um planejamento e um acompanhamento nutricional, que pode começar na gestação, para dar suporte para todas as mudanças que a mulher enfrenta antes e após o nascimento do filho. A principal delas, sem dúvida, é na mentalidade que muda agora que ela está cuidando de outro ser humano e, muitas vezes, deixa de se ver como prioridade.

    O grande desafio é que as mães entendam que precisam manter uma rotina de autocuidado que inclui alimentação equilibrada (que já falamos), sono de qualidade, que sem dúvida é difícil logo após o nascimento do bebê, prática regular de exercício físico, tempo de descanso, lazer e hobbies. Tudo isso vai exigir uma rede de apoio, que é outro ponto importante.

    Na rotina do consultório, acabo me deparando com situações críticas, de mulheres perderam a identidade após o nascimento do filho, algo que reflete até na forma como se alimentam. É comum ouvi-las dizer que almoçaram ou jantaram o que tinha, o que deu, que pode ser muitas vezes os restos da refeição das crianças. “Se meu filho não comeu tudo, eu como”, “quando ele terminou o prato, eu comi”.

    Infelizmente, o contexto atual favorece um quadro de adoecimento físico e mental das mães que enfrentam: privação de sono, sedentarismo, alimentação inadequada, ausência de atividade de lazer, pouco descanso e ainda excesso de telas (celular, por exemplo). Tudo isso costuma gerar aumento do hormônio cortisol ou “hormônio do estresse”, que regula o humor, a motivação e o medo.

    Um dos efeitos do excesso do cortisol é justamente o aumento do peso, sobretudo no rosto, abdômen e atrás do pescoço, devido a um aumento e redistribuição da gordura corporal. Outra desvantagem para as mulheres, que já são afetadas pelo ciclo menstrual e outros hormônios femininos mensalmente, é o quadro de retenção de líquidos e inchaço, contribuindo para o aumento do peso.

    Reverter o adoecimento ou mesmo prevenir demonstra a importância da organização da família para a chegada da criança, pontuando os itens que são fundamentais para a saúde da mãe e do bebê. Claro que não podemos deixar de levar em conta um contexto social diverso brasileiro, onde há milhares de mães solo ou outras situações adversas envolvendo a maternidade.

    Se a sua situação permitir, mulher, planeje-se para a experiência da maternidade de modo a envolver seu parceiro, a família de ambos, os amigos, vizinhos, colegas de trabalho e ainda conte com ajuda profissional sim, seja para ajudar com as demandas do bebê, seja para os seus cuidados básicos e da casa!

    Nenhuma mulher deveria passar por tamanha transformação se sentindo sozinha. Não deveríamos ter que “dar conta de tudo”. Na Espanha, desde 2021, a licença maternidade e paternidade são equiparadas (de 4 meses). Até chegarmos a um contexto social como este, talvez seja necessário um despertar de consciência individual. Portanto, mãe, priorize-se. Mantenha sua rotina de autocuidado!

    Vanessa Kasy, nutricionista com formação na UFMT e pós-graduação em Comportamento Alimentar.