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  • Haddad defende governança climática e multilateralismo em conferência em Paris

    Haddad defende governança climática e multilateralismo em conferência em Paris

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou, nesta segunda-feira (31/3), a necessidade de uma nova governança global para enfrentar os desafios climáticos. Ele foi o convidado da conferência “10 anos após o Acordo de Paris – Governar na Era Climática”, realizada na universidade Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos), em Paris. O evento teve a moderação da diretora da Fundação Europeia para o Clima, Laurence Tubiana, e do filósofo Pierre Charbonnier, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica.

    Haddad ressaltou que a governança climática não segue um paradigma fixo, pois “choques políticos, econômicos e até militares podem interromper avanços institucionais”. Ele enfatizou o compromisso do governo brasileiro em consolidar a agenda climática dentro da gestão do Estado, uma tarefa que, segundo ele, não era óbvia para a área econômica até pouco tempo atrás.

    O ministro elencou as principais iniciativas do Brasil nessa área desde 2023, como o lançamento do ” Novo Brasil – Plano de Transformação Ecológica “, a aprovação da Lei do Mercado de Carbono , a elaboração da Taxonomia Sustentável e a criação de mecanismos financeiros inovadores para atrair investimentos estrangeiros. Esses avanços têm sido fundamentais para o cumprimento das metas da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil no Acordo de Paris – tratado internacional que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater as alterações climáticas, adotado em 2015 e vigente desde 2016.

    Acesse o discurso do ministro Haddad na Conferência na Sciences Po

    “Para construir um futuro sustentável, precisamos romper com as lógicas do passado e adotar uma nova visão de prosperidade, que integre tanto as questões sociais quanto ambientais”, Fernando Haddad

    Entre os resultados concretos, Haddad destacou a redução de mais de 60% no desmatamento da Amazônia, em apenas dois anos, e a meta ambiciosa de desmatamento zero até 2030. “O Plano de Transformação Ecológica fortaleceu as credenciais brasileiras para participar de maneira audaz nos debates globais e defender uma nova Governança na Era do Clima que chamamos de ‘re-globalização sustentável’ no G20”, afirmou.

    Outro destaque foi a parceria entre Brasil e França na defesa da tributação dos super-ricos como um passo essencial para combater a desigualdade e viabilizar o financiamento climático. O ministro citou o apoio de economistas franceses, como Gabriel Zucman e Esther Duflo, na construção da Declaração sobre Cooperação Tributária Internacional e do documento final da Cúpula do G20 no Rio, em novembro passado.

    Nova visão de prosperidade

    Com a aproximação da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, prevista para novembro, em Belém (PA), Haddad reforçou o compromisso do Brasil em repensar a relação entre o modo de vida moderno e os recursos limitados do planeta. “Para construir um futuro sustentável, precisamos romper com as lógicas do passado e adotar uma nova visão de prosperidade, que integre tanto as questões sociais quanto ambientais”, salientou.

    O ministro da Fazenda também concordou que o Brasil deve liderar pelo exemplo, promovendo uma agenda climática inclusiva e focada na implementação de soluções concretas, em prol de um multilateralismo reforçado. “Só assim a COP30 entrará na história como a COP da implementação”, disse. “Nosso objetivo é contribuir para o Roadmap Baku-Belém , garantindo a canalização de pelo menos US$ 1,3 trilhão para financiamento climático em países em desenvolvimento até 2035.”

    Fernando Haddad também apresentou duas iniciativas do Ministério da Fazenda voltadas à agenda climática. A primeira é a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forest Forever Facility – TFFF), um modelo inovador que substitui o paradigma da doação pelo investimento com retorno, incentivando países desenvolvidos a financiarem a preservação das florestas tropicais. A estimativa é de que o TFFF beneficie um bilhão de hectares de florestas em 70 países, iniciando pelo Brasil.

    A segunda iniciativa busca fortalecer o financiamento sustentável por meio de um marco regulatório robusto. O Brasil está reunindo economistas para qualificar o debate do Clube do Carbono, liderado pela Alemanha, e propor soluções para a regulação das emissões internacionais, alinhadas às necessidades dos países emergentes.

    Reformulação das instituições internacionais

    Após o discurso, o ministro participou de uma conversa com os dois mediadores e abordou a necessidade de reformulação das instituições internacionais para lidar com desafios transnacionais como as mudanças climáticas. Segundo ele, as instituições criadas no pós Segunda Guerra Mundial não estavam preparadas para enfrentar problemas dessa magnitude.

    Além disso, Haddad alertou para a vulnerabilidade dos países mais pobres diante da crise climática. Ele argumentou que é necessário reavaliar as relações internacionais, incluindo o debate Norte-Sul e a cooperação entre países do Sul, para que as soluções sejam efetivas e duradouras.

    Por fim, o ministro brasileiro enfatizou que a crise climática não pode ser resolvida apenas por avanços tecnológicos. Para ele, é essencial revisar as relações sociais e econômicas entre os países, considerando questões como migração forçada devido às mudanças climáticas. “Precisamos aprender com os erros do passado e construir um futuro que inclua todos”, ponderou. “Ao olharmos para os problemas globais, temos de levar a sério e precisamos de um certo grau de altruísmo, de cooperação. Isto é necessário para que possamos, de fato, restabelecer o equilíbrio ambiental do planeta com ganhos sociais.”

    Fundo internacional para proteção ambiental

    Haddad citou estudos que mostram que três mil famílias concentram US$ 15 trilhões em ativos e argumentou que uma pequena parcela desse crescimento poderia ser destinada a um fundo internacional para proteção ambiental. Ele relatou a surpresa de autoridades estrangeiras ao tomarem conhecimento desses números e criticou a falta de iniciativa política para enfrentar o problema da desigualdade. Segundo ele, enquanto a população apoia medidas sustentáveis, a classe política global ainda resiste em adotar soluções concretas.

    Ao final, o ministro da Fazenda respondeu a perguntas de dois estudantes e destacou a importância de enfrentar os problemas ambientais e de sustentabilidade nas grandes cidades “porque são problemas reais, no dia a dia”. Depois, comentou que hoje há uma consciência por parte de certos bancos de desenvolvimento, até mesmo do Fundo Monetário Internacional (FMI), de que as finanças devem tornar-se “mais verdes” e que existem formas de garantir financiamento para um “projeto verde”, o que já acontece cada vez mais tanto nas finanças internacionais quanto nas nacionais.

    Acompanhe a conferência “10 anos após o Acordo de Paris – Governar na Era Climática”

  • Entenda como turismo no Brasil pode se beneficiar da agenda climática

    Entenda como turismo no Brasil pode se beneficiar da agenda climática

    Diferentes setores do turismo se unem para criar roteiros alinhados à agenda climática, em Belém, no Pará, com a união de experiências de imersão na floresta, gastronomia regional e a valorização de sistemas produtivos sustentáveis. A ideia das iniciativas é de aproveitar as oportunidades trazidas pelo turismo sustentável, como a atração de investimentos e aumento da competitividade, e também de superar os desafios de articulação entre os atores que participam das duas agendas.

    O empreendedor do setor de hospedagem, Parys Fonseca, criou um modelo de negócio que une a experiência de imersão na floresta Amazônica à hospedagem sustentável. A partir de uma consulta ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Pará, ele conheceu uma estrutura modular reciclável, que além de causar menos impacto ambiental por um custo menor, ainda mantém a temperatura do ambiente estável, sem necessidade de refrigeração artificial. “O processo de instalação foi muito rápido, em duas semanas eu já estava alugando para hospedagem. E eu achei ele mais interessante, porque a obra foi mais simples, o módulo se adequa ao ambiente e também é termoacustico”, diz.

    Localizado na Ilha do Murucutu, uma das 42 que integram o território da capital paraense, o empreendimento de Parys consegue oferecer aos visitantes não apenas uma oportunidade de dormir imerso na floresta amazônica, como experiências gastronômicas com produtos regionais e originários de cadeia produtiva sustentável existente na região. “O próximo passo é também criar uma rota para que os turistas conheçam a cadeia produtiva do palmito do açaí, assim como já existe a do cacau na Ilha do Combu. E o Sebrae tá me dando esse apoio de treinamento, gestão e tem sido fundamental para os moradores, os ribeirinhos e os empreendedores da região”, diz.

    De acordo com o diretor- superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, a escolha de Belém como sede para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) em 2025 antecipou o alinhamento das agendas na região. “O evento destacou a importância da Amazônia e incentivou discussões sobre práticas sustentáveis e adaptação às mudanças climáticas. Isso gerou uma maior conscientização entre empresários e gestores públicos sobre a necessidade de integrar a sustentabilidade nas atividades turísticas, promovendo um modelo de turismo mais responsável e alinhado com as metas climáticas globais.”

    A articulação entre esses diferentes atores do turismo e da sustentabilidade e uma agenda climática clara para o setor foram desafios apontados em um diagnóstico elaborado pela Câmara Temática de Sustentabilidade e Ações Climáticas do Conselho Nacional de Turismo (CNT), na construção do Plano de Adaptação Climática para o Turismo. Por outro lado, o turismo sustentável também traz oportunidades apontadas no documento, como oportunidade de parcerias atraídas pela lógica ganha-ganha e a possibilidade de agregar valor aos destinos.

    O diagnóstico foi uma das ferramentas que subsidiou o Plano Nacional de Turismo para o quadriênio 2024-2027, publicado nesta terça-feira (13), no Diário Oficial da União.

    Além de estabelecer as diretrizes para as ações que visam tornar o Brasil, “o país que mais recebe turistas na América do Sul até 2027”, também traz os princípios que orientam suas ações, como cooperação, inserção produtiva das pessoas, regionalização, transformação digital e sustentabilidade.

    De acordo com o Ministério do Turismo, esses princípios estarão presentes em todos os 20 programas previstos no plano e que foram apresentados durante a 8ª edição do Salão do Turismo: Conheça o Brasil, no Rio de Janeiro.

    Metas

    A expectativa é fazer com que a política pública no Brasil possa aumentar de 312 para 400 o número de municípios turísticos no país e também incrementar os postos de trabalho do setor, o número de viagens entre os brasileiros e também o turismo de estrangeiros no país, além de aumentar de US$ 6,6 para US$ 8,1 bilhões, ao ano, a receita gerada pelos visitantes internacionais no Brasil.

    “Todo esse trabalho será fundamental para posicionar o Brasil entre as principais lideranças na promoção de um turismo sustentável, de baixo impacto ambiental e com responsabilidade social”, declarou o ministro do Turismo, Celso Sabino.

    Edição: Valéria Aguiar

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