Categoria: Coluna do Fabiano de Abreu

Colunista do CenárioMT, Fabiano de Abreu é membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo com sede na Inglaterra conseguindo alcançar o maior QI registrado com 99 de percentil o que equivale em numeral a um QI acima de 180 para valores europeus e 150 para o Brasil. Especialista em estudos da mente humana, é membro e sócio da CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, com sede no Brasil e unidade em Portugal.

  • A relação entre cognição e zumbido no ouvido: A perspectiva científica

    A relação entre cognição e zumbido no ouvido: A perspectiva científica

    O acufeno, conhecido como zumbido no ouvido, afeta aproximadamente 15% da população, apresentando-se como ruídos como assobios ou tinidos, mesmo em ambientes silenciosos, sendo mais perceptível antes de dormir.O problema é tradicionalmente associado à perda auditiva e até mesmo à redução cognitiva, mas em descobertas contra-intuitivas, alguns estudos recentes indicam uma possível ligação entre o acufeno e melhora cognitiva.

    Uma parceria entre o Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH) e o Genetic Intelligence Project (GIP) reforçaram essa correlação ao analisar voluntários com Alto QI que relataram ter zumbidos no ouvido, mesmo os que tinham uma audição excelente.

    O zumbido no ouvido pode se manifestar de duas formas, objetivo e subjetivo, na forma objetiva, existe realmente um pequeno som produzido por estruturas próximas ao ouvido que podem ser causados pelo fluxo sanguíneo de veias e artérias, como por tumores, espasmos causados por doenças ou lesões cranianas, já na forma subjetiva o córtex auditivo passa a identificar certos estímulos como sons, gerando os zumbidos, mecanismo que ainda não é totalmente compreendido.

    O tratamento para o acufeno é bastante desafiador justamente pela variedade de causas e impactos, mas existem opções como a terapia sonora, terapia comportamental e, em alguns casos, o uso de aparelhos auditivos. Medicamentos também podem ser considerados para aliviar sintomas como insônia.

    No entanto, no caso dos sons produzidos pelo cérebro, no acufeno subjetivo, há fortes indicações de que o ruído neural, ou ressonância estocástica, possa ter como objetivo gerar uma melhora auditiva, podendo até mesmo ser resultado de um esforço para melhorar a qualidade de captação sonora das estruturas do ouvido.

    Essa possível melhora na captação de sons geraria uma melhor percepção auditiva, assim como melhora na fala e maiores possibilidades de exercitar a cognição, principalmente através da interação social, o que gera uma cognição melhorada que pode interferir até mesmo na contagem dos pontos de QI.

    Apesar disso, os efeitos do acufeno na cognição e compreensão de sons parecem ser tão heterogêneos quanto as suas causas, variando bastante entre impactos positivos, como a melhora da captação de sons e cognição, e negativos, como insônia e ansiedade. Por isso, é importante entender melhor esse processo, a sua relação com a melhora cognitiva, e consequentemente do QI, e como isso se relaciona com seus outros efeitos.

    REFERÊNCIAS:

    A COMPLEXA relação entre alto QI e zumbido no ouvido: Uma perspectiva neurocientífica. CPAH, [S. l.], p. 1, 30 jan. 2024. Disponível em: cpah.com.br/a-complexa-relacao-entre-alto-qi-e-zumbido-no-ouvido-uma-perspectiva-neurocientifica/. Acesso em: 1 fev. 2024.

    TINNITUS is associated with improved cognitive performance and speech perception–Can stochastic resonance explain?. Frontiers in Aging Neuroscience, [S. l.], p. 1, 16 dez. 2022. DOI doi.org/10.3389%2Ffnagi.2022.1073149. Disponível em: ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9800600/. Acesso em: 1 fev. 2024.

  • Neurodiversidade: A moda da superdotação

    Neurodiversidade: A moda da superdotação

    Nos últimos tempos a superdotação subiu do status de condição pouco analisada pelo público geral para um viral de diversas reportagens, livros, séries e publicações nas redes sociais sobre o tema. Esse movimento de atenção à condição pode ajudar a facilitar o acesso a conhecimentos e estimular investimentos em pesquisas na área, mas também abre uma porta para supostos ‘especialistas’ disseminarem informações falsas sobre as altas habilidades.

    Sabemos atualmente que existem profundas raízes entre a superdotação e a genética, o que torna os testes genéticos uma das formas mais precisas para medição da inteligência, superdotação. Mas todo esse avanço na medição, compreensão e análise da superdotação também é seguido pelo surgimento de diversas distorções que não condizem com a realidade.

    Um dos mais recentes mitos sobre o tema que tem ganhado certa visibilidade é a existência de um suposto espectro de superdotação, apesar de o termo poder ser empregado em diversos contextos a sua associação à superdotação pode induzir o leitor a acreditar que a condição é, na verdade, uma patologia. Essa questão de nomenclaturas que trazem uma ideia de patologia à superdotação se estende também a outros termos, como a sigla ASDH – Altas Habilidades e Superdotação ou dupla excepcionalidade, que também podem ter o mesmo efeito de patologização da superdotação.

    Outro ponto que já possui uma forte base científica, mas que mesmo assim sofre com suposições, é a relação da superdotação com a saúde mental dos indivíduos, algumas teorias falaciosas afirmam que todo superdotado é autista e que a superdotação tem conexão com alguns transtornos.

    Na verdade, apesar de haver a possibilidade de algumas pessoas apresentarem a superdotação e o autismo, não há uma relação de conexão necessária entre elas, podendo se manifestarem individualmente. É fácil pensar sobre isso, pais de pessoas e pessoas autistas procuram profissionais que acabam por avaliar o QI, a maioria dos autistas não tem alto QI, mas a minoria que tem, acaba por ser divulgado, algo que pode distorcer os dados.

    A mesma situação em pessoas que descobrem a superdotação avaliando as neurodivergências, comportamentos que os diferenciam. Em nosso departamento de pesquisa junto às sociedades de alto QI, constatamos que há muitos superdotados que não sabem que são superdotados, pois os pais não procuraram o teste que avaliasse o QI e descobriram na fase adulta por curiosidade.

    Então fica o questionamento, o que leva os pais de uma criança a buscarem os testes comprobatórios de altas habilidades? Pessoas com traços bem definidos de superdotação com possíveis transtornos?  Pais mais preocupados ou mais atentos? Em alguns casos, mesmo que o teste genético aponte superdotação, também está presente uma baixa predisposição para habilidades como cognição, criatividade e velocidade de processamento. Existem infinitas variáveis que também podem afetar o diagnóstico da superdotação e os dados extraídos deles, por consequência.

    A minoria dos autistas têm superdotação e os autistas com pontuações muito altas de QI são aspergers. A minoria das pessoas com TDAH têm superdotação, mas muitos superdotados têm traços ou são diagnosticados com TDAH. Mas não é a maioria. Essas e outras questões, já sabemos através da ciência com pesquisas, amostras e experimentos, que devem ser usados como base para analisar com cuidado esses questionamentos apresentados.

    Ou seja, a “viralização” da superdotação e a atenção que ela tem recebido atualmente, é importante para a projeção da condição e conscientização sobre ela, mas é importante que essa projeção seja feita com cautela e com bases científicas, por exemplo, por que informações falsas sobre superdotação ganham mais atenção do que as recentes descobertas, amplamente comprovadas cientificamente, sobre a genética por trás das altas habilidades?

    REFERÊNCIAS:

    GIFTED, On the Spectrum, or Both?. Davidson Institute, [S. l.], p. 1, 24 mar. 2022 [Gifted, On the Spectrum, or Both? – Davidson Institute (davidsongifted.org)].

    ANSIEDADE e depressão em indivíduos superdotados: uma revisão sistemática e meta-analítica. SageJournals, [S. l.], p. 1, 21 nov. 2023. DOI doi.org/10.1177/00169862231208922. Disponível em: journals.sagepub.com/doi/10.1177/00169862231208922. Acesso em: 10 jan. 2024.

  • “Neve de melancia” espalha-se pela América do Norte e pode ameaçar as geleiras

    “Neve de melancia” espalha-se pela América do Norte e pode ameaçar as geleiras

    Conhecida popularmente como “neve melancia”, o fenômeno que vem acontecendo na América do Norte ocorre quando a neve no solo é tingida de um tom  rosado. Também chamado de “glacier de sangue”, seu surgimento marca o final da primavera e o início do verão no hemisfério norte, mas a intensificação da cor da neve e da frequência do fenômeno vem chamando a atenção dos pesquisadores.

    De acordo com o Pós PhD em Neurociências e biólogo com especialização em genômica, membro da Royal Society of Biology no Reino Unido, Fabiano de Abreu Agrela, esse fenômeno é causado pelo florescimento de algas cor-de-rosa chamadas Chlamydomonas nivalis. “Essa espécie contém um pigmento carotenoide além da clorofila, conhecido como astaxantina. Na transição do inverno para o verão, as algas são aquecidas pela luz solar e adquirem uma coloração vermelha. Esse composto serve como protetor solar natural para as algas, protegendo-as da radiação ultravioleta (UV) nos ambientes de altitude elevada onde se desenvolvem. Ao contrário da maioria das espécies de algas que vivem em água doce, a Chlamydomonas nivalis é amante do frio, uma planta criofílica, encontrada em águas geladas”, explica o especialista.

    Fabiano pondera que a “neve melancia” é observada no mundo há um bom tempo. “Uma das primeiras vezes que ela foi documentada foi através do Capitão John Ross, que  a registrou no Ártico em 1818, quando liderou quatro navios ingleses que partiram rumo ao Círculo Polar Ártico”, destaca Abreu.

    O biólogo explica que esse fenômeno provoca o derretimento da superfície das geleiras, “Isso acontece porque à medida que as geleiras ficam coloridas, elas derretem mais facilmente, uma vez que as algas rosadas fazem com que a luz solar seja absorvida em vez de refletida, aquecendo o gelo. Elas utilizam a luz solar para converter dióxido de carbono e água em compostos orgânicos, fazendo fotossíntese através da neve translúcida”, acrescenta.

    Durante o inverno, quando a neve as cobre, as algas ficam adormecidas. Na primavera, os nutrientes, o aumento dos níveis de luz e da água em estado líquido estimulam a germinação.  O que chama atenção é que a neve pigmentada tem um albedo (refletividade) mais baixo que a neve normal. Isso acontece por exemplo quando saímos com roupas mais escuras no verão e passamos mais calor, pois os tecidos mais escuros tendem a absorver mais calor ao invés de refletir.  “E como as células dessa planta precisam de água para sobreviver, este derretimento rápido estimula mais ainda o seu crescimento, escurecendo mais a coloração e absorvendo mais calor. É literalmente uma bola de neve” alerta.

    Os cientistas descobriram através de milhares de imagens de satélite captadas entre 2019 e 2022 que das 8700 geleiras examinadas neste estudo, 4552 mostraram a presença de algas Chlamydomonas nivalis.

    Mas Fabiano esclarece que em comparação com os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global, o impacto das algas é considerado leve no derretimento das geleiras, mas não pode ser ignorado. Isso porque o aumento de CO2 na atmosfera (que causa o aquecimento global) faz com que as algas se proliferem mais rápido, impactando o ecossistema da região.

    Agrela ressalta que a neve rosada já pode ser vista nas montanhas da Colúmbia Britânica, Idaho, Estado de Washington, Alberta, Alasca e Montana. Além da Nova Zelândia, Alpes, Monte Olimpo e Antártida. Algumas geleiras estão com até 65% da sua área coberta de algas cor-de-rosa em uma única estação.

  • Adolescentes com irmãos têm saúde mental pior? Entenda o estudo que gerou polêmica

    Adolescentes com irmãos têm saúde mental pior? Entenda o estudo que gerou polêmica

    Recentemente, um novo estudo publicado na revista científica “Journal of Family Issues”, gerou controvérsia após ser alvo de diversas matérias que reforçavam a descoberta de uma maior tendência de que quanto mais irmãos, pior é para a saúde mental.

    Os pesquisadores entrevistaram 9.100 alunos do oitavo ano nos Estados Unidos e 9.400 na China, com uma média de 14 anos de idade. Os resultados do estudo indicam que os filhos únicos apresentaram melhores indicadores de saúde mental, semelhante aos participantes com apenas um irmão.

    A hipótese dos cientistas é que quanto mais irmãos um adolescente tem, menor é a atenção dos pais e a disponibilidade de recursos, o que pode afetar negativamente a saúde mental. No entanto, outras explicações também são consideradas, como a tendência de famílias com maior poder aquisitivo e, portanto, mais recursos para qualidade de vida e prevenção, em geral têm até dois filhos.

    Há relação entre saúde mental e número de irmãos?

    De acordo com o Pós PhD em neurociências e membro da Royal Society of Biology no Reino Unido, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, é preciso ter cuidado para analisar estudos e entender o contexto.

    Um estudo precisa ser analisada com bastante cuidado para não ter interpretações muito generalistas, por exemplo, esse resultado contradiz um estudo anterior com participação  de mais de 100 mil crianças que concluiu que a saúde mental é melhor em famílias maiores”.

    Um outro fator importante a ser considerado é a atenção dada pelos pais na cultura atual, que é dissipada em países com maior consumo e tecnologia, o que tem forte relação com a saúde mental, sentimento de negligência, cognição em relação à segurança emocional e comportamentos de risco, autoestima e autoimagem dos filhos”.

    Também é importante ter em mente o contexto em que os estudos foram realizados, por exemplo, o estudo atual focou na China e nos Estados Unidos, já o anterior havia focado na Noruega, culturas diferentes, onde a atenção direcionada aos filhos é feita de forma diferente”, explica Dr. Fabiano de Abreu Agrela.

  • “Neve de melancia” espalha-se pela América do Norte e pode ameaçar as geleiras

    “Neve de melancia” espalha-se pela América do Norte e pode ameaçar as geleiras

    Conhecida popularmente como “neve melancia”, o fenômeno que vem acontecendo na América do Norte ocorre quando a neve no solo é tingida de um tom  rosado. Também chamado de “glacier de sangue”, seu surgimento marca o final da primavera e o início do verão no hemisfério norte, mas a intensificação da cor da neve e da frequência do fenômeno vem chamando a atenção dos pesquisadores.

    De acordo com o Pós PhD em Neurociências e biólogo com especialização em genômica, membro da Royal Society of Biology no Reino Unido, Fabiano de Abreu Agrela, esse fenômeno é causado pelo florescimento de algas cor-de-rosa chamadas Chlamydomonas nivalis. “Essa espécie contém um pigmento carotenoide além da clorofila, conhecido como astaxantina. Na transição do inverno para o verão, as algas são aquecidas pela luz solar e adquirem uma coloração vermelha. Esse composto serve como protetor solar natural para as algas, protegendo-as da radiação ultravioleta (UV) nos ambientes de altitude elevada onde se desenvolvem. Ao contrário da maioria das espécies de algas que vivem em água doce, a Chlamydomonas nivalis é amante do frio, uma planta criofílica, encontrada em águas geladas”, explica o especialista.

    Fabiano pondera que a “neve melancia” é observada no mundo há um bom tempo. “Uma das primeiras vezes que ela foi documentada foi através do Capitão John Ross, que  a registrou no Ártico em 1818, quando liderou quatro navios ingleses que partiram rumo ao Círculo Polar Ártico”, destaca Abreu.

    O biólogo explica que esse fenômeno provoca o derretimento da superfície das geleiras, “Isso acontece porque à medida que as geleiras ficam coloridas, elas derretem mais facilmente, uma vez que as algas rosadas fazem com que a luz solar seja absorvida em vez de refletida, aquecendo o gelo. Elas utilizam a luz solar para converter dióxido de carbono e água em compostos orgânicos, fazendo fotossíntese através da neve translúcida”, acrescenta.

    Durante o inverno, quando a neve as cobre, as algas ficam adormecidas. Na primavera, os nutrientes, o aumento dos níveis de luz e da água em estado líquido estimulam a germinação.  O que chama atenção é que a neve pigmentada tem um albedo (refletividade) mais baixo que a neve normal. Isso acontece por exemplo quando saímos com roupas mais escuras no verão e passamos mais calor, pois os tecidos mais escuros tendem a absorver mais calor ao invés de refletir.  “E como as células dessa planta precisam de água para sobreviver, este derretimento rápido estimula mais ainda o seu crescimento, escurecendo mais a coloração e absorvendo mais calor. É literalmente uma bola de neve” alerta.

    Os cientistas descobriram através de milhares de imagens de satélite captadas entre 2019 e 2022 que das 8700 geleiras examinadas neste estudo, 4552 mostraram a presença de algas Chlamydomonas nivalis.

    Mas Fabiano esclarece que em comparação com os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global, o impacto das algas é considerado leve no derretimento das geleiras, mas não pode ser ignorado. Isso porque o aumento de CO2 na atmosfera (que causa o aquecimento global) faz com que as algas se proliferem mais rápido, impactando o ecossistema da região.  

    Agrela ressalta que a neve rosada já pode ser vista nas montanhas da Colúmbia Britânica, Idaho, Estado de Washington, Alberta, Alasca e Montana. Além da Nova Zelândia, Alpes, Monte Olimpo e Antártida. Algumas geleiras estão com até 65% da sua área coberta de algas cor-de-rosa em uma única estação.

  • O cérebro de um gamer: A luz e as trevas por trás dos videogames

    O cérebro de um gamer: A luz e as trevas por trás dos videogames

    Os videogames são formas muito populares de entretenimento digital cada vez mais imersivas. Eles existem há várias décadas, mas a evolução tecnológica exponencial nos últimos anos trouxe gráficos avançados, realidade virtual e jogabilidade online, transformando a maneira como os games são jogados e mais, a frequência e o tempo gasto com eles.

    Esse maior uso dos jogos eletrônicos chamou a atenção para um detalhe há muito tempo negligenciado: Os seus impactos. Para além de impactos nas articulações, visão, etc., o cérebro é o órgão mais atingido pelo uso de games, no entanto, a forma como esse impacto ocorre ainda é alvo de várias dúvidas e resultados científicos aparentemente contraditórios.

    Por exemplo, um estudo da Universidade de Szeged, na Hungria, publicado na revista “Neuroscience”, revelou que o uso de videogames em plataformas 3D contribui para o aumento do volume da parte direita do hipocampo, região cerebral responsável pela aprendizagem e memória, podendo trazer melhoras nesses campos, assim como aumento nas áreas pré-frontais, podendo estimular habilidades em tomada de decisões e personalidade.

    Por outro lado, existem impactos negativos do uso de videogames amplamente comprovados, como déficit de atenção, inteligência emocional comprometida, distúrbios do sono e impactos no desenvolvimento cerebral e vícios, estes sendo inclusive catalogados pela Organização Mundial da Saúde desde 2019, como transtorno do jogo patológico/compulsivo, onde o paciente perde relações sociais, profissionais e educativas por mais de 12 meses em decorrência do vício em videogames.

    Todos esses dados são importantes e nos trazem perspectivas bastante conflitantes, mas que são conciliáveis através de alguns fatores por vezes esquecidos sobre a forma como se joga.

    Por exemplo, uma pessoa de 17 anos joga videogames de raciocínio e resolução de questões durante 2 horas por dia, enquanto outra, de 5 anos, jogos banais e repetitivos por 4 horas diárias, qual você acha que tem mais chances de ter impactos positivos e qual tem mais chances de ter impactos negativos?

    Isso nos leva a pontuar que variáveis como o tempo diário dedicado aos jogos eletrônicos, a frequência com que eles são usados, o tipo de jogo usado e a sua indicação de acordo com cada faixa etária, a conciliação deles com a vida social e a forma como são jogados, podem fazer a balança pender para um dos lados, positivo ou negativo, de forma mais intensa.

    Ou seja, os videogames não são 100% positivos, tampouco 100% negativos, é preciso ser imparcial e realizar análises de forma ampla considerando os dois lados da moeda, tendo em mente também que um benefício não anula um malefício.

    REFERÊNCIAS:

    LOW-GRADE inflammation disrupts structural plasticity in the human brain. Neuroscience, [s. l.], 2014. DOI doi.org/10.1016/j.neuroscience.2014.06.002. Disponível em: sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0306452214004850?casa_token=VgBPP3S1-1MAAAAA:Lv-8-A8uASHzg3TZWJBZXhi6vo7BBvEJuuIW_HIVKIwZdAgTA9AoK-ZeQxI-Y-8pV3JTf8jS. Acesso em: 12 jan. 2024.

    THE GENETICS of gaming: A longitudinal twin study. ACAMH, [s. l.], 2023. DOI doi.org/10.1002/jcv2.12179. Disponível em: acamh.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jcv2.12179. Acesso em: 12 jan. 2024.

    BRAIN health consequences of digital technology use. Dialogues in Clinical Neuroscience, [s. l.], 2020. DOI doi.org/10.31887/dcns.2020.22.2/gsmall. Disponível em: pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32699518/. Acesso em: 12 jan. 2024.

  • Superdotação: Mitos prejudicam evolução da compreensão do tema

    Superdotação: Mitos prejudicam evolução da compreensão do tema

    Nunca a superdotação esteve tanto em pauta e toda essa repercussão sobre o tema ajuda a chamar a atenção para uma condição que, por muito tempo, foi deixada de lado. No entanto, ainda existem muitos mitos sobre a superdotação, como afirma o Pós PhD em neurociências, especialista em genômica e membro da Royal Society of Biology no Reino Unido, Dr. Fabiano de Abreu Agrela.

    A superdotação se tornou um tema ‘viral’, o que por um lado ajuda a disseminar conhecimento sobre o tema, mas por outro também espalha muita desinformação, por exemplo, sempre surgem ‘especialistas’ para falar sobre o tema que não têm realmente um conhecimento profundo, o que contribui para distorcer detalhes sobre a condição”, explica.

    O que é a superdotação?

    De acordo com o Dr. Fabiano de Abreu, a superdotação possui diversos fatores de influência que geram as altas habilidades.

    A superdotação refere-se a indivíduos com desempenho intelectual, criatividade e habilidades acadêmicas acima da média em habilidades específicas. Normalmente eles apresentam interesses diversos e profundos em determinados assuntos

    Ela sofre influência de diversos fatores, mas tem uma forte relação com genética e pode ser comprovada a partir de testes de QI supervisionados ou teste genético de inteligência, este último é infalível e livre de dúvidas, será o mecanismo mais utilizado em breve”, afirma.

    Mitos mais comuns sobre a superdotação

    01 – Todo superdotado é autista:

    Esse é um mito muito comum, mas não é verdadeiro não só pela sua generalização, mas por não ter fortes bases científicas, assim, nem todo superdotado é autista, assim como a maioria dos autistas não são superdotados”, ressalta Dr. Fabiano de Abreu.

    02 – Todo superdotado tem algum transtorno?

    Estudos replicados trazem provas sólidas de que os indivíduos altamente inteligentes não têm mais perturbações de saúde mental do que a população média. Inclusive, a inteligência surge como um fator de proteção para transtornos mentais. Isso quer dizer que existem pessoas superdotadas com transtornos, sim, mas não seria uma maioria”, afirma.

    03 – Superdotação é um espectro?

    Essa distorção tem sido muito espalhada atualmente, mas é um mito, a superdotação não é espectro, não é transtorno, não é doença, não é nada do que uma pessoa não superdotada poderia comentar, por isso, a experiência de um superdotado poderia responder melhor sobre essa que é uma condição”.

  • Diferenças entre pessoas autistas e superdotadas nas relações sociais

    Diferenças entre pessoas autistas e superdotadas nas relações sociais

    As diferenças entre pessoas autistas e superdotadas nas relações sociais originam-se de razões distintas:

    Os indivíduos autistas sentem frequentemente desconforto em situações sociais, um sentimento que é intrínseco e difícil de articular. Por outro lado, os indivíduos superdotados podem evitar a socialização, mas as suas razões são mais variadas e complexas. Algumas destas razões incluem:

    • Receio inato: Uma apreensão instintiva em relação às interações sociais, processada de maneira única em seus cérebros. Durante a infância, as regiões cerebrais relacionadas ao instinto desenvolvem-se antes daquelas ligadas à maturidade e ao raciocínio. Isso leva crianças e jovens a exibirem comportamentos mais emocionais. Pessoas com alto QI frequentemente têm essas áreas cerebrais mais desenvolvidas, o que pode intensificar sua preocupação instintiva. Com o tempo, contudo, tendem a se socializar mais através do amadurecimento e do uso da região frontal do cérebro.
    • Desconexão intelectual: Sentir-se sobrecarregado ou desalinhado com o nível intelectual do discurso geral, optando pelo distanciamento.
    • Incompreensão pelos outros: Sensação de ser mal compreendido pelos outros, o que pode levar a uma relutância em envolver-se socialmente.
    • Interesses e curiosidades pessoais: Dar prioridade ao tempo para explorar interesses pessoais e satisfazer a sua curiosidade.
    • Foco em tarefas: A dedicação intensa à realização de tarefas, reduzindo o tempo disponível para interações sociais.

    É notável que os superdotados possuem a capacidade de adaptar-se e desenvolver habilidades comunicativas, podendo tornar-se bastante sociáveis. Contudo, seu envolvimento em atividades sociais tende a ser transitório e ocasional. Diferentemente de outras pessoas que buscam constantemente interação social, os superdotados podem não sentir a necessidade de estar sempre cercados de amigos ou conhecidos.

    Esta análise realça não apenas as diferenças nas experiências sociais de autistas e superdotados, mas também a diversidade e complexidade das interações humanas. Ressalta a importância de compreender e respeitar as diferenças individuais em termos de preferências e capacidades sociais, promovendo uma visão mais inclusiva e empática das relações humanas.

  • O legado póstumo: Reflexões sobre o reconhecimento além da vida

    O legado póstumo: Reflexões sobre o reconhecimento além da vida

    Em um mundo onde o imediatismo e a visibilidade instantânea parecem dominar, surge uma paradoxal observação: os feitos de muitas pessoas ganham verdadeiro reconhecimento apenas após sua morte. Este fenômeno, embora não universal, é suficientemente comum para provocar uma reflexão profunda sobre os valores e percepções sociais que regem nosso reconhecimento dos feitos humanos.

    O primeiro ponto a ser considerado é a natureza da memória e do legado. Durante a vida, as ações e realizações de uma pessoa são frequentemente ofuscadas por controvérsias, política, ou simplesmente pelo ruído constante da sociedade contemporânea. Após a morte, no entanto, há uma tendência a separar a pessoa de seu contexto imediato, permitindo que suas realizações sejam vistas em uma luz mais clara e, muitas vezes, mais favorável. Esse distanciamento pode levar a uma apreciação mais sincera e menos influenciada pelas complexidades da vida cotidiana.

    Além disso, o fenômeno pode ser parcialmente explicado pela psicologia do “ego social”. Vivemos em uma era onde o ego, muitas vezes nutrido pelas redes sociais e pela cultura do espetáculo, desempenha um papel significativo na forma como percebemos os outros e a nós mesmos. O reconhecimento póstumo pode ser uma forma de reconciliação, onde a sociedade coletivamente “dá o braço a torcer”, admitindo o valor das contribuições de alguém sem a ameaça do ego ou da competição.

    Interessantemente, isso levanta questões sobre a natureza da valorização e do reconhecimento. Estamos treinados a acreditar e valorizar o que não podemos ver, o que é imortalizado e eternizado pela morte. A morte, em sua finalidade absoluta, elimina a possibilidade de mudança e evolução, fixando uma pessoa e suas ações no tempo. Isso pode criar uma forma de idealização que raramente é alcançável na vida.

    Finalmente, este fenômeno serve como um lembrete para valorizar e reconhecer as contribuições das pessoas enquanto elas estão vivas. Existe uma beleza e uma importância fundamental em celebrar as realizações e o impacto das pessoas em tempo real, reconhecendo que a apreciação não precisa esperar até que seja tarde demais.

    Em resumo, o reconhecimento póstumo é um reflexo de como a sociedade constrói e entende o legado e o valor humano. Ele nos desafia a pensar sobre como valorizamos os outros e suas contribuições, tanto na presença quanto na ausência, e nos lembra da importância de celebrar os feitos e o impacto das pessoas aqui e agora.

  • Voz: Um sinal esquecido de Transtornos de Personalidade Dramática

    Voz: Um sinal esquecido de Transtornos de Personalidade Dramática

    Qual foi o pilar máximo do desenvolvimento humano? Sem dúvidas foi a comunicação. Saber transmitir informações é uma habilidade que permite a troca de conhecimento e mais, permite entender melhor o outro. A voz, por exemplo, é uma das principais formas de comunicação atual, mas para além de um método de comunicação, ela também pode servir como base para análises mais profundas sobre o indivíduo podendo, também ser usada para ajudar na identificação de Transtornos de Personalidade Dramática.

    Os Transtornos de Personalidade Dramática, como o transtorno bipolar, narcisista, borderline, antissocial e histriônico, têm como principal característica emoções intensas, comportamentos excessivamente dramáticos, busca constante por atenção, superficialidade emocional e instabilidade nos relacionamentos. Pessoas com esses transtornos podem exibir teatralidade, manipulação emocional, serem impressionáveis e terem dificuldade em lidar com críticas.

    Essa necessidade de atenção e até sentimentos de superioridade e grandiosidade podem se manifestar de inúmeras formas, como através da fala. O tom vocal ajuda a expressar os sentimentos internos de uma pessoa, assim, mudanças tonais e de volume podem indicar variações cognitivas que devem ser consideradas, principalmente através de uma fala constantemente alta.

    Falar sempre em voz muito alta pode indicar vários sintomas de Transtornos de Personalidade Dramática, como emoções intensas ou oscilantes, no caso de mudanças repentinas no tom de voz, busca por ser o centro das atenções, narcisismo e instabilidade.

    Mas também deve-se considerar a possibilidade de haver problemas de audição, por exemplo, que podem afetar a capacidade do indivíduo de ouvir a própria voz, como também distúrbios vocais, marcados por sons muito altos ou muito baixos, voz trêmula, ofegante, sussurrante ou instabilidade na voz, sinais que também podem estar ligados à puberdade.

    Durante a puberdade, as cordas vocais sofrem mudanças hormonais que podem causar disfonia. Esse tipo de alteração na voz é muito comum, incluindo oscilações, instabilidade e, ocasionalmente, uma voz com tons mais graves. Geralmente, isso se resolve à medida que o indivíduo alcança a maturação vocal.

    Ou seja, o diagnóstico de um Transtorno de Personalidade Dramática obviamente não pode se basear apenas no tom de voz de alguém, mas esse pode ser um forte sinal indicativo da presença desses transtornos, principalmente para análises clínicas ou monitoramento de melhorias no transtorno.