Nova Mutum, em Mato Grosso, recebeu importante investimento para o aproveitamento das riquezas do agronegócio, especialmente no setor algodoeiro. A inauguração de uma nova planta industrial na cidade marca um avanço significativo na transformação do caroço de algodão em produtos de alto valor agregado, como óleo comestível, margarinas e insumos para nutrição animal.
Com um investimento expressivo e estrutura capaz de processar 216 mil toneladas de caroço de algodão por ano, a unidade destaca o estado como protagonista na agroindústria brasileira. O empreendimento, que gerará mais de 150 empregos diretos e 600 indiretos, reforça a cadeia produtiva e aproveita a proximidade com a matéria-prima em um estado que é líder nacional na produção de algodão.
A planta industrial da Icofort Agroindustrial S/A, empresa que tem origem no Ceará, produz alimentos como óleos, margarinas e a gordura Elogiata, além de produtos para nutrição animal, como farelo, torta e torna moída de algodão. Atualmente, a empresa tem unidades em Luiz Eduardo Magalhães e Juazeiro, na Bahia, sendo a planta de Nova Mutum a primeira fora do nordeste.
Agroindústria como motor de desenvolvimento
A instalação da nova indústria representa um esforço conjunto entre setor público e privado, viabilizado por incentivos como o diferimento de ICMS para operações internas com óleo bruto de algodão, aprovado pelo Conselho Deliberativo dos Programas de Desenvolvimento de Mato Grosso (Condeprodemat).
“O investimento em Nova Mutum é um exemplo de como o setor agroindustrial pode transformar o cenário econômico e social do estado. Além de fortalecer a cadeia do algodão, proporciona emprego e desenvolvimento sustentável”, destacou o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Silvio Rangel.
Capacitação profissional e crescimento regional
Para atender às demandas da nova planta, a prefeitura de Nova Mutum, em parceria com o Senai Mato Grosso, capacitou profissionais da região. De acordo com o diretor regional do Senai MT, a iniciativa é essencial para preparar a força de trabalho local para atuar em uma indústria moderna e tecnológica, gerando empregos com maior valor agregado.
Mato Grosso: oportunidades e vocação natural
A localização estratégica de Nova Mutum, no corredor logístico da BR-163, e a hospitalidade da região foram fatores determinantes para atrair o investimento. Segundo o secretário de Desenvolvimento de Mato Grosso, César Miranda, o estado oferece segurança jurídica, transparência e incentivos fiscais que tornam a região atrativa para grandes projetos industriais.
“Com iniciativas como essa, Mato Grosso consolida sua posição como um dos líderes da agroindústria no Brasil. Além de beneficiar a população com emprego e oportunidades, fortalecemos nossa economia e reafirmamos nosso papel estratégico no cenário nacional”, afirmou Miranda.
A nova planta industrial reflete o potencial transformador do agronegócio, mostrando como a integração entre cultivo, tecnologia e logística pode agregar valor às riquezas naturais de Mato Grosso. A iniciativa não apenas transforma algodão em produtos essenciais, mas também coloca a região em destaque como referência em inovação e sustentabilidade na agroindústria.
Na segunda quinzena de novembro, os movimentos começaram para o mercado de algodão em pluma no Brasil, com um bom volume de negócios registrados no mercado spot. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os demandantes estão adquirindo o produto para atender às necessidades imediatas ou para fortalecer estoques transferidos ao final do ano.
Apesar da atividade moderada, as cotações levantadas foram influenciadas principalmente pela desvalorização externa , que tem pressionados os preços domésticos.
Produção recorde em 2024/25
A safra 2024/25 promete ser histórica, com estimativa de produção recorde de 3,704 milhões de toneladas , de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse volume representa um aumento de 0,1% em relação à temporada anterior, consolidando a força do Brasil como um dos maiores produtores globais da fibra.
Entretanto, o desafio será o escoamento do excedente , dado o crescimento ainda modesto do consumo interno. A expectativa é que as exportações da pluma sigam em níveis recordes, garantindo o equilíbrio entre oferta e demanda e fortalecendo o setor no mercado internacional.
Perspectivas no mercado de algodão
Com uma safra promissória e preços hipotecários, o mercado de algodão deve enfrentar um cenário de alta competitividade nas exportações e volatilidade nos preços, especialmente em função das oscilações no mercado externo.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) consolidou em novembro os dados da safra 23/24 de algodão, revelando um aumento expressivo na área cultivada no estado, que alcançou 1,46 milhão de hectares. Esse crescimento representa um avanço de 21,57% em comparação à safra anterior, reflexo de investimentos na cultura e na busca por maior produção no estado.
Apesar da expansão, a produtividade média da safra apresentou recuo, fechando em 291,71 arrobas por hectare, uma redução de 6,24% frente ao recorde registrado em 22/23. Esse declínio está associado a desafios climáticos e de manejo que impactaram o potencial produtivo do algodão mato-grossense nesta temporada.
A produção total de algodão em caroço, no entanto, ficou em 6,40 milhões de toneladas, consolidando o estado como um dos principais polos produtores da cultura no Brasil. Mesmo com a queda na produtividade, o aumento da área plantada compensou parcialmente a produção final, destacando a importância estratégica do algodão para o agronegócio mato-grossense.
O desempenho do setor, impulsionado pela expansão de área e pela resiliência do mercado, reforça a competitividade do algodão brasileiro no cenário global, ao mesmo tempo em que traz à tona a necessidade de ajustes para enfrentar as variabilidades e otimizar a produtividade nas próximas safras.
Pesquisas do Cepea indicam que vendedores de algodão no Brasil seguem priorizando a exportação de contratos a termo de algodão em pluma, especialmente da safra 2023/24, com novas programações de envio já sendo ajustadas para a temporada 2024/25. O foco nas exportações tem elevado o ritmo dos embarques, consolidando o mercado brasileiro como um dos maiores fornecedores globais.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) analisados pelo Cepea mostram que, na parcial de outubro (até o dia 25), os embarques de algodão em pluma já somavam 257,2 mil toneladas. O volume indica uma possibilidade concreta de outubro alcançar o maior patamar de exportações de algodão deste ano, se aproximando do recorde anual de 258,2 mil toneladas, registrado em fevereiro.
Em uma análise dos últimos 12 meses, entre 1º de novembro de 2023 e 25 de outubro de 2024, o Brasil enviou ao exterior um total de 2,7 milhões de toneladas de algodão em pluma, um recorde histórico para o setor. Esse marco reflete a robustez do agronegócio nacional, especialmente em Mato Grosso, maior produtor de algodão do país, que ampliou significativamente sua área plantada na última temporada.
A expectativa é que o Brasil mantenha essa trajetória ascendente nas exportações, com vendas previstas também para o próximo ciclo. O cenário atual evidencia o papel cada vez mais estratégico do país no mercado global de algodão, reforçando a competitividade da produção nacional e sua relevância nos mercados internacionais.
Levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que, em outubro, os preços do algodão em pluma no mercado brasileiro ficaram abaixo das cotações internacionais. Segundo os pesquisadores, o cenário reflete o aumento da oferta interna com o avanço do beneficiamento da safra 2023/24, típico deste período do ano.
Até dia 28 de outubro, o Indicador CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, registrou média de US$ 0,7074 por libra-peso, uma leve queda de 1% em comparação ao mês anterior. A baixa é atribuída à valorização de 1,2% na taxa de câmbio no período, que alcançou R$ 5,6047 por dólar em outubro.
Enquanto isso, no mercado internacional, o Índice Cotlook A, referência global para o algodão, subiu 1,8% e fechou a US$ 0,8392 por libra-peso. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), o contrato de primeira posição também registrou alta de 1,5%, chegando a US$ 0,7191 por libra-peso. Com a diferença de valores, a cotação internacional do algodão segue mais vantajosa para produtores no cenário atual.
Os preços do algodão em pluma no mercado doméstico permanecem estáveis, oscilando em um pequeno intervalo, de acordo com pesquisadores do Cepea. Nem mesmo as variações no mercado internacional ou as recentes oscilações do dólar foram suficientes para provocar um aumento nos valores internos. A liquidez segue baixa, com a maioria dos compradores afastados das aquisições. Apenas alguns demandantes, que precisam repor seus estoques, têm mantido certa atividade no mercado spot.
Por outro lado, os vendedores estão dispostos a negociar lotes de algodão, mas muitos preferem focar na realização de contratos a termo, visando entregas no médio prazo e priorizando exportações. Isso mantém o ritmo das transações internas relativamente moroso, com maior ênfase nas operações futuras.
Em Mato Grosso, um dos maiores produtores de algodão do Brasil, o cenário também apresenta certa estabilidade. A estimativa de setembro de 2024 do projeto Acapa-MT mostrou uma redução mensal de 1,99% no custeio da safra 2024/25, influenciada pela queda de 5,16% nos gastos com defensivos em relação à projeção anterior, de agosto. O Custo Operacional Efetivo (COE) ficou estimado em R$ 13.095,50 por hectare para o ciclo 2024/25, representando uma diminuição de 1,55% em comparação à estimativa anterior e de 4,37% em relação ao consolidado da safra 2023/24.
Esses fatores indicam um controle maior sobre os custos de produção, o que pode ajudar os produtores a manterem a competitividade em um mercado desafiador, marcado pela baixa liquidez interna e pela dependência de contratos internacionais. Contudo, a baixa movimentação interna sugere que o mercado brasileiro de algodão ainda enfrenta dificuldades para sair de um cenário de estagnação, mesmo com as condições externas favoráveis.
Com aproximadamente dois terços da produção de algodão já beneficiada neste ano, os produtores seguem focados no cumprimento de contratos, o que mantém a liquidez no mercado spot baixa. Segundo pesquisas do Cepea, a cultura do algodão continua oferecendo boa rentabilidade, atraindo mais produtores, e indicando um possível aumento na área plantada para a safra 2024/25.
De acordo com um relatório divulgado pela Conab nesta terça-feira (15), a área nacional destinada ao algodão deve alcançar 2 milhões de hectares na próxima safra, o que representa um crescimento de 2,9% em relação à temporada 2023/24. No entanto, a produtividade está projetada para sofrer uma queda de 3,1%, com uma média de 1.831 kg/ha. Isso resultaria em uma produção de 3,67 milhões de toneladas, levemente inferior (0,2%) à registrada na safra anterior.
Esse cenário reflete o equilíbrio entre o aumento da área plantada e as adversidades que podem impactar a produtividade, como condições climáticas ou desafios no manejo da cultura. O setor segue otimista, atraindo mais investimentos e expandindo sua presença no agronegócio brasileiro.
No início desta semana, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) divulgou a primeira estimativa para a safra 2024/25 do algodão em Mato Grosso. O levantamento projeta um crescimento significativo na área plantada, que deve alcançar 1,56 milhão de hectares, um acréscimo de 6,90% em comparação à safra anterior, 2023/24. Este aumento é impulsionado pela melhor rentabilidade do algodão em relação a outras culturas, mesmo que os preços atuais da fibra não estejam em níveis elevados.
No entanto, a produtividade média esperada é de 284,27 arrobas por hectare, uma leve redução de 2,63% em relação ao ciclo anterior. O Imea ressalta que essa projeção é cautelosa, uma vez que fatores como o percentual de áreas semeadas dentro da janela ideal, as condições climáticas ao longo da temporada, e a presença de pragas e doenças podem influenciar significativamente os resultados da colheita.
Com base nessas estimativas, a produção total de pluma para o ciclo 2024/25 está projetada em 2,77 milhões de toneladas, representando um aumento de 4,12% em relação à safra 2023/24.
Essa projeção de crescimento reflete a confiança dos produtores na cultura do algodão, apesar dos desafios que o setor ainda enfrenta, como a oscilação dos preços e a variabilidade climática.
Nesta segunda-feira (7), celebram-se cinco anos do Dia Mundial do Algodão. A data foi criada pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2019 com o objetivo de destacar a importância dessa fibra tanto para a economia global quanto para o agronegócio.
“Este ano, alcançamos o patamar de maior exportador de fibra de algodão, enviando o produto para grandes mercados, incluindo o Egito, conhecido por ter o melhor algodão do mundo. Essa data simboliza a grande relevância dessa produção para o Brasil e para os produtores rurais”, destacou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desde o final da década de 1990 e início dos anos 2000, o cerrado se consolidou como a principal região produtora da fibra. Conforme a Embrapa Algodão, o ciclo do algodoeiro varia em função da cultivar e do ambiente. Quanto mais próximo à linha do Equador, mais curto é o ciclo. No cerrado, as cultivares precoces têm ciclo de cerca de 150 dias, as de ciclo médio entre 160 e 180 dias, e as de ciclo longo, mais de 180 dias.
Para o plantio, o solo deve ser adequadamente manejado e trabalhado para garantir a qualidade dos cultivos futuros. A cultura do algodão é exigente em nutrientes, demandando solo com pH corrigido e livre de alumínio tóxico, além de boas práticas de conservação da terra e da água. Outro ponto fundamental é o controle de pragas. Para garantir maior produtividade, fatores como a condição climática, a disponibilidade adequada de água e luz, e temperaturas favoráveis são essenciais.
Ainda segundo a Embrapa Algodão, a cotonicultura brasileira é um exemplo de organização setorial, com a colaboração de diversas entidades públicas e privadas, que atuam na inovação e melhoria dos processos de produção da fibra.
O algodão é a fibra têxtil vegetal mais comercializada no mundo. A cotonicultura brasileira apresenta grande diversidade em termos de sementes, climas e beneficiamento, o que pode gerar variações significativas nas características do produto. O Brasil é o terceiro maior produtor de algodão do mundo, e os principais estados produtores são Mato Grosso, Bahia e Mato Grosso do Sul.
Segundo a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (SPA/Mapa), o cultivo de algodão é a quarta maior cultura temporária do país, com valor de produção estimado em R$ 33 bilhões.
APOIO DO MAPA
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) trabalha para fomentar a cadeia produtiva e incentivar os produtores rurais. Os cotonicultores podem acessar recursos por meio da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) e de linhas de crédito rural para custeio e comercialização. Em 2023, segundo dados do Banco Central, os contratos de financiamento para comercialização (FEE e FGPP) e custeio de algodão totalizaram R$ 561 milhões e R$ 3,54 bilhões, respectivamente, conforme apresentado pela SPA.
Em 2024 o Brasil alcançou a marca de maior país exportador de algodão. Nos primeiros oito meses deste ano, o Brasil já comercializou US$ 3,35 bilhões e 1,72 milhões de toneladas, superando o total exportado em todo o ano de 2023, que registrou US$ 3,33 bilhões e 1,68 milhões de toneladas, conforme apresentou a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI/Mapa).
As exportações de algodão brasileiro vão para mais de 150 países, e os principais importadores são: China, Vietnã, Bangladesh, Turquia e Paquistão.
Há mais de uma década, programa liderado pelo Brasil trabalha para unir países latino-americanos em torno de um produto: o algodão. O Brasil é o maior exportador deste vegetal do mundo, terceiro lugar no ranking de maiores produtores da fibra e líder mundial em produção de algodão sustentável. Com a parceria em torno +ALgodão, a ideia é que os países vizinhos também trabalhem de forma sustentável e invistam em seus artesanatos mais autênticos feitos a partir do algodão, para assim atrelar o produto brasileiro à identidade latino-americana com valores como rastreabilidade, ancestralidade, respeito ao meio ambiente e combate à fome e à pobreza.
Para destacar o setor que responde por cerca de 250 milhões de empregos diretos e indiretos no mundo, a Organização das Nações Unidas elegeu 7 de outubro como Dia Mundial do Algodão.
O programa de cooperação internacional +ALgodão é liderado pelo Brasil por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Itamaraty, em parceria com a Embrapa e a Assistência Técnica da Empresa Paraibana de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural Paraíba (Empaer-PB). A cooperação envolve Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Paraguai, Argentina, Haiti e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
A origem do investimento para esse programa remonta ao ano de 2002, quando o Brasil contestou, na Organização Mundial do Comércio, subsídios que o governo dos Estados Unidos concedia a seus produtores de algodão. Em 2014, depois de doze anos de disputa, os Estados Unidos tiveram que pagar 300 milhões de dólares ao Brasil. Dez por cento deste valor foi destinado à cooperação internacional.
Cecília Malaguti, coordenadora de cooperação sul-sul trilateral da ABC, ressalta que além do programa +ALgodão, direcionado a América Latina e Caribe, também existe cooperação com países africanos produtores da fibra. “Para cada uma dessas duas iniciativas, definimos uma estratégia diferente. Na cooperação do Brasil com a África, iniciamos com cooperação bilateral, que é Brasil diretamente com cada um desses países, que foram 15 inicialmente. E na América Latina, resolvemos desenvolver esse programa a partir de projetos em parcerias com organismos internacionais”, esclarece Cecília, sobre o envolvimento da FAO.
A coordenadora destaca que o nome +ALgodão tem o ‘AL’ de América Latina e foi desenvolvido em conjunto entre os participantes. “Um nome que é simples e diz tudo”, constata Cecília.
Parceria
Em Bogotá, o embaixador brasileiro Paulo Estivallet de Mesquita defendeu que uma das vantagens de ajudar a desenvolver o algodão em países parceiros é a diversificação: “a extensão dessa produção para outros países que têm outros climas, outras situações geográficas, pode em algum momento, se nós enfrentarmos uma dificuldade, também ser um bom fornecedor para equilibrar o mercado brasileiro”.
O embaixador do Brasil na Colômbia lembrou que o algodão brasileiro superou uma forte crise nos anos de 1980 e 1990. Os colombianos também enfrentaram dificuldades na mesma época, mas ao contrário do Brasil, não se recuperaram plenamente até hoje. No auge, na década de 1970, o algodão era o segundo produto mais importante do país vizinho, só perdia para o café. Os colombianos plantavam 350 mil hectares de algodão e produziam mais de 300 mil toneladas. Hoje, são no máximo 20 mil hectares cultivados e uma produção de 20 mil toneladas, segundo o presidente da Congregação Colombiana do Algodão, Cesar Villalba.
Para retomar o ritmo de produção do algodão na Colômbia, o Brasil tem transferido técnicas sustentáveis de cultivo.
Sustentabilidade
De 2017 até agora, o programa +ALgodão tem trabalhado na Colômbia com o uso de técnicas brasileiras como substituição de agrotóxico por biofertilizante, sistema de irrigação que não desperdiça água e rotação de culturas. Isso tem reduzido os custos da produção e os pequenos produtores colombianos têm aprovado. “Está indo muito bem e se vê uma boa mata e um bom algodão”, comenta Rosa Rubiano Rojas, que cultiva em terras que ficam a seis horas da capital Bogotá. Rosa vive com a família na zona rural de Villavieja, município que guarda o Deserto de Tatacoa, a segunda área mais árida da Colômbia.
O clima seco desta região produtora colombiana traz à tona semelhanças com a produção de algodão orgânico no semiárido paraibano. Jefferson Morais, diretor de Empaer, acrescenta que “a maioria dos agricultores que estão trabalhando dentro do projeto são agricultores familiares com pequenas áreas, o estado da Paraíba não é diferente, eles praticamente não têm o título da terra, eles arrendam a terra para poderem produzir”.
É o caso do agricultor Alfredo Antonio Ramos Rivas, de Cereté, município na região caribenha. Além do algodão, ele planta vários outros produtos para garantir as refeições da família e para vender o excedente. Um deles é o milho, base alimentar dos colombianos, usado para fazer “arepa”, tão comum para eles quanto um pão francês no Brasil. Alfredo conta que uma das maiores vantagens para ele do programa de cooperação +ALgodão é a assistência técnica gratuita. “Antes do projeto, eu pagava 80 mil pesos colombianos por hectare para o assistente técnico, e hoje em dia é grátis, por meio do projeto, então, tudo isso ajuda”, relata.
Alfredo Rivas planta vários produtos para garantir o sustento da família, incluindo milho – Frame/TV Brasil
O pesquisador da Embrapa José Renato Cortes Bezerra esteve nas terras do Alfredo e verificou os resultados positivos da rotação de culturas. “O monocultivo, exatamente por se tratar de uma única cultura, faz com que a ocorrência de pragas e doenças ocorra com muito mais frequência na área. Quando a gente tem a sucessão ou a rotação de culturas, ou mesmo o consórcio, a gente tem mais de uma cultura, fazendo com que de imediato uma praga que vai atacar uma determinada cultura não consiga atingir a outra. Fazendo com que, ao final, você tenha realmente o resultado mais rentável para ele”, constata.
Essa rentabilidade também depende dos esforços do governo colombiano para resolver algumas questões nacionais. Só existe uma empresa no país atualmente que compra o algodão produzido internamente, portanto, não há concorrência.
Repórter Flávia Peixoto participa de ritual para estabelecer confiança com Eduvin – Frame/TV Brasil
Segundo Eduvin Timoté Vargas [foto em destaque na matéria], agricultor da zona rural de Coyaima e líder indígena Pijao, o algodão ainda não tem dado o lucro que eles esperam. “Todos os governos que passaram não valorizaram o nosso trabalho”, se queixou Edvin, após um ritual para estabelecer confiança com a equipe de reportagem. Ele recebeu a TV Brasil com uma cumbuca de ‘guarapo’, uma bebida fermentada à base de rapadura, e com outra de ‘chicha’, feita de milho e mandioca. Em povos indígenas, compartilhar é essencial para abrir o diálogo.
Em resposta à reclamação, em Bogotá, Ruth Ibarra, coordenadora do ministério de Agricultura e desenvolvimento Rural da Colômbia, disse que o governo está buscando ajustes. “Uma grande aposta que tem o governo colombiano é ajudar os produtores na parte de assistência técnica. Fazer todo o acompanhamento, até levá-los ao mercado, onde negociam com os aliados comerciais, os quais vão comprar a matéria-prima a um preço justo, e também dar-lhes valor agregado”, ressalta Ruth Ibarra.
Pesquisa científica
Outra linha de frente do programa de cooperação internacional em busca de um algodão mais sustentável na América Latina é a pesquisa científica. Na Colômbia, por exemplo, a Universidade de Tolima envolveu profissionais como o professor Giovani Andrade Peña, engenheiro agrônomo.
Peña explica que os trabalhos na universidade incluem o desenvolvimento de novos biofertilizantes e o reaproveitamento de subprodutos do cultivo do algodão. Giovani diz que a universidade se une ao esforço de revalorizar o algodão.
“Lamentavelmente, neste momento, o algodão, como tal, a nível mundial, não somente na Colômbia, está atravessando uma crise. Já que temos outros tipos de fibras que o substituem, por exemplo, o poliéster, que é um derivado do petróleo. Então, para as indústrias, é mais atrativo trabalhar com o poliéster, porque o preço é mais baixo”, conclui.
O algodão é uma fibra natural cujo processo de decomposição acontece entre três meses e vinte anos. Por outro lado, as fibras sintéticas podem levar duzentos anos para se decompor.
Há também um trabalho para recuperar as sementes tradicionais do algodão, as chamadas sementes crioulas, e deixar de usar tão amplamente as sementes transgênicas. A ideia é criar um banco de material genético do algodão latino-americano. Quem cuida disso na Colômbia é a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (Agrosavia), o equivalente à Embrapa no Brasil.
Henry Ballesteros é coordenador de inovação regional da Agrosavia em Cereté e a missão profissional dele se mistura a um desejo pessoal. “Sonho em voltar a produzir algodão de novo. Tenho muita esperança. E, se eu fizer, sem dúvida, faria com essas técnicas que estamos aprendendo e desenvolvendo com o Projeto +ALgodão”, destaca. Henry é neto de produtores de algodão e a produção da família dele foi à ruína na época em que se usava muito agrotóxico, o que encareceu a produção e desvalorizou o produto.
Ouro branco
O algodão é sagrado para alguns povos da América Latina. Já foi considerado ‘ouro branco’, por exemplo, em algumas regiões do Brasil e da Colômbia por gerar riqueza.
Incentivar o fortalecimento do cultivo do algodão, de forma sustentável, nos países que têm ou tinham a tradição desse plantio, é também lutar contra a fome e a pobreza, segundo especialistas de instituições envolvidas no programa de cooperação internacional liderado pelo Brasil. Não apenas por causa dos cultivos associados de alimentos e das vantagens financeiras e ambientais das técnicas sustentáveis de plantio, mas pela própria permanência da população no campo.
Na Colômbia, muita gente foi expulsa da zona rural por causa do conflito entre governo, grupos paramilitares, traficantes de drogas e guerrilhas como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que já dura seis décadas e é responsável pelo deslocamento de cerca de sete milhões e meio de pessoas de seus lares originais.
Agustin Zimmermann, representante da FAO na Colômbia, afirma que o programa +ALgodão está atuando em zonas que foram muito afetadas durante o auge do conflito armado no país. “Então, o projeto dá agora possibilidade de retorno dos camponeses, porque põe em funcionamento uma dinâmica produtiva, digamos, benefícios, para que os camponeses possam ficar e retornar aos lugares onde antes tinham suas casas”, avalia Zimmermann.
Para atrair as pessoas de volta para o campo e, principalmente os mais jovens, a estratégia da cooperação internacional é levar tecnologia para o campo. O Brasil doou para a Colômbia um drone agrícola para pulverização de biofertilizantes nas plantações de algodão e cultivos associados. O dispositivo voador é usado por alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem da Colômbia (Sena), no município de El Espinal.
Alvaro Puentes Molina, professor de Agricultura do Sena, pontua que o jovem, “se ele sabe que a partir da tecnologia, ele vai ter mais conforto, vai ter mais sustentabilidade, vai ter melhores garantias na vida, ele fica”. Kelly Moreno, estudante de 17 anos do curso de agricultura de precisão, explica que o drone tem entre os benefícios “monitorar cultivo, analisar dados, e a possibilidade de fazer doses variáveis, de expandir fertilizantes e de economizar água”.
Tecnologia deve atrair os jovens para o campo- Frame/TV Brasil
Para o coordenador do programa +ALgodão na Colômbia, José Nelson Camelo, da FAO, uma das situações mais críticas da cadeia algodoeira na América Latina é que há uma população envelhecida e, portanto, atrair jovens seria um dos maiores acertos da cooperação internacional.
Outro acerto, segundo ele, é promover o modelo produtivo, que se validou no Brasil, que atrai pequenos produtores da agricultura familiar e que em seu sistema de produção envolve algodão com outros cultivos, como milho, arroz e sorgo. “Isso para a Colômbia é muito válido, porque a maioria dos produtores de algodão no país, cerca de 70%, são pequenos. Para a FAO e para o projeto, esse é um dos nossos interesses: a segurança alimentar”, enfatiza José Nelson.
A ideia do projeto é aproveitar tudo que é nutritivo em torno do cultivo da fibra, até os cactos da região algodoeira próxima ao Deserto de Tatacoa. O cacto conhecido como nopal tinha enorme importância para as civilizações pré-colombianas e até hoje é usado por alguns como base para alimentos e cosméticos. No sertão nordestino, o nopal é conhecido como ‘palma forrageira’.
Vivian García, engenheira ambiental do Pacto Global, da ONU, avalia que o programa +ALgodão atende a todos os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. “Um programa como este, definitivamente, está abarcando temas de fome zero, de erradicação da pobreza, de ação climática, de gestão de água e redução de desigualdades”, defende.
Mulheres na cadeia do algodão
Para combater desigualdades, o programa +ALgodão também tem um recorte de gênero. Muitas mulheres têm histórias de vida entrelaçadas pela fibra têxtil natural mais usada no mundo. Em Córdoba, no Caribe colombiano, as artesãs Adriana Isabel Reyes e Líris Barga Martine aprenderam ainda crianças a tecer bolsas típicas do povo Wayuu, indígenas que habitam a fronteira com a Venezuela. As mais tradicionais são coloridas e no formato saco. É um souvenir colombiano famoso entre os turistas e as fashionistas.
Líris produz as bolsas típicas colombianas – Frame/TV Brasil
Por meio do programa de cooperação internacional, Adriana e Liris têm recebido os fios de graça, o que reduz os custos de produção das peças artesanais. Mas a intenção da iniciativa é maior: preparar mulheres para plantar e colher o algodão.
“É muito difícil se manter comprando o quilo caro, sendo que nós podemos produzir o algodão”, reforça a artesã Liris.
Na região de Tolima, em um vale da Cordilheira dos Andes. as indígenas do povo pijao Oneida Collazos Payanene e Eliza Fernanda Liz Pietro já cultivam o próprio algodão. Elas foram selecionadas para participar de capacitações de cultivo oferecidas gratuitamente pelo +ALgodão. “Isso é uma mudança de vida muito bonita, tanto para a comunidade como para nós, porque nos beneficia em sermos lideranças, em perder o medo de dirigir, empoderar como mulheres indígenas, e obter ganhos monetários e econômicos para nossas famílias”, afirma Elisa.
Indígenas do povo pijao produzem o próprio algodão – Frame/TV Brasil
Ainda em Tolima, na capital da reigão, Ibagué, Sandra Patricia Gil Pérez, profissional de segurança e saúde no trabalho das Confecções Caribbean, é uma dos cerca de 100 trabalhadores da empresa alinhados com a missão do programa +ALgodão. “Não é só vir e fazer roupas, não. Há muita coisa por trás de tudo isso. Trabalho social, gerar renda para pessoas que estão na prisão, igualdade de gênero, a maioria são mães de família, mantendo o algodão na Colômbia”, defende Sandra.
Na Tomatico, outra empresa têxtil da cidade de Ibagué, a operária de confecção Zoraida Cárdenas conta que o sustento de muitas famílias é devido ao algodão. “Temos muitas mães, chefes de família, que pertencem à empresa. E, graças a isso, nós podemos sobreviver ou podemos levar nossos filhos, nossa família para frente”.
No entanto, Zoraida alerta sobre a redução de negócios no polo têxtil de Ibagué durante a decadência do algodão na Colômbia, nas últimas três décadas. Muitas fábricas de fiação foram fechadas, o que encareceu o fio produzido na Colômbia, tendo em vista que praticamente não há concorrência interna. Tanto que para diminuir os custos, o fio usado na Tomatico é importado da Ásia, mais barato. Reverter esse tipo de importação é um dos objetivos do programa de cooperação internacional.
Zoraida conta que o algodão é o sustento de muitas famílias na região, mas alerta para a queda no número de empresas do ramo – Frame/TV Brasil
Um dos responsáveis pela Tomatico, o engenheiro industrial Germán Mejía Sanchez diz que a empresa planeja produzir o fio. “Temos o projeto de montar uma fábrica de fios aqui na região, está dentro do projeto +ALgodão. A longitude de fibra do algodão de Tolima é muito boa, é uma região que tem muitos terrenos, são muitos que se prestam ao cultivo do algodão”.
A coordenadora de cooperação sul-sul trilateral da Agência Brasileira de Cooperação, Cecília Malaguti, diz que na recém lançada segunda fase do projeto +ALgodão, o foco é a certificação e o rastreamento da forma de produção. “Os consumidores querem saber de onde vem esse algodão, que técnicas empregou, técnicas sociais, ambientais”, explica sobre a prioridade atual.
Juan Pablo mostra a mistura de tecidos que produziu- Frame/TV Brasil
Quem resume bem esses valores é o designer de moda sustentável colombiano Juan Pablo Martínez. Ele une peças de algodão feitas por artesãs dos diferentes países participantes do programa +ALgodão. “É um tecido, uma maneira de trabalhar o algodão típico de Yatite, no Paraguai. E isto eu combinei com este tecido, que é dos indígenas arhuacos, da Serra Nevada da Colômbia”, expõe.
“Há uma história de que todas essas artesãs que estão afastadas fisicamente, geograficamente, por milhares de quilômetros, mas que têm histórias muito similares umas às outras, são apaixonadas e conhecedoras do trabalho do tecido e do fazer com o algodão”, acrescenta Juan Pablo.
São a esses valores que o algodão brasileiro quer se vincular.